Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 1, 2018, p. 148-173
150 Instituições para Fomentar a Integração do Setor Elétrico na América do Sul
e da estrutura econômica dos diversos países. O setor elétrico tem características
peculiares por ser uma indústria intensiva de capital e de rede. Ela utiliza um
conjunto de infraestrutura distribuída por largos espaços geográficos para conectar
a geração de energia, geralmente localizada em algumas regiões, e transmiti-la para
os diversos centros de consumo (HALLACK, 2014; MAYO, 2012). Por ser intensiva
em capital, ela exige prazos de amortização dos investimentos que podem atingir
algumas décadas. Para ser eficaz e eficiente, a integração sul-americana do setor
elétrico se estenderia pelo território de vários países e exigiria a compatibilização
regulatória entre eles durante décadas.
Tomando como base teórica a integração regional vista como um processo
dinâmico que intensifica as relações entre agentes regionais visando a criação
de novas formas de relacionamento e governança, encontramos dois aspectos
importantes que merecem atenção: a) os Estados autônomos se reúnem em
prol de alguns objetivos considerados importantes e que dificilmente poderiam
ser conseguidos atuando individualmente e b) os Estados são diferentes e
apresentam peculiaridades, interesses nacionais particulares e diferentes condições
socioeconômicas (PADULA, 2014). Consequentemente, a forma de organização
e o papel das instituições devem ser tais que os agentes participantes dos vários
países tenham uma conduta aceita por todos, possam satisfazer suas necessidades
e respondam às demandas apresentadas pela coletividade.
Em geral, há consenso que há vantagens no processo de integração, entretanto
dificuldades específicas impedem ou paralisam o seu andamento. As principais
barreiras identificadas nos vários estudos incluem perda de autonomia nacional,
assimetrias entre os países, perda de capacidade de planejamento, perda de
segurança energética, esgotamento das reservas nacionais, dificuldades de atração
de investimentos nacionais e internacionais, dificuldades de modernização e
ganhos de tecnologia e competitividade e falta de maturidade institucional dos
países sul-americanos (CARVALHO; GONÇALVES, 2016; DESIDERÁ NETO et al.,
2014; MARIANO, 2014; PADULA, 2014; SARAIVA, 2013; SPEKTOR, 2010; TEIXEIRA,
2014; PINTO, 2017). A arquitetura ou estrutura de instituições adequadas para
executar as complexas ações de geração, transmissão e comercialização de energia
elétrica entre os países deve levar em conta tais barreiras (DESIDERÁ NETO et al.,
2014; MARIANO, 2014; PADULA, 2014; SOARES; MOREIRA, 2012; MOREIRA;
PINTO, 2013; SCHERMA, 2016; SPEKTOR, 2010; TEIXEIRA, 2014).
Atualmente, o intercâmbio de energia entre os países da região é muito
pequeno e não importante para os diversos países, com a exceção dos acordos