
201Frederico de Almeida Castro Marinho
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 192-215
Sul Global, em que a China exerce função preponderante, constituiria apenas um
meio instrumentalizado pela China para se contrapor aos Estados Unidos na disputa
pela hegemonia global, como asseveram o Realismo Ofensivo e a perspectiva do
Poder Global, e nesse processo, passar a ser o polo dominante nas relações com
os países não desenvolvidos ou se, de fato, haveria a construção de uma dinâmica
mais horizontal nas alianças políticas e nas cooperações internacionais. Esse
suposto Consenso de Pequim estaria baseado em uma rede densa e complexa,
imbricando elementos de comércio e de investimento de maneira assimétrica, o
que, de acordo com ambas perspectivas teóricas, praticamente constituiria uma
nova relação de hegemonia.
De acordo com a lógica desse Consenso, o centro chinês, nevrálgico e definidor
dos ritmos e das intensidades dos relacionamentos comerciais, subordinaria os
países não desenvolvidos de acordo com suas demandas de recursos naturais e
energéticos, ao passo que os investimentos financeiros realizados teriam o objetivo
de, não apenas de estreitar os laços políticos e diplomáticos, mas, principalmente,
facilitar o acesso e o escoamento desses recursos para aquele país e fomentar a
exportação de produtos chineses de maior valor agregado. Pode-se interpretar,
portanto, que, nessa comparação, a China ocuparia, de fato, mutatis mutandis,
a posição dos países do Norte, utilizando a tradicional referência cardeal dos
relacionamentos Norte–Sul.
Assim, o eixo geográfico produtivo asiático, liderado pelas áreas mais
dinâmicas chinesas, sobretudo nas regiões sudeste e costeira, seria o pivô desse
relacionamento para os países não desenvolvidos extra-regionais, ao mesmo tempo
que também seria o pivô para os relacionamentos comerciais e econômicos com
os países da região, perfazendo uma complexa rede de suprimentos, de produção,
de distribuição e de comercialização. Nesse processo, o poder chinês seria
incrementado não somente em termos materiais, mas também em termos políticos,
em razão dessa densa teia de relacionamentos estabelecidos e, consequentemente,
das conexões e das dependências criadas.
Essas áreas subordinadas, por conseguinte, não se limitariam às regiões
latino-americanas e africanas, mas também englobariam, sobretudo, os países
asiáticos, que formariam uma franja nesse continente atrelada à China e gravitando
grande parte de suas economias ao redor desse país. Nesse sentido, vale ressaltar
que, atualmente, cerca de 60% do comércio asiático ocorre dentro do próprio
continente (AMARAL, 2016). A China teve, em média, cerca de 42% do total de
suas exportações direcionadas para o continente asiático nos últimos dois anos, ao