
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 15, n. 1, 2020, p. 29-55
35Alexandre Cesar Cunha Leite; Arthur Mastroiani Máximo de Lucena; Fábio Rodrigo Ferreira Nobre
Segundo os dados expostos, entende-se que, estrategicamente, a Ucrânia é
um parceiro relevante para a Rússia, particularmente, no setor energético. Logo,
assume-se que perder o mercado ucraniano para a UE tenha consequências
negativas na sua balança comercial, indo contra a diretriz de política comercial
desenhada nas ações de PE russa. As medidas de PE por vias militares, adotadas
por Putin na Crimeia, evidenciam o interesse russo na Ucrânia em assuntos
considerados estratégicos.
Caso ocorresse o corte do fornecimento de gás natural, o impacto negativo
na economia ucraniana poderia criar cenário doméstico conflituoso, que traria
consequências para toda a população da região. Considerando que o repasse de gás
à UE é realizado por dutos, a recusa de Yanukovytch em diversificar a economia
ou em aceitar acordos com multinacionais de origem ocidental, inserindo maior
competitividade no mercado ucraniano e não ratificar os acordos energéticos com
a UE, intensificou, na Ucrânia, sentimento de indignação, fomentando um conflito
civil entre pró-russos e pró-ocidentais (Lewis, 2014).
Frente a guerra civil ucraniana, por causa da insatisfação da sociedade e a
necessidade de segurança do Estado ucraniano, a Federação Russa se insere no
conflito com o intuito de defender os ideais ucranianos tradicionais e, mais que
isso, os interesses russos no país. Putin despachou tropas para a Ucrânia a fim de
defender o ideal eslavófilo, apropriando-se desta posição de parte da sociedade
de forma pragmática, defendendo interesses políticos e econômicos russos. Os
EUA, em movimento reativo e amparados pela UE, enviaram tropas da OTAN
para o país, aumentando o risco de uma guerra internacional (Mielniczuk 2014;
Bandeira 2019).
Diante das pressões da sociedade em forma de manifestação intensificando-
se na Ucrânia, Yanukovytch deixou o governo em 2014, assumindo o opositor
Oleksander Turtchynov que, além de ser oposição, buscava promover maior
relação com a UE, resguardado pelo apoio dos pró-ocidentalistas. Esta posição
política gerou insatisfação. A Rússia compreendeu estas modificações do governo
como agravante político e classificou a variação governamental como golpe no
Estado ucraniano. Tal entendimento apoiava-se na tramitação parlamentar de um
norteador pró-UE e anti-Rússia (Mulder 2019) que caminhava para aprovação pelo
Parlamento da Ucrânia. Como resultado, novos confrontos aconteceram motivados
por interesses dos pró-russos (Mielniczuk 2014; Mulder 2019).
Enquanto isso, na península da Criméia, região sul da Ucrânia, ocorreu uma
movimentação social antiocidentalista. A região, composta majoritariamente