
208 Paradiplomacia como Política Externa e Política Pública: modelo de análise aplicado ao caso [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, 2018, p. 195-222
Vale ressaltar que cada dimensão é um conjunto de variáveis que, por sua vez,
se sustentam por indicadores que podem variar de acordo com a cidade analisada.
Na primeira dimensão, a política de gestão, é investigada a relação entre os gestores
e a formulação das políticas públicas (política externa e, consequentemente, a
paradiplomacia da cidade), podendo ser utilizada a prosopografia ou estudos
de redes, por exemplo, para detectar o envolvimento desses com determinadas
temáticas em suas vidas pessoais e entre si. Os estudos partidários podem, também,
apontar para rupturas e continuidades. Mas deve-se lembrar que cada variável, em
cada caso analisado, pode ter maior ou menor capacidade explicativa da realidade.
Apesar da literatura apontar para descontinuidades paradiplomáticas na medida
em que os partidos em oposição se alternam no poder municipal (SALOMÓN;
NUNES, 2007; ONUKI; OLIVEIRA, 2013), grupos políticos (elites) podem pertencer
a partidos distintos, mas compartilhar os mesmos valores e interesses sobre os
resultados de políticas públicas. Nas demais dimensões, como a de mercado,
institucional, internacional ou agentes externos e epistêmica, a organização do
modelo segue o mesmo padrão.
No caso da dimensão institucional, por exemplo, que possui grande número
de pesquisas sobre a interação das instituições nos processos decisórios — como
já mencionado —, é possível utilizar modelos, como o da escolha racional, o
process-tracing, a prosopografia do corpo técnico, entrevistas e análise de relações
interinstitucionais para se alcançar os dados. Dessa forma, cada dimensão pode
evocar técnicas de suas literaturas especializadas. O objetivo do modelo é indicar
possíveis variáveis, indicadores e técnicas adequadas para os estudos empíricos
da paradiplomacia.
Na aplicação à cidade do Rio de Janeiro, optou-se pelo recorte de 1993 a 2016.
O limite temporal foi estabelecido a partir da implementação do primeiro Plano
Estratégico da Cidade que inseriu o campo internacional na agenda municipal de
desenvolvimento (1993) até o final do mandado do prefeito Eduardo Paes em 2016.
Vale lembrar, mais uma vez, que a escolha da cidade se justifica pela existência
de uma continuidade de sua paradiplomacia no período. A explicação dessa
continuidade, no entanto, foge do padrão observado nos estudos empíricos que
destacaram as variáveis partidárias e institucionais em suas análises (SALOMÓN;
NUNES, 2007; LAISNER, 2007; ONUKI; OLIVEIRA, 2013). Ou seja, mesmo
verificando-se alternância partidária na prefeitura do Rio, houve a continuidade
das práticas da paradiplomacia (MERCHER, 2016). As variáveis partidárias ou
institucionais, portanto, não são suficientes para explicar a continuidade no caso