Chamada de artigos para o Dossiê: “Relações Internacionais: da América Latina para o mundo”
Chamada para publicação de dossiê na Revista Carta Internacional v. 18 n. 3 2023
A Carta Internacional, revista científica de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ISSN 2526-9038) está selecionando artigos para o Dossiê "Relações Internacionais: da América Latina para o mundo”. A revista aceita artigos inéditos em português, espanhol ou inglês. O prazo máximo de submissão para o dossiê é 7 de junho de 2023.
Dossiê “Relações Internacionais: da América Latina para o mundo”
Editores: María Villarreal (UFRRJ) e Rafael Bittencourt (UFG)
De acordo com a narrativa dominante sobre a origem das Relações Internacionais, seu nascimento como disciplina ocorre em 1919, com a criação da primeira cátedra de RI na Universidade de Aberystwyth, no País de Gales. Houve especial desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos, embora existam múltiplas interpretações sobre o internacional anteriores a esta data, com diversos atores e níveis de análise e um amplo leque de contribuições que vão além do Ocidente.
Desde então, diversas premissas, debates paradigmáticos, teóricos e metodológicos permitiram avanços em sua definição e identidade. Entretanto, os questionamentos sobre o universalismo da disciplina e seus mitos fundadores, formulados pelas análises marxistas, críticas, pós-coloniais, feministas e outras, tanto no Norte quanto no Sul Global, têm gerado um processo profundo de revisão ontológica e a realização de balanços críticos que evidenciaram limites, fragmentação, exclusões e numerosos desafios. Nesta linha autorreflexiva, autores como Amitav Acharya argumentaram que um desafio chave no estudo e ensino das RI é integrar as experiências e saberes de uma grande maioria de sociedades e Estados fora dos países centrais do Ocidente. Assim, o chamado para constituir umas RI globais (Global IR) busca superar os limites da disciplina, não mediante a rejeição do conhecimento tradicional, mas através da leitura crítica destas contribuições e da ampliação do campo de estudos das RI, integrando múltiplas vozes e experiências que vão além das divisões Norte-Sul e Leste-Oeste e aquelas que transcendem a centralidade do Estado como ator principal e que evidenciam outras categorias relevantes para o campo mas até então pouco exploradas, como questões de raça, gênero, classe, etnia, entre outras. Paralelamente, outros autores têm realizado uma revisão crítica das RI e suas teorias, sublinhando a necessidade de aumentar o diálogo com outras ciências sociais, estudando o internacional de forma transdisciplinar.
Na América Latina, as RI surgem como um campo de estudos interdisciplinar e pragmático, voltado à resolução de problemas e estritamente vinculado à ação política em prol de uma boa inserção internacional. Os primeiros estudos na região sobre a temática internacional no âmbito acadêmico surgem em 1922, com a abertura na cidade de Rosário (Argentina) da primeira graduação e posteriormente doutorado em Diplomacia. A partir de então, de forma progressiva, foram criados cursos e publicações temáticas sobre RI em todos os países da região e foram fundados centros especializados, associações nacionais de Relações Internacionais e experiências de cooperação regional como o Programa de Estudos Conjuntos sobre as Relações Internacionais da América Latina (RIAL). Além disso, muitas contribuições sobre RI elaboradas na América Latina se deram através de pessoas negras, mestiças e indígenas, que não estavam formalmente vinculadas ao campo de RI, mas cujas ideias têm sido mobilizadas cada vez mais, como podemos ver ao identificar referências a autores como Milton Santos, Lélia González, Abdias do Nascimento, Silvia Rivera Cusicanqui, Gloria Anzaldúa, entre outras.
Historicamente, analistas latino-americanos têm tido entre suas preocupações e principais agendas de pesquisa as relações com os Estados Unidos, a autonomia, o desenvolvimento e a integração regional. O estruturalismo latino-americano, a Teoria da Dependência, a Escola da Autonomia, e o Pensamento Decolonial são só alguns exemplos das contribuições que a região tem formulado no campo das RI ou cuja importância é central para esta área de estudos. Destacam-se também contribuições como a da Escola de Brasília, na área da historiografia sobre Relações Internacionais; da Escola Mexicana e da Escola de Rosário de Relações Internacionais; bem como a formulação de propostas teóricas como o realismo periférico no campo da política externa e enfoques como o de insubordinação fundante. Mais recentemente, no contexto de profundas mudanças domésticas e internacionais e da disputa pela hegemonia entre China e Estados Unidos, vale também mencionar a política de não-alinhamento ativo como posicionamento estratégico para a região no século XXI.
A partir destas premissas, o dossiê “Relações Internacionais: da América Latina para o mundo” busca compreender quais são as contribuições da região na área de RI. Ao reconhecer que a América Latina não é apenas um território receptor, mas também intérprete crítico, reformulador e produtor de pensamento próprio sobre Relações Internacionais, buscamos visibilizar a diversidade de escolas, perspectivas, releituras, adaptações e agendas de pesquisa das e dos analistas da região. Assim, visando transcender o excepcionalismo latino-americano, almejamos receber contribuições sobre os seguintes tópicos, sem excluir outras propostas que dialoguem com esta chamada:
-Historiografia das Relações Internacionais na América Latina;
-Interpretações, contribuições ou críticas latino-americanas às teorias clássicas das RI;
-Análises, releituras ou reformulações latino-americanas dos debates paradigmáticos, teóricos e metodológicos das RI;
-Escolas latino-americanas e aportes regionais às RI: Estruturalismo, Teoria da dependência, Escola da Autonomia, Pensamento Decolonial, dentre outros;
-Tradições e escolas nacionais de RI na América Latina: Escola de Brasília, Escola de Rosário, Escola Mexicana, etc;
-Ideias e conceitos latino-americanos em RI: realismo periférico, insubordinação fundante, colonialidade do poder, não-alinhamento ativo, dentre outros.
-Análise dos fatores internos e externos que têm influenciado o desenvolvimento das RI na América Latina;
-Evolução, problemas e limitações das RI na América Latina;
-Estado da arte e revisões bibliográficas sobre a produção intelectual no campo das RI na América Latina;
-Contribuições latino-americanas sobre desenvolvimento, regionalismo e integração regional;
-Aportes e releituras latino-americanas dos estudos sobre política externa;
-Velhos e novos temas e agendas de pesquisa em RI: segurança, defesa, direitos humanos, feminismos, pautas LGBTQIA+, meio-ambiente, mudanças climáticas, migrações, saúde, novas tecnologias entre outros.
-Ausências e exclusões nos debates latino-americanos de RI;
-Diálogos e estudos transdisciplinares sobre RI na América Latina;
-Desafios e o futuro das RI na América Latina.
Regras de submissão:
O formato dos artigos deverá seguir o padrão já adotado pela revista:
- O artigo deve ser inédito e redigido em português, inglês ou espanhol. Além de inédito, o artigo não deve estar em apreciação concomitante em nenhum outro periódico ou veículo de publicação, no todo ou em parte, no idioma original ou traduzido.
- Os artigos devem ter entre 7500 e 8500 palavras, incluindo título, resumo e palavras-chave (em português, inglês e espanhol), notas de rodapé e referências bibliográficas.
- O resumo, apresentado nos três idiomas, deve conter de 80 a 100 palavras. Não deve ser redigido em primeira pessoa e deve incluir tema geral, problema de pesquisa, objetivos, métodos e principais conclusões.
- Não serão aceitos artigos com mais de 4 (quatro) autores/coautores.
- As referências bibliográficas devem ser listadas ao final do texto, observando o sistema Chicago (Autor data).
As regras completas de submissão podem ser consultadas em: https://www.cartainternacional.abri.org.br/Carta/about/submissions e devem ser estritamente observadas. Demais elementos do processo de publicação estão disponíveis em: https://www.cartainternacional.abri.org.br/Carta/about