
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 101-125
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Cristina Soreanu Pecequilo; Clarissa Nascimento Forner
de segurança ao corpo diplomático e a incapacidade das forças ocidentais de
promover uma transição política na Líbia indicavam as limitações de ação dos
EUA. Esse episódio, ocorrido com Hillary Clinton à frente do Departamento de
Estado, foi utilizado por seus adversários na campanha presidencial de 2016, em
particular por seu oponente republicano Donald Trump.
Em acréscimo ao desastroso histórico da “Primavera Árabe”, a guerra civil
na Síria, que completa, em 2017, seis anos, se tornou o “assunto não resolvido”
da presidência. Apesar de declarar inúmeras vezes a necessidade de que o
regime de Bashar al-Assad fosse retirado do poder e de apoiar financeiramente
a atuação de grupos rebeldes e moderados anti-Assad, o presidente encerrou o
segundo mandato dividindo opiniões acerca de sua decisão de não iniciar uma
nova intervenção militar por terra. Pela perspectiva política, tal opção mantém
coerência em relação às vozes da administração e da opinião pública doméstica,
que rejeitavam a aplicação das forças militares em novo território. Do ponto de
vista geopolítico, é encarada como fraqueza pela oposição conservadora, uma vez
que o vácuo criado permitiu a atuação de outras potências, como Irã, Turquia
21
e Rússia
22
.
Critica-se a inação de Obama no caso sírio
23
, e suas opções estratégicas
pelo custo humanitário e implicações geopolíticas. Na visão de alguns grupos,
as ações assemelham-se muito ao caso líbio, no qual se permitiu o avanço do EI
ao enfraquecer o governo da situação (Assad), mesmo com seu autoritarismo.
A ausência de uma avaliação clara sobre as forças em choque na Síria mantém
o impasse no conflito, cujas negociações de paz se arrastam desde 2011, sem
resultados concretos. Em 2016, as conversações foram suspensas após mais uma
rodada de negociações em Genebra
24
, nas quais, além das potências ocidentais, a
Rússia e as Nações Unidas, também foram incluídos o Irã e o governo Assad (em
desagrado à oposição doméstica), antes considerado “inviável”. A Primavera Árabe
e seus desdobramentos mantêm um quadro de instabilidade amplo. Contudo, foi
essa mesma instabilidade que afetou as considerações estratégicas para o Irã.
21 A Turquia, pivô geopolítico entre o Ocidente e o Oriente, é um dos países mais atingido pelas crises regionais,
como as guerras, ondas migratórias e disputas geopolíticas.
22 A Rússia recuperou protagonismo na Síria em 2015 quando iniciou intervenções aéreas contra o EI (para fortalecer
a gestão Assad). Exerce papel relevante nas negociações de paz na Síria e em barrar uma intervenção militar
terrestre do ocidente. O período é de pressão devido à crise da Ucrânia, em andamento desde 2014, e a situação
síria reforçou simbolicamente o poder de iniciativa do Kremlin.
23 Para Smith (2016), Obama admitiu sentir-se responsável, em alguma medida, pelos massacres na Síria.
24 Para uma síntese recomenda-se Rocha, Julio e Graeff, 2016.