Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 1, 2018, p. 127-147
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e o Brasil é o extenso relatório publicado pelo Council on Foreign Relations, em
2011, intitulado Global Brazil and U.S.-Brazil Relations (BODMAN, WOLFENSOHN,
SWEIG, 2011). O documento de 110 páginas, resultado do trabalho de uma força-
tarefa, afirma que os Estados Unidos e o Brasil são ambas “jovens democracias
multiétnicas que defendem valores comuns em relação ao livre mercado, Estado
de direito, direitos individuais, liberdade religiosa e diversidade e igualdade”
9
(2011, p. 4). O relatório enfatiza não apenas o papel do Brasil no plano regional,
mas sua relevância global em questões ligadas à economia, meio ambiente,
energia e diplomacia, sendo apresentado como um dos poucos países destinados
a modelar o século XXI (p. x). Por conta disso, em várias passagens, o documento
recomenda que os Estados Unidos adaptem sua política a esse “novo” ator mais
“assertivo e independente”, de modo a incrementar as relações bilaterais e, em
especial, a assegurar seus próprios interesses numa ordem internacional mais
multipolar e menos previsível através da interação direta entre as lideranças e
corpos diplomáticos, o que, ainda segundo o documento, configuraria uma “relação
madura” entre os dois países. Em função disso, o relatório recomendou que, entre
outras iniciativas, o governo Obama apoiasse o pleito brasileiro por um assento
permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (p. x, 47s).
Perpassa, nessa narrativa de valores compartilhados, um esforço para enfatizar
os pontos de convergência entre os dois países e definir um papel “construtivo”
do Brasil para a legitimação, gestão e preservação da ordem internacional liderada
pelos Estados Unidos. Num cenário regional de atritos com os países da ALBA,
liderados pela Venezuela, e de instabilidade econômica, o Brasil foi descrito como
um ator comprometido com democracia, estabilidade e economia de mercado.
No plano global, com a ascensão da China e a retomada da Rússia (normalmente
descritas como potências autoritárias e desafiadoras da ordem internacional e
da liderança dos EUA), o Brasil foi descrito, apesar do incômodo com o BRICS,
como ator comprometido com democracia, direitos humanos e com a manutenção,
moderadamente reformada, da ordem internacional.
É nesse sentido que se deve compreender a recepção majoritariamente
positiva dos programas de modernização das Forças Armadas brasileiras. Havia
a expectativa de que, contando com maiores capacidades, as Forças Armadas
9 Multiethnic, young democracies that uphold common values with respect to free markets, rule of law, individual
rights, religious freedom, and diversity and equality.