Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 169-192
176 Jeffrey Sachs e a Ajuda Oficial para o Desenvolvimento: uma releitura da Teoria da Modernização
As duas décadas após a Segunda Guerra Mundial foram marcadas por uma
efervescência intelectual para a teoria da modernização. Em 1959, Edward Shils,
em um discurso proferido na Conferência de Modernização Política, iniciou a
construção de marcos sólidos para uma definição terminológica de modernização.
O autor estabeleceu certos parâmetros para distinguir tradicional de moderno,
mesmo reconhecendo não ser tão simples observá-los empiricamente.
Nos novos estados, “moderno” significa democrático e igualitário, científico,
economicamente avançado e soberano. Estados “modernos” são “welfare
states”, proclamando o bem-estar de todas as pessoas e especialmente das
classes mais baixas como sua principal preocupação. Estados “modernos”
são necessariamente estados democráticos, nos quais não apenas as
pessoas são o foco e são cuidadas por seus governantes, mas são, também,
a fonte de inspiração e orientação desses governantes. Modernidade
implica democracia, e democracia nos novos Estados é, acima de tudo,
igualitária. A modernidade, portanto, implica o destronamento dos ricos e
tradicionalmente privilegiados de suas posições prementes de influência.
Envolve a reforma agrária. Envolve uma forma progressiva de tributação
da renda. Envolve o sufrágio universal. A modernidade envolve educação
pública universal. A modernidade é científica. Acredita-se que o progresso
do país depende de uma “tecnologia racional” e, em última instância, do
conhecimento científico. País algum poderia ser moderno sem ser avançado
economicamente ou progressivo. Ser avançado economicamente significa
ter uma economia baseada na tecnologia moderna, ser industrializado e ter
um alto padrão de vida. Tudo isso requer (...) investimentos, construção
de novas fábricas, construção de estradas e portos, desenvolvimento
de ferrovias, esquemas de irrigação, produção de fertilizantes, pesquisa
agrícola (...) e pesquisa sobre utilização de combustíveis. “Moderno”
significa ser Ocidental sem o ônus de ter que seguir o Ocidente. É o modelo
do Ocidente desassociado, de alguma forma, de suas origens geográficas e
lócus (SHILS, 1958, apud GILMAN, 2003, p. 1-2)
10
.
10 Tradução de trechos no idioma original: In the new states “modern” means democratic and equalitarian, scientific,
economically advanced and sovereign. “Modern” states are “welfare states,” proclaiming the welfare of all the
people and especially the lower classes as their primary concern. “Modern” states are meant necessarily to be
democratic states in which not merely are the people cared for and looked after by their rulers, but they are,
as well, the source of inspiration and guidance of those rulers. Modernity entails democracy, and democracy
in the new states is, above all, equalitarian. Modernity therefore entails the dethronement of the rich and the
traditionally privileged from their positions of pre-eminent influence. It involves land reform. It involves steeply
progressive income taxation. It involves universal suffrage. Modernity involves universal public education.
Modernity is scientific It believes the progress of the country rests on rational technology, and ultimately on
scientific knowledge. No country could be modern without being economically advanced or progressive. To be
advanced economically means to have an economy based on modern technology, to be industrialized and to