
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, 2019, p. 100-126
111Silvia Garcia Nogueira; Wemblley Lucena De Araújo
Australia Academic Partnership, envolvendo cinco universidades do Timor-Leste,
cinco da Indonésia e uma da Autrália (UNTL, 2017).
A combinação, portanto, de o Brasil ter se constituído como um país lusófono
atrativo para Timor-Leste em um contexto das relações do Sul-Global (por sua
estrutura acadêmica), com o processo de construção do Estado timorense (ainda
deficitário no campo da Educação), resultou no fato apontado por Pereira, Cassiani
e Linsingen (2015), de que, em 2013, havia nas universidades brasileiras um total
de 150 estudantes timorenses. Para os autores, isso foi resultado também de uma
política de internacionalização das próprias universidades brasileiras.
Especificamente, quanto à internacionalização das universidades, Sebastián
(2004) ressalta que ela ultrapassa o âmbito das instituições acadêmicas, influenciando
em políticas educativas que se misturam a diversas motivações (econômicas,
culturais, etc.). Para ele, a mobilidade internacional de estudantes impacta sobre
o processo de incorporação cultural da própria internacionalização, afetando
mentalidades, valores e percepções. Já em relação à cooperação internacional,
o autor enfatiza como fundamentos, objetivos ou impactos, o aumento e a
transferência do conhecimento científico e tecnológico, a criação de capacidades,
o desenvolvimento institucional e a contribuição para o desenvolvimento humano,
social e produtivo.
Brun (2016), Pereira, Cassiani e Linsingen (2015), Butcher et al. (2015),
Nogueira (2014), Carey (2003) e Silva (2008), chamam a atenção, de uma forma
crítica, para as dificuldades que envolvem o estabelecimento de relações horizontais
na CSS ou nos processos de internacionalização de universidades. Particularmente,
tendo as reuniões de doação e ajuda internacional para o desenvolvimento
(AID) do Timor-Leste como foco de estudo etnográfico, Silva (2008) ressalta
que, contratados pelas Nações Unidas e por agências bilaterais de cooperação,
assessores dos mais diferentes países – Portugal, Austrália, Brasil, Índia, Paquistão,
Sri Lanka, Irlanda, Espanha, Equador, Filipinas, Nova Zelândia, África do Sul,
Jamaica, Estados Unidos e outros – para trabalharem diretamente na formação
do Estado timorense tendiam “a reproduzir in loco os princípios de fundação e
gestão da máquina pública existentes em seu país de origem ou naqueles em que
adquiriu sua maior capacitação profissional”.
A autora aponta ainda que poucos foram os técnicos estrangeiros que se
dispuseram a aprender o Tétum, língua de comunicação local, idioma oficial, que
possibilita o diálogo entre os timorenses versados em línguas maternas particulares.
Português e inglês eram os idiomas de comunicação entre eles com os locais em