Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 1, 2018, p. 174-199
182 A Política de Comércio Exterior dos Governos Obama (2009–2017) à luz do enfoque strangeano [...]
Embora estivessem ausentes da composição originária do TPP, a partir do
momento em que tomam assento nas negociações, não tardaria para que os EUA
se tornassem o maior fiador do projeto. O ativo engajamento do país não apenas
resultou em modificações consideráveis no conteúdo do tratado pela inclusão
de novas disciplinas que fossem ao encontro de seus interesses, mas também
na expansão do número de sócios, como nos casos das aproximações que sua
diplomacia realizou junto aos governos mexicano e canadense para que aderissem
ao processo negociador em 2012. Esforço repetido com o governo japonês, que
acabou resultando no ingresso do país asiático no ano seguinte.
Após sua assinatura, no dia 4 de fevereiro de 2016, por 12 países – EUA, Japão,
Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Peru, Malásia, México, Nova Zelândia, Singapura
e Vietnã –, o acordo da Parceria Transpacífico havia entrado em fase de aprovação
nos parlamentos nacionais – pelo menos onde havia previsão legal – quando
sobreveio a decisão unilateral do governo Trump de retirar os EUA por meio de
uma ordem executiva. Em conjunto, as 12 nações constituem quase 40% do PIB
mundial e quase um terço do comércio global. (U.S. TRADE REPRESENTATIVE,
2015). Aferir o impacto econômico do acordo para o bloco não é trivial, mas um
estudo estima que “$77 bilhões por ano seriam adicionados à renda real dos EUA
até 2025” (PETRI, 2015, s/p, tradução livre
9
).
Sem apresentar o mesmo desfecho, as negociações em torno do T–TIP, que
haviam sido efetivamente lançadas em 2013
10
, ainda permanecem inconclusas e
sem um encaminhamento definido por parte da nova administração republicana.
Caso a Comissão Europeia – órgão executivo da União Europeia que negocia em
nome dos 28 países membros do bloco – e os EUA cheguem a um consenso sobre o
texto final do tratado, o T–TIP aprofundará uma parceria que atualmente constitui
a mais relevante do mundo em termos de volume de comércio e investimento.
De fato, as cifras são portentosas. Juntos, o país e o bloco correspondem a quase
metade do PIB mundial e a um terço de todo o comércio global. Para se ter noção da
magnitude do nível de integração que existe entre ambos os parceiros mesmo sem
a vigência do acordo, em 2011, os fluxos comerciais de bens e serviços totalizaram
9 No original: “$77 billion per year would be added to US real incomes by 2025”.
10 O primeiro anúncio oficial foi realizado ainda no início do segundo governo Obama, no tradicional discurso do
presidente sobre o Estado da União (State of the Union Address) diante da elite política estadunidense, embora
a origem do projeto remonte à formação do Grupo de Trabalho de Alto Nível sobre Emprego e Crescimento,
em 2011, quando os EUA e a União Europeia estabeleceram conversas formais para encontrar uma saída para
a crise econômica.