210 Os think tanks brasileiros e a agenda de política externa de Lula da Silva e Rousseff para a África
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 15, n. 1, 2020, p. 208-233
para análise. Na verdade, é proposta interpretação qualitativa plausível, a partir
da análise codificada e triangulação entre relatórios e literatura (Gibbs 2009).
A amostragem de think tanks foi selecionada a partir da listagem das Américas
Central e do Sul, de acordo com o Global Go To Think Tank Index Report de 2017
(McGann, 2018), publicado pela Universidade da Pensilvânia, edição essa que
abarcou as produções do recorte temporal dos governos estudados. O ranking
não compreende uma série de think tanks brasileiros conhecido do público
especializado em política externa, contudo, foi uma ferramenta pragmática
para não incorrer em preferências ou possíveis parcialidades. O ranking, cabe
mencionar, é a principal listagem internacional de instituições dessa natureza. Essa
preocupação em encontrar uma referência científica e internacionalizada
4
para
coletar a amostragem se faz pertinente diante da dificuldade em conceituar tais
instituições, visto que elas tomam as formas mais diversas, conforme o sistema
político e cultura de cada país (Denham e Garnett 2004).
A análise proposta neste artigo se restringe às publicações escritas em formato
de policy briefing, relatórios de pesquisa ou artigos de think tanks que apresentaram
grupos de trabalho especializados na temática África, institucionalizados ou ad hoc.
Cabe, contudo, enfatizar que esses think tanks possuem vasta gama de estratégias
para divulgar suas ideias que ultrapassam o formato escrito. Porém, optou-se pela
delimitação, uma vez que é esse tipo de material que reúne mais informação, ou
as principais, e que transita diretamente entre interessados na agenda e o núcleo
decisório, além de pautar também outras ações dessas mesmas instituições. Dito
isso, observou-se que onze, dentre quatorze listados no ranking, abordavam
assuntos relativos à política internacional. Contudo, a política externa brasileira
para África apareceu explicitamente em conteúdo escrito apenas em quatro,
a saber: BRICS Policy Center (BPC), Centro Brasileiro de Relações Internacionais
(CEBRI), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Instituto Igarapé.
Como ficará claro mais adiante, foi notável entre as publicações a
convergência de agenda dos think tanks no que se refere à cooperação sul-sul
para o desenvolvimento e às potencialidades mercadológicas para o empresariado
4 É necessário, ademais, elucidar como ocorre o desenho dos rankings anualmente publicados. Em geral, há uma
combinação de nomeações oriundas de personalidades e especialistas ligados às agendas e às mais diversas
regiões geográficas. Cerca de 7500 think tanks e 8500 jornalistas, doadores públicos, privados e policy-makers
de todo o mundo participam desses processos, que incluem, ainda, uma revisão das nomeações e classificações
por pares e especialistas. Diante das tantas faces de um think tank, o ranking é um mecanismo satisfatório,
embora não seja perfeito, visto que fornece caminhos transparentes para o mapeamento de tais instituições,
a despeito de quaisquer elementos subjetivos e contraditórios naturais aos think tanks.