
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, 2019, p. 127-148
137Luiza Rodrigues Mateo
promoção do ideário neoliberal, através da ajuda condicional do Banco Mundial.
(LANCASTER, 2007: 82-83) Os Estados Unidos lideraram, nos anos 1980, a
abordagem de estabilização econômica, via programas de ajuste estrutural
difundida no sistema de CID norte-sul (MILANI, 2014, p. 42).
Com o desfecho da Guerra Fria, a lógica que deu origem à ajuda externa
estadunidense foi suspensa, mas sua utilidade se renovou com as demandas vindas
do leste europeu, a partir da dissolução da antiga União Soviética. No governo de
George H. W. Bush, o principal objetivo da ajuda externa foi apoiar a transição
política, econômica e social nos países do antigo bloco soviético. No início dos
anos 1990, os EUA atenderam a vinte e seis países da região, sobretudo com
programas de construção da democracia e do império da lei, com o financiamento
de eleições e apoio à sociedade civil (LANCASTER, 2007, p. 83-84).
Nesta fase, muitos recursos foram destinados, também em ajuda externa,
a situações pós-conflito, com destaque para aqueles ocorridos nos Bálcãs e na
África. A criação do Office of Transition Initiatives na USAID, em 1994, é um
reflexo do crescente engajamento da política externa dos EUA com intervenções
humanitárias e operações de paz, seguida de assistência para reconstrução em
países como Haiti, Camboja, Colômbia, Serra Leoa, Libéria, Sri Lanka, Indonésia,
Angola, Timor Leste (LANCASTER, 2007, p. 85). De forma semelhante, nota-se uma
expansão da ajuda externa em temas como saúde, meio ambiente e democracia,
catalisados pelo novo Bureau for Global Programs na USAID.
A administração democrata de Bill Clinton trouxe a teoria da paz democrática
para o centro da política externa, enunciando, nos documentos oficiais, a relação
entre democracia, desenvolvimento e paz. O diretor nomeado para a USAID em
1993, Brian Atwood, vindo de uma organização para promoção da democracia
(a National Democratic Institute for International Affairs), representava a
nova tônica da ajuda externa dos EUA. A criação do Center for Democracy and
Governance na USAID estruturou a nova agenda de assistência para a democracia
(CAROTHERS, 1995, p. 20).
Naquele período, a necessidade de reduzir o déficit federal nos EUA acarretou
cortes no orçamento de ajuda externa, na casa dos US$12 bilhões em 1993 para
US$9 bilhões em 1996, que acabaram sendo repassados desproporcionalmente aos
programas já existentes. Enquanto a ajuda para o desenvolvimento foi reduzida
em 25% entre 1993 e 1996, a ajuda bilateral (econômica e principalmente militar)
para parceiros tradicionais como Israel e Egito foi blindada por earmarks do
Congresso (LANCASTER, 2007, p. 86).