Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, 2019, p. 149-171
162 A resiliência das agências de rating no sistema financeiro internacional: uma análise teórica
novas agências na categoria de NRSRO, fazendo com que, em 2018, dez empresas
já desfrutassem de tal condição
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Ainda ao final da década de 1960 e durante a década de 1970, contudo, uma
outra mudança paralela se consolidaria, de modo a impactar os fundamentos do
modelo de negócio do rating. Em meio aos avanços tecnológicos na indústria
da informação, que fizeram com que a venda das avaliações aos investidores
interessados se tornasse obsoleta, as agências de rating deslocaram a cobrança
pelos seus serviços para os emissores de instrumentos de dívida avaliados. Uma
outra hipótese para essa mudança, apontada por White (2013), seria a percepção,
por parte das agências, de que a rentabilidade de seu negócio estaria agora mais
associada aos emissores de dívida, uma vez que seus potenciais credores estavam
cada vez mais condicionados, por questões regulatórias, a somente poderem
investir mediante a observação de um determinado rating.
Em todo caso, tal modelo, que persiste até os dias atuais, passaria a suscitar
conflitos de interesse em torno da atuação das agências, uma vez que abre espaço
para que um contratante possa escolher pagar pelo serviço que lhe for mais
conveniente podendo, portanto, contratar a agência que lhe ofereça as melhores
avaliações. Com efeito, Bolton, Freixas e Xapiro (2011) observam que essa realidade
faz com que um monopólio faça com que o rating seja mais confiável, uma vez
que um duopólio ou uma competição entre as três maiores agências poderia
potencializar os efeitos negativos advindos da possibilidade de contratação do
serviço mais vantajoso. Já Dowbor (2017), por sua vez, é mais taxativo ao denunciar
a efetiva venda de notas melhores por valores mais elevados
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É diante desse panorama histórico que, a partir da década de 1980, as agências
de rating passam a adquirir relevância global no sistema financeiro internacional,
que emerge com a globalização financeira. Diante da configuração financeira em
estruturas dominadas pelos Estados Unidos e configuradas segundo suas práticas
e instituições, as agências passaram a se ver operando em nível global. Em outras
palavras, como demonstrado, estas gradualmente ocuparam um papel chave na
dinâmica financeira estadunidense, que, uma vez ecoada na globalização financeira,
13 Além das três agências levadas em consideração nesta pesquisa, o SEC informa, em sua página online, que
as demais NRSRO são: A. M. Best Ratings Services, DBRS, Egan-Jones Ratings, Japan Credit Rating Agency, HR
Ratings de Mexico, Kroll Bond Rating Agency e Morningstar Credit Ratings.
14 Dowbor (2017) destaca também a impunidade diante de casos de erros graves em ratings, que acarretam
consequências catastróficas em nível sistêmico. O autor lembra que a punição para as empresas, nesses casos,
vem em forma de multas que, na prática, constituem para elas valores irrisórios e que nenhuma pessoa física
é penalmente responsabilizada.