
233Matheus Hoffmann Pfrimer; Giovanni Hideki Chinaglia Okado
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 1, 2019, p. 225-249
Algumas explicações sobre os condicionantes da expansão dos cursos de
RI pelo Brasil são encontradas na literatura. Miyamoto (2003) e Lessa (2005b),
por exemplo, discorrem que a criação dos cursos de RI em IES, o estado da
arte dessa ciência no país e as preocupações sobre o mercado de trabalho estão
indissoluvelmente ligados à maior projeção do Brasil no cenário internacional,
tanto em termos políticos quanto econômicos. Para os dois autores, à medida
que aumenta a internacionalização do país, crescem o interesse pelo curso e a
demanda pelo bacharel em RI. Essa correlação explica o lento crescimento do
protoperíodo dos cursos, entre 1974 e o final dos anos de 1990, considerando a
baixa internacionalização do país, e o boom dos demais períodos, a partir da década
de 2000, com o aumento da internacionalização, somada à influência do Reuni.
O quinto e último período é denominado de reconcentração geográfica,
caracterizada pela consolidação dos cursos de Relações Internacionais no Brasil
após 2016, com a perspectiva de que o número atual de aproximadamente cento e
cinquenta cursos tenha atingido o ápice e de que haverá estagnação – ou até mesmo
redução (ver Figura 1). À primeira vista, essa estagnação pode ser justificada por
pelo menos quatro motivos: a ausência da criação do curso em novas instituições,
o fechamento de cursos em algumas instituições, a diminuição do número de
alunos ingressantes e as incertezas quanto ao mercado de trabalho. No entanto,
é necessário um estudo mais amplo, que extrapole a finalidade deste artigo, para
compreender esses e, inclusive, outros motivos da estagnação.
Nesse último período, a espacialização da oferta de cursos de RI consolidou-
se por meio da concentração espacial, particularmente se reconcentrando nas
regiões Sul e Sudeste. Uma discussão do legado deixado por essa distribuição
espacial deve ser repensada diante do contexto que se estabelece a partir de 2016.
Concomitantemente, teve início uma discussão para se estabelecer, minimamente,
parâmetros comuns a todos os cursos nacionais de RI. Isso se iniciou com uma
proposta preliminar de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) apresentada pela
Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) em 2013 e que se estendeu
até o debate das DCNs propostas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) – as
quais foram aprovadas em 2017 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA, 2017b).
Em outras palavras, há uma preocupação maior com a qualidade dos cursos de
RI, e não com a quantidade ou a universalização do ensino.
A dispersão espacial identificada em períodos anteriores, na verdade,
acompanhou as concentrações espaciais, com a reconcentração geográfica da oferta
e da consolidação acadêmica dos cursos de RI desde 2016. Consequentemente, a
partir do quinto período, parece haver o início de um novo contexto para a gestão