Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 3, 2017, p. 153-174
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Felipe Ferreira de Oliveira Rocha
Quanto à categoria “Outros”, surpreendentemente, ela foi muito significativa.
Em média, explica 45,2% do conteúdo dos pronunciamentos. Esse número é maior
para os chanceleres (média de 56,8%) do que para os presidentes (média de 22%),
fato que indica que os primeiros tendem a ser mais gerais e menos adjacentes aos
tópicos definidos na página virtual do Itamaraty do que os últimos. Ainda assim,
isso indica a baixa qualidade da codificação construída e mostrada no gráfico 2.
Portanto, na última parte dessa seção, tal categoria será mais aprofundada.
Em suas cerimônias de posse, três categorias dominaram 47,4% do discurso de
FHC ao se referir a temas de RI e comércio exterior, sendo elas: relações bilaterais
do país (23,7%), diplomacia econômica (18,4%) e paz e segurança internacionais
(5,3%). Luiz Felipe Lampreia, chanceler de 1995 a 2001, enfatizou temas ligados
à diplomacia econômica, comercial e financeira (13,5%), direitos humanos e
temas sociais (6,3%), relações bilaterais e mecanismos inter-regionais, ambos com
5,4%. Ao que parece, não houve grandes assimetrias na priorização dada a esses
tópicos entre ambos os atores. Com a aposentadoria de Lampreia, FHC escolheu
Celso Lafer para ser seu chanceler entre 2001 e 2003. Por sua vez, Lafer enfatizou
os temas de diplomacia econômica (23,8%) e de integração regional (9,9%).
Durante as posses de Lula, diplomacia econômica (23,8%), integração regional
(17,9%), mecanismos inter-regionais (15,4%) e relações bilaterais (12,8%)
receberam as maiores citações. De forma convergente, Celso Amorim — chanceler
de 2003 a 2010 — priorizou temas referentes à integração regional, diplomacia
econômica (ambos com 14,7%) e relações bilaterais (10,8%).
Em Dilma, as maiores menções se referem à diplomacia econômica (31,2%),
relações bilaterais (18,8%) e desenvolvimento sustentável e meio ambiente
(12,5%). Antonio Patriota, chanceler da presidente de 2011 a 2013, não priorizou
o espaço dos temas de desenvolvimento sustentável e meio ambiente (0%), mas
mencionou tópicos de integração regional (9,8%) e de diplomacia econômica
(7,3%). Já Luiz Alberto Figueiredo, chanceler de 2013 a 2015, optou por voltar a
aumentar a visibilidade dos temas de desenvolvimento sustentável e meio ambiente
(19%) e enfatizar a diplomacia econômica e mecanismos inter-regionais, ambos
ocupando 4,8% de seu discurso. Por fim, Mauro Vieira, chanceler de 2015 a 2016,
priorizou temas sobre brasileiros no exterior (4%), cooperação e diplomacia
econômica (ambos com 3%).
Por último, Temer deu maior prioridade para tópicos de diplomacia econômica,
diplomacia cultural (ambos com 27,3%) e paz e segurança internacionais (18,2%).
O primeiro chanceler dele foi José Serra, entre 2016 e 2017, que enfatizou