Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, 2019, p. 27-51
45Isabela Nogueira
segundo Mao, as demais seriam ajustáveis de acordo com circunstâncias históricas
passageiras. Na prática, o igualitarismo fez com que os salários intrafábrica do
corpo administrativo e técnico mais elevado fossem, em média, 2,7 vezes maiores
do que a remuneração mais baixa, seguramente uma diferença muito pequena
em comparações internacionais (RISKIN, 1987. No universo rural, a coletivização
eliminou qualquer elemento de desigualdade associada à propriedade, e os
desbalanços que permaneceram estavam associados ao acesso à terra fértil, água e
insumos industriais (GRIFFING, 1982). Tudo isso, é bom ressaltar, é de um país de
renda per capita muito baixa e com ampla maioria da população vivendo no campo.
Portanto, uma primeira evidência razoavelmente consensual na literatura
sobre distribuição de renda durante o maoísmo é de que os níveis de desigualdade
intraurbana eram expressivamente baixos numa comparação internacional.
O coeficiente Gini chinês intraurbano, em 1981, era um dos menores do mundo,
0,16, e significativamente menor do que outros países asiáticos superpopulosos,
notadamente Índia (0,42), e do que os elevados patamares do sudeste asiático
(Indonésia 0,43, Filipinas 0,47, Malásia 0,52, ver tabela 4). O segundo consenso
refere-se à baixa desigualdade intrarural. Conforme resume Griffing (1982) em
artigo que revisa a literatura sobre o tema, ainda que haja divergência entre
as fontes de dados, nada relevante foi publicado que refute a tese de que “em
comparação com seu próprio passado e com demais países em desenvolvimento
da Ásia contemporânea [meados dos anos 70], o nível de desigualdade e renda
na China rural é marcadamente baixo” (GRIFFING, 1982, p. 274). Estimativas
do Banco Mundial vão ao encontro da conclusão de Khan e apontam para um
coeficiente Gini rural de 0,26 em 1979 (BANCO MUNDIAL, 1985).
Tabela 4 – Distribuição da renda urbana na China e comparações internacionais
40% mais pobres 20% mais ricos 10% mais ricos Coef. Gini
China (1981) 28,8 29,5 16,5 0,16
Bangladesh (1966/7) 17,1 47,2 31,5 0,40
Índia (1975/6) 16,9 48,4 34,1 0,42
Paquistão (1970/1) 19,1 44,4 39,7 0,36
Sri Lanka (1969/70) 16,3 47,5 31,7 0,41
Indonésia (1976) 16,0 49,4 34,5 0,43
Malásia (1970) 11,2 56,5 40,3 0,52
Filipinas (1971) 13,7 54,1 35,3 0,47
Tailândia (1975/6) 17,5 46,6 32,2 0,40
Fonte: World Bank, 1983, apud Riskin, 1987, p. 249.