
221Anna Carletti; Ricardo Lopes Kotz; Gabrielly Jacques Correia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 216-242
enquanto potências de influência global. O autor traz diversos exemplos históricos
para confirmar a sua tese acerca da importância do poder naval. A grande mobilidade
permitida pelo ambiente marítimo é a primeira grande vantagem que o distingue
do poder terrestre. Adicionalmente, o transporte de mercadorias por vias marítimas
acarreta custos menores, o que configura outra vantagem (MAHAN, 2004).
As principais condições que afetam o poder naval das nações são: a posição
geográfica, a formação física do local (incluindo o clima e a produção local), a
extensão territorial, a população, o caráter das pessoas (aqui o autor enfatiza o
sucesso dos povos com maior inclinação para atividades de comércio) e o caráter do
governo (o que inclui as instituições estatais). Como é possível perceber, a geografia
tem um peso considerável nas análises de Mahan (2004), visto que os três primeiros
fatores que conferem poder a uma nação dependem de fatores geográficos.
Por outro lado, Mackinder (2004) realça a importância da acumulação de re-
cursos que permitam o desenvolvimento do poder terrestre como meio de ação para
as potências no sistema internacional. O autor destaca, especificamente, a impor-
tância da Eurásia, devido à abundância de recursos naturais e energéticos, além da
importância logística e geoestratégica desta massa continental (PETERSEN, 2011).
A Heartland, inicialmente denominada pelo autor como zona pivô, consiste na
área central da Eurásia. De forma aproximada, é possível afirmar que esta região
se estende desde a Europa Oriental até os limites da Ásia Oriental. De norte a
sul, seus limites compreendem desde a linha do Círculo Ártico até os desertos e
montanhas da Ásia Meridional. A Eurásia possui massas aquáticas de importância
estratégica e comercial tais como o Mar Báltico, o Mar Negro, o Mar Cáspio e o
Golfo Pérsico (KAPLAN, 2012).
Mackinder (2004) afirma que a potência que fosse capaz de exercer influência
sobre a Heartland teria maior capacidade de projeção de poder a nível global.
O exercício de poder terrestre sobre a Eurásia tem um potencial de produzir um
repositório de recursos e bens que, se associado a um poder marítimo, acarretará
possibilidades de alteração da balança de poder do sistema internacional. Isto
permitiria desenvolver meios para tentar controlar as regiões que possuem áreas
costeiras em seus territórios, produzindo um poder anfíbio, capaz de enfrentar
o poder marítimo das potências insulares: nos primórdios a Grã-Bretanha e,
posteriormente, os EUA (PETERSEN, 2011).
De acordo com esta visão, a potência que conseguisse dominar a Heartland
teria capacidade de dominar a World-Island, que se define como a região que
engloba a Europa, a Ásia e a África, obtendo consequentemente uma supremacia
de recursos que poderiam ser convertidos em poder efetivo (MACKINDER, 2004).