Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 3, 2018, p. 109-136
113Fabiola Faro Eloy Dunda
Poder pode ser entendido também como “capacidades”, e nesse sentido seria
uma das formas de analisar a extensão da força de um agente, no caso, um Estado,
no sistema internacional. As capacidades de um Estado poderiam se expressar
através de componentes materiais e/ou imateriais de que o país dispõe, tais como
a força militar, a economia, a cultura, a política doméstica/externa etc. Nesse
sentido, medir-se-ia o poder de um ou mais Estado(s) sobre outro(s) no sistema
internacional (BALDWIN, 1993).
Poder também se relaciona com a ideia de soma zero, ou seja, quando dois
ou mais Estados entram em alguma disputa em determinada área de interesse no
sistema internacional, se um deles obtiver mais vantagem e ganhos que o outro,
esse será um jogo onde aquele que ganha implica necessariamente que o outro
perde tudo (BALDWIN, 1993).
Bobbio (2017), sobre a ideia de poder, discorre sobre três teorias fundamentais
concernentes ao assunto: a substancialista, a subjetivista e a relacional. Na
primeira, poder é entendido como “uma coisa que se possui e se usa como outro
bem qualquer ”(BOBBIO,2017, p. 100); na segunda, o autor faz referência à
interpretação subjetivista do poder
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onde “poder seria não a coisa que serve para
alcançar o objetivo, mas a capacidade de o sujeito alcançar certos efeitos”(BOBBIO,
2017, p. 101); e a terceira entende poder como “uma relação entre dois sujeitos, dos
quais o primeiro obtém do segundo um comportamento, que, em caso contrário,
não ocorreria ” (BOBBIO, 2017, p. 101)
Poder pode ser definido também como a habilidade de influenciar o
comportamento dos outros para conseguir o(s) resultado(s) desejado(s), atuando
por meio da coerção, da indução ou da atração. Quando um Estado tem capacidade
de atrair outros Estados por meio de estratégias que geram atração, esse poder é
entendido como soft power (NYE, 2004). Em sua essência, o soft power
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de um
Estado seria a habilidade que o mesmo tem em moldar as preferências de outros
Estados para a consecução de seus interesses e, de forma geral, “a habilidade
2 Ao se referir à teoria subjetivista, Bobbio (2017) reflete no texto à interpretação de poder dada por Locke (1694,
II, XXI) quando este último faz a consideração de que “o fogo tem o poder de fundir os metais” do mesmo modo
que o soberano tem o poder de fazer as leis e, fazendo as leis, de influir sobre a conduta de seus súditos.
3 Soft Power é um conceito desenvolvido por Joseph Nye Jr inicialmente em seu livro Bound to Lead, publicado
em 1990, e inserido no contexto de discussão daquele período, de que a América estava em declínio. O próprio
autor faz referência no prefácio de seu livro Soft Power. The means to success in world politics (2004) sobre
esse fato e de como, a partir da criação desse conceito, o mesmo passou a ser utilizado em discursos públicos
de líderes políticos, bem como no meio acadêmico. O autor retornou a discorrer sobre o tema de forma mais
aprofundada em dois outros livros: The Paradox of American Power, publicado em 2001 e no referido anteriormente,
publicado em 2004.