206 O Combate ao Tráfico de Drogas na Fronteira Brasil-Bolívia (2008-2012)
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, 2019, p. 196-220
em que a Polícia Federal brasileira (PF) se comprometia a assumir o controle do
combate ao tráfico de drogas no território boliviano. Era o início da reaproximação
entre os dois países nessa temática. De acordo com a nota, a cooperação iria
alcançar um novo patamar. Para além das trocas de informação e inteligência, o
acordo propunha maior efetivo policial na fronteira e a atuação da PF em ações
de destruição de pistas clandestinas e áreas ilegais de plantação de folha de coca
localizadas na Bolívia (PF..., 2008).
A nota conjunta foi formalizada em 18 de fevereiro de 2009, quando a PF e a
Polícia Nacional da Bolívia (PNB) assinaram um acordo de cooperação no combate
ao crime organizado. O acordo foi assinado durante uma reunião que tratava
da Estratégia de Cooperação Policial Brasil-Bolívia 2009, realizada na cidade de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O documento previa uma série de ações, com
validade de um ano, como a troca de informações de inteligência, de treinamentos
e apoio logístico em operações. O objetivo principal era combater a lavagem de
dinheiro e o tráfico de drogas e armas (POLÍCIAS..., 2009). O Departamento da
Polícia Federal havia emitido uma nota
10
à embaixada brasileira em La Paz, no
início do mês, para que se convidasse dois representantes da Força Aérea boliviana,
atuantes nas operações de erradicação de cultivo de ilícitos, para participarem,
como observadores, dessa reunião, que ocorreu entre os dias 17 e 19 de fevereiro.
Os adidos da Polícia Federal e dos militares, estabelecidos na embaixada
brasileira em La Paz, também eram responsáveis por coordenar e convidar os
agentes bolivianos para participar de seminários e treinamentos voltados para o
combate ao crime organizado no Brasil. Roberto Severo Ramos, então chefe de
gabinete do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), em entrevista
realizada em 2015, assinalou que as operações ostensivas que são executadas nas
regiões de fronteira, como a Operação Ágata
11
, que se encontra sob o âmbito do
Plano Estratégico de Fronteiras
12
(Pefron), exige um grande esforço de planejamento
10 As informações sobre notas transmitidas e encontros de comissões entre autoridades do Brasil e da Bolívia
foram retiradas dos telegramas compartilhados entre o MRE e a embaixada brasileira em La Paz, durante os
anos de 2008 a 2012, disponíveis no arquivo histórico do Itamaraty.
11 A Operação Ágata, um dos eixos do Plano Estratégico de Fronteiras, é conduzida pelo Ministério da Defesa e
consiste no emprego das Forças Armadas em pontos específicos da fronteira brasileira a fim de realizar operações
de caráter pontual e temporário (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE POLÍCIA FEDERAL, 2011).
12 Em 8 junho de 2011, sob a administração da presidente Dilma Rousseff, foi lançado o Decreto nº 7.496, que
instituiu o Plano Estratégico de Fronteiras (Pefron). Sob a responsabilidade do vice-presidente da República, o
Pefron tem o objetivo de reforçar a presença do Estado nas fronteiras terrestres do Brasil, através de ações de
“fortalecimento da prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos fronteiriços e dos delitos praticados
na faixa de fronteira brasileira” (BRASIL, 2011).