Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
110 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
As relações bilaterais do México com os
Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
1
Mexico-US bilateral relations:
an assessment from 2000 till 2018
DOI: 10.21530/ci.v14n3.2019.972
Cristina Soreanu Pecequilo
2
Marcela Franzoni
3
Resumo
O objetivo deste artigo é analisar as relações bilaterais do México com os Estados Unidos,
de 2000 a 2018, tendo como base o ponto de vista mexicano. Embora os Estados Unidos
sejam o principal parceiro do México e sua prioridade em política externa, o mesmo não
se aplica à agenda norte-americana, indicando uma relação caracterizada por uma forte
interdependência assimétrica. Neste intercâmbio, destacam-se temas multidimensionais
como comércio, imigração, tráfico de drogas dentre outros, que possuem aderência a
agendas domésticas e internacionais de ambos os países. Optou-se por apresentar a evolução
destas interações em forma de cronologia histórica, que aborda tanto um panorama breve
da política externa do México no século XX, como suas atualizações no pós-Guerra Fria,
que indicam a passagem de uma agenda de autonomia para uma postura de alinhamento
diante dos Estados Unidos. A metodologia se baseou na revisão bibliográfica sobre o tema
das relações bilaterais México-Estados Unidos, na análise de documentos e discursos de
membros do Executivo e de agências governamentais, na literatura especializada sobre o
tema e na sistematização de dados econômicos.
Palavras-chave: xico; Estados Unidos; Relações Bilaterais; Política Externa.
1 Esse artigo é fruto de pesquisas financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
2 Doutora em Ciência Política pela USP. Professora de Relações Internacionais na UNIFESP e dos Programas de
Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) e de Economia Política
Internacional da UFRJ. Pesquisadora do CNPq e Associada do NERINT/UFRGS. Analista de política externa, com estudos
sobre as relações internacionais dos EUA, do Brasil e da China. Orcid: <https://orcid.org/0000-0003-1617-186X>.
3 Doutoranda e Mestra pelo Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/
UNICAMP/PUC-SP) e graduada em Relações Internacionais pela Universidade Federal de São Paulo. É bolsista
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, processo 2018/0711-8. Visiting Graduate Student
na Universidade da Califórnia, San Diego. Pesquisadora do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais
(IEEI-Unesp). Orcid: <https://orcid.org/0000-0002-7280-3318>.
Artigo submetido em 27/06/2019 e aprovado em 26/11/2019.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
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Abstract
The goal of this article to analyze the Mexico-United States bilateral relations from 2000 till
2018, based on the Mexican standpoint. Even though the US are Mexico´s main partner and its
priority in foreign policy, the same cannot be said of the North-American agenda, presenting
a relation that is characterized by a deep asymmetric interdependence. Multidimensional
themes such as trade, immigration and drug trafficking, among others, take center stage
on this interchange, that represent for both countries a mix of domestic and international
agendas. The option is to present the evolution of this exchanges in a historical chronological
manner, that deals not only with a brief overview of Mexico´s foreign policy in the 20
th
century, but also its updates on the post-Cold War world that show the transition of an
autonomous agenda to an alignment stance towards the United States. The methodology is
based on a bibliographical review about the Mexico-United States bilateral relations from
political speeches from members of the Executive and official governmental agencies, the
relevant specialized literature and the systematization of economic data.
Keywords: Mexico; United States; Bilateral Relations; Foreign Policy.
Introdução
A maioria dos temas de política externa do México se relaciona com os
Estados Unidos (EUA). Isso faz com que este país seja prioridade na agenda
externa mexicana, enquanto o contrário não é verdadeiro (PELLICER SILVA, 2006).
Há uma estreita relação entre a política interna no México, sua estratégia de
desenvolvimento econômico e os EUA. Diante da magnitude da dependência, a
manutenção da soberania do México é um tema permanente da sua política externa
(SCHIAVON, 2006). A margem de autonomia frente ao vizinho está vinculada
aos seus elementos domésticos, como a estabilidade econômica e o combate ao
crime organizado.
Administrar as relações com os EUA é um desafio histórico para o México.
A identidade nacional foi constituída em oposição à grande potência. A significativa
perda territorial que sofreu na guerra 1846-1848, a Revolução mexicana e a
expropriação petroleira promovida na gestão de Lázaro Cárdenas (1934-1940)
trouxeram à política externa um forte caráter defensivo, nacionalista e pautado
pelo direito internacional, buscando evitar outras invasões e a não ingerência em
assuntos domésticos. Tais posturas foram flexibilizadas na década de 1990 e no
século XXI, com a abertura econômica e política.
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112 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
De acordo com Flores (2011), a proximidade fronteiriça e as disparidades de
poder entre os EUA e o México tendem a produzir uma relação pouco flexível
e que dificulta a cooperação em termos menos desiguais. Flores (2011) destaca
que somente um aumento no poder de barganha do México, com a ampliação
de parcerias além dos EUA poderia reverter esta situação. A mesma percepção
é apresentada por Pellicer (2006): a autora ressalta que a posição do México
no sistema internacional se encontra relacionada diretamente às suas relações
bilaterais com os EUA. Historicamente, até o fim da Guerra Fria, o México buscou
preservar maior margem de manobra diante dos EUA com uma política externa
independente. Esta independência foi substituída pela priorização das relações
bilaterais EUA-México. O símbolo desta nova fase foi a entrada em vigor do
Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA em inglês
4
), em 1994. Ao
longo dos anos, este acordo acentuou o peso dos EUA na economia e na política
mexicanas, e sua dependência diante dos EUA.
O objetivo deste artigo é mapear as relações bilaterais México-EUA, entendidas
como uma relação de interdependência assimétrica (KEOHANE; NYE, 1989)
5
,
a partir de 2000, com foco na perspectiva mexicana. Busca-se entender qual
foi o padrão de interação entre os países e identificar os temas de cooperação e
de conflito nas relações bilaterais. O texto também discute as implicações das
relações bilaterais para a inserção internacional do México até o início do governo
de Andrés Manuel López Obrador, em 2019.
Para isso, está estruturado em cinco partes, com esta introdução e as conclu-
sões: um breve panorama da política externa mexicana, os períodos dos governos
de Vicente Fox (2000-2006), de Felipe Calderón (2006-2012), de Enrique Peña
Nieto (2012-2018) e o início do de López Obrador (2018-) que, nos EUA coinci-
dem com o último ano da administração do democrata Bill Clinton (1993-2001),
os mandatos do republicano George W. Bush (2001-2009), do democrata Barack
Obama (2009-2017) e os anos iniciais do republicano Donald Trump (2017-).
A política externa do México: breve panorama do século XX
As relações bilaterais México-EUA são caracterizadas por particularidades
históricas, geopolíticas e geoeconômicas. Do ponto de vista mexicano, questões
4 No original, NAFTA, North American Free Trade Agreement.
5 A interdependência assimétrica refere-se a situações de dependência mútua entre Estados que apresentam
significativa diferença em seus recursos de poder.
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113Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
relativas à soberania e à ingerência estadunidense são temas sensíveis. Ao
longo do século XX até o fim da Guerra Fria esta postura se refletiu em relações
internacionais autônomas, diversificadas e não alinhadas aos EUA. O governo
mexicano participou ativamente de fóruns internacionais multilaterais e procurou
diversificar, política e economicamente, as suas relações exteriores com ênfase
na Cooperação Sul-Sul (CSS).
Bernal-Meza (2007) indica que esta postura de autonomia nas relações
exteriores caracterizou a agenda diplomática das décadas de 1970/1980. Tendo
como base as reflexões da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL),
o México, assim como outros países, baseou suas estratégias internas e externas
na ampliação dos intercâmbios internacionais, na industrialização por substituição
de importações e na construção de uma potência média (VISENTINI, 2013)
6
.
Como exemplos destacam-se a participação do México nos fóruns multilaterais
terceiro-mundistas e no Grupo de Contadora, em 1983.
A singularidade do México foi o domínio do Partido Revolucionário Institucional
(PRI), que garantiu relativa estabilidade política. Enquanto se adotava uma postura
autoritária internamente, mantinha-se uma “política externa de Estado”, com
forte traço revolucionário (GONZÁLEZ, 1989). Com a crise da dívida nos anos de
1980 e o decreto da moratória mexicana, em 1982, a América Latina entrou na
“Década Perdida” (BERNAL-MEZA, 2007), o que levou à quebra desta estratégia
e à mudança de paradigma da política externa e interna.
Em 1989, o fechamento de espaços internacionais e a potencial unipolaridade
norte-americana somente acentuaram a dependência geopolítica e geoeconômica
México-EUA. A partir do governo de Miguel de La Madrid, do PRI (1982-1988),
com a continuidade na gestão de Salinas de Gortari (1988-1994) e Ernesto Zedillo
(1994-2000), o país iniciou a aproximação com os EUA e a adesão à agenda
neoliberal do Consenso de Washington, processo comum na região.
No âmbito latino-americano, agregou-se a esta pauta a promoção dos acordos
de livre comércio regionais, com baixa institucionalização política e foco na abertura
econômica, liderados pelos EUA, governados pelo republicano George H. Bush
(1989-1993). O estabelecimento do NAFTA insere-se neste quadro e formaliza as
relações econômicas e a dependência do México diante dos EUA. Ele foi o primeiro
6 O conceito de potência média se refere a nações de porte grande e médio, que buscam o desenvolvimento
autóctone e o incremento de capacidades multilaterais e estatais. Os projetos de desenvolvimento são baseados
na indução, pelo Estado, da industrialização e de setores estratégicos como infraestrutura, transportes e
comunicações. Dentre os exemplos citam-se: o Brasil do período do Regime Militar de 1964 a 1985, na América
Latina, a Coreia do Sul e a Índia na Ásia.
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114 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
de uma série de Tratados de Livre Comércio feitos pelo México. Ainda na década
de 1990, o país fez acordos deste nível com a Costa Rica, a Nicarágua e o Chile
(MÉXICO, SECRETARÍA DE ECONOMÍA, 2017). O México tem 12 acordos de livre
comércio com cerca de 50 países
7
(EXPORT GOV, 2019).
As relações comerciais México-EUA já eram intensas. Antes do Tratado entrar
em vigor, em 1993, o México exportou para os EUA 82,7%, enquanto importou
69,2% (MÉXICO, SECRETARÍA DE ECONOMIA, 2019). A China representava
pouco: na pauta de exportações, 0,08%, e na de importações, 0,59% (MÉXICO,
SECRETARÍA DE ECONOMÍA, 2019). Para os membros da Associação Latino-
americana de Integração (ALADI), o México exportou 3,4% do total, em 1993, e
importou 3,3% (MÉXICO, SECRETARÍA DE ECONOMÍA, 2019). Em 2018, o comércio
exterior do México com os EUA se concentrou no âmbito das exportações, 79,4%,
mas mais diversificado nas importações, 46,4% do total (MÉXICO, SECRETARÍA
DE ECONOMÍA, 2019). O NAFTA, portanto, ampliou tendências existentes.
Como estrutura de livre comércio construída na lógica do regionalismo aberto
(representativa de integração flexivel), o NAFTA se caracterizava pelo teor
econômico das trocas comercias, mesmo com o acréscimo de acordos paralelos pelos
EUA. Estes acordos, no setor ambiental e trabalhista, visavam minimizar as críticas
internas ao projeto que, supostamente, transferiria empregos norte-americanos
ao México, país que possui legislações mais frouxas nestes campos.
Apesar destas pressões, em 1994 acreditava-se que o NAFTA pudesse
maximizar as oportunidades econômicas do México, por meio da abertura comercial
e financeira. Nenhuma das expectativas se realizou: nem a dos EUA, de barrar a
transferência de indústrias para o México (maquiladoras), nem a do México, de que
as exportações para o vizinho e a entrada de investimentos externos dinamizariam
sua economia. Simbolicamente, a entrada em vigor do NAFTA, em 1994, coincide
com o levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional no México, que expõe
as contradições políticas, estratégicas e sociais do país
8
.
O governo dos EUA esperava utilizar o acordo como uma plataforma para
outros tratados, que englobariam o continente: o NAFTA poderia ser incorporado na
Iniciativa para as Américas (IA), que visava a construção de uma Zona Hemisférica
7 Dentre os países e blocos com os quais o México possui acordos de livre comércio incluem-se a União Europeia
(UE), a Associação de Cooperação Econômica do Pacífico (APEC), Japão e Israel.
8 O EZLN configura-se como um movimento revolucionário de esquerda, com bases no pensamento marxista, que
se estabeleceu em Chiapas, sul do México. Dentre as suas bandeiras, estabelecidas na Primeira Declaração da
Selva Lacandona encontram-se a defesa da soberania popular do México, a liberdade para os povos indígenas
elegerem suas autoridades e o fim do saque aos recursos naturais do país.
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115Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
de Livre Comércio (ZHLC). A IA não obteve avanços entre 1990/1991 e, a partir de
1994, foi substituída pelas negociações da Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA). A ALCA também não entrou em vigor, esgotando-se ao longo do processo
negociador entre 1994 e 2005
9
. O governo do México temia que ela gerasse uma
diluição da relação preferencial diplomática e do NAFTA, em prejuízo das relações
bilaterais. O México se insere no século XXI, consolidando as tendências de
abandono da autonomia e prioridade à agenda bilateral com os EUA.
O governo de Vicente Fox (2000-2006)
A chegada ao poder do Partido da Ação Nacional (PAN), em 2000, trouxe
grandes expectativas de mudança na condução das relações exteriores. A polí-
tica externa seria o principal mecanismo para projetar o México democrático
no sistema internacional, depois de mais de setenta anos de domínio do PRI.
Entretanto, este governo não mudou o escopo das relações bilaterais México-EUA,
implementadas no imediato pós-Guerra Fria: observou-se a continuidade do
processo de realinhamento dos anos 1990, reforçando a interdependência dentro
do paradigma neoliberal.
A mudança partidária consolidou a abertura política. Em 1997, o governo
mexicano firmou o Acordo Global com a União Europeia, que inclui uma cláusula
democrática
10
, e reconhece a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos
Humanos. Em 2000, o México ratificou o Estatuto de Roma, que instituiu o Tribunal
Penal Internacional. Foi na gestão Fox que o México ocupou, pela primeira vez, um
assento temporário no Conselho de Segurança da ONU, no período 2001-2002
11
.
9 Desde 2005, a proposta da ALCA, foi abandonada. A probabilidade de que projetos regionais similares, liderados
pelos EUA, sejam retomados é quase nula devido às políticas comerciais protecionistas da administração Trump
e a baixa prioridade atribuída ao continente latino-americano.
10 A cláusula democrática, que também consta no Mercado Comum do Sul (Mercosul), refere-se à demanda de que
os países membros de um bloco regional preservem seu regime democrático, desenvolvendo instrumentos de
proteção e preservação dos direitos humanos. Em caso de ruptura de ordem democrática, os Estados membros
em violação desta regra podem ser suspensos do bloco, ou até expulsos. Neste caso específico México-UE,
o artigo 39 do "Acordo de Associação Econômica, "Concertación Política y Cooperación entre la Comunidad
Europeia y sus Estados miembros, por una parte, y los Estados Unidos Mexicanos, por otra” prevê que as partes
atuarão em prol dos direitos humanos e dos valores democráticos (EUROPEAN UNION, 1997, s/p).
11 O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU) é composto por quinze membros: cinco membros
permanentes, com direito a poder de veto, e dez membros não-permanentes, sem poder de veto. Os cinco membros
permanentes definidos na fundação da organização são os EUA, a França, o Reino Unido, a China e a Rússia. Os
dez membros não permanentes são eleitos pela Assembleia Geral (AG), e seus mandatos são de dois anos.
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116 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
Para Velasco (2010), a incorporação na agenda de temas relacionados à democracia
e aos direitos humanos teria um efeito “cadeado” no ambiente doméstico, evitando
mudanças em governos futuros.
Contudo, não se contava com a alteração brusca no quadro internacional.
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 submeteram a política externa
mexicana a grande pressão por parte dos EUA, comprometendo os objetivos
estratégicos. Para os EUA de George W. Bush, eram prioridades o foco na Guerra
Global contra o Terrorismo na Eurásia (Afeganistão-2001/2014 e Iraque- 2003/2011)
e a projeção de poder sustentada em temas de segurança.
As divergências se expressaram em diversos níveis, no bilateral e no multilateral.
De acordo com Blackmore e Pellicer (2011), o México não conseguiu expressar a
solidariedade necessária depois dos atentados, o que prejudicou a cooperação.
Maior distanciamento se apresentou no caso da invasão ao Iraque: enquanto a
grande potência buscava apoio para a guerra preventiva, o México defendia uma
saída multilateral negociada, como diversas nações do sistema internacional, dentre
as quais Alemanha, Rússia, França e Brasil. Os norte-americanos prosseguiram
com a operação de guerra no Oriente Médio, sustentada na Estratégia de Segurança
Nacional de 2002, a Doutrina Bush
12
.
O predomínio de temas de segurança se traduziu em uma agenda voltada
para as questões de imigração e do narcotráfico, diferente do interesse mexicano
que focava a revitalização do NAFTA. No que se refere ao narcotráfico, os EUA
introduziram uma definição ampliada do termo “narcoterrorismo”, que liga os
cartéis de drogas ao financiamento das atividades terroristas. Esta classificação
passa a ser aplicada ao caso da Colômbia, país com o qual os EUA já possuíam
uma operação conjunta de guerra contra as drogas o Plano Colômbia (2000), e
estende-se ao México, através da Iniciativa Mérida
13
.
De acordo com Heredia e Rozental (2011), este processo levou ao distanciamento
estratégico. O período pós-11/09 gerou a gradual deterioração da imagem
mexicana para os norte-americanos, que passaram a perceber o país como uma
ameaça devido à pressão do tráfico de drogas e da imigração ilegal na fronteira.
12 A Doutrina Bush sustentavaque os EUA deveriam antecipar-se aos perigos à segurança nacional.
13 A América Latina se inseriu na GWT pela declaração da Tríplice Fronteira Argentina, Paraguai e Brasil como
zona de risco terrorista. Outras iniciativas foram a revitalização da Quarta Frota do Atlântico Sul, o aumento
de investimentos no Comando Militar do Sul (USSOUTHCOM) e a criação do Comando Militar da África
(USAFRICOM).
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117Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
O caráter interméstico destes temas se acentua, naturalizando-se no debate político
norte-americano.
A avaliação é compartilhada por Blackmore e Pellicer (2011). O aumento da
preocupação dos EUA com a sua segurança nacional transbordou para a agenda
bilateral. Para Blackmore e Pellicer (2011), a agenda da segurança é a que mais
avança, haja visto o esgotamento do entusiasmo com o NAFTA. Nessa mesma linha
Flores (2011) acredita que “[…] a agenda bilateral EUA-México “securitizou-se” e/ou
“narcotizou-se”, enquanto outros temas passaram para um plano secundário”
14
(FLORES, 2011, p. 87, tradução nossa).
Os EUA definiram a agenda unilateralmente, enterrando qualquer possiblidade
de negociação. Chegar a um acordo migratório era o principal objetivo da política
externa do presidente Fox. Ele era parte da proposta do México do NAFTA-plus,
ou seja, criar “[…] uma comunidade na América do Norte que promovesse o livre
trânsito de bens, serviços e indivíduos”
15
(VELASCO, 2010, p. 136, tradução nossa).
Esperava-se incluir novos temas que não tinham sido acordados. Este seria, para
o Secretário das Relações Exteriores do México, Jorge Castañeda, um dos eixos da
política externa no período, a construção de uma “relação de alcance estratégico
com os EUA. O outro seria desenvolver uma participação mais ativa do México
no cenário internacional do século XXI (CASTAÑEDA, 2001):
Todas as nações tendem a equilibrar as suas relações bilaterais assimétricas
fortalecendo vínculos com outros países ou outras regiões. Isso é praticamente
impossível para o México. Devido à sua localização geográfica e seus estreitos
vínculos com os Estados Unidos, nosso país não pode se propor à equilibrar
a sua política externa mediante outro esforço bilateral, dando maior peso à
outro país ou, inclusive, à outra região, já que esse necessariamente teria um
efeito limitado, dada a assimetria da nossa relação e a posição hegemônica
dos Estados Unidos no sistema internacional
16
. (CASTAÑEDA, 2001, s/p,
tradução nossa).
14 “[…] la agenda bilateral de Estados Unidos y México se ha “securitizado” y/o “narcotizado”, mientras que
otros temas han pasado a un plano secundario” (FLORES, 2011, p. 87).
15 Do original: “[…] una comunidad de América del Norte que promoviera el libre tránsito de bienes, servicios e
individuos” (VELASCO, 2010, p. 136).
16 Do original: “Todas las naciones tienden a equilibrar sus relaciones bilaterales asimétricas fortaleciendo vínculos
con otros países u otras regiones. Ello resulta prácticamente imposible para México. Por su ubicación geográfica
y sus estrechos vínculos con Estados Unidos, nuestro país no puede proponerse equilibrar su política exterior
mediante otro esfuerzo bilateral, dando mayor peso a otro país o, incluso, a otra región, toda vez que éste
necesariamente tendría un efecto limitado, dada la asimetría de nuestra relación y la posición hegemónica de
Estados Unidos en el sistema internacional” (CASTAÑEDA, 2001, s/p).
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118 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
De acordo com Castañeda (2001), nenhum país poderia substituir os EUA na
economia mexicana. A alternativa para maior autonomia e poder de barganha
poderia derivar do incremento da participação mexicana nas organizações
internacionais multilaterais. Oficialmente, esta correlação se traduziria em maior
equilíbrio das relações internacionais e, consequentemente, de suas relações com
os EUA. Este objetivo de “equilibrar” as relações bilaterais EUA-México não foi
alcançado, pois não houve alteração nos fatores econômicos da dependência.
As relações econômicas não foram aprofundadas e a agenda se tornou mais
securitizada. Na visão de Garza, Schiavon e Flores (2010), a gestão Fox não
conseguiu promover as mudanças necessárias para diminuir a vulnerabilidade.
Pelo contrário, aprofundou a dependência e aumentou a distância que separava
o México da América Latina. O governo Fox discordou abertamente das posturas
ideológicas de muitos países na América Latina
Fox procurou se contrapor, como indica Bernal-Meza (2007), aos movimentos
de esquerda na região, que passaram a ser denominados de “onda rosa”, e à sua
visão bolivariana em alusão aos processos de libertação nacional e soberana do
século XIX, conduzidos por Simon Bolivar. Para Chodor (2015), a “onda rosa”
era representativa de um processo de reavaliação do paradigma neoliberal de
política interna e externa dos países latino-americanos, visando uma correção de
rumos mais voltada às políticas de valorização do Estado, recuperação de projetos
sociais e inserção internacional autônoma no eixo Sul-Sul, em contraposição ao
alinhamento com os EUA. Esta política respondia não só à crise política, econômica
e social, mas era representativa de um maior interesse em aprofundar os laços
regionais.
No século XXI, esta agenda foi liderada por Hugo Chávez (1999-2013) na
Venezuela e Luis Inácio Lula da Silva (2003-2010) no Brasil, também se podendo
destacar no Chile Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) e na Argentina Nestor
(2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015). Este movimento enfatizava posições
críticas com relação aos paradigmas neoliberais e a proposta de uma integração
americana autônoma, com foco na independência e soberania regional, e não
no realinhamento aos EUA. Representava um contraponto direto às perspectivas
mexicanas.
Fox se apresentou aos norte-americanos como um potencial líder do sistema
subregional da América Central e do Caribe, em contraposição ao projeto da
Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA). Atualmente denominado
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119Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
“Proyecto Integración y Desarollo Mesoamérica”, o “Plan Puebla-Panama
17
,
pensado pelo México, visa construir um sistema de cooperação entre as nações
locais (Belize, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicaragua
e Panama). Esta estruturação geopolítica e geoeconômica foi simultânea aos
esforços de integração regional do Brasil: vide a União das Nações Sul-Americanas
(UNASUL) criada em 2008, substituta da Comunidade Sul-Americana de Nações
(CASA) vigente entre 2004 e 2007.
O México não fazia parte destes arranjos, assim como não participara das
negociações prévias do projeto de Integração da Infraestrutura Sul-Americana
(IIRSA) nos anos 2000. Continuava apoiando uma visão pró-EUA, a despeito
do afastamento norte-americano devido à Guerra Global Contra o Terror e à
securitização da pauta bilateral em torno da imigração e do narcotráfico.
Em Outubro de 2006, a assinatura pelo Presidente W. Bush do “Secure Fence
Act” iniciou o processo de reforma do sistema de imigração norte-americano em
duas dimensões: a dimensão jurídica, que criminaliza a situação dos imigrantes
ilegais que atravessam a fronteira EUA-México e a dos migrantes indocumentados
que já residiam nos EUA, com medidas como encarceramento e deportação;
e a dimensão securitária. Esta segunda dimensão envolve a ampliação do aparato
de segurança por meio da militarização da fronteira, com o incremento do
patrulhamento e de efetivos na região, o monitoramento por novas tecnologias
e a construção de uma barreira física, i.e, o Muro EUA-México. Embora o tema
tenha ganho visibilidade na gestão Trump, a construção do Muro e seus dilemas,
referentes a efetividade, financiamento, características já ocorrem a mais de uma
década, ampliando a agenda de segurança bilateral (US MEXICO SECURITY TASK
FORCE, 2019).
Diante desses impasses, estava clara a necessidade de recompor os vínculos
com a América Latina. O México apenas havia mantido sua dependência dos
EUA e permanecia isolado. Em 2000, chegou a exportar para o vizinho 88,7%
dos seus produtos, um valor recorde (MÉXICO, SECRETARÍA DE ECONOMÍA,
2019). Desde então, este número diminuiu, ainda que os EUA continuem sendo
o principal sócio comercial do México:
17 O “Plan Puebla-Panamá” foi criado em 2000 com o objetivo de fomentar o desenvolvimento na América Central.
Ele passou a chamar “Proyecto Integración y Desarrollo Mesoamérica” em 2007, com a incorporação da Colômbia.
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120 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
Quadro 1 – Parceiros de Exportação do México (2001/2006) – Participação em %
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Estados Unidos 88,5 88,1 87,5 87,5 85,6 84,7
ALADI 1,8 1,8 1,7 2,2 2,8 3,2
América Central 0,8 0,9 0,9 0,9 1,1 1,1
União Europeia 3,2 3,4 3,7 3,6 4,2 4,4
China 0,1 0,4 0,5 0,5 0,5 0,6
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de México (2017) e Secretaria de Economia (2019).
Como o Quadro 1 indica, o governo de Vicente Fox entre 2001 e 2006 apenas
reproduziu a tendência econômica de dependência dos mercados norte-americanos.
Não houve uma ampliação de mercados para a exportação dos produtos mexicanos,
preservando-se a situação de interdependência assimétrica. Para o México a
dependência centralizada em um só mercado eleva sua vulnerabilidade econômica,
e dificulta obter melhores condições de barganha em negociações comerciais. As
alterações nas exportações são pouco significativas. Apenas ressaltam a condição
subordinada do país à esfera de influência norte-americana e sua participação
marginal nos mercados europeu, asiático e latino-americano. No caso das
importações percebem-se algumas alterações, como indica o Quadro 2.
Quadro 2 – Parceiros de Importação do México (2001/2006) – Participação em %
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Estados Unidos 67,5 63,1 61,7 56,3 53,4 50,8
ALADI 2,8 3,2 3,8 4,5 4,7 4,8
América Central 0,2 0,3 0,7 0,6 0,6 0,5
União Europeia 9,9 10,0 12,7 11,0 11,6 11,3
China 2,3 3,7 5,5 7,3 7,9 9,5
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de México (2017) e Secretaria de Economia (2019).
O período Fox apresentou diminuição da participação dos EUA na pauta de
importações do México (em mais de 15%), e o crescimento da participação da UE
e da China (com maior expansão da China proporcionalmente). Os esforços de
aproximação com a China eram lentos, como aponta Peters (2016), o que sugere
perda de oportunidades. Segundo Flores (2010) Fox deixou o país em uma situação
menos favorável. Para ele, “[…] a política externa mexicana se ajustou ao tema da
agenda bilateral que interessava particularmente aos Estados Unidos: a segurança
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
121Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
nacional”
18
(p. 108, tradução nossa). O auge desse processo foi a criação da Aliança
para a Segurança e a Prosperidade da América (ASPAN), em 2005.
O governo de Felipe Calderón (2006-2012)
Felipe Calderón, também do PAN, foi eleito em meio a um cenário de pola-
rização política. Eram amplos os questionamentos sobre as opções relativas ao
NAFTA e às relações com os EUA. A sociedade se encontrava dividida, reprodu-
zindo contradições pelas quais passara a América Latina: a continuidade do neo-
liberalismo com Calderón, ou uma mudança em direção à agenda da “onda rosa”,
representada pelo candidato Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revo-
lução Democrática (PRD). Calderón venceu por cerca de 233 mil votos (MÉXICO,
INSTITUTO FEDERAL ELECTORAL, 2006), em eleição contestada pela oposição
por conta de possíveis fraudes, o que o levou a buscar legitimidade para governar.
O quadro internacional gerado pela GWT, o isolamento norte-americano,
a intensificação de tendências multipolares representadas pela ascensão do
Sul simbolizado pelos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)
19
e o
ambiente doméstico no México promoviam incentivos para algumas mudanças
externas. A reformulação era sustentada pela percepção de que a relação bilateral
permanecia definida em termos securitários, com foco na visão norte-americana
de combate à imigração ilegal e a guerra contra as drogas. Para Heredia e Rozental
(2011), os EUA viam o México como coadjuvante e receptor de políticas, o que
somente aprofundava as assimetrias. Esta situação gerava perdas para o governo,
que se via pressionado pela opinião pública a assumir posturas mais assertivas.
Além da construção do muro, iniciada em 2006, e da intensificação do
patrulhamento na fronteira, o estabelecimento da Iniciativa Mérida, a “guerra contra
as drogas mexicana”, é um marco. Em 2008, por meio de um acordo bilateral,
a Iniciativa Mérida entrou em vigor, sustentando-se em quatro pilares: “afetar a
capacidade operativa do crime organizado”, buscando diminuir o poder dos grupos
e a produção de drogas; “institucionalizar a capacidade pública para manter o
Estado de direito”, fortalecendo as instituições para melhor controle interno; “criar
18 Do original: “[…] la política exterior mexicana se ajustó al tema de la agenda bilateral que interesaba
particularmente a Estados Unidos: la seguridad nacional” (FLORES, 2010, p. 108).
19 O México foi incluído como emergente em: MINT (México, Indonésia, Nigéria e Turquia); MIKTA (México,
Indonésia, Coreia do Sul, Turquia e Austrália); e NEXT-11 (México, Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Coreia
do Sul, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia e Vietnã), ver GOLDMAN SACHS, 2017, s/p.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
122 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
a estrutura fronteiriça do século XXI”, investindo em tecnologia mais moderna de
patrulha; e “construir comunidades fortes e resilientes”, implementando programas
de trabalho e expandindo a rede de proteção social (EMBAJADA Y CONSULADOS
DE ESTADOS UNIDOS EN MÉXICO, 2017).
A chegada de Barack Obama ao poder, em 2009, trouxe a expectativa de
que seriam realizados ajustes nestas políticas e na agenda migratória. Obama,
visando atingir o eleitorado latino em sua campanha de 2008, realizou inúmeras
promessas com relação a uma reforma de migração justa e a renovação dos laços
político-econômicos. A ideia era reforçar a premissa da parceria estratégica, o que
foi visto com bons olhos pelo governo Calderón. Como aponta Lowenthal (2011),
A administração de Obama encontrou-se diante de um dilema: planejar
esforços de emergência para diminuir impactos dos problemas do México
nos Estados Unidos ou elaborar uma parceria mais efetiva com o México
em prol de ajudá-lo a lidar com esses problemas e diminuir os possíveis
impactos. (LOWENTHAL, 2011, s/p, tradução nossa
20
).
A visita de Obama ao México, em abril de 2009, indicou a impossibilidade
de um diálogo sustentado: para os EUA, os focos eram a Guerra do Iraque e a
crise econômica de 2008, enquanto para o México eram prioridades temas como
desenvolvimento, política migratória e a violência nas fronteiras (FLORES, 2011). Um
dos pontos de maior insatisfação foi a resposta unilateral norte-americana à crise
de 2008-2009, mesmo diante de todos os efeitos negativos na economia mexicana.
Em 2009, o Produto Interno Bruto do México caiu 4,7% (MEXICO-WORLD BANK,
2019) e a moeda passou por forte instabilidade.
Os esforços de Obama esbarravam em uma forte oposição do Legislativo e de
parte da população, o que levou a uma agenda tardia e incompleta de reformas.
Em 2010, os grupos de interesse mexicanos e latinos realizaram uma importante
marcha em Washington, demandando o cumprimento das promessas de campanha
e a observância dos direitos civis e constitucionais dos imigrantes, mesmo os
indocumentados.
Para Heredia e Rozental (2011), qualquer reforma de imigração teria responder
a interesses de dois grupos distintos: o eleitorado latino e a população em geral. Os
autores apontam as seguintes temáticas como chave: maior controle de fronteiras
20 Do original: The Obama administration found itself faced with a choice: plan emergency efforts to quarantine
the United States from troubles in Mexico, or devise a more effective partnership with Mexico in order to help
deal with that country´s problems and their implications for the United States. (LOWENTHAL, 2011, s/p)
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
123Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
e pontos de entrada nos EUA e sanções para os indocumentados; regularização do
status de trabalhadores indocumentados que passem pela mudança de legislação
e aplicação de multas; criação de caminhos legais para os trabalhadores já com
green card se tornarem cidadãos permanentes; e soluções para regularizar o fluxo
de trabalhadores temporários ou convidados em épocas de necessidade, conforme
a sazonalidade do mercado de trabalho.
O resultado foi o desgaste das relações bilaterais que, associado à crise
econômica no México, levou à reconsideração da agenda internacional. Mas, em
que consistia esta reformulação? Na América Latina, os desdobramentos do governo
anterior indicavam a necessidade de recomposição dos laços, a começar pela
relação com Cuba
21
. Flores e Castillo (2012) observam que a América Latina foi o
principal destino dos esforços diplomáticos do México no sexênio, além da Ásia,
alavancados pela importância estratégica da China. O incremento da cooperação
com as regiões emergentes seria um contrapeso aos EUA (FLORES; CASTILLO, 2012).
Identifica-se mudança de percepção entre os dois governos do Partido da
Ação Nacional (PAN). Enquanto na gestão de Fox se acreditava na possibilidade
de contrabalancear a dependência por meio da atuação nos fóruns internacionais,
mantendo a aposta nas relações com a grande potência, na gestão de Calderón se
acresceram os pesos atribuídos às regiões, em particular aquelas que ganhavam
projeção. De acordo com Icaza e Sandoval (2014), a emergência a consolidação da
região do Pacífico, pressionou os países intermediários a ter uma política externa
proativa, para buscar espaços econômicos.
O México procurou se engajar com a região do Pacífico, formalizando o Foro
do Arco do Pacífico Latino-Americano (2007) e a Aliança do Pacífico (2012). Além
disso, estabeleceu uma Parceria Estratégica com a China (2013), que, como visto
no Quadro 2, foi um dos intercâmbios que mais cresceu no campo das importações
no governo Fox. A ampliação dos laços sino-mexicanos apresenta semelhanças e
diferenças a outros países latino-americanos.
Em termos de semelhanças, a aproximação é sistemática desde o início do
século XXI, como parte da projeção de poder da China no hemisfério ocidental. Tal
ação foi intensificada a partir de 2008 com a edição do White Paper para a América
Latina (CHINA´S POLICY PAPER ON LATIN AMERICA AND THE CARIBBEAN,
2008) e iniciara-se em 2004, com a Diplomacia de Cúpulas do governo Hu Jintao,
como aponta Zhu (2013). Baseada na CSS e na doutrina chinesa do desenvolvimento
21 A incorporação na agenda externa do México dos temas de direitos humanos e democracia aumentou as tensões
com Cuba e um rompimento com padrões anteriores.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
124 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
pacífico e harmonioso, estruturada nos princípios de um jogo de ganho-ganho,
esta projeção levou à intensificação de laços comerciais e políticos na América
Latina. A presença da China no México se insere neste quadro
22
, que cresce no
vácuo do poder estadunidense.
Em termos de diferenças, o México mais importa do que exporta à China,
padrão oposto ao dos demais países latino-americanos, que têm nas exportações
de commodities alimentares, energéticas e de matérias-primas (minérios e insumos
estratégicos) para a China, seu pilar central
23
. Cornejo (2019) aponta que este
desequilíbrio se deve ao fato de que China e México concorrem no setor comercial de
bens intermediários e, segundo, pelo fato do México não possuir uma forte presença
no setor de commodities alimentares e minerais (e no campo das commodities
energéticas como petróleo direcionar a maior parte de sua pauta aos EUA).
A presença da China no México não afeta as relações de interdependência com
os EUA. Porém, como Ellis (2018) sustenta, a ação da China na América Latina é
percebida como um problema de segurança pelos EUA à medida que permite que
um ator extrarregional esteja cada vez mais atuante em uma região geopolítica e
geoconômica inserida na esfera de influência norte-americana. No atual contexto
das relações sino-americanas, a América Latina pode se converter em importante
tabuleiro de disputas (DAALDER; LINDSAY, 2018; KAPLAN, 2018).
Foi lançada a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos
(CELAC), em 2010, que visava ser o principal fórum de discussões multilateral
do continente. O México optou por se inserir na CELAC, ampliando seus canais
de interlocução política, econômica e social. Em um contexto internacional no
qual o multilateralismo perde espaço existe a demanda para que os países em
desenvolvimento abram mais espaços de negociação e alianças (MAIHOLD, 2012).
Caso o México optasse por mudar sua inserção internacional, esta estratégia
poderia colocar em xeque sua relação com os EUA, à medida que haveria a
possibilidade de encontrar alternativas. Este seria um cenário que mais se
assimilaria ao “equilíbrio” pretendido pelo Ministro das Relações Exteriores,
Castañeda, já examinado. Para os EUA não seria interessante, pois reduziria a
dependência mexicana.
O Plano Nacional de Desenvolvimento
24
2007-2012, afirma que o México não
ocupa um espaço no sistema internacional condizente com suas capacidades, o que
22 Ver FUNG; GARCIA-HERRERO, 2012; GALLAGHER; PORCEZANSKI, 2010.
23 Recomenda-se MYERS; WISE, 2017; VADELL, 2019.
24 Documento lançado todo início de sexênio pela Presidência da República do México, no qual constam os
objetivos e as estratégias do novo governo.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
125Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
poderia ser atingido com uma “política externa responsável”, de atenção à gover-
nança internacional, às agendas de sustentabilidade e progresso humano (MÉXICO,
PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA, 2007). A projeção mais ampla ou “multivetorial”
do México no sistema internacional não significa se afastar dos EUA. A CELAC
e a Aliança do Pacífico são iniciativas pouco formalizadas, que não questionam
a influência da grande potência no continente e na política externa do México.
Reconhece-se que a “América do Norte é a região do mundo que possui maior
impacto sobre o bem-estar e o futuro do México em termos humanos, econômicos,
comerciais e políticos”
25
(MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA, 2007, p. 295,
tradução nossa). Para que o NAFTA respondesse de forma mais efetiva aos
novos desafios do sistema internacional e do “desenvolvimento compartilhado”,
seria necessário que se avançassem “[…] a etapas superiores de concentração
econômica”
26
(MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA, 2007, p. 295, tradução
nossa), além de ser um objetivo prioritário do México o estabelecimento de uma
solução duradoura para a problemática migratória.
Mesmo diante do discurso de diversificação de parcerias e das iniciativas
práticas, continuam em vigor, como principal objetivo da política externa do
México, as relações com os EUA. Calderón não se afastou do vizinho em termos
econômicos e estratégicos, pelo contrário, ambos expandiram a cooperação para
o âmbito militar. A participação do México nas iniciativas regionais representou a
recomposição dos laços com a América Latina e o Caribe e a expansão do espaço
de projeção política do México, sem ampliação dos vínculos econômicos:
Quadro 3 – Parceiros de Exportação do México (2007/2012) – Participação em %
2007 2008 2009 2010 2 011 2012
Estados Unidos 80,1 80,1 80,5 79,9 78,5 77,6
ALADI 3,8 4,8 4,3 5,0 5,4 5,6
América Central 1,2 1,3 1,3 1,2 1,2 1,2
União Europeia 4,9 5,8 5,0 4,8 5,4 5,9
China 0,6 0,7 0,9 1,4 1,7 1,5
Japão 0,7 0,7 0,6 0,6 0,6 0,7
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de México (2017) e Secretaria de Economia (2019).
25 Do original: “América del Norte es la región del mundo que tiene mayor impacto sobre el bienestar y el
futuro de México en términos humanos, económicos, comerciales y políticos” (MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA
REPÚBLICA, 2007: p. 295).
26 Do original: “La región de América del Norte debe adecuar sus dinámicas de interacción institucional para
responder a los nuevos retos de la competencia, la regionalización y el desarrollo compartido, avanzando hacia
etapas superiores de concertación económica” (MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA, 2007: p. 195).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
126 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
O quadro 3 demonstra continuidade com o período anterior, com as
exportações focadas no mercado estadunidenese. As variações foram mínimas,
independentemente do fato de que o período incluiu um importante evento
econômico: a crise econômica global de 2008, que teve nos EUA um de seus
epicentros e afetou também a UE.
Quadro 4 – Parceiros de Importação do México (2007/2012) – Participação em %
2007 2008 2009 2010 2 011 2012
Estados Unidos 49,9 49,0 47,9 48,0 40,6 49,9
ALADI 4,4 3,9 3,4 3,1 2,8 2,4
América Central 0,5 0,5 0,7 0,9 1,0 1,2
União Europeia 12,0 12,7 11,6 10,8 10,7 11,0
China 10,5 11,2 13,8 15,1 14,8 15,3
Japão 5,7 5,2 4,8 4,9 4,7 4,7
Elaboração própria com base em Banco de México (2017) e Secretaria de Economia (2019).
O Quadro 4 mantém as tendências apresentadas. Comparando os dados do
sexênio Fox e da administração Calderón confirma-se a tendência de ampliação
da participação da China no comércio exterior do México. As importações
mexicanas da China continuaram em elevação, implicando diminuição do conteúdo
importado de todos os outros sócios, com exceção da América Central. Apesar
de as iniciativas com a América Latina serem recentes, a alta concentração das
exportações nos EUA sugere que essa região seguirá ocupando posição marginal
no comércio exterior do México.
O governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018
27
)
A sucessão de Calderon foi, mais uma vez, conturbada, opondo novamente o
candidato reformista López Obrador à agenda de continuidade representada por
Enrique Peña Nieto, do PRI. Peña Nieto sagrou-se presidente, enquanto na América
Latina se percebia certo esvaziamento dos movimentos de centro-esquerda.
O objetivo da política externa mexicana continuou sendo ampliar o peso do
país no sistema internacional, inserindo-se como um ator de “responsabilidade
27 Recomenda-se a edição especial de Foro Internacional de Julio-Diciembre 2019.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
127Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
global”. De acordo com o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2018, isso
significava “ampliar e fortalecer a presença do México no mundo”
28
(MÉXICO,
PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA, 2013, p. 7, tradução nossa). Sobre a relação
com os EUA, objetiva “ampliar e aprofundar o diálogo bilateral com os Estados
Unidos, com base em uma agenda que reflita a diversidade, a complexidade e o
potencial da relação”
29
(MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA REPUBLICA, 2013 p. 147,
tradução nossa). Nos objetivos específicos não consta o estabelecimento de uma
política migratória, elemento que contrapõe este Plano ao anterior. Estes temas
se estendem às discussões do Programa Setorial de Relações Exteriores, cujas
prioridades são:
(1) Impulsionar relações bilaterais que contribuam para ampliar a presença
do México no mundo (2) Contribuir ativamente em fóruns multilaterais em
temas de interesse para o México e o mundo (3) Promover uma política de
cooperação internacional para o desenvolvimento em benefício do México e
de outros países (4) Promover o México mediante a difusão de suas forças e
oportunidades em matéria econômica, turística e cultura; e (5) Proteger os
interesses e os direitos dos cidadãos mexicanos no estrangeiro, fomentando
sua inclusão no país. (MÉXICO, SECRETARÍA DE RELACIONES EXTERIORES,
2013: p.10, tradução nossa
30
)
Esta declaração oficial, conforme Schiavon e Fischer (2019), esbarrava em
questões práticas: a pouca projeção e o orçamento restrito do serviço diplomático
mexicano. Entretanto, os autores destacam que estes posicionamentos se mostraram
relevantes pois sinalizavam possibilidade de mudança. Lallande (2019) e Velasco
(2019) apontaram a existência de esforços de CSS e de reposicionamento em
organismos multilaterais. Embora a dependência com os EUA não tenha sido
quebrada, pelo menos se observou uma expansão das negociações mexicanas que
poderiam, no médio e no longo prazo, estruturar-se autonomamente.
28 Do original: Ampliar y fortalecer la presencia de México en el mundo” (MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA
REPUBLICA, 2013, p. 7).
29 Do original: Ampliar y profundizar el diálogo bilateral con Estados Unidos, con base en una agenda que refleje la
diversidad, la complejidad y el potencial de la relación” (MÉXICO, PRESIDENCIA DE LA REPÚBLICA, 2013: p. 147).
30 Do original: “(1) Impulsar relaciones bilaterales que contribuyan a ampliar la presencia de México en el
mundo (2) Contribuir activamente en los foros multilaterales en torno a temas de interés para México y el
mundo (3) Impulsar una política de cooperación internacional para el desarrollo en beneficio de México y de
otros países (4) Promover a México mediante la difusión de sus fortalezas y oportunidades en materia económica,
turística y cultural (5) Proteger los intereses y derechos de las personas mexicanas en el extranjero, fomentando
así la inclusión en el país (MÉXICO, SECRETARÍA DE RELACIONES EXTERIORES, 2013, p. 10).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
128 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
Em Peña Nieto, a dimensão econômica foi fortalecida. Assim como se buscou,
no período anterior, tornar a agenda menos concentrada na temática migratória,
neste governo os esforços foram para diminuir o peso do combate ao narcotráfico.
Além da entrada nas negociações da Parceria Transpacífico e da sinalização para
participar nas do mega-acordo comercial EUA-União Europeia, o lançamento de
reformas estruturais, em novembro de 2012, conhecidas como “Pacto pelo México”,
fortaleceram a busca por investimentos externos. Tais reformas visavam incrementar
e estabilizar o crescimento econômico, aumentando a competitividade por meio
da abertura de setores ao capital internacional, como o energético. Em maio de
2013, durante visita de Barack Obama ao México, acordou-se o Diálogo Econômico
de Alto Nível México-EUA, com três objetivos: a promoção da competitividade
e da conectividade, o fomento do crescimento econômico e o exercício conjunto
de uma liderança regional e global (United States of American Embassy, 2013).
Em 2013, veículos de comunicação publicaram que a Agência de Segurança
Nacional (ASN) dos EUA espionara a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e
o candidato a eleição no México, Peña Nieto. Em setembro do mesmo ano, o
México expressou preocupação, e anunciou uma investigação sobre a questão da
espionagem da ASN
31
. Apesar disso, as denúncias não impactaram as relações
bilaterais
32
.
Obama destacou a interdependência: “É porque, como Presidente, tenho
trabalhado em aprofundar a parceria entre nossas duas nações. E hoje, Enrique
e eu discutimos formas de continuar estreitando a parceria Estados Unidos-
México”
33
(OBAMA apud UNITED STATES OF AMERICA, 2016, s/p, tradução
nossa). Em Dezembro de 2014, Obama apresentou uma reforma parcial, incluindo
a regularização de indocumentados, a facilitação de imigração legal e a deportação
de imigrantes acusados de crime e com menor tempo no país. Paralelamente,
manteve o projeto do Muro, legando a Trump cerca de 700 milhas de barreira
física construída em 2017. Outros tópicos que marcaram este fim de gestão foram
a continuidade da guerra contra as drogas e a reforma do NAFTA.
31 Ver: RTVE. México inicia una investigación “exhaustiva” del espionaje desde EE.UU. Disponível em: <http://www.
rtve.es/noticias/20131023/mexico-inicia-investigacion-exhaustiva-del-presunto-espionaje-desde-eeuu/773460.shtml>.
Acesso em: 11 dez. 2019.
32 No Brasil levaram ao cancelamento da visita de Estado que a Presidente Rousseff faria a Washington em Outubro
de 2013.
33 Do original: And that’s why, as President, I’veworked to deepen the partnership between our two nations
And today, Enrique and I discussed ways to keep strengthening the U.S.-Mexico partnership.” (OBAMA apud
UNITED STATES OF AMERICA, 2016, s/p).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
129Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
O debate estadunidense caminhava para rever o acordo em benefício dos
EUA ou, no extremo, encerrá-lo. Em 2016, estes temas foram tratados pelo então
candidato republicano, hoje Presidente Donald Trump, que tornou o México
(e a China) símbolo dos problemas sociais e econômicos dos EUA. Trump se
comprometeu com a aceleração da construção do Muro (e a polêmica proposta do
México custear, pelo menos parcialmente, os gastos), criminalizando imigrantes
ilegais e atribuindo ao país episódios de violência urbana, refugiados e guerra ao
narcotráfico (BBC, 2019b).
Em sua última visita oficial aos EUA, em junho de 2017, o presidente mexicano
fez menção ao processo eleitoral: “O governo mexicano estará observando
com grande interesse o processo eleitoral deste país, mas não apresentará sua
opinião. Ele não se envolverá neste processo. Essa é uma questão que, completa e
exclusivamente, corresponde ao povo dos Estados Unidos
34
(PEÑA NIETO apud
UNITED STATES OF AMERICA, 2016, s/p, tradução nossa). A não ingerência
pode ser interpretada como um “pedido” para que os EUA respeitem a soberania
do México, que em 2018 também elegeu um novo presidente.
O México continuava sua busca por alternativas: a participação nos mega-
acordos regionais, a baixa formalização das iniciativas lançadas na América
Latina e o estabelecimento do Diálogo Econômico de Alto Nível pode indicar
prioridades diferentes da gestão anterior de Felipe Calderón. É possível afirmar
que o cenário oferecia oportunidades alternativas para a política externa, como
a aproximação com os países em desenvolvimento. A CELAC foi se tornando um
espaço importante de interlocução com o México, que percebeu no arranjo e em
seus desenvolvimentos uma possibilidade de reforçar laços intra e extrarregionais.
Em 2014, foi criado o Fórum China-CELAC. Em janeiro de 2015, resultou o Plano
de Cooperação (2015-2019) focado em investimentos, comércio, infraestrutura e
ciência e tecnologia. De acordo com Vadell (2018), a integração regional proposta
pelo Fórum China-CELAC, engloba elementos inovadores na construção da
arquitetura de cooperação extrarregional, entre a América Latina e a China, devido
à amplitude de setores e lógica de cooperação baseada no desenvolvimento.
Apesar de 2017 ter apresentado algumas incertezas com relação à CELAC e ao
Fórum China-CELAC, devido à situação político-econômica de Brasil e Venezuela,
2018 trouxe uma agenda renovada. Houve a edição do II Plano de Ação do Fórum
34 Do original: The Mexican government will be observing with great interest the electoral process of this country,
but it will not give its opinion It will not get involved in said process This is an issue that fully, exclusively
corresponds to the people of the United States.” (PEÑA NIETO apud UNITED STATES OF AMERICA, 2016, s/p).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
130 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
China-CELAC (2019/2021), cujos setores de dinamização e parceria econômica se
mantiveram os mesmos: infraestrutura, energia, comércio, ciência e tecnologia.
Ocorreu a formalização do convite para a participação da América Latina no
projeto do “Cinturão e da Rota” (Belt and Road Initiative-BRI, em inglês).
Iniciada em 2013 pelo governo do Presidente Xi Jinping, a BRI promove a
interconectividade entre os continentes asiático, europeu e africano, por meio de
modais de transporte, infraestrutura, tecnologia, livre comércio e desenvolvimento
econômico. Os seis corredores previstos e em construção são: a nova ponte terrestre
eurasiana, o corredor China-Mongólia-Rússia, China-Ásia Central-Ásia Ocidental,
China-Península da Indochina, China-Paquistão, Bangladesh-China-Índia-Myanmar
(RAHUL, 2018). A América Latina seria o próximo passo do projeto global de
desenvolvimento definido como a “Ponte Global Mundial” (World Land Bridge,
em inglês) (FORUM CHINA-CELAC, 2018).
De acordo com Cornejo (2019), o Fórum China-CELAC funcionaria como
o elemento de ligação entre a região e a China no âmbito da BRI. O México
poderia aproveitar esta oportunidade para desempenhar um papel de interlocutor
preferencial por sua localização estratégica, próxima aos EUA e aos Estados do
Caribe e América Central. Até o momento, porém, Panamá, Nicarágua, Bolívia e
Equador são os países com negociações mais adiantadas com a BRI, enquanto o
México continua em compasso de espera, à sombra do peso dos EUA em sua agenda.
Na segunda década do século XXI isso se revelou no campo político e se
manteve alta a concentração das exportações ao mercado norte-americano.
Os EUA são o principal provedor de investimentos externos diretos para o
México, que corresponderam, em 2018, a 38,8% do total (México, Secretaría de
Economía, 2019).
Quadro 5 – Parceiros de Exportação do México (2013/2018) – Participação em %
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Estados Unidos 78,7 80,2 81,0 80,7 79,8 79,4
ALADI 5,2 4,5 3,9 3,3 3,4 3,4
América Central 1,2 1,2 1,3 1,3 1,2 1,1
União Europeia 5,1 5,0 4,7 5,1 5,6 5,6
China 1,7 1,5 1,2 1,4 1,6 1,6
Japão 0,5 0,6 0,7 1,0 0,9 0,9
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de México (2017), Secretaria de Economia (2019) e WTO (s/d).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
131Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
Como o Quadro 5 demonstra, a balança comercial do México se concentra
nas relações bilaterais com os EUA, tendência que se mantém constante. Apesar
do México possuir ampla gama de acordos comerciais, os mesmos tendem a ter
efeito mais político do que econômico. Se quase 80% do fluxo das exportações
mexicanas são direcionados a um só mercado, é real a dependência.
Quadro 6 – Parceiros de Importação do México (2013/2018) – Participação em %
2013 2014 2015 2016 2017 2018
Estados Unidos 49,1 48,8 47,2 46,3 46,2 46,4
ALADI 2,4 2,4 2,4 2,4 2,5 2,5
América Central 1,2 1,0 0,5 0,5 0,4 0,4
União Europeia 11,3 11,1 11,0 10,9 11,6 11,4
China 16,0 16,5 17,7 17,9 17,6 17,9
Japão 4,4 4,3 4,3 4,5 4,3 3,9
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de México 2017, Secretaria de Economia (2019) e WTO (s/d).
Nas importações a China continua apresentado uma tendência de alta,
consolidando-se como a segunda principal exportadora para o México. Como
indica Cornejo (2019, p. 884),
O intercâmbio econômico entre México e China manteve uma tendência
de alta e paralela, e consequentemente, o crescimento do déficit mexicano.
A composição das importações do México teve uma ligeira mudança no que
se refere aos bens intermediários. A grande preocupação de vários setores
do país foi o déficit comercial e o baixo valor agregado das exportações
mexicanas à China. O que se tem observado é um aumento das exportações
de carne de porco e tequila. Porém, 74,5% das importações vindas da
China são de bens intermediários e 11,2% são bens de capital, grande parte
dos quais se utilizam na indústria automobilística e eletrônica, dirigidos à
exportação ao mercado dos Estados Unidos
35
.
35 Do original: “El intercambio económico entre México y China mantuvo una tendencia al alza y paralelamente
un crecimiento consecuente del déficit para México. La composición de las importaciones de México tuvo un
ligero cambio respecto al aumento de bienes intermedios. La gran preocupación en varios sectores del país fue
el déficit comercial y el bajo valor agregado de las exportaciones mexicanas a China. Lo que se ha observado es
un aumento de las exportaciones de carne de cerdo y de tequila. Pero el 74.5% de las importaciones originarias
de China son de bienes intermedios, y 11.2% son bienes de capital, gran parte de los cuales se utilizan en las
industrias automotriz y electrónica para exportarlos, ya ensamblados, en autos y dispositivos electrónicos, al
mercado de Estados Unidos.”
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
132 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
Isso aponta para uma dupla dependência mexicana das duas maiores
economias globais: os EUA de um lado, seu principal mercado exportador e de
importações, e a China, segundo país do qual mais o México importa.
O governo Peña Nieto pouco alterou a agenda política interna e externa,
a despeito das promessas iniciais. A interdependência assimétrica mais uma vez
prevaleceu, em um cenário adverso para o intercâmbio bilateral com a ascensão ao
poder em 2017 da administração republicana de Donald Trump. O unilateralismo
de Trump e as pressões sobre o México em temas relativos à imigração ilegal,
ao tráfico de drogas e à construção do Muro dominaram a agenda bilateral no
biênio 2017/2018 da gestão Peña Nieto. O período também foi caracterizado por
inúmeras acusações de corrupção contra o governo e pelo assassinato de 43
estudantes em 2014, em uma zona conhecida pelas disputas entre guerrilhas,
traficantes de drogas e milícias (CORNEJO, 2019). Neste contexto, Andrés Manuel
López Obrador se elegeu Presidente do México, com um progressismo moderado.
(DESSOTTI; SANTOS; FRANZONI, 2019).
O governo de Andrés Manuel López Obrador (2018-)
Andrés Manuel López Obrador (AMLO) foi eleito com ampla vantagem (53,19%
dos votos válidos) nas eleições presidenciais de 2018 (MÉXICO, INSTITUTO
NACIONAL ELECTORAL, 2018). A chegada do Movimento Regeneração Nacional
(Morena) ao poder representou grande alternância na política nacional, depois de
77 anos do PRI (1929 a 2000 e 2012 a 2018) e 12 anos do PAN (2000 a 2012). Há
expectativa de mudanças substantivas na política interna e externa do México,
potencializadas pelo então candidato, que prometeu a “quarta transformação
nacional”
36
.
No Plano Nacional de Desenvolvimento 2019-2024, o governo AMLO destacou
a necessidade de recuperar os princípios históricos da política externa do México,
“liquidados nos governos oligárquicos e neoliberais anteriores”
37
(AMLO, 2019,
p. 28, tradução nossa). Refere-se à auto-determinação dos povos, à não intervenção
e à solução pacífica de controvérsias. Este é um sinal de cautela, dado apenas o
início do sexênio, e um mecanismo de defesa diante das medidas adotadas pelo
governo de Donald Trump.
36 Alusão à Independência, Reforma e Revolução Mexicana de 1910.
37 Do original: ”El ciclo de gobiernos oligárquicos y neoliberales conllevó la liquidación de los principios históricos
de la política exterior mexicana […]” (AMLO, 2019: p. 28).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
133Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
Durante a eleição e nos primeiros meses de governo, López Obrador adotou
um tom conciliador quando questionado sobre o futuro das relações México-EUA.
Antes de assumir o governo, sua equipe, liderada por Jesús Seade, participou das
negociações para a modernização do NAFTA-agora Acordo EUA-México-Canadá,
em inglês USMCA. Por um lado, isso indica a limitada capacidade de negociação
política do governo de Peña Nieto, e por outro, uma transição de partidos sem
rupturas. AMLO começou a exercer as funções presidenciais antes mesmo de
assumir de fato, em 1 de dezembro de 2018 (PELLICER SILVA, 2019).
Sobre a relação aos EUA, o documento afirma que ela é a “principal prioridade
da política externa”
38
do México (AMLO, 2019, p. 29, tradução nossa). Estabelecem-
se como temas chave os fenômenos migratórios entre o Norte e o Sul, os mexicanos
que vivem nos EUA e a delinquência transnacional (AMLO, 2019). O governo
AMLO aponta que não negociará uma política migratória com os EUA, mas que
atacará as causas da problemática ao promover o desenvolvimento econômico
do México.
Não se questiona a prioridade atribuída aos EUA desde a década de 1980.
O alinhamento na política externa diferencia López Obrador dos governos de
centro-esquerda da América Latina na primeira década do século XXI, que
adotaram políticas autônomas diante dos EUA. Pelo contrário, AMLO sinalizou
que aproveitará a magnitude das relações com a grande potência para alavancar
sua agenda doméstica.
Em Dezembro de 2018, Obrador assumiu em meio à expectativa de aprovação
do USMCA pelos Parlamentos dos três países. A reformulação do acordo,
também conhecido como NAFTA 2.0, foi finalizada ainda em outubro de 2018,
sobrepondo-se ao fim da gestão Peña Nieto e ao início do governo Obrador
(BBC, 2019a). A nova versão do TCLAN pode ser considerada uma vitória da gestão
Trump diante de México e Canadá (e se insere no quadro das guerras comerciais
travadas com a China).
O USMCA reforçou o mercado regional norte-americano ao aumentar a regra de
origem do setor automotriz de 62,5% para 75% e dificultou o estabelecimento de
possíveis tratados com a China. Sánchez (2019) indica que o USMCA representou
um retrocesso para o México. De acordo com as novas regras, 40 a 45% dos
carros devem ser produzidos por trabalhadores que ganhem ao menos U$ 16 por
hora, o que inviabiliza parte da produção no México e pressionou o governo de
38 Do original: “[…] colocan la relación con esas naciones como la principal prioridad de la política exterior”
(AMLO, 2019: p. 29).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
134 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
López Obrador a aumentar os salários no país — 16% no geral e 100% na região
fronteiriça. No setor de laticínios, abriu o mercado canadense e facilitou o comércio
online (setor no qual os EUA tem ampla vantagem com empresas multinacionais,
como a Amazon).
Os impactos do USMCA ainda serão sentidos. A implementação do acordo
não impediu Trump de manter as pressões sobre o México em diversos setores:
guerra ao narcotráfico, migração e comércio, como ameaças de novas tarifas para
o ferro e o aço. Porém, mesmo que o republicano permaneça adotando um tom
hostil e de ameaça ao México, o país não possui alternativa aos EUA. Porém,
também não é fácil para os EUA distanciar-se do México. O país exerce papel
chave no controle do fluxo migratório proveniente da América Central e os estados
fronteiriços apresentam fortes relações comerciais.
Conclusões
As relações México-EUA se caracterizam por forte dependência econômica
e baixas variações políticas, em particular no pós-Guerra Fria. Como outras
nações do Sul, as pressões sociais, políticas, estratégicas e econômicas do fim da
bipolaridade trouxeram um legado de mudanças e ajustes, buscando adaptações
ao cenário internacional nascente. A partir de uma perspectiva histórica, o artigo
mostrou que as mudanças de partido político no México não impactaram de forma
substantiva a relação do México com os EUA, que seguiram um forte padrão de
continuidade e de manutenção do status quo.
O México mudou sua inserção internacional depois da crise da dívida de
1982. Apesar das suas relações econômicas com o vizinho sempre terem sido
intensas, o NAFTA institucionalizou os EUA como prioridade da política externa
e formalizou uma relação de dependência. Esta mudança foi um desdobramento
da política de abertura econômica, iniciada na gestão de Miguel de La Madrid
(1982-1988) e aprofundada com Salinas de Gortari (1988-1994). A abertura político-
institucional se iniciou com Ernesto Zedillo (1994-2000) e se consolidou no governo
do PAN de Vicente Fox (2000-2006). Os traços nacionalistas-revolucionários, que
historicamente pautaram a política externa, perderam força, o que impactou as
relações do México com o mundo.
Voltado para o Norte e com uma estratégia de inserção internacional
comercialista, o México se distanciou da América Latina. No governo Fox,
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
135Cristina Soreanu Pecequilo; Marcela Franzoni
predominou a falta de interesse entre as partes devido às diferenças entre a agenda
do México e a dos governos de centro-esquerda, que o viam como um aliado dos
EUA. Com a grande potência, esperava-se uma relação preferencial que levasse ao
estabelecimento de uma política migratória, o que nunca ocorreu. Pelo contrário,
as relações bilaterais foram securitizadas, resultando na Iniciativa Mérida, em 2007.
A questão migratória, que para o país é um tema social e de desenvolvimento,
incorporava-se à agenda de segurança dos EUA, alvo de medidas unilaterais.
O sexênio 2000-2006 se iniciou com grandes expectativas por parte do México
que foram, desde então, sendo substituídas por inúmeras frustrações. Sem
alcançar seus objetivos na relação com os EUA, e isolado regionalmente, o México
é levado a buscar maior aproximação com os países da América Latina, o que
explica a participação na CELAC e na Aliança do Pacífico no governo de Felipe
Calderón (2006-2012).
Por mais que a participação nestes mecanismos não significasse reformulação
da política externa, que continuaria focada nos EUA, ela abriu espaços na América
Latina. A evidência de que o eixo de inserção do México não foi alterado foi a
expansão da cooperação com os EUA para outras áreas, como nas medidas de
combate ao crime organizado da Iniciativa Mérida, a colaboração do México no
controle da imigração ilegal na fronteira Sul e as relações comerciais e financeiras.
Como mostraram os dados comerciais, a CELAC e a Aliança do Pacífico
apresentam capacidade limitada em dinamizar a pauta mexicana para além da
América do Norte. Apesar de o México ter acordos de livre-comércio com vários países
do continente, tais destinos representam pouco das importações e das exportações,
sendo insuficientes para promover a diversificação das relações econômicas.
Mesmo a China, que se tornou a principal parceira comercial da maioria dos
países latino-americanos, é uma alternativa pouco representativa nas exportações.
Argumentou-se que o México possui dificuldade histórica em administrar as
relações com os EUA e que tal postura foi potencioalizada após o fim da Guerra
Fria. A participação nos fóruns multilaterais e nos Tratados de Livre Comércio não
são suficientes para diminuir a dependência econômica. Mesmo em momentos em
que a diplomacia nacional apresentou maior ativismo, o vizinho exerceu grande
peso na sua projeção internacional.
A vulnerabilidade com relação à economia norte-americana é um incentivo
para que o México busque outras parcerias no sistema internacional. A magnitude
da associação produtiva com os EUA limita a diversificação econômica, estando
o México “preso” ao mercado norte-americano. Romper estes laços implicaria
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 110-141
136 As relações bilaterais do México com os Estados Unidos: um balanço de 2000 a 2018
reconsiderar sua estratégia de inserção internacional e de desenvolvimento
econômico. As iniciativas na América Latina estão muito mais associadas às
oportunidades da conjuntura regional/internacional do que à reformulação da
política externa. Em um cenário de crise doméstica em vários países da região,
os projetos se esvaziaram, diminuindo ainda mais o potencial de contrapesos do
México em relação aos EUA.
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