Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, 2018, p. 31-55
38 O pensamento geoestratégico e os documentos estratégicos dos Estados Unidos no pós Guerra Fria
Para isso, Brzezinski propõe que os EUA devem atuar como o promotor e
garantidor de um renovado “Ocidente Ampliado” (Larger West), envolvendo a
Turquia e a Rússia, de forma gradual, por meio de um processo de democratização
e eventualmente aderindo às normas do “Ocidente”. Esse objetivo de longo prazo
poderia ser alcançado no segundo quarto do século XXI. A Turquia se destacaria
por sua influência histórica na área do antigo Império Otomano, por atuar como
uma ponte de acesso da Europa ao Mar Cáspio e à Ásia Central (via aliança com
Geórgia e Azerbaijão), que são áreas disputadas com a Rússia, e por ter sido em
parte já incorporada ao Ocidente através da OTAN. A relevância da Rússia se
deve à sua posição geográfica central e transcontinental na Eurásia, e por ter em
sua orientação geoestratégica a retomada do status de antigo império, que busca
influência sobre a Ásia Central e sobre parte da Europa dividida. Assim, nessa
tarefa, a liderança dos EUA na OTAN seria imprescindível, assim como trabalhar
por uma Europa unida, fomentando a cooperação entre seus atores chave.
Outro tabuleiro seria o “Oriente Complexo”, na região Ásia-Pacífico, onde
os EUA deveriam atuar como um promotor do equilíbrio regional de “um novo
oriente estável e cooperativo”. Para ele, por seu peso econômico e demográfico
frente a uma Europa declinante, essa região é crucial para a estabilidade global.
No entanto, apresenta enorme potencial de eclodir um conflito local que pode
arrastar os EUA e levar a uma guerra maior. Isso se deve às disputas pelo posto
de maior potência regional, combinado com ressentimentos, desconfianças,
contenciosos e conflitos históricos, envolvendo também aliados estratégicos dos
EUA (BRZEZINSKI, 2012a, p.157-158). Para Brzezinski, as ambições chinesas
se tornam cada vez mais claras, assentadas em assertividade nacionalista,
modernização nacional e paciência histórica, que despertam medo e rivalidades
históricas com Japão e Índia, por exemplo. Assim, os EUA deveriam ajudar
os países a evitar uma batalha pelo domínio da região, mediando conflitos e
promovendo o equilíbrio entre rivais. Mas alerta que os EUA não podem mais
impor um equilíbrio de poder à região (BRZEZINSKI, 2012a, p.131, 161). Mas,
para ele, embora seja apontada frequentemente como a sucessora dos EUA, a
China não estaria preparada, disposta ou interessada em assumir o papel global
dos EUA. Pelo contrário, busca maior influência, de forma paciente, cautelosa e
não conflitante, entendendo que um rápido declínio dos EUA levaria a uma crise
global que não a interessaria, já que o país tira proveito da ordem promovida
pelos EUA sem incorrer nos seus custos. Até porque sua geografia possibilita um