Genealogia e Agonismo como Metodologia nas Relações Internacionais
Reflexões a partir da Justiça de Transição
DOI:
https://doi.org/10.21530/ci.v14n1.2019.821Resumo
Este artigo baseia-se em sugestões teórico-metodológicas de Michel Foucault. Em especial,
focaremos a analítica das relações de poder/saber, a genealogia, o agonismo, e as visões
desse autor sobre justiça, veridicção e constituição dos sujeitos. Para sugerir como trabalha a
metodologia genealógica, trazemos breves ilustrações sobre justiça de transição. Daí emerge
uma sugestão de análise da justiça de transição que visa enxergá-la não como algo que
apenas busque romanticamente a “verdade” e a “justiça”, mas também como uma verdadeira
frente de batalha cujo resultado dependerá das variações das relações de força em embates
localizados. Sugere-se, portanto, que a genealogia é uma metodologia capaz de gerar análises
que fujam do maniqueísmo que estabelece, rigidamente, o “certo” e o “errado”, o “justo” e
o “injusto”. E uma vez que a genealogia é, em si mesma, uma abordagem altamente política, parcial, ela busca questionar discursos que, ao contrário, se apresentam como neutros e
universais. Por isso ela se foca não em “objetos” rígidos e supostamente isoláveis do conjunto
de acontecimentos sociais, mas interpela os acontecimentos, discursos e práticas de poder,
interessada em identificar quais relações de poder e saber moldaram tal objeto.
Downloads
Referências
ASHLEY, Richard. “Foreign Policy as Political Performance”. International Studies Notes, Special Issue, 1987, p. 51-54.
_____. Living on Border Lines: Man, Poststructuralism, and War. In: DER DERIAN, James; SHAPIRO, Michael J. (orgs.). International/Intertextual Relations: Postmodern Readings of World Politics. Lexington: Lexington Books, 1989, p. 259-282.
BASARAN, Tugba; BIGO, Didier; GUITTET, Emmanuel-Pierre e WALKER, R.B.J. (orgs). International Political Sociology: Transversal Lines. New York: Routledge, 2017.
BERNARDI, Bruno Boti. O Sistema Interamericano de Direitos Humanos e a Justiça de Transição: Impactos no Brasil, Colômbia, México e Peru. Tese de doutorado em Ciência Política, São Paulo, USP, 2015.
_____. Ganhei na loteria! Mas e o prêmio? A mobilização sócio-legal do direito internacional dos direitos humanos no caso da guerrilha do Araguaia. Carta Internacional, v. 12, 2017, p. 130-152.
BONDITTI, Philippe; NEAL, Andrew; OPITZ, Sven e ZEBROWSKI, Chris. “Genealogy”. In: ARADAU, Claudia, HUYSMANS, Jef, NEAL, Andrew e VOELKNER, Nadine (orgs.) Critical Security Methods: New frameworks for analysis. Abingdon: Routledge, 2015, pp. 159-188.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. 12ª ed. Tradução Renato Aguiar; revisão técnica Joel Birman. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
CAMPBELL, David. “Political Prosaics, Transversal Politics, and the Anarchical World”. In: SHAPIRO, Michael J. e ALKER, H. R. (orgs.). Challenging Boundaries: Global, Flows, Territorial Identities. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1996, p. 7-32.
CHOMSKY, Noam e FOUCAULT, Michel. Natureza Humana: justiça vs. poder: o debate entre Chomsky e Foucault. Editado por Fons Elders; tradução Fernando Santos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.
ERIBON, Didier. Michel Foucault y sus contemporáneos. Traducido por Viviana Ackerman. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1995.
FOUCAULT, Michel. “Verdade e Poder”. In: Microfísica do Poder. Org. e trad. MACHADO, Roberto. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979a, pp. 1-14.
_____. “Nietzsche, a Genealogia e a História”. In: Microfísica do Poder. Org. e trad. MACHADO, Roberto. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979b, pp. 15-37.
_____. “Não ao sexo rei”. In: Microfísica do Poder. Org. e trad. MACHADO, Roberto. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979c, pp. 229-242
_____. “O Sujeito e o Poder”. In: RABINOW, Paul; DREYFUS, Hubert. Michel Foucault, uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, pp. 231-249.
_____. Em Defesa da Sociedade: Curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999.
_____. Os Anormais: Curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2001.
_____. A Verdade e as Formas Jurídicas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2002.
_____. “Poder e Saber”. In: Ditos e Escritos vol. IV – Estratégia, poder-saber. Org. Manuel Barros da Mota. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003a, pp. 223-240.
_____. “Omnes et Singulatim”: uma crítica da razão política”. In: Ditos e Escritos vol. IV – Estratégia, Poder-Saber. Org. Manuel Barros da Mota. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003b, pp. 355-385.
_____. “Uma Estética da Existência”. In: Ditos e Escritos vol. V – Ética, Sexualidade, Política. Org. Manuel Barros da Mota. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 264-287.
_____. “O que são as Luzes?”. In: Ditos e Escritos vol. II – Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Org. Manuel Barros da Mota. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, pp. 335-351.
_____. Segurança, Território, População: Curso no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.
_____. Nascimento da Biopolítica: Curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008a.
_____. A Coragem da Verdade: O Governo de Si e dos Outros II – Curso no Collège de France (1983-1984). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
_____. “Prefácio [Anti-Édipo]”. In: Ditos e Escritos vol. VI – Repensar a Política. Org. Manuel Barros da Mota. Tradução Ana Lúcia Paranhos Pessoa. 1ª ed – 3ª tiragem. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013, p. 103-106.
_____. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
_____. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. 2ª ed. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
_____. História da Sexualidade 2: O Uso dos Prazeres. 3ª ed. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque; revisão técnica J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017.
_____. História da Sexualidade 3: O Cuidado de Si. 15ª ed. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque; revisão técnica J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017a.
_____. Histoire de la Sexualité IV: Les Aveux de la Chair. Édition établie et introduire par Frédéric Gros. Paris: Gallimard, 2018.
FURTADO, Henrique. On Demons and Dreamers: Violence, Silence and the Politics of Impunity in the Brazilian Truth Comission. Security Dialogue, v. 48, n. 4, 2017, p. 316-333.
GUILHOT, Nicolas. The Democracy Makers: Human Rights and the Politics of Global Order. New York: Columbia Univeristy Press, 2005.
_____. Limiting Sovereignty or Producing Governmentality? Two Human Rights Regimes in U.S. Political Discourse. Constellations, v. 15, n. 4, 2008, p. 502-516.
HOFFMAN, Stefan-Ludwig (ed). Human Rights in the Twentieth Century. Cambridge: Cambridge Univ. Press, 2011.
_____. Introduction: Genealogies of Human Rights. In: HOFFMAN S-L (ed.). Human Rights in the Twentieth Century. Cambridge: Cambridge Univ. Press, 2011a.
HOLLANDA, Cristina Buarque de. Human Rights and political transition in South Africa: the case of the Truth and Reconciliation Commission. Brazilian Political Science Review, v. 7, p. 8-30, 2013.
HOPGOOD, Stephen. The Endtimes of Human Rights. Ithaca, NY: Cornell University Press, 2013.
IRIYE, Akira, GOEDDE, Petra, e HITCHCOCK, William I. (orgs.). The Human Rights Revolution: an international history. New York: Oxford University Press, 2012.
LEEBAW, Bronwyn. Judging State-Sponsored Violence, Imagining Political Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
MADSEN, Mikael Rask. Reflexivity and the Construction of the International Object: The Case of Human Rights. International Political Sociology, v. 5, 2011, p. 259-275.
MOYN, Samuel. The Last Utopia: Human Rights in History. Cambridge, Mass.: Belknap/Harvard Univ. Press, 2010.
_____. O futuro dos direitos Humanos. Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 11, n. 20, 2014, p. 60-69.
MUTUA, Makau. Savages, Victims, and Saviors: The Metaphor of Human Rights. Harvard International Law Journal v. 42, n. 1, 2001, p. 201-245.
OLIVEIRA, Eliézer Rizzo. Além da Anistia, Aquém da Verdade: o percurso da Comissão Nacional da Verdade. 1.ed. Curitiba: Editora Prismas, 2015.
ROHT-ARRIAZA, Naomi. The Pinochet Effect: transnational justice in the age of human rights. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 2005.
RONIGER, Luis e SZNAJDER, Mario. O legado de violações dos direitos humanos no Cone Sul. Tradução Margarida Goldsztajn. São Paulo: Perspectiva, 2004.
SHAPIRO, Michael J. War Crimes: Atrocities and Justice. Cambridge: Polity, 2015.
SIKKINK, Kathryn. The Justice Cascade: How Human Rights Prosecutions are Changing World Politics. New York: W.W. Norton, 2011.
_____. Evidence for Hope: Making Human Rights Work for the 21st Century. Princenton: Princenton University Press, 2017.
TRUTH AND RECONCILIATION COMMISSION OF SOUTH AFRICA. Truth and Reconciliation Commission of South Africa Report, volumes 1, 5. Cape Town: Juta, 1998.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.