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Renata Corrêa Ribeiro
Política externa independente e a institucionalização
das atividades espaciais no Brasil: histórias cruzadas
Independent Foreign Policy and the institutionalization
of space activities in Brazil: intersecting stories
DOI: 10.21530/ci.v12n2.2017.660
Renata Corrêa Ribeiro
1
Resumo
O primeiro país a se lançar ao cosmos foi a União Soviética, ao lançar o satélite Sputnik I,
em 1957. A partir de então, o espaço se tornou a nova fronteira para a projeção de prestígio
nacional e poderio dos Estados, principalmente EUA e URSS. Posteriormente, diversas
nações desenvolveram a tecnologia e passaram a disputar com as duas superpotências o
domínio da ciência e do acesso ao espaço. O Brasil foi um dos pioneiros, entre os países
em desenvolvimento, a se inclinar para as ciências espaciais. Em 1961, ainda durante o
governo de Jânio Quadros, o programa espacial brasileiro começou a tomar uma forma
institucionalizada, com a preocupação com a formação de cientistas e o estabelecimento de
uma infraestrutura física com institutos de pesquisa e centros de lançamento. Questiona-se,
no entanto, o motivo pelo qual as atividades espaciais terem sido iniciadas no Brasil em 1961.
O objetivo deste artigo é, portanto, apresentar as razões que levaram à institucionalização
das atividades espaciais durante a curta gestão de Jânio Quadros, a partir da criação do
GOCNAE, em 1961. Argumenta-se que o caráter arrojado da política externa instituída por
esse presidente, a chamada “Política Externa Independente”, possibilitou uma atuação mais
pragmática em relação às ciências espaciais.
Palavras-chave: Programa Espacial Brasileiro; Política Espacial; Política Externa Independente;
PEI; Jânio Quadros; Yuri Gagarin; GOCNAE
Abstract
The first country to enter the Space Age was the Soviet Union (USSR), when it launched the
Sputnik I satellite in October 1957. Thereafter, space became the new frontier for projecting
the United States and Soviet Union’s prestige and power. Subsequently, many nations started
1 Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, em Brasília/DF, Brasil. E-mail: renata.cori@gmail.com.
Artigo submetido em 27/03/2017 e aprovado em 24/08/2017.
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
developing space technology and to challenge both superpowers in the control of space science
and in the access to the outer space. Brazil was one of the first developing countries to lean
towards the space sciences. In 1961, during Jânio Quadros’s term, Brazilian space program
took an institutionalized form, as the concern about scientists’ formation and a physical
infrastructure’s deployment with research centers and launch sites showcase. However, the
most frequent question is why the space activities started in Brazil in 1961. Therefore, the
aim of this article is presenting the reasons that lead to the institutionalization of space
activities during Janio Quadros’ term, by creating GOCNAE. One of the main arguments is
that the audacious nature of its foreign policy, the Independent Foreign Policy, enabled a
more pragmatic behavior with regard to the space sciences.
Keywords: Brazilian Space Program; Space Policy; Independent Foreign Policy; IFP; Jânio
Quadros; Yuri Gagarin; GOCNAE
Introdução
No dia 4 de outubro de 1957, a União Soviética (URSS) apresentou seu
pioneirismo em assuntos do espaço exterior ao pôr em órbita o primeiro satélite
artificial do mundo, o Sputnik I. Quatro anos mais tarde, novamente a URSS
impactou o mundo ao enviar Yuri Gagarin ao espaço, a bordo da nave Vostok. Os
dois acontecimentos deram início à Era Espacial, impulsionada, principalmente,
pelo clima de competição entre as duas superpotências da época, Estados Unidos
(EUA) e União Soviética.
O Brasil foi um dos primeiros países em desenvolvimento a se entusiasmar
pelas ciências espaciais. As notícias que chegavam da URSS e dos EUA ajudaram a
projetar um pequeno grupo de brasileiros interessados em desenvolver pesquisas
e tecnologias espaciais no país. O grupo ganhou prestígio e acabou influenciando
fortemente o presidente Jânio Quadros a criar a primeira instituição oficial brasileira
encarregada de estruturar o órgão que cuidaria dos assuntos referentes ao espaço,
o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE),
instituído pelo Decreto n. 51.133, de 3 de agosto de 1961.
A postura decisiva de Quadros nessa matéria foi influenciada, sobretudo, pela
adoção de uma nova forma de fazer política externa no Brasil: a Política Externa
Independente (PEI), iniciada por Jânio Quadros e Afonso Arinos, seu chanceler.
As diretrizes básicas da PEI permitiam uma maior abertura das relações do Brasil
com os países do mundo, a despeito de suas opções ideológicas e vinculações
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políticas. Nesse sentido, houve uma tentativa de conduzir o Brasil à sua posição
de direito no jogo das grandes nações
2
.
Para alcançar seu intento, Jânio Quadros convenceu-se que desenvolver as
ciências espaciais internamente traria grandes benefícios ao país. A articulação com
civis e militares brasileiros interessados nas atividades espaciais deu início a um
rápido processo que culminou na publicação do decreto de criação do GOCNAE.
A visita ao Brasil do soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a ir ao espaço,
entre 29 de julho e 2 de agosto do mesmo ano, teve, também, um grande peso
na decisão do presidente da República. A sua importância pode ser comprovada
em diversas correspondências e jornais da época.
O objetivo deste artigo é, portanto, demonstrar como a institucionalização
das atividades espaciais no Brasil está intimamente ligada à nova forma de fazer
política externa formulada por Jânio Quadros, a Política Externa Independente
(PEI). Argumenta-se que o caráter arrojado de sua política externa possibilitou
uma atuação mais pragmática em relação às ciências espaciais. Em menos de sete
meses, Quadros recebeu conselhos de especialistas na área espacial, recepcionou
Gagarin no Brasil e publicou decreto que instituía o grupo de organização da
comissão responsável pelas atividades espaciais.
Para isso, a autora optou pelo seguinte arranjo para apresentar o problema
de pesquisa: na primeira seção, será feita uma apresentação das diretrizes gerais
da PEI, formuladas durante a gestão Quadros-Arinos, dando enfoque nas razões
de sua criação; a segunda seção será responsável por fazer um resgate histórico
dos eventos e instituições que abriram caminho para a institucionalização das
atividades espaciais no início dos anos 1960; e, por fim, a terceira seção apresentará
os fatos e motivos que levaram o presidente Jânio Quadros a tomar tal atitude.
O caráter arrojado da Política Externa Independente de Jânio Quadros
Em sua curta gestão como Presidente (exatamente seis meses e 6 dias
3
), Jânio
Quadros inaugurou o conjunto de iniciativas de uma nova vertente de política
2 O trecho do artigo de Jânio, publicado na Foreign Affairs de 1961, demonstra isso: “Interesse demonstrado na
posição do Brasil em assuntos internacionais é, em si mesmo, uma prova da presença de uma nova força no
cenário mundial [...] Somos uma nação de proporções continentais, ocupando quase a metade da América do
Sul [...] Dentro da próxima década nossa população atingirá perto de cem milhões de habitantes e a rápida
industrialização de algumas regiões do país faz prever a nossa transformação em uma potência econômica [...]
Se somente agora o Brasil está sendo ouvido em assuntos internacionais, é porque, ao assumir o poder, resolvi
tirar proveito das consequências da posição que atingimos como nação” (QUADROS, 1961, p.1).
3 Jânio Quadros governou o Brasil de 31 de janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961.
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
externa que, posteriormente, foi sistematizada e aprofundada por San Tiago Dantas
(Ministro das Relações Exteriores do presidente João Goulart), que a batizou de
“Política Externa Independente”. Apesar de não representar uma inovação completa,
pois apenas continuava e aprofundava uma política externa mais autônoma iniciada
em Vargas, como afirmou Visentini (2009), ela apresentava um conjunto de noções
e atitudes independentes e articuladas, além de ter um conteúdo mais sistêmico.
Tanto Visentini (2009, p. 123) quanto Álvares (1989, p. 58-59) concordam que as
razões para o caráter arrojado da política externa de Jânio Quadros encontram suas
origens em circunstâncias internas e externas. Internamente, o país havia passado
por uma grande transformação, tanto econômica quanto socialmente. O êxodo
rural atingiu seu auge, deslocando enormes contingentes populacionais para as
cidades; o setor industrial (fortemente estimulado pelo Plano de Metas de Juscelino
Kubitschek) ultrapassou o setor agrícola em valor e importância econômica para o
país; o mercado interno se ampliou, assim como se intensificaram as desigualdades
sociais e regionais. Tudo isso levou o país a uma crise socioeconômica preocupante
(VISENTINI, 2009, p. 124; ÁLVARES, 1989, p. 58-59).
A diminuição dos preços dos produtos primários exportados pelo Brasil foi
o grande vilão da economia naquele momento. Com o desequilíbrio da balança
comercial, as divisas atingiram um nível extremamente baixo, enquanto as remessas
de lucros para o exterior só cresciam. Somado a isso, a sociedade convivia com alto
desemprego, alta inflação e a baixa de salários. Assim, apesar da extraordinária
transformação ocorrida na economia nos anos de Kubitschek, sabia-se que ainda
havia uma forte dependência externa. O próprio Jânio Quadros, em seu artigo na
Foreign Affairs, deixou transparecer sua insatisfação com o jogo que as grandes
potências ainda faziam com as nações em desenvolvimento
4
.
A nova política externa era uma tentativa de reverter o quadro desfavorável
enfrentado pelo Brasil internamente. Visentini (2009, p. 126) observa que entre
as bases internas da PEI estavam a articulação de um projeto de desenvolvimento
comum para enfrentar a crise vivida somada às necessidades externas do país,
que geravam estagnação econômica (exportação dos produtos primários, obtenção
de divisas para importação de bens de capital, investimentos em tecnologias
estrangeiras etc.).
4 “Não estamos em posição de permitir a liberdade de ação de forças econômicas em nosso território, simplesmente
porque essas forças, controladas do exterior, fazem o seu próprio jogo e não o de nosso país” (QUADROS, 1961, p. 5).
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A forte dependência do Brasil suscitava uma mudança imperiosa na política
externa, que tinha a função de corrigir os numerosos desequilíbrios econômicos,
que tem na balança de pagamentos um dos maiores exemplos. Nesse sentido, a
ampliação de mercados para as exportações brasileiras torna-se essencial para
conter as instabilidades econômicas e a diversificação de parcerias, um dos
alicerces da nova política externa gestada por Quadros.
Para Wrobel (1993, p. 195), as mudanças introduzidas pela dupla Quadro-
Arinos previam meios de se obter o desenvolvimento mais rapidamente. A forma
encontrada para se alcançar esse intento foi utilizar uma postura mais agressiva na
conquista de novos mercados e na ampliação das relações comerciais com o resto
do mundo. Após décadas de forte dependência do mercado norte-americano, a
nova gestão optou por restabelecer relações diplomáticas e comerciais com países
que apresentavam a possibilidade de absorver os principais produtos exportados
pelo Brasil.
Tudo isso só foi possível devido à conjunção com fatores externos. A URSS dos
anos 1960 havia se transformado, dominando a posição de potência econômica e
tecnológica, como o lançamento do primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik
I, em 1957, havia confirmado. Assim, as possibilidades de cooperação financeira,
comercial e tecnológicas com os países socialistas se tornaram um grande atrativo
para um país enfrentando uma forte crise socioeconômica, como era o caso do
Brasil. Além disso, em 1957, o Tratado de Roma cria a Comunidade Econômica
Europeia (CEE), que dá preferências para os seis países integrantes do bloco
(França, Alemanha, Holanda, Itália, Luxemburgo e Bélgica), não extensiva aos
países de fora. Como consequência, o Brasil enfrenta problemas para exportar
para esse continente, que se somava às dificuldades para exportar café para os
EUA, já que os dois países não entram em um acordo acerca do preço do produto.
Outra alteração importante no contexto internacional era a emergência de um
bloco organizado de países do Terceiro Mundo. A aceleração das descolonizações
dos países da África e Ásia deu lugar à união dos países terceiro-mundistas na
busca de ideais comuns, como o neutralismo, o afroasiatismo e criação de uma
nova ordem mundial, como ficou claro durante a Conferência dos Países Não
Alinhados, em 1961 (VISENTINI, 2009, p. 129). Apesar de não participar como
membro desse movimento
5
, o Brasil percebia que a ascensão de novos Estados no
5 O Brasil apenas participou como observador enviando o diplomata João Augusto de Araújo Castro. Ele compareceu
à Reunião Preliminar e à Conferência de Chefes de Estado e de Governo dos Países Não Alinhados, realizada
no Cairo, entre 5 e 13 de julho de 1961 (CERVO; BUENO, 2010, p. 326).
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
cenário mundial alterava a configuração das relações internacionais. Acreditava-se
que havia uma tendência de se materializar uma nova ordem econômica, política e
social de inclusão dos países do Terceiro Mundo nos processos decisórios mundiais.
Após longa reflexão a respeito das conjunturas interna e externa, Jânio Quadros
e Afonso Arinos articulam as bases da política externa a ser seguida durante a
sua gestão. Na mensagem presidencial enviada ao Congresso Nacional, em 20 de
março de 1961, Quadros explicitou as 15 diretrizes gerais e regionais de sua política
externa (FRANCO, 2007, p. 49). Cervo (1998, p. 70), no entanto, sintetizou-a
em quatro pontos principais: 1) o abandono da subserviência aos interesses
estrangeiros e a busca dos interesses nacionais que levam ao desenvolvimento do
país; 2) aproximação de outras nações recém-emancipadas da África e Ásia, assim
como da América Latina, para se construir uma frente contra as desigualdades
entre as nações; 3) inauguração de um pan-americanismo de conteúdo econômico
e social, superando a fase política e ideológica; 4) a liberdade de o Brasil não
se vincular a nenhum bloco ou ideologia, mantendo-se neutro na Guerra Fria,
mantendo relações diplomáticas e comerciais com todas as nações do mundo,
a despeito de sua vinculação ideológica.
Nesse sentido, depreende-se que Jânio Quadros usava a política externa como
instrumento a serviço da resolução de problemas internos (CERVO; BUENO, 2010,
p. 327). A liberalidade da política de Quadros possibilitou uma aproximação com
a URSS e outros países socialistas. O objetivo, contudo, era retirar dessas relações
somente aquilo que poderia ser positivo ao Brasil. E essa relação de pragmatismo
pode ser comprovada na área das ciências. Entusiasmado com o pioneirismo
soviético na área espacial – como mostrou o lançamento do Sputnik I –, Quadros
convenceu-se de que não podia deixar de se aproximar daquele país, que poderia
trazer muitos dividendos para o Brasil nessa seara. A recepção de Yuri Gagarin
faz parte dessa rede de esforços, estimulada pelo presidente da República, para
se institucionalizar as atividades espaciais no país. Ela, no entanto, não seria
possível sem o caráter arrojado da sua forma de fazer política externa.
A origem das atividades espaciais no Brasil
O processo de institucionalização das atividades no Brasil relaciona-se com
o entusiasmo de uma pequena, mas dedicada comunidade científica brasileira,
que trabalhava arduamente pelo progresso científico e tecnológico do país desde
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os anos de 1930. A inserção do Brasil nesse novo campo esteve ligada, no início,
à pesquisa e ao desenvolvimento no ramo da energia nuclear. Como aponta Sato
(2013, p. 815), a comunidade científica brasileira preocupava-se em “integrar-se
aos avanços em curso na ciência no mundo, e a capacitação na área de energia
nuclear se afigurava como algo de importância primordial”.
Especificamente no campo das aplicações espaciais, o interesse do Brasil
surgiu dentro de instituições militares, de forma similar à grande parte de
outros países. Em 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica, em meio à
Segunda Guerra Mundial, o Brasil também pôde iniciar sua caminhada que, nesse
primeiro momento, visava apenas a fundação de um centro de pesquisas capaz
de desenvolver tecnologias militares.
Quando se iniciaram as hostilidades que culminaram na Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), o governo de Getúlio Vargas declarou sua neutralidade,
apesar de essa neutralidade ter sido violada diversas vezes em função da
incapacidade militar brasileira em vigiar seu litoral (CERVO; BUENO, 2010, p.
249). O interesse norte-americano em aproximar-se do país para obter vantagens
da posição geográfica brasileira e de seus minerais estratégicos estimulou o início
de um programa de aproximação aeronáutica. Diversos militares brasileiros
foram enviados a instituições de renome estadunidenses para consolidarem seu
aprendizado e incorporarem novos conhecimentos ao país, que assistia atento
aos desdobramentos da guerra.
A interação entre militares brasileiros e norte-americanos – principalmente no
front, após a declaração de guerra do Brasil contra o Eixo, em 1942, que enviou
tropas para lutar ao lado dos Aliados no norte da África – somada à falta de
capacidade militar do país levaram a reflexões acerca dos principais gargalos que
impediam o Brasil de atingir seus objetivos militares: a necessidade de criação de
instituições para formação e capacitação de militares, de órgãos de coordenação
de atividades operacionais, além de estimular o surgimento de uma indústria
nacional (ESCADA, 2005, p. 39). Nos últimos anos da Segunda Guerra, era
patente a urgência de se empreender um programa de desenvolvimento científico
e tecnológico no país. Objetivava-se fundar um centro técnico de pesquisas com
a finalidade de desenvolver a tecnologia militar.
Em 1945, um grupo de oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) realizou algumas
visitas a instituições norte-americanas de excelência e a bases aéreas. O objetivo
da visita era conhecer centros de pesquisa que pudessem ajudar a desenvolver
o modelo de uma instituição científica e tecnológica para o Brasil. Decidiu-se,
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
então, que o centro técnico da Aeronáutica replicaria o modelo do Massachussets
Institute of Tecnology (MIT), e o Brasil, inclusive, contaria com o apoio do chefe
do departamento do referido instituto (ESCADA, 2005, p. 47).
Após meses discutindo o plano de criação de um centro técnico, em janeiro de
1946, foi aprovada a Comissão de Organização do Centro Técnico da Aeronáutica
(COCTA). A Comissão foi extinta em 1953, quando cumpriu sua missão de executar
o plano de institucionalização do Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), que iniciou
suas atividades no primeiro dia de 1954 em São José dos Campos, São Paulo.
O CTA era uma instituição científica e técnica de pesquisa da Força Aérea Brasileira.
Como centro de pesquisa, sua atribuição inicial era a de formação de cientistas
para o desenvolvimento da tecnologia aeronáutica (COSTA FILHO, 2002, p. 69-69).
Esse era o primeiro passo para superar as deficiências do poder aéreo brasileiro.
Nesse primeiro momento, o Brasil contou com a cooperação dos EUA –
parceiro militar desde 1940 – para a montagem da infraestrutura de apoio para o
desenvolvimento de pesquisas
6
, além da colaboração do chefe do departamento
de Aeronáutica do MIT, professor Richard H. Smith. Foram criados dois institutos
científicos: o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), voltado para a ensino
superior qualificado; e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), que se
concentrava na pesquisa e na cooperação com a indústria.
A criação do ITA, em 1948, foi um marco na formação de mão de obra
especializada para o setor aeroespacial. No início, foram disponibilizados os
cursos de engenharia aeronáutica de aeronaves, aerovias e eletrônica. O objetivo
era suprir a demanda do mercado por recursos humanos qualificados, o que
estava diretamente ligado ao desenvolvimento tecnológico do setor. Para compor
o quadro de técnicos e professores – ainda indisponíveis no Brasil –, foi necessária
a contratação no exterior, como nos Estados Unidos
7
e Alemanha
8
.
Inicialmente, os engenheiros formados no ITA encontraram difícil inserção
no mercado tecnológico brasileiro, devido à falta de um setor produtivo apto a
6 Segundo Costa Filho (2002), o Brasil comprou “equipamentos e material para os laboratórios de motores,
estruturas, metalografia, resistência dos materiais e de máquinas e ferramentas, além de uma parte dos livros
que iriam integrar o acervo da biblioteca do ITA.
7 Com a falta de técnicos e professores qualificados no Brasil, previa-se que a maioria dos professores seriam
norte-americanos altamente capacitados, contratados por um período de quatro anos, renoveis por mais três.
Após esse período, os norte-americanos seriam substituídos por brasileiros, preferencialmente os formados no
instituto (ESCADA, 2005, p. 52).
8 Um dos nomes mais importantes é o do Prof. Henrich Focke, um dos fundadores da fábrica de aviões alemã
Focke Wulf. Em 1951, o professor alemão mudou-se para o Brasil acompanhado de 20 técnicos de equipe (COSTA
FILHO, 2002, p. 72-73).
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integrar a mão de obra altamente qualificada dos recém graduados no instituto. No
entanto, esses engenheiros possibilitaram o abastecimento da nascente indústria
bélica brasileira, localizada no Vale do Paraíba (COSTA FILHO, 2002, p. 73).
Após a completa consolidação do ITA, os esforços foram concentrados na
instalação do segundo instituto científico previsto no plano do CTA: o Instituto
de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD). Em 1953, o Ministério da Aeronáutica,
ciente da necessidade de se criar uma infraestrutura técnico-científica para
apoiar o nascente parque industrial, criou o IPD. O novo instituto teria a função
de investigar os entraves técnicos, econômicos e, principalmente, operacionais
relacionados à Aeronáutica; cooperar com a nascente indústria de tecnologias;
e examinar soluções adequadas às atividades da aviação nacional (ESCADA,
2005, p. 53). Em suma, o instituto seria responsável pelas pesquisas científicas e
tecnológicas para impulsionar o desenvolvimento do setor no Brasil.
Nos primeiros anos do instituto, as atividades se concentraram no
desenvolvimento de pesquisas de tecnologias para o setor aéreo. Com a coordenação
dos professores e técnicos estrangeiros, foram desenvolvidos protótipos de novas
aeronaves e helicópteros, como o Convertiplano
9
e o Beija-Flor
10
. Posteriormente,
as notícias vindas do exterior de que EUA e União Soviética (URSS) estavam
a desenvolver satélites e os lançariam ao espaço entusiasmaram militares da
Aeronáutica, além de alunos e professores dos dois institutos. Com isso, no final
da década de 1950, iniciaram-se as primeiras pesquisas ligadas ao ramo espacial.
É importante ressaltar que o interesse pelo desenvolvimento científico e
tecnológico no Brasil não se restringia à área aeroespacial. Personalidades, como
o almirante Álvaro Alberto, foram grandes promotores da ciência e tecnologia de
ponta no país. Nesse sentido, no início dos anos de 1950, concebeu-se a ideia de
que era necessário criar uma instituição que impulsionasse as atividades científicas
no Brasil, resultado natural do acompanhamento, por um grande número de
cientistas brasileiros, do que vinha sendo desenvolvido no mundo. Assim, em
1951, foi criado o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), um conselho de alto
nível que trabalhava diretamente com a cúpula governamental para se criar uma
política científica para o país (SATO, 2013, p. 819). A partir desse momento, os
9 O Convertiplano era um projeto de aeronave de decolagem vertical de autoria do professor Focke (ESCADA,
2005, p. 54).
10 O Beija-Flor era o projeto de um helicóptero para duas pessoas, também de autoria do professor Focke. O projeto
tinha um desenvolvimento mais simples que o Convertiplano, razão pela qual se previa a sua industrialização
(ESCADA, 2005, p. 54).
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
desenvolvimentos científico e tecnológico do país transformavam-se em uma
política de Estado.
Em 1957, a imprensa internacional divulgava, com bastante entusiasmo,
que o Ano Geofísico Internacional (no ano seguinte, em 1958) seria dominado
pelo lançamento de satélites artificiais por parte de russos e norte-americanos.
No Brasil, dois estudantes de engenharia do ITA – Fernando de Mendonça e Júlio
Alberto de Morais Coutinho –, contando com o apoio do presidente do IPD, o
Coronel Aldo Weber Vieira da Rosa, tiveram a iniciativa de construir uma estação
de rastreio dos satélites americanos do Projeto Vanguard. A estação foi batizada
com o nome de Minitrack Mark II. Os satélites do projeto Vanguard estavam sendo
desenvolvidos pelo Laboratório de Pesquisa Naval da Marinha dos EUA. Naquele
momento, ainda se acreditava que os norte-americanos seriam os pioneiros na
conquista espacial (ESCADA, 2005, p. 55; COSTA FILHO, 2002, p. 74).
Houve uma grande preparação para acompanhar o lançamento e funcionamento
do primeiro satélite artificial, com a presença de pessoas e entidades militares
e civis, da Aeronáutica e da Sociedade Interplanetária Brasileira (SIB). Os
equipamentos necessários foram doados pelo governo norte-americano e todos
ficaram à espera do grande acontecimento.
Entretanto, como é sabido, o primeiro satélite artificial do mundo foi produzido
e lançado pela União Soviética, o Sputnik-I, em 4 de outubro de 1957, data em
que se convencionou dizer que começou a Era Espacial (GOUVEIA, 2003, p. 3).
Imediatamente, o grupo brasileiro realizou ajustes no sistema da estação e mudou
a posição dos aparelhos, dirigindo-os para o satélite soviético. Consta que o
acompanhamento foi feito com sucesso. Em janeiro de 1958, a estação também
recebeu os dados do Explorer I, o primeiro satélite norte-americano a ser posto
na órbita na Terra.
Esse grupo de pessoas e instituições inaugurou as atividades espaciais no
Brasil. Com o sucessivo desenvolvimento da corrida espacial entre a União
Soviética e os EUA, o grupo brasileiro só teve razões para manter e seguir adiante
com o trabalho iniciado. Em 1959, Fernando de Mendonça, um dos estudantes
de engenharia do ITA a construir a estação para receber dados do Sputnik I, foi
fazer doutorado na Universidade de Stanford, nos EUA, e atuou em projetos da
NASA, a Agência Espacial Norte-Americana
11
. Todavia, continuou atuando em
11 A NASA, sigla em inglês para National Aeronautics and Space Administration, é uma agência estatal dos Estados
Unidos, responsável por implementar a política especial norte-americana. A agência foi criada em 1958, em
substituição à NACA, National Advisory Committee for Aeronautics.
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estreita colaboração com o coronel Aldo Weber Vieira da Rosa para a criação
de uma instituição voltada particularmente para a área espacial, que já vinha
sendo discutida no seio da Aeronáutica e da Sociedade Interplanetária Brasileira
(ESCADA, 2005, p. 56).
Nos primórdios dessa instituição está o Comitê Interamericano de Pesquisas
Espaciais, criado após a realização da Reunião Interamericana de Pesquisas
Espaciais, ocorrida em dezembro de 1960 na Argentina. Um dos objetivos
desse comitê era estimular a criação de entidades governamentais voltadas
exclusivamente para a área espacial nos países participantes. O presidente da
SIB, Luiz de Gonzaga Bevilacqua, foi o participante brasileiro do Comitê e terá
uma forte influência na criação da nova instituição brasileira, que tomará forma
durante a gestão de Jânio Quadros (ESCADA, 2005, p. 56).
A influência de Jânio Quadros e de sua Política Externa Independente
na institucionalização das atividades espaciais no Brasil
Jânio Quadros foi empossado como presidente da República no dia 31
de janeiro de 1961. Ele foi o presidente a inaugurar a institucionalização das
atividades espaciais no Brasil, o que encontra razões em três fatores primordiais:
a proximidade de Quadros com membros da SIB, que os permitiu exercerem
influência direta sobre o presidente; a visita do russo Yuri Gagarin ao Brasil,
primeiro ser humano a ir ao espaço; e, principalmente, seu comprometimento
com o desenvolvimento das ciências no Brasil, que ultrapassava, até mesmo, os
condicionantes ideológicos da Guerra Fria.
A conjunção de interesses em torno das questões espaciais, que unia estudantes
do ITA, militares e associações, como a SIB, rendeu frutos, resultando na decisão
de sensibilizar o presidente da República para as causas espaciais.
No dia 20 de fevereiro de 1961, Jânio Quadros recebeu do professor Luiz
Gonzaga Bevilacqua, de quem era amigo pessoal (ESCADA, 2005, p. 47), uma
carta assinada por ele e por Thomas Bun, ambos da SIB. Nessa carta, os dois
sugeriam a criação de uma instituição voltada para as pesquisas espaciais no
Brasil, afirmando que o país não podia ficar de fora dessas atividades. De acordo
com Gatto (2010, p. 33), a carta deixava claro que “este seria o primeiro passo,
a primeira manifestação objetiva e pública do interesse do Governo do Brasil
pelos problemas fascinantes da astronáutica, exatamente quando a humanidade se
208
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
encontra no 4o ano da Era do Espaço”. Ao perceber a importância que Quadros
havia dado a esse assunto, os militares da Aeronáutica juntaram-se aos civis no
movimento em prol de uma entidade para fins puramente espaciais.
Segundo Santos (2005, p. 140), o presidente então enviou uma carta para o
chefe da Casa Militar da Presidência da República, o general Ernesto Geisel, que
convocou o coronel Aldo Weber Vieira da Rosa, do CTA, para tratar do assunto. Nas
discussões entre os membros da SIB, a Aeronáutica e a Presidência da República foi
sugerida a criação de uma instituição para cuidar da pesquisa espacial brasileira.
O tema ganhou ainda mais força após o feito inédito do russo Yuri Gagarin,
que fez a primeira viagem pelo espaço, no dia 12 de abril de 1961. A imprensa
brasileira noticiou o acontecimento em primeira página, esquecendo a tradicional
rivalidade da Guerra Fria e concentrando-se em admirar a importância que esse
fato significava para a humanidade
12
. O feito de Gagarin causou consternação no
Brasil, sendo o primeiro cosmonauta classificado como “herói” em muitos meios.
A façanha extraordinária de Gagarin, que não encontrava precedentes até aquele
momento, motivou o presidente Jânio Quadros a nomear, no dia 17 de maio de 1961,
uma comissão composta por personalidades empenhadas no estabelecimento da
instituição: coronel Aldo Weber Vieira da Rosa, diretor do CTA; almirante Otacílio
Cunha, presidente do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas); e Luiz Gonzaga
Bevilacqua e Thomas Bun, presidentes da SIB. No dia 15 do mês seguinte, a comissão
encaminhou parecer com a sugestão de criar um Grupo de Organização da Comissão
Nacional de Estudos Espaciais, que ficaria subordinado ao CNPq. A função dessa
instituição seria de formar recursos humanos qualificados e desenvolver atividades
nas áreas ligadas às ciências espaciais (ESCADA, 2005, p. 49).
A rapidez com que os ritos internos estavam sendo conduzidos para a
institucionalização da entidade deixavam claro o entusiasmo de Jânio Quadros com
as ciências espaciais. Motivado pelo frenesi do momento em torno dos grandes
feitos na área, principalmente pelos dois maiores competidores, EUA e URSS, Jânio
Quadros optou por não ficar de fora da corrida pela aquisição de tecnologia de
ponta. Imbuído de um desejo de libertação da dependência tradicional com os
norte-americanos, Quadros parecia querer afrontá-los e demonstrar que poderia
seguir um rumo próprio. O presidente da República estava convicto que o Brasil
12 O Correio da Manhã do dia 13 de abril, por exemplo, enfatizava, em sua primeira página, a primeira frase dita
pelo cosmonauta: “O céu é muito escuro e a Terra azulada”. Já o Estado de São Paulo do mesmo dia noticiava:
Astronauta soviético enviado ao espaço regressa depois de circundar a Terra: a humanidade entra na Idade
Cósmica”. (CORREIO DA MANHÃ, 1961
a
; ESTADO DE SÃO PAULO, 1961)
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Renata Corrêa Ribeiro
era uma nação de grande relevância no jogo das potências mundiais e que, por
isso, deveria demonstrar seu poderio e capacidade com o desenvolvimento interno
das tecnologias espaciais.
Sabendo disso, o Instituto Brasileiro de Astronáutica e Ciências Espaciais
(IBACE), sediado em SP, enviou uma carta ao presidente da República sugerindo
convidar o cosmonauta Yuri Gagarin para uma visita ao país (CORREIO DA
MANHÃ, 1961b, 1961e; FOLHA DE SÃO PAULO, 1961a, 1961b, 1961e). Dois dias
depois, a imprensa brasileira noticiou que Jânio Quadros animou-se com a ideia
e estava disposto a convidar Yuri Gagarin para vir ao Brasil na qualidade de
hóspede oficial do governo (CORREIO DA MANHÃ, 1961c). De fato, a viagem
de Gagarin representava o atendimento de um desejo pessoal do presidente da
República, manifestado, também, durante seu encontro com a Missão Soviética
da Boa-Vontade (JORNAL DO BRASIL, 1961a). Posteriormente, o prof. Flávio A.
Pereira, do IBACE, dirigiu a carta-convite ao Comitê de Estado soviético
13
.
A visita de Gagarin ocorreu entre os dias 29 de julho e 2 de agosto de 1961,
após sua passagem por Londres
14
, Varsóvia e Havana, locais onde o cosmonauta
foi ovacionado durante sua estada. Durante os preparativos para a recepção do
soviético, Jânio Quadros determinou ao Itamaraty e a entidades científicas que
recebessem o astronauta e promovessem palestras e conferências, o que julgava
de grande importância para a ciência brasileira. “Parece-me do mais alto interesse
para os nossos meios científicos palestras e conferências desse astronauta”,
afirmou Quadros em memorando presidencial dirigido aos ministros da Educação
e da Aeronáutica e ao Conselho Nacional de Pesquisas (ÚLTIMA HORA, 1961a).
Gagarin desembarcou no Rio de Janeiro no dia 29 de julho, onde foi recebido
com honras militares pelo almirante Otacílio Cunha, presidente do CNPq, e outras
personalidades militares. A chegada de Gagarin foi marcada por aglomerações,
13 Texto integral do convite reproduzido na primeira página pela Folha de São Paulo do dia 28 de julho de 1961
com o seguinte teor: “Tenho a honra de convidar o major Yuri Gagarin para visitar o Brasil e aqui proferir uma
conferência sobre a memorável viagem orbital que realizou em 12 de abril de 1961 a bordo da cosmonave Vostok.
Faço esse convite na qualidade de diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Astronáutica e Ciências Espaciais,
de São Paulo. Tomo a liberdade de formular o anteprojeto de programa da visita do comandante Gagarin, no
qual está incluído um encontro no Palácio do Planalto com o Sr. Presidente da República, Dr. Jânio Quadros.
A aceitação do convite poderia ser feita através do Instituto União Cultural Brasil-URSS, de São Paulo”(FOLHA
DE SÃO PAULO, 1961c).
14 “Em sua chegada a Londres, Gagarin foi recepcionado com muitos aplausos em um trajeto de cerca de 24Km. Na
Exposição Comercial Soviética, mais de mil pessoas rodearam o cosmonauta, causando tumulto e desconforto
para o russo. As proporções da manifestação se tornaram superiores às possibilidades dos guardas para protegê-
lo. Algumas mulheres desmaiaram, as crianças tiveram que ser carregadas por seus pais para evitar que fossem
pisoteadas. Houve gritos de pânico”. Relato da visita a Londres pelo Jornal do Brasil do dia 12 de julho de 1961.
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
tumulto e violência contra a imprensa (FOLHA DE SÃO PAULO, 1961e). Jânio
Quadros, que estava em viagem a São Luiz, no Maranhão, para a VI Reunião de
Governadores, revelou em entrevista que considerava a visita de Yuri Gagarin “da
mais significativa importância para o Brasil” e que “não tinha dúvidas que suas
palestras seriam de grande utilidade para todos, pois rasgou estradas e universos,
ensejando horizontes para o homem” (JORNAL DO BRASIL, 1961b).
Dada a importância que as ciências haviam alcançado no Brasil, uma das
programações no Rio de Janeiro incluía visita à Academia Brasileira de Ciências,
no dia 30 de julho. Ali, Gagarin foi recebido pelo almirante Otacílio Cunha e
Arthur Moses, presidente da Academia Brasileira de Ciências, onde permaneceu
por uma hora, respondendo a perguntas de cientistas interessados na aventura
do soviético no espaço.
No dia seguinte, em São Paulo, foi recebido pelo governador Carvalho Pinto, que
concedeu ao astronauta o diploma de Sócio Honorário da SIB. O presidente da SIB,
Thomas Bun, entregou-lhe também uma carta, endereçada à Academia de Ciências
da URSS, objetivando o estreitamento do intercâmbio científico entre as entidades
dos responsáveis pelas pesquisas espaciais dos dois países. Posteriormente, Gagarin
proferiu uma conferência no Instituto Municipal de Astrofísica de São Paulo
(JORNAL DO BRASIL, 1961c; FOLHA DE SÃO PAULO, 1961d).
O último dia de sua visita foi reservado para o encontro com o presidente
da República em Brasília. Em solenidade no Palácio do Planalto, Gagarin foi
condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito Aeronáutico pelo
presidente Jânio Quadros, em uma homenagem que contou com a presença de
todos os funcionários do Palácio
15
(CORREIO DA MANHÃ, 1961d).
O astronauta soviético agradeceu ao presidente e entregou-lhe uma mensagem
pessoal de Nikita Kruschev, que agradecia a recepção de seu astronauta. Kruschev
revelou que considerava o convite a Gagarin “uma manifestação dos sentimentos
amistosos do povo do Brasil aos povos da URSS”. A mensagem de Kruschev
demonstrava o tom cordial da URSS para com o Brasil, resultado das já intensas
conversações entre os dois países a respeito do reatamento das relações diplomáticas,
que já vinha desde o início do governo Jânio Quadros. Essa era uma das plataformas
de Jânio para ampliar a cooperação comercial, científica e tecnológica brasileira
15 Ao conceder a Comenda, Quadros disse que “homenageava o pioneiro de uma era que permitirá maior
entendimento entre os homens e a consolidação da paz [...] o Governo Brasileiro deseja exprimir a sua admiração
e o seu reconhecimento pelo extraordinário feito científico que tanto notabilizou V. Excelência, o povo e o
governo soviético”.
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Renata Corrêa Ribeiro
com o mundo. Apesar de todo o esforço e entusiasmo de Jânio Quadros e Afonso
Arinos, o reatamento só foi consolidado durante a presidência de João Goulart,
no dia 23 de novembro de 1961.
Os EUA acompanharam a visita de Gagarin ao Brasil com grande atenção.
O interesse de Jânio Quadros pelo desenvolvimento das ciências espaciais no
Brasil já havia sido comunicado aos estadunidenses. Como visto anteriormente,
grandes cientistas brasileiros viviam nos EUA e executavam projetos nos institutos
de pesquisa americanos, muito em função da carência de centros de pesquisa
científicos no país. Temendo que os brasileiros estabelecessem acordos diretos
com os soviéticos nesse campo, Jânio recebeu um relatório dos EUA propondo
uma cooperação com o uso dos foguetes norte-americanos pouco antes do
presidente receber Gagarin no Palácio do Planalto (ÚLTIMA HORA, 1961b).
Esse ato simbolizou a preocupação dos EUA com uma eventual aproximação do
Brasil com seu principal adversário, a URSS, na área em que se encontravam
mais adiantados que os americanos, a espacial. A rapidez e efetividade com que
Quadros conduziu o processo de institucionalização era um demonstrativo do
desejo de obter independência nessa seara, vital para o progresso de uma nação.
A importância que Jânio Quadros atribuía ao desenvolvimento das ciências
espaciais no Brasil, que se expandiu devido ao enorme sucesso provocado pela
passagem de Gagarin, comprovou-se com a assinatura do decreto criando o
GOCNAE, o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais,
no dia 3 de agosto de 1961, dia seguinte ao retorno do astronauta à URSS.
O Decreto 51.133/1961 (BRASIL, 1961) estabelecia suas atribuições, seus objetivos,
a composição de seus membros e dava outras providências.
Entre suas atribuições, estava: estudar e compor a Política Espacial Brasileira;
preparar o plano de criação da Comissão Nacional das Atividades Espaciais;
executar projetos de pesquisas espaciais; firmar acordos relacionados à instalação
da sede; gerir as obras e serviços indispensáveis à criação do CNAE (BRASIL, 1961).
Em suma, eram dois objetivos: promover a pesquisa espacial civil e coordenar as
atividades espaciais (COSTA FILHO, 2002, p. 82).
A primeira composição do GOCNAE foi representada por renomadas
personalidades do meio militar e civil já comprometidos com as ciências espaciais:
o presidente era o coronel Aldo Weber Vieira da Rosa (Aeronáutica); o Comitê
Executivo era composto pelo coronel Alnyr Maurício (Exército), almirante Botelho
Machado (Marinha) e coronel Sérgio Sobral de Oliveira (Aeronáutica); o conselho
era composto por Luiz Gonzaga Bevilacqua (presidente honorário da SIB), Thomas
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
Bun (presidente da SIB) e Lincoln Eduardo de Souza Bittencourt, todos civis e
representantes da SIB (ESCADA, 2005, 49).
O alvoroço em torno da renúncia de Jânio Quadros (apenas 22 dias após o
decreto de criação do GOCNAE) e da posse do vice, João Goulart, refletiu no início
das atividades da organização, que só teve seus membros empossados no dia 22
de janeiro de 1962, seis meses após a publicação do decreto (JORNAL DO BRASIL,
1962). O grupo se reunia no terceiro andar do Aeroporto de Congonhas, em São
Paulo, local com acesso facilitado para todos os membros, que se deslocavam de
avião de diferentes cidades, como Bauru, São José dos Campos e Rio de Janeiro.
Em 45 dias, foi elaborado um documento delineando a trajetória que o Brasil
deveria seguir, a começar pela criação da Comissão Nacional de Atividades
Espaciais (CNAE) (DA ROSA, 2007).
No plano inicial de trabalho, as áreas prioritárias foram definidas como
astronomia, radioastronomia, rastreio ótico de satélites e comunicação por meio
de satélites. Como observado por Costa Filho (2002, p. 83), o plano inicial de
pesquisas espaciais voltava-se para estudos da ionosfera, geomagnetismo e
meteorologia, refletindo projetos já em curso na NASA.
Em função da situação política e econômica do país, houve dificuldade
inicial em captar recursos para a institucionalização da entidade. De acordo com
informações divulgadas no Última Hora de 19 de fevereiro de 1961, o grupo não
dispunha de dinheiro para começar suas pesquisas. “O GOCNAE pediu a abertura
de um crédito extraordinário de 50 milhões de cruzeiros e não foi atendido por
empecilhos administrativos”, afirmou a matéria (ÚLTIMA HORA, 1961c). Os
obstáculos iniciais também impediram a criação da CNAE de imediato, como
proposto pelo coronel Aldo Weber. Seguiu-se um período de intensa dedicação
para persuadir o sucessor, João Goulart, a efetivamente instituir a criação da
CNAE (DA ROSA, 2007).
Consequentemente, o CNAE só conseguiu iniciar suas atividades em 1963,
em São José dos Campos, dentro das instalações do CTA. O GOCNAE tornou-se
CNAE, de fato, em 1964, após o golpe militar. Ele foi extinto em 1971, quando
foi substituído pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE
16
, o
principal órgão de pesquisas civis da área espacial até os dias de hoje. O INPE é
a instituição brasileira responsável por promover e efetivar estudos, pesquisas,
desenvolvimento tecnológico e capacitar recursos humanos em áreas relacionadas
16 O Decreto n. 68.532 de 22 de abril de 1971 extingue o GOCNAE e cria o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE).
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à ciência espacial, como atmosfera e meteorologia. O foco do INPE é desenvolver
a ciência e a tecnologia espacial internamente, considerando que suas aplicações
influenciam diretamente no desenvolvimento do país e na qualidade de vida da
população brasileira.
Conclusões
Jânio Quadros utilizava a política externa como ferramenta a serviço da
resolução de problemas internos. Um dos principais gargalos que impediam o
país de alcançar uma posição de destaque entre as grandes potências era seu
modesto desenvolvimento científico e tecnológico. Entusiasmado com as conquistas
espaciais recentes dos EUA e URSS e sendo fortemente aconselhado por um grupo
de civis e militares brasileiros determinados a desenvolverem as tecnologias
espaciais internamente, Jânio Quadros, em um período de seis meses, fez o que
os seus antecessores não fizeram: articulou e executou a criação do primeiro
órgão responsável por pesquisas e desenvolvimento da tecnologia espacial no
Brasil, o GOCNAE.
Três foram os motivadores principais para a decisão de Jânio Quadros de
impulsionar as atividades espaciais no Brasil: seu relacionamento pessoal com
membros da SIB, que tinham acesso direto ao presidente; a visita do astronauta
russo Yuri Gagarin ao Brasil, estimulada pelo próprio Jânio; e, principalmente,
seu comprometimento com o progresso das ciências no Brasil, que ultrapassava,
até mesmo, os condicionantes ideológicos da Guerra Fria.
Nada disso seria possível, contudo, sem a existência de um novo paradigma
de política externa na gestão de Quadros. A constituição de uma política externa
arrojada e pragmática, que se amparava na desideologização, no neutralismo, ou
seja, no estabelecimento de parcerias sem preconceitos ideológicos, foi a outorga
necessária para se levar adiante o plano de iniciar as atividades espaciais no Brasil
de forma institucionalizada. A PEI foi o início de um processo de afastamento do
americanismo puro, um paradigma de política externa que vinha desde o início
da República, que inibia a tomada de decisões mais autônomas do Brasil que não
se coadunassem com os interesses dos EUA.
Quadros, em seu artigo publicado na revista Foreign Affairs, deixou clara a
sua insatisfação com o jogo que as grandes potências ainda faziam com o Brasil.
A nova política externa era uma tentativa de diminuir a forte dependência brasileira,
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Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
para, assim, corrigir os inúmeros desequilíbrios socioeconômicos existentes no
Brasil. Quadros acreditava que alçar o Brasil à condição de detentor de tecnologias
espaciais traria desenvolvimento econômico e destaque internacional para o país.
Apesar da curta duração de sua administração, Jânio Quadros será
permanentemente relacionado à inauguração de uma nova vertente de política
externa, a PEI, que ampliou as possibilidades de atuação internacional do país
e permitiu o desenvolvimento de uma agenda doméstica relativamente livre dos
condicionamentos externos. No ramo espacial, a figura de Quadros também se
associa à criação da primeira instituição dedicada às atividades espaciais. A sua
influência direta no desenvolvimento do GOCNAE permite que se atribua ao
Brasil o título de um dos primeiros países em desenvolvimento a investir em
pesquisas de tecnologias exclusivamente espaciais. Nessa época, apenas China e
Índia estavam no mesmo estágio.
Não obstante o grande impulso dado pelo país com a institucionalização
do GOCNAE – que, dez anos depois, se tornou INPE, uma das mais dedicadas
e conceituadas instituições científicas brasileiras da atualidade –, o programa
espacial brasileiro enfrentou um lento processo de desenvolvimento. Com a
transferência de tecnologia da URSS, indianos e chineses souberam desenvolver
seus programas espaciais em um curto período. Em 1965, a China já lançava seu
primeiro foguete e, cinco anos depois, já conseguia colocar um satélite em órbita
(RODRIGUES, 2015, p. 1).
Enquanto isso, no Brasil, o foco girava em torno de adquirir a tecnologia de
satélites e foguetes a partir de projetos ainda pouco ambiciosos e com auxílio
internacional, em especial da França, parceira na elaboração da Missão Espacial
Completa Brasileira (MECB), estabelecida em 1979, e também dos EUA, através
do projeto SONDA, de desenvolvimento de foguetes de pequeno porte para serem
utilizados em experimentos na atmosfera (CARVALHO, 2011, p. 18; RODRIGUES,
2015, p. 1; COSTA FILHO, 2002, p. 78).
Nesse início, o caráter essencialmente militar dos projetos foi responsável
pelo excesso de lentidão no andamento das atividades e pelo afastamento das
parcerias internacionais, que temiam o uso não pacífico das tecnologias de mísseis.
Foi somente em 1994, com a criação da Agência Espacial Brasileira (AEB), que o
programa espacial passou a ter uma finalidade civil, o que, no entanto, não afastou
a suspeita de alguns países quanto ao componente militar de suas atividades
(SANTOS, 1999, p. 118; RODRIGUES, 2015, p. 2).
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Contudo, enquanto os programas espaciais de países emergentes como China,
Índia e Argentina vêm avançando de forma acelerada, o programa brasileiro perde
o destaque que obteve por ter sido um dos mais antigos e completos. Hoje, ele
caminha em passos lentos, apesar de anos de dedicação de diversos cientistas e
técnicos. Entre as justificativas para a lentidão no progresso tecnologia espacial
no Brasil, estão o orçamento limitado destinado aos projetos e pesquisas; os
embargos internacionais; as dificuldades operacionais e a cooperação internacional
verticalizada que não foi acompanhada de resultados na evolução do Programa
Espacial (ROLLEMBERG, 2009, p. 4, 27, 34-35).
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