
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 55-75
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Rejane Hoeveler
Interdependência complexa e organizações internacionais
Mas foi apenas no décimo primeiro Task-Force Report da comissão, intitulado
“A reforma das instituições internacionais”, e assinado por C. Fred Bergsten
8
,
Georges Berthoin
9
e Kinhide Mushakoji
10
, que o tema da estrutura das instituições
internacionais receberia atenção exclusiva. Apresentado e discutido na plenária
geral da Trilateral Commission na capital canadense Ottawa, entre 9 e 11 de maio de
1976, o processo de elaboração do relatório contou com a colaboração de diversos
nomes academicamente relevantes, como Robert Keohane, da Universidade de
Stanford – um importante autor das relações internacionais –, Hayward Alker, do
Massachussets Institute of Tecnology (MIT), e Donald Puchala, da Universidade
de Columbia; e ocupantes de cargos políticos, como Thierry de Montbrial, chefe
do Centro de Análise e Previsão do Ministério das Relações Exteriores da França.
Os rascunhos do relatório foram discutidos em várias reuniões ocorridas entre
dezembro de 1974 e junho de 1976.
O pressuposto do relatório era que o objetivo mínimo da organização
internacional deveria ser ajudar a “evitar ações nacionais unilaterais” que ferem
“a humanidade como um todo”. Por isso, as instituições internacionais deveriam
ajudar a “distribuir os custos e benefícios das ações internacionais” entre as
nações envolvidas em um arranjo aceitável, assim como promover políticas
desejáveis para atingir esses objetivos fundamentais (BERGSTEN, BERTHOIN &
8 Economista ligado à Brookings Institution, trilateralista de primeira hora, C. Fred Bergsten era também membro
do Council on Foreign Relations (CFR), o mais tradicional think tank de política externa dos Estados Unidos,
onde a própria ideia da Trilateral Commission foi gestada. Bergsten chegou a ser membro do National Security
Council sob a gestão Kissinger, onde dirigiu um grupo de discussão durante 1972 e 1973 intitulado “American
interests in the Third World”, e continuou como o líder da discussão de um grupo similar no CFR entre 1974-75.
De forma similar a Brzezinski, outro fundador da Comissão, Bergsten criticava a negligência da administração de
Nixon em relação ao Terceiro Mundo e seu tratamento dessas regiões do globo como meros “peões no xadrez da
política global”. Os argumentos de Bergsten nessa crítica à política externa kissingeriana enfatizavam a enorme
importância do Terceiro Mundo como fornecedor de uma série de recursos para os países centrais, em especial
os Estados Unidos, e também como receptor de investimentos americanos. Tanto para Brzezinski como para
Bergsten, a política externa americana de então não estava levando em consideração tal relevância.
9 Representante-chefe da Comissão das Comunidades Européias no Reino Unido entre 1971 e 1973, ano em que a
Inglaterra entra na comunidade, Berthoin começou sua carreira no serviço público francês como secretário do
Ministério das Finanças. Após um período como chefe de equipe da subprefeitura de Alsácia-Lorena-Champagne,
ele entrou para o serviço público europeu e serviu como primeiro secretário privado de Jean Monnet, então
presidente da Alta autoridade da ECSC (European Coal and Steel Community), na qual passou a ocupar o cargo
de representante em Londres em 1956.
10 K. Mushakoji, que fez carreira acadêmica em Bruxelas e Paris, na área de Ciência Política, foi diretor do Instituto
de Relações Internacionais para estudos avançados sobre a paz e o desenvolvimento na Sophia University entre
1969 e 1975. Na época do relatório, era vice-reitor de programas da Universidade das Nações Unidas em Tóquio.