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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
As Novas Rotas da Seda: implicações geopolíticas
dos investimentos da China na América Latina
The New Silk Roads: geopolitical implications
of Chinese investments in Latin America
DOI: 10.21530/ci.v14n3.2019.921
Anna Carletti
1
Ricardo Lopes Kotz
2
Gabrielly Jacques Correia
3
Resumo
A Nova Rota da Seda, denominada Belt and Road Initiative (BRI), consiste em um plano de
investimentos proposto pela China, englobando 65 países, compreendendo aproximadamente
62% da população e 30% do PIB global. A BRI é a principal iniciativa de política externa
do governo Xi Jinping, resultando em uma visão estratégica para a projeção global do país.
A pesquisa pretende identificar os principais impactos geopolíticos da Nova Rota da Seda
para a América Latina, através do estudo de caso da ferrovia bioceânica planejada entre
Brasil, Bolívia e Perú. Os resultados preliminares permitem inferir que tal investimento
é fundamental para a China devido à exportação de recursos naturais estratégicos para a
manutenção do ritmo de desenvolvimento de sua economia no longo prazo.
Palavras-chave: China; Brasil; América Latina; Belt and Road Initiative; Ferrovia Bioceânica.
1 Professora Associada no Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
Possui graduação em Línguas Estrangeiras Modernas — pela Università Degli Studi Di Roma La Sapienza (1996),
Especialização em História da China e da Ásia Oriental pela I.S.I.A.O de Roma. É Doutora em História pela
UFRGS (2007), Pós-Doutora em Ciência Política pela mesma instituição (2011).
2 Mestrando em Estudos Contemporâneos da China pela Renmin University of China (Suzhou). Mestre em Relações
Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Estratégia e Relações
Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Relações Internacionais
pela UNIPAMPA.
3 Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
Artigo submetido em 23/03/2019 e aprovado em 02/09/2019.
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Abstract
The New Silk Road, known as the Belt and Road Initiative (BRI), consists of an investment
plan proposed by China, encompassing 65 countries, comprising approximately 62% of the
world’s population and 30% of global GDP. The BRI is the main foreign policy initiative of
the Xi Jinping government, resulting in a strategic vision for the global projection of the
country. The research aims to identify the main geopolitical impacts of the New Silk Road
in Latin America, through the case study of the bioceanic railway between Brazil, Bolivia
and Peru. The preliminary results point to the fact that such investments are fundamental
for China due to the access to strategic natural resources that are important in order to
maintain the pace of development of its economy in the long term.
Keywords: China; Brazil; Latin America; Belt and Road Initiative; Bioceanic Railway.
Introdução
A Nova Rota da Seda, também denominada Belt and Road Initiative (identificada
sob o acrônimo BRI) foi um projeto anunciado oficialmente pelo presidente chinês
Xi Jinping no ano de 2013. A BRI compreende a Silk Economic Road (componente
terrestre), que engloba a Eurásia continental e a Maritime Silk Road, uma rota
marítima que ligará os portos chineses no sudeste asiático a países da Costa Africana,
passando pelo Oceano Índico, pelo Canal de Suez, chegando até o Mediterrâneo
(STATE COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2015). No ano de 2018, o mandatário
Xi Jinping sinalizou que a BRI compreende igualmente a América Latina.
A BRI é um vasto plano de integração econômica e de infraestrutura, que
engloba cerca de 65 países
4
, compreendendo aproximadamente 62% da população
global e 30% do PIB mundial (BANCO MUNDIAL, 2018a). Desde o ano de 2013,
900 projetos entraram em negociação, com valores que chegam ao montante de
US$ 890 bilhões. A China afirma que os investimentos na iniciativa alcançarão o
montante de aproximadamente US$ 4 trilhões (THE ECONOMIST, 2016a).
Relatórios estratégicos elaborados pela academia chinesa apontam que a
Iniciativa deverá se estender por um período de 30 a 40 anos (ROLLAND, 2017).
Segundo o Plano de ação para a Consolidação da Belt and Road Initiative (STATE
COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2015), novos países podem se integrar à
4 Este número corresponde a uma estimativa advinda dos projetos atualmente em negociação. Para uma análise
específica dos projetos, além de previsões quanto aos possíveis riscos, ver The Economist, (2016b).
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BRI em qualquer momento, demonstrando potencialidades para a América Latina
e para o Brasil.
As primeiras relações diplomáticas entre a República Popular da China (RPC)
e os países da América Latina foram estreitadas de forma tardia na segunda
metade do século XX. Mas é apenas no século XXI que tais relações passam a
crescer de forma exponencial. Com a virada do milênio, a política externa chinesa
sinaliza uma mudança importante: a passagem de uma diplomacia caracterizada
predominantemente por relações bilaterais para uma diplomacia pautada em sua
participação ativa junto aos diversos organismos multilaterais.
Na ocasião da segunda reunião ministerial do Fórum de Cooperação China-
CELAC, no ano de 2018, a China convidou oficialmente a América Latina para
participar da BRI, fator que destaca a importância deste artigo (MRE 2018a; MRE,
2018b), cujo objetivo é identificar os principais impactos geopolíticos da Nova
Rota da Seda para a América Latina, bem como potencialidades aportadas pela
cooperação da China com os países da região.
O problema da pesquisa aborda a projeção da China na América Latina, a
partir da Belt and Road Initiative: considerando a conjuntura da BRI, quais são
as características da influência chinesa na América Latina?. Os condicionantes
e desdobramentos dos investimentos chineses na região são analisados a partir
do enfoque teórico da geopolítica e do estudo de caso selecionado da ferrovia
bioceânica, que passa por três países.
Será realizada uma síntese da abordagem de dois importantes teóricos da
geopolítica: Alfred Thayer Mahan (1840-1914) e Halford Mackinder (1861-1947),
visto que a Nova Rota da Seda compreende a projeção simultânea da China,
através de eixos terrestres e marítimos, visando enfatizar a importância destas
diferentes categorias para o repositório de recursos de poder de um Estado. Além
disso, o conceito de esfera de influência regional é utilizado de modo a analisar
a presença da China na América Latina.
Os procedimentos de pesquisa utilizam a revisão bibliográfica e análise
documental compreendendo o período de 2001-2016, buscando integrar a visão
de teóricos ocidentais à visão de analistas chineses sobre o tema. Utilizam-se,
igualmente, documentos oficiais do governo da República Popular da China e fontes
provenientes de órgãos oficiais ligadas aos diferentes governos latino-americanos.
Este artigo discute o caso da ferrovia bioceânica planejada entre Brasil, Bolívia
e Peru, como referência para a compreensão das implicações geopolíticas dos
investimentos chineses na região.
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Segundo Bennett (2004) e Meyer (2001), a metodologia selecionada é adequada
para o estudo de fenômenos contemporâneos e/ou recentes, sobre os quais ainda
não exista um grande corpo de literatura. Além disso, o método é adequado
para a criação de pesquisas envolvendo temas amplos, complexos e que contém
diversas variáveis, com o objetivo de prover uma explicação geral e detalhada
sobre um objeto de estudo no seu contexto geográfico e temporal (HARRISON;
BIRKS; FRANKLIN; MILLS, 2017).
As conclusões preliminares permitem inferir que a BRI deverá se tornar
importante para a manutenção do ritmo de crescimento da economia chinesa no
longo prazo (ROLLAND, 2017), fator que está diretamente ligado à estabilidade
política e à coesão social do país (KROEBER, 2016). Neste sentido, o acesso aos
recursos naturais da América Latina pode ser visto como um objetivo estratégico
da China. O aprofundamento das relações econômicas, sobretudo na questão
dos investimentos, é um fator importante para a projeção da influência chinesa
na região.
O contexto econômico e político contemporâneo é uma importante justificativa
para a relevância deste trabalho, tanto para o meio acadêmico quanto para os
formuladores de políticas públicas. O montante acumulado dos investimentos
estrangeiros diretos da China na América Latina no período de 2000-2017 foi de
US$ 109.1 bilhões de dólares (DUSSEL-PETERSa, 2018). Além disto, o comércio
entre a China e a América Latina, medido em termos de valor, cresceu 22 vezes
no período de 2000-2013, média anual de 27% (CEPAL, 2015).
Adicionalmente, a República Popular da China é o principal parceiro comercial
do Brasil desde o ano de 2009. O estoque de investimentos estrangeiros diretos
realizados pela China no Brasil no período de 2010 a 2016 totaliza US $ 44 bilhões,
através de 79 empresas chinesas (CEBC, 2018). Nesse sentido, sob a perspectiva
latinoamericana é fundamental entender a projeção global dos investimentos
chineses através do BRI, com o objetivo de identificar áreas onde possa haver
cooperação e, igualmente, áreas nas quais interesses conflitem.
O artigo está organizado em quatro seções, além desta introdução e da
conclusão: a primeira trata da geopolítica como importante ferramenta teórica para
enquadrar a análise dos investimentos chineses na América Latina. A segunda
seção versa sobre a Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), apresentando
os seus aspectos gerais e os princípios que regem a iniciativa. A terceira seção
trata das relações estabelecidas entre a República Popular da China e a América
Latina, que evolui da esfera bilateral para o âmbito multilateral. A quarta seção
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apresenta o estudo de caso da ferrovia bioceânica Brasil, Peru e Bolívia. Por fim,
a conclusão realiza a discussão sobre a geopolítica na América Latina no que
tange às relações com a China.
Análise geopolítica: a importância do poder terrestre
e do poder marítimo
A geopolítica é um campo teórico surgido no século XIX. O termo geopolítica
foi cunhado oficialmente por Rudolf Kjellén (1864-1922). Definições tradicionais
envolviam: “a teoria do Estado enquanto organismo geográfico ou fenômeno
espacial”
5
(COHEN, 2015, p. 24, tradução nossa). Posteriormente, outros definiram
o campo como sendo “o estudo das Relações Internacionais através de uma
perspectiva geográfica”
6
(COHEN, 2015, p. 15-16, tradução nossa).
Por outro lado, Cohen define hodiernamente a geopolítica como “a análise
da interação entre, por um lado, os ambientes geográficos e suas perspectivas e,
por outro lado, os processos políticos”
7
(2015, p. 16, tradução nossa). Portanto,
a geopolítica faz uso de recursos naturais ou elementos geográficos para atingir
objetivos políticos. Ou, ainda, pode servir como uma lente de análise para verificar
de que forma os fatores geográficos influenciam as ações políticas. Deste modo,
a geopolítica visa identificar os espaços geográficos onde é exercido o poder e
quais dinâmicas afetam a sua concentração ou dispersão (COHEN, 2015).
Uma visão teórica através das lentes da geopolítica pode prover explicações
acerca de tendências estruturais do sistema internacional. Em essência, a
capacidade de agência estatal é limitada pelos parâmetros físicos impostos pela
geografia, porém não se trata de um fatalismo determinista, como Kaplan se
preocupa em demonstrar
8
: “Ela [a Geografia] age como a distribuição de poder
econômico e poder militar, constituindo um grande constrangimento e/ou um
grande instigador na ação dos Estados” (KAPLAN, 2012, p. 30).
Mahan (2004) produziu um tratado acerca da influência do poder naval na
história e, sobretudo no que tange à formação da América do Norte e da Inglaterra,
5 Texto original: “the theory of the state as a geographical organism or phenomenon in space”.
6 Texto original: “the study of international relations from a spatial or geographical perspective”.
7 Texto original: “the analysis of the interaction between, on the one hand, geographical settings and perspectives
and, on the other, political processes”.
8 Texto orginial: Geography informs, rather than determines. Geography, therefore, is not synonymous with
fatalism. But it is, like the distribution of economic and military power themselves, a major constraint on—and
instigator of—the actions of states.
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enquanto potências de influência global. O autor traz diversos exemplos históricos
para confirmar a sua tese acerca da importância do poder naval. A grande mobilidade
permitida pelo ambiente marítimo é a primeira grande vantagem que o distingue
do poder terrestre. Adicionalmente, o transporte de mercadorias por vias marítimas
acarreta custos menores, o que configura outra vantagem (MAHAN, 2004).
As principais condições que afetam o poder naval das nações são: a posição
geográfica, a formação física do local (incluindo o clima e a produção local), a
extensão territorial, a população, o caráter das pessoas (aqui o autor enfatiza o
sucesso dos povos com maior inclinação para atividades de comércio) e o caráter do
governo (o que inclui as instituições estatais). Como é possível perceber, a geografia
tem um peso considerável nas análises de Mahan (2004), visto que os três primeiros
fatores que conferem poder a uma nação dependem de fatores geográficos.
Por outro lado, Mackinder (2004) realça a importância da acumulação de re-
cursos que permitam o desenvolvimento do poder terrestre como meio de ação para
as potências no sistema internacional. O autor destaca, especificamente, a impor-
tância da Eurásia, devido à abundância de recursos naturais e energéticos, além da
importância logística e geoestratégica desta massa continental (PETERSEN, 2011).
A Heartland, inicialmente denominada pelo autor como zona pivô, consiste na
área central da Eurásia. De forma aproximada, é possível afirmar que esta região
se estende desde a Europa Oriental até os limites da Ásia Oriental. De norte a
sul, seus limites compreendem desde a linha do Círculo Ártico até os desertos e
montanhas da Ásia Meridional. A Eurásia possui massas aquáticas de importância
estratégica e comercial tais como o Mar Báltico, o Mar Negro, o Mar Cáspio e o
Golfo Pérsico (KAPLAN, 2012).
Mackinder (2004) afirma que a potência que fosse capaz de exercer influência
sobre a Heartland teria maior capacidade de projeção de poder a nível global.
O exercício de poder terrestre sobre a Eurásia tem um potencial de produzir um
repositório de recursos e bens que, se associado a um poder marítimo, acarretará
possibilidades de alteração da balança de poder do sistema internacional. Isto
permitiria desenvolver meios para tentar controlar as regiões que possuem áreas
costeiras em seus territórios, produzindo um poder anfíbio, capaz de enfrentar
o poder marítimo das potências insulares: nos primórdios a Grã-Bretanha e,
posteriormente, os EUA (PETERSEN, 2011).
De acordo com esta visão, a potência que conseguisse dominar a Heartland
teria capacidade de dominar a World-Island, que se define como a região que
engloba a Europa, a Ásia e a África, obtendo consequentemente uma supremacia
de recursos que poderiam ser convertidos em poder efetivo (MACKINDER, 2004).
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Figura 1 – A organização geopolítica do mundo segundo Mackinder
Fonte: Mackinder (2004, p. 312).
Mackinder (2004) tratava poder definido em termos duros, através de
contingente populacional, recursos militares e a eficiência do uso do poder militar.
Entretanto, para os propósitos deste artigo, será adotado o conceito de poder
derivado de bases weberianas, como sendo a capacidade de maximização da própria
vontade, independentemente da vontade de terceiros. Poder é compreendido,
então, como a capacidade de influenciar outros atores sociais de modo a atingir
objetivos particulares, resultando, muitas vezes, em um curso de ação que não
seria tomado originalmente pelos atores terceiros se não houvesse o exercício desta
influência. Portanto, o conflito de vontades leva ao exercício do poder (GUZZINI,
2007). Similarmente, Xuetong (2014) faz uma diferenciação entre o poder e a
força de uma nação. O poder seria a capacidade de exercer influência nas ações
de outros Estados, enquanto a força equivaleria às capacidades materiais brutas
do Estado em questão.
Devemos ressaltar que, para o escopo desta análise, não trataremos de
fatores como a dominação territorial propriamente dita. Usaremos, por outro
lado, o conceito de esfera de influência regional, que não implica em dominação
política ou econômica, mas sinaliza um equilíbrio de forças no qual os Estados
pertencentes a determinada região concedem deferências aos interesses da potência
dominante, no que diz respeito à formulação de suas próprias políticas públicas
(BRZEZINSKI, 1997).
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Similarmente, Hast (2014) define o surgimento do conceito de esfera de
influência como um dos produtos da obra de Mackinder e da demarcação da
Heartland (MACKINDER, 2004). Hast (2014) discute as implicações deste conceito
para a política internacional contemporânea através de uma ótica construtivista,
visando mitigar a visão pejorativa que foi associada ao uso do termo no contexto
da Guerra Fria. Na sua atualização do conceito, a autora afirma que uma esfera de
influência deve ser construída através das dimensões políticas e discursivas, além
das ações econômicas. Assim, o uso direto do poder duro, através da dimensão
militar, seria antitético à formação de uma esfera de influência, estando associado
à dominação pura e simples. Na visão da autora, o respeito à soberania é um dos
aspectos mais importantes para a definição do conceito.
As Novas Rotas da Seda ou Belt and Road Initiative (BRI)
A Belt and Road Initiative é a principal iniciativa de política externa do governo
Xi Jinping e consiste em um projeto estratégico que expressa o aprofundamento da
inserção internacional da China (FERDINAND, 2016; ROLLAND, 2017). O mapa,
representado na Figura abaixo, sintetiza o eixo terrestre e o eixo marítimo previstos
no arcabouço inicial das Novas Rotas da Seda, além de delinear os corredores
econômicos previstos pela Iniciativa:
Figura 2 – Mapa dos componentes terrestres e marítimos da Rota da Seda
Fonte: The Economist (2016a).
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A BRI se divide em seis corredores econômicos: 1) a Nova Ponte Terrestre
Eurasiática (que chegará até o território europeu); 2) o eixo China-Mongólia-Rússia;
3) o eixo central China-Ásia Ocidental (perpassando o Oriente Médio); 4) o eixo
da Península China-Indochina; 5) o eixo do Corredor Econômico China-Paquistão
e, finalmente, 6) o Corredor Econômico Bangladesh-China-Índia e Mianmar.
A iniciativa tem como objetivos o aumento da conectividade global, a
alocação eficiente de recursos e a coordenação de políticas econômicas, de modo
a promover uma arquitetura de cooperação que seja aberta, inclusiva e que
estimule o desenvolvimento conjunto dos países envolvidos no processo. Estes
objetivos serão alcançados através da construção de capacidades, através da
cooperação financeira, da liberalização do comércio e de investimentos (STATE
COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2015). Para isto, o projeto possui cinco
principais eixos de atuação: 1) comunicação, 2) conectividade (infraestrutura de
transporte), 3) aumento dos fluxos monetários, 4) facilitação do comércio e 5)
migração (SARVÁRI; SZEIDOVICZ, 2016).
A construção de ferrovias de alta velocidade parece ser o foco inicial da BRI.
A China já possui experiência neste setor, tendo construído internamente 16.000 km
de ferrovias de alta velocidade que passam pelos mais variados relevos e climas (JI,
2015). A China possui 121.000 quilômetros de ferrovias, constituindo 60% do total
global e possui o objetivo de estender a sua rede de ferrovias de alta velocidade
para um total de 30.000 quilômetros, incluindo os países situados em seu espaço
regional imediato (STATE COUNCIL OF THE REPUBLIC OF CHINA, 2016).
Documentos oficiais do Estado chinês afirmam que o comércio entre a China
e os países que compõem a Belt and Road excedeu o montante de US$ 3 trilhões
no período entre 2014-2016. O mandatário afirma ainda que a China estabeleceu
56 zonas econômicas de cooperação e comércio preferencial em mais de 20 países
neste mesmo período (XI JINPING, 2017). Estima-se que os países situados ao
longo da Nova Rota da Seda necessitem de US$ 8 trilhões de investimentos em
infraestrutura para o período de 2010-2020 (JI, 2015).
O discurso oficial do Estado chinês (STATE COUNCIL OF THE REPUBLIC OF
CHINA, 2015) visa promover a Nova Rota da Seda como um projeto pacífico, porém
pragmático, de aumento da influência global da China, através da promoção do
desenvolvimento pela construção de infraestrutura (SARVÁRI; SZEIDOVICZ, 2016).
O mandatário Xi Jinping pretende promover a construção de um ordenamento
com a China liderando certos espaços, sem tentar substituir o sistema estabelecido
pela hegemonia norte-americana. Para os interesses chineses, é melhor manter a
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iniciativa sob o sistema global de defesa dos EUA e, a partir dessa base, expandir
suas oportunidades econômicas e estratégicas (JI, 2015; ROLLAND, 2017).
O enquadramento e os princípios promovidos através da iniciativa servirão
como base importante para que a BRI consiga, efetivamente, consolidar sua
legitimidade perante os países integrantes. Este processo envolve não apenas a
projeção de poder econômico, mas é influenciado pelos interesses e pelo modo como
o poder é exercido, constituindo, fundamentalmente, um processo de barganhas
e negociações. Deve haver uma noção geral de que os princípios promovidos
pela China beneficiam os outros componentes do sistema internacional. A China
deverá empregar recursos materiais aliados ao esforço político-diplomático para
consolidar a BRI (BLACKWILL; HARRIS, 2016).
Conforme afirmamos anteriormente, durante a segunda reunião ministerial do
Fórum de Cooperação China-CELAC, no ano de 2018, a China convidou oficialmente
a América Latina para participar da BRI. Armony, Perez e Shoujun ressaltam:
A One Belt, One Road Initiative, lançada em 2013, é, nesta perspectiva, coerente
com o potencial efetivo das empresas chinesas no âmbito global e especifica-
mente na América Latina. (...) no âmbito regional, a América Latina deveria
investir em média cerca de 5% de seu PIB em infraestrutura, enquanto os
investimentos efetivos ficaram bem abaixo de 3% do PIB nas duas últimas
décadas. Portanto, esta é uma área de extrema importância para o futuro da
região (ARMONY; PEREZ; SHOUJUN, 2018, p. 10, tradução nossa
9
).
A próxima seção apresentará o contexto histórico das relações entre a China
e a América Latina, possibilitando analisar sua evolução até o atual contexto dos
investimentos em infraestrutura, no século XXI.
A política da República Popular da China para América Latina
no século XXI
A partir do governo de Deng Xiaoping, no final da década de 1970, a China
começou a fortalecer a sua política externa, principalmente frente aos Estados Unidos
da América e ao modelo político-econômico que este país passou a representar desde
9 Texto original: “The One Belt One Road Initiative launched in 2013 is, from this perspective, coherent with the
effective potential of Chinese firms globally and specifically in LAC. (...) as a region LAC should be spending
around 5 percent of its GDP in infrastructure, while effective spending has been well below 3 percent of GDP
in the last two decades. Therefore, this is an area of utmost importance for the future of the region.”
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o fim da Segunda Guerra Mundial. Devido a retomada das relações diplomáticas
com os EUA, a RPC passou a se abrir para o mundo e, consequentemente, para os
países da América Latina e do sul global. Durante esse período cresceu o interesse
na região latino-americana, dada a abundância em recursos naturais do continente,
indo ao encontro das necessidades chinesas para o desenvolvimento nacional.
Com a détentesino-americana, a China teve sucesso em estabelecer relações
diplomáticas com grande parte dos países da América Latina, as quais, a
partir de então, foram conduzidas independentemente das características
políticas dos Estados, ao contrário do que se praticava ainda na década
precedente (BECARD; DA LUZ, 2010, p. 82).
O movimento de abertura diplomática para com os países da região iniciou
por Mao Zedong logo na virada da década de 1970, segundo Rodriguez, com o
estabelecimento de relações “com 11 países da América Latina e do Caribe: com o
Chile, o Peru, México, a Argentina, Guiana, Jamaica, Trinidad e Tobago, Venezuela,
o Brasil, Suriname e Barbados” (RODRIGUEZ, 2016, p. 21). Posteriormente, Deng
Xiaoping executou uma política externa pragmática, buscando maiores parcerias
político-diplomáticas e econômicas (RODRIGUEZ, 2016,).
Na década de 1980, o relacionamento entre o Estado chinês e a região foi
ganhando espaço. Deng Xiaoping pareceu entender a relevância estratégica e
econômica que a região latino-americana representava. O governo chinês primou,
na década de 1980, por um relacionamento com os países latino-americanos
construído através de diferentes vias (RODRIGUEZ, 2016). Neste sentido, Cesarin
(2008) complementa:
Ao longo da década de 1980, as relações consistiam principalmente de
contatos políticos bilaterais e programas de intercâmbio cultural. A China —
uma economia em transição — era economicamente menos relevante para
os formuladores de políticas da América Latina, que enfrentavam questões
mais complexas, incluindo uma crise da dívida externa e os desafios internos
decorrentes dos processos de democratização. No entanto, no final da década,
o impressionante desempenho econômico da China abriu novas maneiras
de expandir o relacionamento (CESARIN, 2008, p. 17, tradução nossa
10
).
10 Texto original: “Throughout the 1980s, the relationship mainly consisted of bilateral political contacts and
cultural exchange programs. China—a transitional economy—was less economically relevant for policy makers
in LAC, who were confronting more complex issues, including a foreign debt crisis and the domestic challenges
of the democratization process. However, by the end of the decade, China’s impressive economic performance
opened new ways to expand the relationship”.
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A partir de uma visão Sul-Sul, a política chinesa se aproximou de países como
Brasil e Chile, em função dos ganhos econômicos que a relação representava, bem
como em função da abertura que vinha sendo promovida no sistema chinês. Nesta
fase, alguns fatores que serviram para manter o distanciamento entre as regiões
perderam força, como a proeminência norte-americana e a distância geográfica.
A premissa da cooperação compôs parte importante do desenvolvimento chinês
e possibilitou realizar uma aproximação com outros países em desenvolvimento.
A relevância política que a América Latina e o Caribe ganharam com a nova postura
chinesa foi, segundo Rodriguez (2015), consequência da política de impossibilitar
a influência de Taiwan na região
A partir dos anos 1990, as relações entre a China e a América Latina
cresceram significativamente, mediante visitas e acordos oficiais que abrangeram
desde questões comerciais e econômicas, além da cooperação tecnológica.
Houve, neste período, uma rápida expansão da política externa chinesa para a
América Latina, visando à obtenção de recursos naturais para fomentar o seu
processo de desenvolvimento econômico. Conforme afirmam Pereira e Carvalho:
A progressiva presença chinesa nas Relações Sul-Sul reflete fatores pragmáticos,
como as necessidades internas do país (que são cada vez maiores) e a garantia
de uma estabilidade política e econômica” (PEREIRA; CARVALHO, 2015, p. 73).
Conforme Marcos Lima e Ferreira da Silva destacam: “Houve uma importante
reorientação no que diz respeito ao alinhamento internacional, no qual as
relações verticais, ou centro-periferia, perderam primazia em favor da ampliação
das interações horizontais ou Sul-Sul” (Lima; Silva, 2016; p. 43). Para os países
latino-americanos, a intensificação de relações políticas e econômicas com a China
resultou em novas oportunidades de desenvolvimento regional.
No que diz respeito às organizações multilaterais da América Latina e
Caribe, de acordo com Cidade (2016), a China marcou forte presença em todos os
organismos regionais do continente latino-americano. É o caso da Organização dos
Estados Americanos (OEA), que aceitou a China como Observador Permanente
em maio de 2004. Da mesma forma, a China obteve o status de Observador
Permanente na Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), na
Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), no Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) e no Parlamento Latino-Americano (Parlatino).
Em 2015, a China e a Comunidade dos países Latino-americanos e Caribenhos
criaram o Fórum China-CELAC, cuja primeira reunião aconteceu em Pequim, em
julho de 2014.
228 As Novas Rotas da Seda: implicações geopolíticas dos investimentos da China na América Latina
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
De fato, como versa Shoujun Cui (2016), o novo século XXI marca o início de
uma estratégia diplomática chinesa que enfatiza, principalmente, três elementos:
o aumento pacífico da China como poder regional e mundial, o conceito de
um mundo multipolar e a visão chinesa das Organizações Internacionais como
principais instrumentos da política externa.
É neste contexto que a China decidiu rever suas prioridades na política
externa e inaugurou uma nova fase nas relações com a região latino-americana
e caribenha, enquadrada no âmbito da cooperação sul-sul. Tal relação enfatiza
a importância da agenda conjunta de paz e desenvolvimento, visando uma
participação mais ativa dos países emergentes na atual ordem mundial. As duas
regiões compartilham o desejo comum de reforma da ordem mundial existente
e percebem o estreitamento de parcerias estratégicas entre os emergentes como
um meio privilegiado para alcançar seus objetivos. Melhorar as relações políticas
entre países emergentes é considerada condição sine qua non para expandir as
relações econômicas de seus países.
Demonstração disso são as viagens oficiais realizadas a diversos países da
América Latina e Caribe pelos presidentes da RPC. De fato, de 2001 até 2010, os
presidentes da República Popular da China visitaram os países da América Latina
e Caribe seis vezes. Em maio de 2001, o então presidente Jiang Zemin visitou
Chile, Brasil, Argentina, Cuba, Uruguai e Venezuela. No ano seguinte, em 2002,
o mesmo presidente realizou viagem para o México. Seu sucessor, Hu Jintao,
realizou 4 visitas à América Latina no período de 2004 a 2010. Em 2004 visitou
Argentina, Brasil, Chile e Cuba, em 2005 o México, em 2008 o então mandatário
realizou visitas oficiais a Costa Rica, Cuba e Peru e em 2010 veio ao Brasil.
Em novembro de 2008, a RPC publicou seu primeiro documento governamental
sobre América Latina e Caribe, chamado China’s Policy Paper on Latin America
and the Caribbean. O documento enfatizou a importância da América Latina e
Caribe definindo-a como uma parte importante do mundo em desenvolvimento e
uma força importante na arena internacional (SHOUJUN, 2016). O Livro Branco
enumerou os objetivos da política da China em relação a esta região, que abrange
quatro campos de ação: político, econômico, cultural e social. Contudo, de acordo
com Shoujun Cui (2016), o documento lançado em 2008 ainda não apresentava uma
clara ideia em relação à complexidade e diversidade da região latino-americana.
Com a intensificação das relações, a China percebeu a complexidade e a
diversidade dos países da América Latina, o que resultou em uma política chinesa
229Anna Carletti; Ricardo Lopes Kotz; Gabrielly Jacques Correia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
mais atenta às peculiaridades de seus interlocutores. Tal mudança iniciou quando
da primeira visita do novo presidente Xi Jinping que, já no seu primeiro ano
na liderança da RPC, viajou à América Latina e Caribe visitando três países:
Trinidad e Tobago, Costa Rica e México. Durante a visita, foram assinados mais de
25 acordos. A partir de 2013, Xi Jinping e o Primeiro Ministro Li Keqiang visitaram
a região latino-americana cinco vezes, assinando mais de 280 acordos com
11 países (GARZÓN; RANDOMSKI, 2016, 2016).
O presidente Xi Jinping realizou nova viagem em julho de 2014, visitando
Brasil, Argentina, Venezuela e Cuba. A terceira viagem ocorreu em novembro
de 2016, quando foram assinados acordos com Equador, Peru e Chile. Ambas as
visitas se caracterizaram por decisões importantes tomadas pelas duas partes,
visando aprofundar a cooperação e o desenvolvimento mútuo.
Com efeito, durante a segunda visita de Xi Jinping, em julho de 2014, foi
realizada a primeira Cúpula de Líderes da China e países da CELAC (Comunidade
de Estados da América Latina e Caribe). Nesta ocasião, foi assinada Declaração
Conjunta que anunciou a inauguração oficial do Foro China-CELAC e a convocação
de sua primeira reunião ministerial para o ano seguinte, a ser realizada em Pequim
(MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASILa, 2018). Também foi
anunciado o projeto de criação de um Plano de Cooperação China-América Latina e
Caribe (2015-2019), com a finalidade de aumentar os vínculos e a cooperação entre
as duas regiões em áreas estratégicas como comércio, alta tecnologia, energia limpa
e renovel, infraestrutura, desenvolvimento social e sustentável, entre outras.
De acordo com Shoujun Cui (2016), a criação desta plataforma multilateral é
fundamental para a China, pois permite seu envolvimento nos assuntos da região
no âmbito de uma organização que exclui Estados Unidos e Canadá. No ano
seguinte, em julho de 2015, aconteceu a primeira reunião ministerial do Foro de
Cooperação China-CELAC. O evento teve particular importância, pois evidenciou
a necessidade de a América Latina participar das iniciativas chinesas na região.
De acordo com Shoujun Cui:
O desafio mais urgente da América Latina na próxima década é atrair
investimentos estrangeiros diretos e receber apoio financeiro para
avançar em projetos sociais e de infraestrutura pública, com o objetivo de
modernizar as plataformas industriais e de serviços da região, como afirmou
o presidente Rafael Correa, do Equador, no dia anterior à inauguração
deste encontro. Ele também destacou que, apesar da vontade da China de
230 As Novas Rotas da Seda: implicações geopolíticas dos investimentos da China na América Latina
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
promover a cooperaração, a América Latina precisa elaborar uma agenda
de desenvolvimento específica (SHOUJUN, 2016, p. 4-5, tradução nossa
11
)
A terceira visita de Xi Jinping, realizada em novembro de 2016, também foi
caracterizada por três fatos relevantes: 1) a assinatura do primeiro acordo de
Cooperação Ambiental entre China e Peru, o primeiro deste tipo entre os acordos
assinados com países da América Latina; 2) o anúncio do presidente Xi Jinping
de iniciar diálogos sobre proteção ambiental a partir de 2017 e, por último mas
não menos importante, o lançamento do Segundo Livro Branco do Governo
sobre América Latina e Caribe. Tal documento apresenta a Nova Política da RPC
para a região latino-americana e caribenha (STATE COUNCIL OF THE PEOPLE’S
REPUBLIC OF CHINAb, 2016).
Primeiramente, o Livro apresenta o plano de cooperação “1+3+6”, plano
que havia sido mencionado no precedente Foro China-CELAC. O número um
(1) se refere a um único plano para toda a região, o número três (3) se refere
às modalidades de cooperação regional, a saber: comércio, investimento e
cooperação financeira. O número seis (6) se refere às áreas específicas às quais a
China pretende dar prioridade: energia e recursos naturais; desenvolvimento de
infraestrutura; agricultura; indústria; inovação científica e tecnológica, além de
tecnologia da informação. Em seguida, é apresentado o modelo 3X3 designando
ênfase nos setores de logística, eletricidade e tecnologia da informação, permitindo
a cooperação entre empresas, sociedade e governos e ampliando os fundos
provenientes empréstimos de crédito e seguros (STATE COUNCIL OF THE PEOPLE’S
REPUBLIC OF CHINAb, 2016).
Os Livros Brancos reiteram a importância que os 5 princípios de Coexistência
Pacífica têm para a política externa chinesa. Este arcabouço conceitual foi
concebido na conjuntura dos movimentos de descolonização e da Conferência
de Bandung (1955). Os princípios foram cunhados pelos primeiros ministros da
Índia e da China, Jawaharlal Nehru e Zhou Enlai, respectivamente. Os Princípios
da Coexistência Pacífica são: 1) Respeito mútuo pela integridade territorial e
soberania; 2) Não agressão mútua; 3) Não interferência nos assuntos internos
11 Texto original: “Latin America’s most pressing challenge in the decade to come is to attract foreign direct
investment and to receive financial support in order to advance social and public infrastructure projects, targeted
at upgrading the region’s industrial and services platforms, as President Rafael Correa of Ecuador stated in
Beijing the day before the inauguration of this meeting. He also pointed out that despite China’s willingness
to cooperate, LAC needs to elaborate a specific development agenda.”
231Anna Carletti; Ricardo Lopes Kotz; Gabrielly Jacques Correia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
de outros Estados; 4) Igualdade e cooperação para benefícios mútuos e, por fim,
5) coexistência pacífica (ONU, 1958, p. 70).
Por outro lado, o Livro Branco de 2016 apresenta novos elementos que não
apareciam no documento precedente. No prefácio, menciona-se o Ressurgimento
da Nação Chinesa, conceito este que foi inaugurado por Xi Jinping como lema
de seu mandato, além de apresentar as duas metas centenárias para 2020 e 2050.
Até 2020 a China se propõe a construir uma sociedade moderadamente próspera;
até 2050 o Partido Comunista pretende transformar a China em um país socialista
moderno, poderoso, democrático, civilizado e harmonioso.
O novo documento aglutinou em suas páginas os avanços alcançados na
cooperação entre China e as regiões da América Latina e do Caribe, sobretudo
durante os primeiros anos de governo de Xi Jinping. Ao final aparece uma seção
inédita que trata da Cooperação Internacional. Nesta parte abrangem-se novos
tópicos, tais como Assuntos Políticos Internacionais, Governança Econômica
Global, Implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável,
Resposta às Mudanças do Clima e Segurança Cibernética. O novo Livro Branco
apresenta, portanto, propostas de trabalho mútuo, que refletem tanto a transição
de modelo econômico que a China está enfrentando internamente quanto um
novo modelo de cooperação entre os países da América Latina e Caribe a China
(STATE COUNCIL OF THE PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINAb, 2016).
Conforme Shoujun Cui (2016), uma dimensão importante, que deve ser
enfatizada nas parcerias de cooperação sul-sul, são os projetos de infraestrutura
financiados pela China. Por infraestrutura entendem-se as estruturas básicas
que facilitam a atividade econômica. Trata-se de um setor deficitário na América
Latina e que poderia ser compensado pelo capital chinês e pelo conhecimento
tecnológico do gigante asiático.
O acumulado dos investimentos estrangeiros diretos da China na América
Latina, no período de 2000-2017, foi de US$ 109.1 bilhões de dólares. De 2011 a 2017,
61% destes fundos se destinaram a fusões e aquisições de companhias na região,
tendência que vem crescendo. Em 2017, estima-se que 90% dos investimentos
estrangeiros diretos da China se destinaram a fusões e aquisições na América
Latina (DUSSEL-PETERSb, 2018, p. 3).
No que diz respeito ao financiamento, a China emitiu fundos na ordem de
US$ 12 bilhões em ajuda para o desenvolvimento para a América Latina e o Caribe,
no período de 2004-2014, seguindo taxas preferenciais. Adicionalmente, o país emitiu
232 As Novas Rotas da Seda: implicações geopolíticas dos investimentos da China na América Latina
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
mais de US$ 150 bilhões em empréstimos para os países da região, entre 2005–2017,
remunerados a taxas de juros compatíveis com os níveis do mercado internacional
de capitais (US-CHINA ECONOMIC SECURITY REVIEW COMMISSION, 2018, p. 12).
Sob o ponto de vista político, onze dos dezessete países da região ainda
reconhecem Taiwan como um território sob domínio da RPC: na América do Sul,
Paraguai; no Caribe, Haiti, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e
Granadinas, e na América Central, Belize, Guatemala, Honduras, e Nicarágua.
Em junho de 2017, o Panamá anunciou o estabelecimento de relações
diplomáticas com a República Popular da China, sinalizando uma vitória para a
One China Policy. É notória a importância estratégica deste país devido ao Canal do
Panamá, caminho privilegiado de ligação entre Oceano Pacífico e Oceano Atlântico,
mas que desde o início do século XX esteve sob a influência dos Estados Unidos.
Apenas em 1999, o Panamá conseguiu de volta o controle do Canal. Atualmente,
a China é o seu segundo usuário mais importante. O estreitamento das relações
diplomáticas entre os dois países facilita o projeto de projeção global da China.
Neste sentido, o acesso ao Canal do Panamá e a Ferrovia bioceânica Brasil-Peru,
que será abordada na próxima seção, representam as principais rotas da projeção
chinesa na América Latina e o Caribe.
Estudo de caso: Corredor Bioceânico Brasil, Bolívia e Peru
Os investimentos em infraestrutura, nomeadamente marcados a partir do ano
de 2013, inauguraram uma nova fase dos investimentos chineses na América Latina.
Dussel-Peters diferencia o caráter destes investimentos em relação ao investimento
estrangeiro direto realizado por empresas chinesas, visto que a construção de
infraestrutura é essencialmente uma prestação de serviço. Em contrapartida, o
país receptor se compromete com o pagamento de juros pelo financiamento, além
de herdar a propriedade da obra realizada. O financiamento pode ser realizado
por bancos públicos ou privados, sendo direcionado para diversos setores, como:
transporte, energia, telecomunicações, entre outros (DUSSEL-PETERSb, 2018).
Os maiores projetos de infraestrutura a serem realizados pela China na América
Latina são os corredores bioceânicos, que visam à conectividade entre os Oceanos
Pacífico e Atlântico. A consolidação de tais projetos reduziria os custos logísticos
associados ao transporte de matérias- primas e commodities para a China. Estes
recursos são necessários para a manutenção do ritmo de desenvolvimento da
economia chinesa, além de contribuírem para a base de recursos materiais de
233Anna Carletti; Ricardo Lopes Kotz; Gabrielly Jacques Correia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
poder da RPC. Segundo Rocha e Bielschowsky (2018), mais de 70% da pauta de
importação de produtos latino americanos rumo à China são compostos por soja,
petróleo, minério de ferro e cobre.
Existem três principais projetos para corredores bioceânicos na América Latina,
nomeadamente: 1) o corredor bioceânico entre Brasil, Bolívia e Peru, consolidado
através de ferrovias; 2) o corredor bioceânico do eixo de Capricórnio, passando
pela Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Paraguai, igualmente consolidado pela
construção de malha ferroviária; 3) o corredor bioceânico da Nicarágua, que seria
consolidado através da construção de um canal. Estee artigo aborda o corredor
bioceânico entre Brasil, Bolívia e Peru, devido ao fato de que este foi o primeiro
eixo com investimentos anunciados pela China nesta categoria.
O custo estimado do trajeto que passa pelo Brasil é da ordem de R$ 40 bilhões.
A ferrovia começa no Rio de Janeiro, passando pelos estados brasileiros de Minas
Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre, chegando ao Oceano Pacífico, através
do Peru. Sob a perspectiva da China, este seria um importante acesso para o
Oceano Atlântico. Projetos de infraestrutura como este têm o potencial de reduzir
os custos de exportação de produtos importantes para o comércio bilateral entre
Brasil e China, tais como o cobre, a soja e o minério de ferro (HIRATUKA, 2018).
A Figura 3 abaixo sintetiza o projeto da ferrovia bioceânica:
Figura 3 – A ferrovia bioceânica entre Brasil, Bolívia e Perú
Fonte: RAY; GALLAGHER; LÓPEZ; SANBORN (2015).
234 As Novas Rotas da Seda: implicações geopolíticas dos investimentos da China na América Latina
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
A ferrovia bioceânica possui capital conjunto de Brasil, Alemanha, China,
Peru e Bolívia. No que diz respeito à sua capacidade operacional, destaca-se:
A projeção da demanda para 2025 é de transporte de 14,5 milhões de
toneladas rumo ao Oceano Pacífico e de 8 milhões de toneladas ao Atlântico.
Para 2030, os números seriam de 31,3 milhões de toneladas para o Pacífico e
de 19,3 milhões de toneladas para o Atlântico (SENADO NOTÍCIAS, 2017).
Segundo o projeto apresentado pela China, o trecho brasileiro da ferrovia
possuiria aproximadamente 3.5 mil quilômetros. Contabilizando os dois eixos
mencionados, o projeto deverá totalizar 5.3 mil quilômetros de extensão. Autoridades
brasileiras afirmaram estar convencidas da viabilidade do projeto apresentado pelo
China Railway Eryuan Engineering Group Co (SENADO NOTÍCIAS, 2017).
Uma rota central foi recentemente adicionada ao projeto da ferrovia bioceânica,
passando pelo território do Brasil e da Bolívia, não incluindo o Perú. O Governo
boliviano conduziu estudos demonstrando que este eixo da ferrovia teria 3.750
quilômetros de extensão, acarretando US$ 7.5 bilhões em custos, se comparado
com uma extensão de 4.400 quilômetros e US$ 10 bilhões de custos no trecho norte,
que passa pelo Peru. O Governo da Bolívia se manifesta crescentemente disposto
a levar adiante as negociações da ferrovia. (HIRATUKA, 2018). Por outro lado, o
Governo peruano demonstra inquietações em relação aos custos da ferrovia em
seu território, devido ao fato de que o trecho passa por locais de altitude elevada,
aumentando os riscos operacionais e de construção (ALVAREZ, 2015).
Ressalta-se que a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL) estima que as economias da América Latina deveriam investir 6.2% do
seu PIB no setor de infraestrutura para satisfazer a demanda regional do período
de 2010-2020, sendo que a média do investimento regional se encontra em 2.7%
do PIB (CEPAL, 2014). Neste sentido, torna-se importante a diversificação de
parcerias estratégicas com outros países, no sentido de atrair investimentos para
a construção de infraestrutura na América Latina.
Os entraves para o projeto da ferrovia bioceânica incluem a conjuntura de
crise econômica e política no Brasil, além da dificuldade de coordenação de
posições em relação a detalhes técnicos com os países vizinhos. Devido aos
custos econômicos envolvidos na construção de uma ferrovia que corta regiões
com diferentes climas e relevos, o projeto se encontra nos seus estágios iniciais.
Por fim, cogita-se a construção gradual de partes do projeto, começando pelo
território brasileiro.
235Anna Carletti; Ricardo Lopes Kotz; Gabrielly Jacques Correia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
Devemos enfatizar que cada país latinoamericano possui as suas próprias
características econômicas, políticas e sociais e isto dificulta uma análise de projetos
que não estejam sendo conduzidos por vias bilaterais. Projetos que envolvam três
ou mais países serão um desafio para a cooperação regional no futuro. Outros
riscos a serem considerados incluem a possibilidade de endividamento excessivo
em relação ao capital aportado pela China, sobretudo nas economias de menor
porte, fator que poderá produzir uma relação assimétrica nas negociações.
Adicionalmente, os riscos ambientais dos projetos chineses devem ser
estudados e dimensionados. A América Latina possui diferentes zonas ricas em
biodiversidade, tal como o bioma amazônico, que devem ser preservadas. Esta
riqueza poderá se tornar um dos importantes caminhos para o desenvolvimento
regional nas próximas décadas. Assim, a construção de infraestrutura deve ser
conduzida com muita cautela, de modo a não prejudicar os biomas locais.
Por fim, a construção de infraestrutura que estimule apenas a exportação de
um maior volume de commodities pode acentuar a situação de dependência da
região em relação a outros atores da economia global (JENKINS; BARBOSA, 2012;
POWELL, 2016). Este fato poderia reproduzir padrões de trocas desiguais, nas
quais as nações latinoamericanas exportariam commodities e outros produtos de
menor valor agregado e importariam, sumariamente, bens industriais e de alto valor
provenientes da China. Esta questão já foi abordada por diversos autores
12
e este
artigo não visa entrar nesta discussão, mas apenas sinalizar que a aproximação
com a China deve ser realizada de forma estratégica.
Conclusão
O presente artigo abordou a inserção internacional da China rumo à América
Latina e as potencialidades aportadas pela integração da região junto à Belt and
Road Initiative. A dimensão global de tal projeto pode ser mais bem compreendida
se analisada no quadro da expansão geopolítica e geoeconômica chinesa, que não
está limitada apenas à massa terrestre eurasiática e ao continente africano, mas
alcança igualmente o continente latino-americano e a região caribenha.
Os investimentos da China na América Latina podem ser enquadrados no
contexto da busca por recursos naturais. A China vem empreendendo esforços para
12 Para maiores informações ver CEPAL (2018) e Rhys Jenkins e Alexandre Barbosa (2012).
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internacionalizar a sua moeda e as suas empresas, de modo a abrir mercados para
seus produtos, além de facilitar o escoamento de recursos que sejam necessários
para a manutenção do ritmo de crescimento de sua economia no médio e no
longo prazos. Neste contexto, a posse de recursos energéticos constitui um fator
de poder e de influência (KLARE, 2013; KROEBER, 2016).
A principal conclusão deste artigo é que a aproximação da China com a
América Latina é substancial no que tange à exportação de recursos naturais
estratégicos para a China. Neste sentido, os países da região têm a potencialidade
de realizar negociações com vistas a atrair investimentos em infraestrutura,
domínio no qual os chineses possuem conhecimento técnico e experiência e no
qual a América Latina é deficitária.
As fontes consultadas demonstram que a ação da região como um conjunto
integrado teria maior respaldo e concentraria mais influência para a condução
de negociações com a China. Destaca-se que enquanto a China possui um policy
paper para guiar a sua atuação e inserção na América Latina, o Brasil e os demais
Estados da região não produziram documento similar ou uma estratégia regional
conjunta, visando articular os seus interesses em relação à atuação chinesa.
O Fórum de Cooperação China-CELAC foi estabelecido formalmente no ano
de 2014, visando estimular a cooperação multilateral. Entretanto, no âmbito da
Belt and Road Initiative, a China costuma realizar negociações bilaterais com os
países receptores dos investimentos em infraestrutura. Esta característica da política
externa chinesa poderá dificultar a coordenação dos países latinoamericanos em
uma estratégia comum de desenvolvimento, considerando a diversidade e o grande
número de atores envolvidos.
É mais provel que sejam estabelecidos múltiplos grupos de países cooperando
nas negociações com a China em diferentes coligações. Esclarecendo esta afirmação,
é possível imaginar uma conjuntura na qual exista uma postura estratégica sendo
defendida pelo conjunto dos países do Mercosul, outra pelos países da América
Central e do Caribe e ainda outra postura estratégica divergente no que diz respeito
aos países que pertencem à Aliança do Pacífico.
Sob as lentes da geopolítica, é possível afirmar que os investimentos da
China visam ganhos para ambas as partes, mas visam igualmente a projeção de
influência. Auxiliar países menos desenvolvidos econômicamente pode ser visto
como uma estratégia para a construção de influência. Ao final do seu artigo seminal
e em obras posteriores, Mackinder (1943) cita a possibilidade de a China exercer
influência preponderante sobre a Heartland o que possibilitaria a consolidação
definitiva da sua articulação simultâneamente como uma potência terrestre e
marítima (MACKINDER, 1943; 2004). Este fato consolidaria o repositório de
recursos de poder da China, de modo a permitir a influência preponderante deste
237Anna Carletti; Ricardo Lopes Kotz; Gabrielly Jacques Correia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
país em escala global. As afirmações do autor encontram ressonância nas ações
que consolidam a Belt and Road Initiative.
O investimento no Corredor bioceânico que perpassa o Brasil, a Bolívia
e o Peru pode ser visto, através da geopolítica, como importante passo para a
consolidação da influência chinesa na região, assegurando o aporte de recursos
naturais necessários para a manutenção do ritmo de desenvolvimento de sua
economia no longo prazo, tais como minério de ferro, nióbio, cobre, soja entre
outros. Este seria um componente estratégico para o posicionamento regional da
China nas próximas décadas, consolidando-se como importante ator nos âmbitos
do comércio marítimo e terrestre, fator que seria viabilizado pela malha ferroviária
construída e, possivelmente, operada por empresas chinesas.
Não podemos afirmar que exista uma esfera de influência regional da China na
América Latina de forma plenamente consolidada. Não obstante, a continuidade da
Belt and Road Initiative poderá gerar impactos neste sentido, através do crescimento
da influência chinesa que se consolida através de vínculos econômicos e políticos.
O presente artigo não pôde abarcar toda a diversidade dos países latino-
americanos e caribenhos, mas contribui para o debate acerca dos impactos
geopolíticos dos investimentos chineses, através do estudo de caso do corredor
bioceânico Brasil-Bolívia e Perú. Novas pesquisas podem ser conduzidas mediante
a análise dos casos dos demais corredores bioceânicos que estão em fase
de negociação e consolidação. Ou, ainda, podem ser desenvolvidas novas
pesquisas que abordem mais especificamente o aspecto quantitativo e setorial dos
investimentos estrangeiros diretos e do financiamento para o desenvolvimento
que são empreendidos pela China na região.
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