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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
Marx e Engels: política internacional e luta de classes
Marx and Engels: international politics and class struggle
DOI: 10.21530/ci.v13n3.2018.802
Caio Bugiato
1
Resumo
Esse texto é uma abordagem das ideias de Marx e Engels sobre política internacional e
nacional. Os fundadores do socialismo moderno tendem a tratar essas duas dimensões de
modo articulado, mas tal articulação se mostra insuficiente em suas reflexões. Sendo assim,
nossa proposição teórica consiste em sofisticar tal articulação, de modo a amparar análises
contemporâneas sobre as relações internacionais inspiradas no marxismo. Para tal, incorremos
em uma pesquisa teórica sobre a visão de Marx e Engels acerca da política internacional em
geral, oriunda da dinâmica do sistema de Estados europeu na década de 1850, publicada
em uma série de artigos em jornais da época. Esta visão, à luz das ideias do Manifesto do
partido comunista, forma um arcabouço teórico para analisar política internacional.
Palavras-chave: Marx e Engels; Política internacional; Luta de classes; Teoria de Relações
Internacionais.
Abstract
This text is an approach to Marx and Engels’ ideas on international and national politics. The
founders of modern socialism tend to understand these two dimensions in an articulated way,
but such articulation is insufficient in their reflections. Thus, our theoretical proposition is to
refine such articulation in order to support contemporary analyzes of international relations
inspired by Marxism. Hence we proceeded a theoretical research on Marx and Engels’ view of
international politics in general, stemming from the dynamics of the European state system
in the 1850s, and published a series of articles in newspapers at that time. This vision in
the light of the ideas of the Manifesto of the Communist Party forms a theoretical framework
for analyzing international politics.
Keywords: Marx and Engels; International politics. Class struggle; Theory of International
Relations.
1 Professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Artigo submetido em 15/05/2018 e aprovado em 25/10/2018.
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Introdução
Este artigo consiste numa pesquisa bibliográfica sobre a obra de Marx e
Engels, direcionada a suas ideias sobre a política, nas dimensões internacional
e nacional e a possível vinculação entre ambas. As linhas que seguem contêm
uma proposição teórica que vincula duas noções que aparecem nos textos dos
fundadores do socialismo moderno, que julgamos ser compatíveis: as projeções
de poder dos Estados, na dimensão internacional, e a luta de classes, na dimensão
nacional. Ressaltamos que este texto trata do pensamento marxiano e engelsiano
e não se propõe a abordar ou sistematizar a literatura marxista pertinente às
RI, como as teorias clássicas e contemporâneas do imperialismo, as teorias de
dependência e os teóricos neogramscianos, entre outros.
A seguir apresentamos a visão de Marx e Engels sobre a política internacional,
oriunda da dinâmica do sistema de Estados europeu na década de 1850. Marx e
Engels publicaram uma série de artigos em jornais da época
2
, sobretudo no New
York Daily Tribune (para o qual Marx foi correspondente internacional entre
1851 e 1862), em que apresentam reflexões acerca da política internacional à luz
do binômio guerra-revolução (pensamos que aqui reside o caráter inédito para
as RI no Brasil: trazer à tona os artigos sobre política internacional). Os textos
utilizados nessa segunda parte foram tais artigos publicados em uma coletânea de
textos de Marx e Engels em 1975, intitulada Collected Works. Dessa publicação,
utilizamo-nos majoritariamente dos artigos escritos poucos anos antes da e
durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), contenda em torno da qual os Estados
europeus se mobilizaram. Assim, elencamos, de acordo com a visão dos autores,
as atividades de política externa dos Estados europeus – respectivamente Rússia,
Inglaterra, França, Prússia, Áustria e Turquia –, antecedida pela apresentação
da ideia geral dos autores, segundo a qual as grandes potências do Concerto
Europeu mobilizavam-se para conter revoluções e conquistar a supremacia na
ordem internacional, e sucedida pela exposição do caráter da Guerra da Crimeia.
Contudo, os artigos sobre política internacional carecem de um encontro com o
materialismo histórico, demonstrando uma análise fundada na raison d’État e
suas consequências para o equilíbrio de poder. Com o intuito de promover tal
2 Há uma diversidade temática nos artigos de Marx e Engels publicados em jornais da época – comércio,
diplomacia, colonialismo –, mas optamos por discorrer sobre a política das grandes potências na Europa do
Concerto Europeu, pois, dessa forma, abrimos um diálogo com uma das teorias mais influentes do campo das
RI, o Realismo.
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encontro, utilizamo-nos das ideias do Manifesto do partido comunista sobre classes
e frações de classes sociais, luta de classes, Estado e revolução, que nos permitiram
elaborar uma proposição teórica que articula as dimensões nacional e internacional,
a partir da obra de Marx e Engels, para analisar a política internacional.
* * *
As revoluções de 1848 na Europa impactaram o pensamento de Marx e
Engels, de modo que assuntos da política internacional receberam mais atenção
dos fundadores do socialismo moderno. Pelo menos dois motivos despertaram
mais interesse: a) os movimentos revolucionários que chacoalharam o velho
continente e que puseram em xeque o status quo construído no Congresso de
Viena
3
(1815) tiveram uma dimensão internacional e b) a unificação alemã se
tornou uma questão que envolvia diversos pequenos Estados no centro da Europa
e, principalmente, as grandes potências e o equilíbrio de poder entre elas. Nesse
contexto, na ativa produção jornalística que ambos exerciam, desenvolveram uma
visão de mundo sobre a política internacional, que tende a vincular as dimensões
nacional e internacional, além da fazer parte de sua formação teórica e política
(FERREIRA, 1999).
Segundo Marx e Engels (MARX, 1975a, 1975b, 1975c), o papel do Concerto
Europeu é a ordem do sistema de Estados, com propósitos conservadores e
restauracionistas oriundos da Convenção de Viena. As cinco potências, os
Estados da Inglaterra, França, Prússia, Áustria e Rússia, mobilizavam-se para dois
grandes objetivos: conter a revolução (burguesa e/ou socialista
4
) e conquistar a
supremacia na ordem internacional. O pilar de sustentação do sistema de Viena era
a autocracia russa (por meio de sua diplomacia e de seu exército) e, o czarismo,
o inimigo fulcral da revolução na Europa e o bastião do status quo monárquico
3 O congresso de Viena foi realizado entre 1814 e 1815 pelos Estados vitoriosos nas guerras napoleônicas com a
finalidade de restaurar o ancien régime na Europa continental, redesenhar o mapa europeu, manter a estabilidade
política e conter movimentos revolucionários. As monarquias da Rússia, da Áustria e da Prússia formaram
a Santa Aliança, com base nas doutrinas do cristianismo, interessada em colocar as relações internacionais
sob a égide do cristianismo. Logo o Estado inglês aderiu estrategicamente ao pacto, formando a Quádrupla
Aliança, que admitiu a presença do Estado francês em reuniões futuras. Essa Quíntupla Aliança, ou Concerto
Europeu, se outorgou o direito de administrar e intervir coletivamente no sistema de Estados, implantando
uma diplomacia de conferências sobre questões da política internacional, intercedendo nos casos de quebra
das condutas acordadas na convenção.
4 Para Inglaterra e França, Marx e Engels presumiram revoluções proletárias direcionadas ao socialismo e ao
comunismo; para outros, como Rússia, Áustria, Estados alemães e italianos e povos na Europa centro-oriental
governados por reis e imperadores, apostavam em revoluções burguesas, que derrubassem as monarquias.
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e aristocrático no continente (ENGELS, 1975a), ainda em vigor na maioria dos
países. Dessa forma, o expansionismo russo – que entrava diretamente em atrito
com o Império Otomano (Turquia), manipulando lutas de populações oprimidas
em proveito de objetivos reacionários e expansionistas –, levado a cabo pela
autocracia czarista, não podia ser contido pelas potências ocidentais mediante
confronto bélico, cuja instabilidade política poderia estalar insurreições como
um rastro de pólvora. Sobre o Concerto Europeu e o bastião russo, Marx escreve:
A guerra contra a França, que foi ao mesmo tempo uma guerra contra
a revolução, uma guerra antijacobina, conduziu naturalmente a uma
transferência de influência do Ocidente para o Oriente, da França para a
Rússia. O Congresso de Viena foi fruto natural da guerra antijacobina, o
Tratado de Viena o produto legítimo do Congresso de Viena e a supremacia
russa a filha natural do Tratado de Viena [...] Sendo a preponderância da
Rússia na Europa inseparável do Tratado de Viena, qualquer guerra contra
esse poder que não proclame de saída a abolição do Tratado, não pode deixar
de ser uma mera teia de vergonhas, desilusões e conluios (MARX, 1975c, p.
283-284, tradução nossa)
5
.
Segundo Marx e Engels (MARX, 1975d, 1975e, 1975f, 1975g; ENGELS, 1975b;
MARX; ENGELS 1975a), os governos ocidentais, cientes das possibilidades de que
os desequilíbrios gerados pela guerra fossem catalisados por forças revolucionárias
para estalar revoluções, mobilizavam-se para ampliar influência nas regiões dos
Bálcãs, Mar Negro e Sudoeste Asiático, de modo a conter os anseios expansionistas
e de supremacia do Império Russo, inclusive debilitando-o militarmente. Contudo,
tinham a cautela de não neutralizar a autocracia czarista, pois, fiéis aos propósitos
contrarrevolucionários do Tratado de Viena, reservavam à Rússia uma função de
mantenedora da ordem. O Estado russo se encarregava de manter a estabilidade
internacional contra revoluções, sobretudo, na Europa Centro-Oriental, assim como
exercia pressão constante sobre o Império Otomano, restringindo qualquer anseio
de expansão territorial sobre a Europa e submetendo o sultão de Constantinopla
aos ditames do Concerto. Ademais, os ocidentais se preocupavam em preservar
5 “The war against France being at the same time a war against the Revolution, an Anti-Jacobin war, naturally
led to a transfer of influence from the West to the East, from France to Russia. The Vienna Congress was the
natural offspring of the Anti-Jacobin War, the Treaty of Vienna the legitimate product of the Vienna Congress,
and Russian supremacy the natural child of the Treaty of Vienna. […] Russia's preponderance in Europe being
inseparable from the Treaty of Vienna, any war against that power not proclaiming at the outset the abolition
of the Treaty, cannot but prove a mere tissue of shams, delusions and collusions”.
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a soberania e a integridade turca diante das investidas expansionistas do czar.
Marx resume a conjuntura:
O Czar, envergonhado e insatisfeito ao ver seu imenso império confinado a
um único porto de exportação, situado num mar inavegável durante metade
do ano e assediado por ingleses na outra metade, está evocando os anseios
de seus antepassados para ter acesso ao Mediterrâneo; ele está separando,
um após o outro, os membros mais remotos do Império Otomano do seu
corpo principal, até que finalmente Constantinopla, o coração, deve deixar
de bater. Ele repete suas invasões periódicas tão frequentemente quanto ele
pensa que seus projetos são ameaçados pela suposta consolidação do governo
turco, ou pelos sintomas mais perigosos da manifesta autoemancipação dos
eslavos. Contando com a covardia e as apreensões dos Poderes Ocidentais,
ele intimida a Europa e projeta suas demandas o mais longe possível, para
depois aparecer magnânimo, contentando-se com o que ele imediatamente
queria.
Os Poderes Ocidentais, por outro lado, inconsistentes, pusilânimes, suspei-
tando uns dos outros, começam por encorajar o Sultão a resistir ao Czar – por
medo que as invasões da Rússia obriguem aquele a ceder – pelo medo de que
uma guerra geral dê origem a uma revolução geral. Muito impotentes e tímidos
para empreender a reconstrução do Império Otomano pelo estabelecimento
de um Império grego, ou de uma República Federal dos Estados Eslavos, tudo
o que eles almejam é manter o status quo, ou seja, o estado de putrefação
que proíbe o Sultão de se emancipar do Czar e os eslavos de se emancipar do
Sultão. (MARX, 1975b, p. 212, tradução nossa.)
6,
7
6 “The Tsar, vexed and dissatisfied at seeing his immense empire confined to one sole port of export, and that
even situated in a sea unnavigable through one half of the year, and assailable by Englishmen through the
other half, is pushing the design of his ancestors, to get access to the Mediterranean; he is separating, one
after the other, the remotest members of the Ottoman Empire from its main body, till at last Constantinople,
the heart, must cease to beat. He repeats his periodical invasions as often as he thinks his designs on Turkey
endangered by the apparent consolidation of the Turkish government, or by the more dangerous symptoms
of self-emancipation manifest amongst the Slavonians. Counting on the cowardice and apprehensions of the
Western powers, he bullies Europe, and pushes his demands as far as possible, in order to appear magnanimous
afterwards, by contenting himself with what he immediately wanted.
The Western powers, on the other hand, inconsistent, pusillanimous, suspecting each other, commence by
encouraging the Sultan to resist the Tsar, from fear of the encroachments of Russia, and terminate by compelling
the former to yield, from fear of a general war giving rise to a general revolution. Too impotent and too timid
to undertake the reconstruction of the Ottoman Empire by the establishment of a Greek Empire, or of a Federal
Republic of Slavonic States, all they aim at is to maintain the status quo, that is, the state of putrefaction which
forbids the Sultan to emancipate himself from the Tsar, and the Slavonians to emancipate themselves from
the Sultan”.
7 O temor da revolução nas classes dominantes dos Estados europeus é o temor fundamental do Concerto Europeu
durante toda sua existência. Em 1848, em artigo na Nova Gazeta Renana, escreve Engels que “A Prússia,
a Inglaterra e a Rússia são os três poderes que mais temem a revolução alemã e seu resultado primordial – a
unificação alemã: a Prússia porque ela deixaria de existir, a Inglaterra porque seria privada da possibilidade de
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Nessa perspectiva, Marx e Engels analisam a política externa (diplomacia
e forças armadas) das cinco grandes potências do Concerto Europeu na década
de 1850
8
, dedicando atenção particular às ações dos Estados para a Guerra da
Crimeia (1853-1856).
Marx e Engels relataram os objetivos e as ações da política externa do Estado
russo em diversos artigos (ENGELS, 1975a, 1975c; MARX, 1975a, 1975h, 1975i,
1975j). Engels (1890), especialmente, dedicou-se a analisar a (história da) política
externa da Rússia czarista na perspectiva de bastião reacionário, sufocador das
forças revolucionárias. Essas estavam então interessadas na vitória da revolução
na Rússia,
Primeiro, porque o Império do Czar é o pilar da reação europeia, sua última
posição fortificada e ao mesmo seu grande exército de reserva; porque sua
mera existência passiva é uma ameaça permanente e um perigo para nós.
Em segundo lugar – e esse ponto não está sendo suficientemente insistido
– porque sua intromissão incessante nos assuntos do Ocidente paralisa e
perturba nosso desenvolvimento normal, e isso é feito com o objetivo de
conquistar posições geográficas, o que assegurará à Rússia o domínio sobre a
Europa, esmagando todas as possibilidades de progresso sob a sola de ferro
do Czar [...] A diplomacia russa forma, até certo ponto, uma Ordem moderna
de jesuítas, poderosa o suficiente, se necessário, para vencer até os caprichos
de um Czar e para esmagar a corrupção dentro de seu próprio corpo, apenas
para espalhá-la mais abundantemente no exterior [...] para tornar a Rússia
uma potência, poderosa e temida e abrir a ela o caminho para a soberania do
mundo (ENGELS, 1890, [s/p], tradução nossa)
9
.
explorar o mercado alemão, e a Rússia porque a democracia avançaria não só até o Vístula [rio na Polônia], mas
até mesmo para o Dvina e o Dnieper [rios na Rússia]” (ENGELS, 1848, [s/p], tradução nossa). Versão original
do texto: “Prussia, England and Russia are the three powers which have greater reason than anyone else to fear
the German revolution and its first result -- German unity: Prussia because she would thereby cease to exist,
England because it would deprive her of the possibility of exploiting the German market, and Russia because,
it would spell the advance of democracy not only to the Vistula but even as far as the Dvina and the Dnieper”.
8 São em sua maioria análises difusas e concisas. Apresentadas em meio a outros assuntos, não dedicam suas
linhas de forma igualitária às cinco potências. Reunimos aqui as ideias de Marx e Engels que estão em seus
diversos artigos de jornal que tratam das relações internacionais, a partir do trabalho de Ferreira (1999).
9 “First, because the Empire of the Tsar is the mainstay of European reaction, its last fortified position and its great
reserve army at once; because its mere passive existence is a standing threat and danger to us. Secondly — and
this point is not now being sufficiently insisted upon — because by its ceaseless meddling in the affairs of the
West, it cripples and disturbs our normal development, and this with the object of conquering geographical
positions, which will assure to Russia the mastery over Europe, and thus crush every chance of progress under
the iron heel of the Tsar. […] Russian diplomacy forms, to a certain extent, a modern Order of Jesuits, powerful
enough, if need be, to overcome even the whims of a Tsar, and to crush corruption within its own body, only
to spread it the more plenteously abroad […] to make Russia great, powerful, and dreaded, and to open for her
the road to the sovereignty of the world.
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A diplomacia russa influenciava e intervinha nos Estados europeus com a
finalidade de, além da manutenção do status quo de Viena, atingir a supremacia
mundial. Esse objetivo estava fundado nas condições materiais do território
colossal, da população em rápido crescimento (que supria o exército) e nas suas
condições de defesa, uma vez que a ausência de estradas, a imensidão da superfície
territorial e a pobreza de recursos a tornavam inexpugnável. Se as condições
defensivas eram favoráveis, as ofensivas sofriam com desorganização estratégica
e debilidade de equipamentos, além da corrupção em meio aos oficiais. Essa
fraqueza nunca foi segredo para a diplomacia russa, que, portanto, sempre que
possível evitou a guerra e só a aceitou como um último recurso e em situações
em que o adversário era claramente mais fraco (como nos atritos com a Turquia).
Assim, a diplomacia russa preferia usar os interesses e os objetivos antagônicos
das potências ocidentais para explorar suas inimizades em benefício da sua política
de conquista. Nas investidas contra Constantinopla, a política externa russa
interveio em diversas rebeliões e conspirações que levaram ao enfraquecimento da
autoridade do sultão, sobretudo fomentando e apoiando gregos, sérvios, búlgaros
e romenos sob a soberania do Império Otomano, alegando motivos religiosos e/ou
étnicos. Do outro lado, na Europa, suas intervenções tinham o outro propósito de
esmagar insurreições: era o czar o responsável por controlar a Polônia, derrotar
a Hungria e sufocar a unificação da Alemanha.
A política externa do Estado inglês, o “mais capitalista” das potências
do Concerto, perfilava ao lado dos demais Estados europeus autocráticos e
contrarrevolucionários, mobilizada pelos grandes objetivos da ordem de Viena:
conter a revolução e conquistar a supremacia internacional. Qualquer triunfo
revolucionário na Europa continental fortaleceria o movimento cartista no interior
da Inglaterra, então, derrotas das revoluções na França e na Alemanha, por
exemplo, eram derrotas do próprio cartismo, na percepção das classes dominantes
inglesas (burguesia e aristocracia feudal). Esse era um ponto de concordância entre
classes dominantes no Estado inglês, que já em matéria de projeção internacional
de interesses de classe não entravam em acordo. A política externa inglesa era
formulada e executada mediante interesses aristocráticos (em relação ao continente
europeu), uma vez que, embora a predominância do caráter capitalista da economia
e da sociedade, o Estado era governado por uma coalizão aristocrático-burguesa.
Contudo, a política externa para a Europa era dirigida (tradicionalmente) pela
aristocracia feudal, imbuída de históricas rivalidades geopolíticas com as dinastias
do velho continente. As propostas partidárias Tory e Whig em assuntos de
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política externa no parlamento inglês representavam respectivamente a tendência
aristocrática, conservadora e protecionista e a burguesa, liberal e livre-cambista.
Nessa luta entre as classes dominantes, prevalecia a primeira, identificada na
figura de Lord Palmerson
10
, levando à caracterização da política externa inglesa
como pró-aristocrática, contrarrevolucionária e até nociva aos interesses da
burguesia. As propostas liberais, que ascendiam no Estado e na sociedade durante
a Guerra da Crimeia, consistiam na substituição das políticas de intervenção
diplomática e militar pelo estímulo ao desenvolvimento do livre- comércio
(MARX, 1975i, 1975j, 1975k, 1975l, 1975m, 1975n, 1975o, 1975p, 1975q, 1975r,
1975s, 1975t).
Sobre a política externa do Estado francês, sob o governo de Napoleão
Bonaparte III (o mesmo do golpe de Estado n`O 18 de Brumário), Marx e Engels
(ENGELS, 1975c, 1975d; MARX, 1975u, 1975v) a descreviam como aventureira e
expansionista, oriunda da necessidade de fortalecimento do regime bonapartista,
que sofria com instabilidade política e ilegitimidade internas. A política externa
francesa tendia à guerra, com a finalidade de desviar atenção de e abafar problemas
internos, justificar o estado de excepcionalidade política em vigor na França e
projetar as intenções de Bonaparte no exterior. Além de servir de justificativa para
eliminar impedimentos legais e pilhar os fundos do Estado. Contudo, os limites da
guerra eram a revolução e Bonaparte então se imiscuía em bravatas e simulações
em matéria de política externa. Tal dilema é relatado por Marx:
Bonaparte está embarcando na guerra de bom grado. Ele não tem alternativa,
a não ser a revolução em casa ou a guerra no exterior. Ele não pode
continuar mais, como ele faz, combinando o cruel despotismo de Napoleão
I com a política de paz corrupta de Luís Philippe. Ele deve deixar de enviar
novos lotes de prisioneiros para Caiena se não se atreve a enviar exércitos
franceses além das fronteiras. Mas o conflito entre as intenções declaradas
de Bonaparte e os planos secretos da coalizão só podem contribuir para
um novo emaranhado de problemas. O que eu concluo de tudo isso é que
não haverá guerra, mas, pelo contrário, que o problema assumirá dimensões
terríveis e revolucionárias, que nem sequer são suspeitas pelos pequenos
homens da coalizão. A sua própria perfídia é o meio de transformar um
10 Personalidade que ocupou altos postos do Estado inglês, como Secretário da Guerra, Secretário das Relações
Exteriores e Primeiro-Ministro, e foi alvo de duras críticas de Marx, que, além de denunciar sua compactuação
com a ordem de Viena, considerava-o um reacionário oportunista e russófilo. Marx dedicou uma série de
artigos a esse homem de Estado e sua política, que podem ser encontrados em Marx e Engels, Collected Works,
vol. 12. New York: International Publishers, 1979, p. 341-406.
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conflito local [Guerra da Crimeia] em uma conflagração europeia. (MARX,
1975u, p. 33, tradução nossa)
11
.
As intenções de Bonaparte eram conquistar reconhecimento de seu regime,
considerado usurpador pelar monarquias europeias, conquistar prestígio junto
a povos oprimidos por seu papel de libertador – que um dia foi de seu tio – e
conquistar influência e territórios em regiões politicamente fracas, como a península
italiana, ainda que dentro dos marcos das negociações do Concerto Europeu.
Em suma, antes da supremacia na Europa, Bonaparte buscava uma posição de
protagonista no Concerto, revertendo sua marginalização no sistema, imputado à
França pelos Estados vencedores das guerras napoleônicas. Já os planos secretos
da coalizão (Estados de Inglaterra e França) eram justamente as negociações
diplomáticas acerca do expansionismo do Czar sobre a Turquia sem abalar o
status quo europeu, relatado por Marx ao discorrer sobre as correspondências
diplomáticas entre ingleses e russos (MARX, 1975x, 1975w).
Em relação aos Estados da Prússia e da Áustria, suas políticas externas estavam
intimamente ligadas ao temor da revolução. A aristocracia prussiana dos junkers,
por mais que almejasse enfraquecer a influência russa na Europa centro-oriental
e controlar todo o território polonês, não se mobilizou contra o bastião das
monarquias europeias, temendo o despertar revolucionário nas suas próprias terras.
O Estado austríaco, endividado e acometido por insurreições internas, restringia
suas incursões no exterior e sua política externa se voltava para a conservação do
seu império. Por mais que se incomodasse com a ingerência russa na península
balcânica, a autocracia austríaca não buscou enfraquecer a política externa russa,
pois a ela não poderia recorrer no caso de estalos revolucionários. Além disso, a
debilidade econômica do Estado austríaco o constrangia a manter boas relações
com as grandes potências, tendo em vista auxílios financeiros vindouros. Por
tais motivos, Áustria e Prússia mantiveram neutralidade na Guerra da Crimeia
(MARX, 1975p, 1975y).
11 “Bonaparte is of course in good earnest in embarking in the war. He has no alternative left but revolution at
home or war abroad. He cannot any longer continue, as he does, to couple the cruel despotism of Napoleon
I with the corrupt peace policy of Louis Philippe. He must stop sending new batches of prisoners to Cayenne,
if he dare not simultaneously send French armies beyond the frontiers. But the conflict between the avowed
intentions of Bonaparte and the secret plans of the coalition can only contribute to further embroil matters.
What I conclude from all this is, not that there will be no war, but, on the contrary, that it will assume such
terrible and revolutionary dimensions as are not even suspected by the little men of the coalition. Their very
perfidy is the means of transforming a local conflict into a European conflagration”.
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É digna de nota, ainda, a percepção de Marx e Engels sobre a condição
da Turquia. Esse Estado muçulmano, que outrora ameaçara a Europa com sua
política anexionista, é descrito como uma potência decadente, alijada das decisões
políticas internacionais, consumido por conflitos internos e objeto das potências
do Concerto: alvo do expansionismo czarista e da cobiça (inclusive comercial)
dos ocidentais, principalmente Inglaterra e França. As cinco potências buscavam
tanto se aproveitar da ruína do Império Otomano para controlar territórios e
populações quanto evitar que o colapso do poder do sultão gerasse instabilidade
política decorrente da disputa pela absorção e pelo acúmulo de recursos de poder
por parte de uma delas. A condição da Turquia no sistema de Viena é o que Marx
e Engels chamam de Questão Oriental (ENGELS, 1975a, 1975c, 1975d; MARX;
ENGELS, 1975b; MARX, 1975a, 1975b, 1975h, 1975i, 1975j, 1975k, 1975m, 1975z,
1975aa, 1975ab, 1975ac, 1975ad, 1975ae).
A própria Guerra da Crimeia, o primeiro confronto armado a opor as potências
do Concerto – Inglaterra, França e Turquia de um lado, Rússia do outro –, longe
de ser uma disputa por lugares sagrados no Oriente Médio entre França, Rússia e
Turquia, consistia no choque entre o expansionismo czarista e o receio ocidental
sobre o agigantamento do poder russo. Enquanto a política externa inglesa
procurava mediar diplomaticamente os atritos entre russos e turcos, a política
externa francesa se engajava em instigar a guerra, seguindo as intenções de
Bonaparte. E ambas buscavam influenciar e controlar regiões do decadente império.
Marx e Engels (MARX; ENGELS, 1975a, 1975b; ENGELS, 1975c; MARX, 1975v,
1975af) entendiam a política internacional da Europa e a Guerra da Crimeia como
uma balança de poder (condicionada pelas perspectivas contrarrevolucionárias
das classes dominantes europeias): “Foi igualmente um erro descrever o guerra
contra a Rússia como uma guerra entre liberdade e despotismo [...] a guerra é a
manutenção da balança de poder e dos tratados de Viena – os mesmos tratados
que anulam a liberdade e a independência de nações” (MARX, 1975v, p. 228,
tradução nossa).
Assim, a guerra não foi um confronto bélico generalizado, muito menos a
superação do Congresso de Viena, mas sim um ajuste no status quo, de modo a
introduzir a Turquia de maneira subordinada no esquema das potências gestoras
do sistema internacional. Como escrevem ambos:
A guerra anglo-francesa contra a Rússia figurará, sem dúvida, na história
militar como “a guerra incompreensível”. Muita conversa combinada com
pouca ação, vastas preparações e resultados insignificantes, precaução que
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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
beira a timidez, seguida de temeridade nascida da ignorância, generais
mais do que medíocres à frente de tropas mais do que corajosas, revezes
na sequência de vitórias conquistadas por erros, exércitos arruinados pela
negligência e então salvos pelo mais estranho dos acidentes – um grande
conjunto de contradições e inconsequências (MARX; ENGELS, 1975c, p. 484,
tradução nossa)
12
.
Tal passagem indica, novamente, que as potências ocidentais não estavam
interessadas na derrocada do Estado russo. Marx e Engels mostram que as
operações militares anglo-francesas ocorriam em áreas periféricas, distante dos
centros da vida política russa
13
, o que anulava qualquer possibilidade de estalos
de insurreição popular. As bravatas e simulações que os governantes ocidentais
transformavam em estratégia e tática, em seus discursos sobre a guerra para
seus países, são trazidas à tona pelos amigos como o temor da revolução, pois
a contenção do expansionismo russo não podia ir longe demais, ao ponto de
demolir o baluarte da ordem de Viena (MARX, 1975af; ENGELS 1975d, MARX;
ENGELS, 1975d, 1975e)
14
. Nessas análises da política internacional, portanto, guerra
(internacional) e revolução (nacional, num primeiro momento) são apresentadas
com elementos indissociáveis.
Do exposto, identificamos, portanto, em tais análises, tendências e ausências.
Marx e Engels tendem a articular as relações exteriores dos Estados ao processo
político nacional
15
, no interior de suas fronteiras (e vice-versa). Essa tendência é
12 “The Anglo-French war against Russia will undoubtedly always figure in military history as "the incomprehensible
war". Big talk combined with' minimal action, vast preparations and insignificant results, caution bordering on
timidity, followed by the foolhardiness that is born of ignorance, generals who are more than mediocre coupled
with troops who are more than brave, almost deliberate reverses on the heels of victories won through mistakes,
armies ruined by negligence, then saved by the strangest of accidents—a grand ensemble of contradictions and
inconsistencies”.
13 As principais batalhas ocorreram em Sebastopol, cidade na península da Crimeia no Mar Negro. A península
foi ocupada pelos russos, mas reconquistada por seus inimigos.
14 A Guerra da Crimeia se encerrou com o Tratado de Paris de 30 de março de 1856, assinado por Inglaterra, França,
Turquia, Sardenha – que entrou posteriormente na guerra ao lado desses – e Rússia. O Tratado assegurou a
integridade do Império Otomano e obrigou a Rússia a devolver regiões aos turcos. Mas o bastião russo obteve a
condição de protetor dos principados às margens do Danúbio e dos cristãos em território otomano. O Tratado,
além de retificar a derrota russa, é um ponto de inflexão no Concerto, pois figuras como Otto Von Bismark, da
Prússia, desacreditam do mecanismo coletivo de soluções de conflitos entre as potências que possa contemplar
os interesses dos cinco grandes. Registra-se após o Tratado uma queda no número de artigos de Marx e Engels
dedicados à política internacional (FERREIRA, 1999).
15 Processo político nacional é a dinâmica das relações políticas entre grupos, classes sociais e frações de classes
sociais no interior de um Estado-nacional, onde tais agentes entram em cooperação, conflito ou confronto e o
Estado é o alvo principal de suas demandas. O termo nacional pode ser colocado entre aspas, dado que a agência
de classes, frações e grupo tende a transpassar o espaço nacional, como no Manifesto do partido comunista.
204 Marx e Engels: política internacional e luta de classes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
mais clara quando Marx (1975i, 1975j, 1975k, 1975l, 1975m, 1975n, 1975o, 1975p,
1975q, 1975r, 1975s, 1975t) escreve sobre as disputas políticas entre as classes
dominantes na Inglaterra, com o intuito de tomar as rédeas da política externa,
e quando Engels (1980) escreve sobre o caráter de classe da autocracia czarista.
Entretanto, devido às limitações de textos jornalísticos, está ausente a dinâmica
da luta de classes, tal qual ela é apresentada no Manifesto do partido comunista.
Ou seja, a articulação entre o internacional e o nacional nos textos publicados
em jornais está em estágio embrionário.
Desses dois pontos, tendência e ausência, propomo-nos a fazer apontamentos
para uma análise da (economia) política internacional, inspirada nas ideias de
Marx e Engels contidas principalmente no Manifesto do partido comunista,
articulando-as com seus textos sobre a política internacional. Vejamos.
No Manifesto, as unidades políticas do sistema internacional são os Estados
modernos (alguns revolucionados pela burguesia). Unidades estas em que
a burguesia, com o estabelecimento da grande indústria e do mercado
mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado
representativo moderno. O executivo no Estado moderno não é senão um
comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa [...] Impelida
pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo globo
terrestre. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte,
criar vínculo em toda parte. (MARX; ENGELS, 2010, p. 42-43).
Dessa forma, apontam que o Estado moderno atende prioritariamente as
demandas da burguesia como um todo (manutenção da propriedade privada dos
meios de produção e da força de trabalho como mercadoria a ser comprada no
mercado, isto é, as condições de dominação e exploração por parte da burguesia),
que, por sua vez, “vive em luta permanente; primeiro contra a aristocracia; depois,
contra as frações da própria burguesia [...] e sempre contra as burguesias de países
estrangeiros” (MARX; ENGELS, 2010, p. 48). Ou seja, escrevendo numa época em
que nem todos os Estados europeus tinham passado por revoluções burguesas
16
,
Marx e Engels se referem primeiramente à luta da burguesia contra a aristocracia
feudal, que, mesmo em Estados revolucionados pela burguesia, essa ainda lutava
16 Que é o caso da maioria dos Estados europeus, sobre os quais Marx e Engels escrevem ao analisar as forças
do Concerto Europeu. Notemos então que nos textos dos autores é possível identificar classes dominantes (no
plural) numa mesma conjuntura: a burguesia disputando com a aristocracia feudal os rumos da política do
Estado, como aparece nos artigos sobre a política externa da Inglaterra.
205Caio Bugiato
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
contra resquícios da ordem feudal e da aristocracia decadente. Segundo, referem-se
à luta da burguesia industrial contra frações
17
não industriais que se mobilizam
contra o desenvolvimento da indústria. Terceiro, impelida pela necessidade de
mercado, cada burguesia nacional luta contra concorrentes de outros Estados, no
exterior. Nesse caso, cabe ressaltar que os objetivos da burguesia, além de por
meio do Estado nacional, são viabilizados mediante política externa, assim como
sofrem com os efeitos do sistema interestatal.
As lutas permanentes da burguesia a formam enquanto classe, processo esse
que se concretiza com sua inserção no, e transformação do, Estado, perpetuando-
se como classe dominante
18
. Assim, ela consegue subordinar a política estatal aos
seus interesses. O Estado estabelece e legitima a propriedade privada dos meios de
produção, a exploração do trabalho assalariado e as demais condições necessárias
para que o modo de produção capitalista possa se sustentar. No pensamento
de Marx e Engels, a formação da classe burguesa já aparece dada (enquanto a
classe proletária é uma possibilidade real). No modo de produção capitalista, a
burguesia já está formada enquanto classe social, uma vez que seu processo de
formação de classe se confunde com o próprio nascimento, o desenvolvimento e
a sustentação do capitalismo
19
.
A luta permanente da burguesia encontra então um quarto oponente: o
proletariado. Sua formação não decorre diretamente das relações de produção
e das forças produtivas capitalistas (estrutura econômica) e, diferentemente da
formação da classe burguesa, não é inevitável. A estrutura econômica contém
potencialmente a classe trabalhadora, que pode ou não se formar (se se considera
apenas o nível econômico, objetivo, a classe social só existe enquanto virtualidade).
As circunstâncias históricas concretas e a ação política de agentes, como partidos,
sindicatos e movimentos sociais, possibilitarão ou não a conversão dessa classe,
17 Frações de classe significam que a classe social, seja ela a burguesia, a aristocracia feudal ou o proletariado,
não é homogênea. A formação da classe é condicionada pelo lugar que ocupa no processo de produção, mas em
circunstâncias históricas concretas no interior da classe surgem divergências que opõe seus programas políticos
e até as conduz ao confronto armado. Foi Boito Jr. (2007) que nos chamou atenção para as diferentes lutas da
burguesia, a distinção entre formação da burguesia e do proletariado, assim como sobre a cena política, a qual
abordaremos adiante.
18 Não há um conceito de classe dominante em Marx e Engels, mas se faz necessário nesse texto expor o que
entendemos por classe dominante nas obras em questão. Exercer preponderância econômica (controle do
processo de produção), intensa influência no Estado (centro legal e legítimo do processo decisório na sociedade
capitalista) e supremacia de ideias e valores na sociedade tornam uma classe dominante.
19 Marx esclarece esse processo ao tratar da assim chamada acumulação primitiva n’ O Capital (MARX, 2013).
Ver as passagens em p. 786-787 e p. 795-796, cap. XXIV.
206 Marx e Engels: política internacional e luta de classes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
potencialmente dada na estrutura econômica, em uma classe ativa, cuja formação,
interesses e objetivos serão definidos em processos de lutas. “O proletariado passa
por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa
com a sua existência” (MARX; ENGELS, 2010, p. 47). É um processo irregular,
marcado por avanços e retrocessos. As lutas podem fazer crescer a unidade e a
organização do proletariado. Ademais, a própria burguesia compele o proletariado
para a luta política, dadas suas permanentes lutas inscritas no desenvolvimento
e na sustentação do capitalismo, inclusive, obviamente, a luta pela exploração
e dominação dos trabalhadores. Assim, o processo de formação do proletariado
enquanto classe é um caminho mais árduo do que a formação da classe burguesa,
mas é o caminho que conduz a processos revolucionários (BOITO JR., 2007).
Dessa forma, Marx e Engels usam a noção de classe social para indicar a ação
e a luta dos agentes sociais, definidos em função de sua inserção no processo
produtivo, pela apropriação da riqueza produzida na ordem econômica vigente
e pela influência no Estado existente (e, em menor medida na obra de Marx e
Engels, pela supremacia no terreno das ideias e dos valores sociais). Essa luta de
classes tende a ultrapassar as fronteiras nacionais, como afirmamos anteriormente:
a burguesia possui uma tendência à internacionalização e luta contra as burguesias
de países estrangeiros, cujos objetivos são viabilizados mediante política externa
do Estado, o qual, em determinadas circunstâncias, recorre à guerra.
A agência do proletariado igualmente não se limita às fronteiras nacionais.
Em primeiro lugar, no Manifesto, Marx e Engels apresentam a instauração da
contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de
produção vigentes como o elemento gerador de um desequilíbrio sistêmico que
caberia à luta de classes resolver. A era de revolução social é aquela em que o
desenvolvimento das forças produtivas é truncado, e não mais estimulado, pelas
relações de produção existentes e as classes sociais, como coletivos organizados
e em luta, representam, de um lado, as relações de produção “caducas”, lutando
pela preservação da estrutura social vigente, e, de outro, a outra classe representa
as forças produtivas em ascensão, lutando pela mudança histórica. Não se trata,
portanto, de um conflito econômico ou político qualquer, mas de um confronto
particular numa fase bem delimitada do processo histórico, um período de
revolução
20
. Em segundo lugar, no capitalismo, o proletariado enquanto classe
20 Consideramos que não há uma teoria (corpo teórico articulado e acabado) da revolução em Marx, mas sim
reflexões em direção a uma construção teórica – dinâmica e inacabada – para pensar o real e elaborar novas
ideias a partir do próprio real. O que destacamos é que a revolução (transformação estrutural de um modo de
207Caio Bugiato
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
é o agente da revolução, que não se limita ao espaço nacional, posto que é
internacional: “Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução
comunista! Nela os proletários nada têm a perder, a não ser seus grilhões. Têm
um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!”.
Apontamentos teóricos para analisar política internacional.
Como vimos ao longo das páginas anteriores, nas reflexões de Marx e Engels
acerca da política internacional, está ausente a análise da luta de classes no
processo político nacional. Embora, nos artigos que tratam da política externa
inglesa, exista uma incipiente conexão das relações exteriores do Estado com a
luta entre a aristocracia feudal e a burguesia na formulação de política externa,
e o papel do movimento dos trabalhadores (cartismo) que preocupa as classes
dominantes, ao tratar da política externa dos outros Estados europeus e da política
internacional em geral, os autores o fazem de modo superficial, como se o Estado
tivesse vontade própria (raison d’État) e/ou expressasse diretamente os interesses
do soberano (o czar, o rei, o imperador), sem conexão com a luta de classes
21
.
Por mais que a reunião das dimensões nacional e internacional no pensamento
de Marx e Engels seja perceptível e apropriada, é embrionária.
Com a finalidade de desenvolver uma proposição, nossos apontamentos
consistem em articular as dimensões internacional e nacional, que formam um
arcabouço teórico, o qual pode ser aplicado em análises empíricas. Isto é, em
análises sobre as relações entre as unidades políticas do sistema interestatal (tal
como fazem nos textos do New York Daily Tribune), deve estar contida a dinâmica da
luta de classes (tal qual no Manifesto do partido comunista), formando assim uma
produção) é agencia de um coletivo político que passa imprimir mudanças prévias no Estado (fator de coesão da
sociedade dividida em classes), isto é, uma revolução política que põe em marcha a formação de um novo tipo
de Estado, antes mesmo da revolução na economia, do choque entre forças produtivas e relações de produção.
Sobre o processo de transição ao socialismo e ao comunismo, Marx e Engels se abstiveram que qualquer descrição
detalhada, uma vez que suas características estariam no processo histórico ainda por vir. Mas tinham clareza
da luta política a ser travada pelo proletariado organizado em classe, como relata Marx sobre a Comuna de
Paris: “Eis o verdadeiro segredo da Comuna: era essencialmente um governo da classe operária, o produto da
luta da classe produtora contra a classe apropriadora, a forma política [novo tipo de Estado] enfim descoberta
para se levar a efeito a emancipação econômica do trabalho” (MARX, 2011a, p. 59). Sobre tal processo, ver as
inconclusivas e incompletas passagens de Marx e Engels indicadas no capítulo 4 de Cohan (1981).
21 Marx, que escreveu a maioria dos artigos utilizados como referência neste texto, morava em Londres e costumava
frequentar as sessões do parlamento britânico. As informações sobre outros Estados, ele recebia por jornais ou
correspondência.
208 Marx e Engels: política internacional e luta de classes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
totalidade. Isso significa que analistas das relações internacionais orientados/as por
essa concepção devem levar em consideração, de modo articulado e simultâneo,
o estudo de: classes sociais e frações de classes sociais e seus programas (as forças
subjacentes); o Estado (lócus do poder), objeto da análise e intermediação do
nacional/internacional; e as forças externas do sistema interestatal. Portanto, as
pesquisas nesse sentido abarcam certas (árduas) tarefas.
A primeira delas é distinguir a chamada cena política da luta de classes.
Marx (2011b) distingue uma realidade aparente e superficial de uma realidade
essencial e profunda, cuja relação é ocultação e dissimulação da primeira pela
segunda. Desse modo, enquanto a realidade profunda se refere ao campo da luta
de classes, da prática política das classes e frações, isto é, da ação concreta das
forças sociais (realidade essencial), a realidade superficial ou a cena política é o
lugar da representação de tais forças (realidade aparente). A cena política é então
uma realidade superficial, enganosa, que deve ser desmistificada, despida de seus
próprios termos, para que se tenha acesso à realidade profunda dos interesses
e das ações de classe. Os agentes da cena política não declaram os interesses
que representam. A sociedade burguesa é uma sociedade anônima e os agentes
da burguesia mantêm o anonimato de classe (BOITO JR., 2007). Tampouco
tais agentes correspondem diretamente a interesses que por ventura venham a
declarar, dado que a representação de classe na cena política não é, na maioria
das vezes, unilinear, mas, sim, ocorrem dissimulações e defasagens. Assim, não
podemos incorrer no erro de investigar os agentes da cena política por narrativas,
nomenclaturas e bandeiras que eles mesmos se atribuem, correndo o risco de
permanecer na superfície enganosa do fenômeno. Esse procedimento serve tanto
para a dimensão internacional (Estado, diplomacia, forças armadas, organizações
internacionais) quanto para a dimensão nacional (governos, partidos, empresas,
associações de classe, organizações da sociedade civil).
Em segundo lugar, o quadro abaixo sistematiza nossa proposição teórica, com
espectro de totalidade (articulação internacional/nacional), que metodologicamente
é segmentada em: forças subjacentes, Estado e forças externas do sistema
interestatal:
209Caio Bugiato
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Quadro 1 – Síntese da proposição teórica
Objeto de análise O que pesquisar
Forças subjacentes
Burguesia: frações, programas, organizações representativas, conflitos e
alianças, relações com o Estado, relações exteriores.
Proletariado: frações, programas, organizações representativas, conflitos e
alianças, relações com o Estado, relações exteriores.
Estado
Forma de Estado, governo, burocracia estatal (diplomacia e forças armadas)
e política pública (política externa).
Forças externas
Projeção dos interesses de Estados, classes e frações de classes sociais no
sistema internacional e a ingerências destes nas unidades políticas do sistema.
Fonte: elaboração própria.
Na análise dos fenômenos da política internacional, devemos levar em conta
os elementos do quadro. 1) Identificar na formação social nacional (Estado/
país): as frações da burguesia, sua organização e mobilização enquanto força
social, seus programas econômicos, políticos e ideológicos, seus conflitos e
alianças, suas relações com o exterior, suas organizações representativas e qual
ou quais delas têm primazia na influência sobre o Estado e lideram a condução
do desenvolvimento do capitalismo; a formação do proletariado enquanto classe,
as frações da classe trabalhadora como força social, seus programas (reformistas
ou revolucionários), seus conflitos e alianças, suas organizações representativas,
suas relações com o exterior (quando houver) e suas influências no Estado. Força
social são agentes sociais que, a partir do processo de produção, organizam-se,
mobilizam-se e militam coletiva e notavelmente em prol de interesses comuns e
para a consecução de determinados objetivos, procurando executar um programa
político. 2) Compreender a incidência das lutas entre classes e frações de classes
sociais no Estado: na constituição de sua forma (sistema e regime políticos) e
de seu governo/oposição (executivo, legislativo, judiciário), na burocracia civil
e militar do Estado e nos grupos que as compõem, e nas suas políticas estatais,
entre elas política externa/relações exteriores. 3) Tratar das pertinentes relações
entre Estados, classes sociais e frações de classes sociais no sistema interestatal
capitalista, das ingerências recíprocas entre as unidades políticas do sistema e seus
agentes sociais e seus conflitos e alianças (guerra e paz). Pois, a luta de classes não
ocorre apenas no interior, mas também entre os Estados nacionais. Assim sendo,
com esses procedimentos evitamos a reificação do Estado e podemos apreender,
a partir da articulação internacional/nacional indicada na obra de Marx e Engels,
a complexidade dos fenômenos internacionais.
210 Marx e Engels: política internacional e luta de classes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 193-212
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