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Rejane Hoeveler
Hegemonia compartilhada e organizações
internacionais: a proposta trilateralista dos
anos de 1970
1
Shared hegemony and international organizations:
the trilateralist proposal of the 1970’s
DOI: 10.21530/ci.v12n2.2017.627
Rejane Hoeveler
2
Resumo
No início dos anos de 1970, a criação da Trilateral Commission, composta por intelectuais,
empresários e políticos de Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental, trazia uma nova
perspectiva estratégica em um mundo atribulado por disputas comerciais e políticas dentro do
bloco capitalista. Inspirada e formulada por intelectuais como Zbigniew Brzezinski, ela teve
como um de seus temas centrais a reformulação das instituições internacionais, vistas por
eles como conturbadas por uma confrontação cada vez maior por parte de coalizões de países
do então chamado Terceiro Mundo. A Trilateral Commission reunia algumas figuras-chave
de instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, e suas propostas
para a reformulação dessas e de outras instituições vinham no sentido de ‘’despolitizá-las”,
criando mecanismos permanentes de prevenção de conflitos internacionais. Para estrategistas
como Brzezinski, essa era uma forma de recompor a hegemonia americana que, confrontada
pela “síndrome do Vietnã” e com a crise do petróleo, parecia agora aceitar a ideia de uma
‘’hegemonia compartilhada’’. O propósito do artigo é mostrar como as propostas trilateralistas
para o funcionamento das organizações internacionais foram uma das principais alternativas
estratégicas desenvolvidas naquele contexto histórico.
Palavras-chave: Organizações internacionais; Comissão Trilateral; Hegemonia; teoria
neogramsciana
Abstract
In the early 1970s, the creation of the Trilateral Commission, made up of intellectuals,
entrepreneurs, and politicians from the United States, Japan, and Western Europe, brought a
new strategic perspective into a world beset by trade and political disputes within the capitalist
1 Este artigo é parte de pesquisa financiada pela CAPES.
2 Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, Brasil. E-mail: rejanecarol@gmail.com
Artigo submetido em 08/02/2017 e aprovado em 08/05/2017.
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Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
bloc. Inspired and formulated by intellectuals such as Zbigniew Brzezinski, it had as one of
its central themes the reformulation of international institutions, which they saw as being
disturbed by a growing confrontation by the coalitions of countries of the Third World. The
Trilateral Commission brought together key figures from institutions such as the International
Monetary Fund and the World Bank, and its proposals for the reformulation of these and
other institutions came in the direction of “depoliticizing” it, by creating mechanisms for a
permanent prevention of international conflicts. For strategists like Brzezinski, this was a way
of re-establishing american hegemony which, faced with the “Vietnam syndrome” and the
oil crisis, now seemed to accept the idea of “shared hegemony.” The purpose of the article
is to demonstrate the trilateralist proposals for the functioning of international organizations
as one of the most important strategic alternatives developed in that historical context.
Keywords: International organizations; Trilateral Commission; Hegemony; neogramscian
theory
A prevenção de conflito é melhor que a resolução de conflito; e as aspirações
a um sistema internacional devem ir além de meramente lidar com problemas
futuros para moldar esses eventos.(COOPER, KAISER & KOSAKA, 1977, p. 200)
A Trilateral Commission, criada em 1973, foi fruto de iniciativa de estrategistas
norte-americanos num contexto em que a hegemonia global dos Estados Unidos
parecia estar fundamentalmente em xeque. A crise econômica mundial, com alta
inflação combinada à estagnação, os “choques” do petróleo e a onda mobilizatória
– que varreu o mundo em 1968 – somaram-se, no caso americano, a uma forte
oposição à escalada da Guerra do Vietnã. “Trilateral” foi o nome escolhido por
seus criadores por se tratar de uma proposta de aliança entre as três regiões do
mundo consideradas industriais e democráticas (ou “sociedades trilaterais”, no
linguajar da comissão): Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental. A ideia básica
da comissão era que deveria haver uma firme e consistente ação conjunta dessas
três regiões, mas a comissão se definia como uma iniciativa de cidadãos individuais,
e não de governos ou empresas – embora a presença de burocratas de Estado,
bem como de empresários, fosse bastante grande na comissão, juntamente com a
dos intelectuais, em especial economistas e teóricos de relações internacionais
3
.
Procuraremos mostrar neste artigo que o viés institucionalista e liberal da
Trilateral Commission, presente no pensamento dos intelectuais ligados a ela, em
3 Os dois grandes impulsionadores da comissão foram David Rockefeller, magnata americano do petróleo e das
finanças, e o sovietólogo Zbigniew Brzezinski, estrategista, à época, já bem conhecido nos círculos diplomáticos
dos Estados Unidos.
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especial economistas e teóricos de relações internacionais, marcou profundamente
suas propostas de reforma das organizações internacionais. Também demonstraremos
que os chamados trilateralistas não estavam preocupados com mudanças de curto
prazo, mas sim com formatos institucionais de longa duração, que deveriam
atender à necessidade de viabilizar as negociações internacionais de maneira a
“despolitizar” os conflitos de forma relativamente permanente. Demonstraremos
que tais propostas tiveram grande relevância entre importantes empresários,
políticos e burocratas de Estado da época, e que, por isso, a proposta trilateralista
foi a mais elaborada alternativa estratégica colocada naquele contexto de crise
de hegemonia internacional. Pretendemos demonstrar essa relevância através da
análise dos atores políticos envolvidos nesse projeto, bem como de sua influência
direta e indireta em organismos como o Banco Mundial e a Agência Internacional
de Energia. Nosso objetivo não será provar a influência direta da comissão em
casos específicos de reformas de organizações internacionais, embora façamos
referências a alguns deles, mas sim demonstrar a relação entre o pensamento e a
ação política que tornaram possível o surgimento da proposta trilateralista.
Embora a comissão tenha ficado mais famosa por seu relatório sobre a crise
das democracias (HUNTINGTON, CROZIER & WATANUKI, 1975), em seu bojo foram
formuladas propostas relativas a numerosos temas, com destaque para a crise do
petróleo, a crise do sistema monetário internacional e a reforma das instituições
internacionais – esta última, pouquíssimo visitada na literatura especializada, com
raras exceções (BONHOMME, 2014)
4
. Empenhados em uma reavaliação geral da
diplomacia americana dos anos de 1950 e 1960, os intelectuais ligados à comissão,
como Zbigniew Brzezinski, procurariam desenvolver um quadro compreensivo e
normativo para a política externa dos Estados Unidos (BRZEZINSKI, 1971). Embora
o tema das organizações internacionais tenha sido um dos mais discutidos no
âmbito da Trilateral Commission desde seu início, em 1973, os primeiros relatórios
sistemáticos sobre o assunto seriam publicados apenas a partir de 1976 – ano no
qual as eleições nos Estados Unidos consagrariam o democrata “Jimmy” Carter
na presidência, ele próprio um membro da Trilateral Commission (SKLAR, 1980;
GILL, 1990).
Este artigo, portanto, pretende tratar do tema das organizações internacionais,
tão caro entre os estudiosos de relações internacionais, a partir de uma análise
4 O último estudo relevante sobre a Trilateral Commission foi o trabalho de Stephen Gill (1990), onde a questão
da reforma das instituições internacionais não é pormenorizada.
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Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
histórica do chamado trilateralismo, não somente apresentando detalhadamente os
principais aspectos de suas propostas para o formato das instituições internacionais,
como também demonstrando a íntima relação dessas com determinadas teorias
bastante influentes no campo das relações internacionais – como, por exemplo, o
conceito de “interdependência complexa” de Joseph Nye e Robert Keohane. Nesse
sentido, o artigo procura se inserir no frutífero reconhecido diálogo existente entre
o campo da história e o das relações internacionais. Numa época em que relevantes
organizações internacionais como a União Européia parecem quebrar, e em que
se procura entender uma nova crise de hegemonia internacional, acreditamos ser
útil revisitar as propostas e experiências de reforma de organizações internacionais
dos anos de 1970.
Organizações internacionais e crise de hegemonia: uma visão a
partir da teoria crítica
Muito embora a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e do
complexo de instituições internacionais que conformou o chamado sistema de
Bretton-Woods já tivesse despertado o interesse no estudo acerca das organizações
internacionais, é somente na década de 1960, mas principalmente na de 1970, que
proliferam os estudos nesse campo. Segundo Herz e Hoffman, ocorre uma separação
analítica, na década de 1960, entre o debate acerca dos mecanismos de estabilização
do sistema internacional e os estudos sobre o papel das organizações internacionais,
a fim de desvendar a função específica das Organizações Intergovernamentais
Internacionais (OIGs) (HERZ; HOFFMAN, 2004, p. 45).
Nessa geração de estudos,
diversos temas teriam sido tratados, como segurança nuclear, “assistência aos
processos de descolonização” e “ajuda ao desenvolvimento”. Esses estudos, em
geral, eram críticos da chamada teoria realista, que considerava o Estado como
único e indivisível ator nas relações internacionais.
Na década seguinte, dois dos maiores focos dos estudos sobre organizações
internacionais foram as relações Norte-Sul e os problemas do meio ambiente.
Segundo Herz e Hoffman, uma orientação marcante nessa bibliografia dos anos
de 1970 é a relação entre a constituição do sistema internacional e o papel das
organizações internacionais.
Os fóruns para a formação de coalizões e as formas
de coordenação de políticas transgovernamentais seriam algumas das funções
das organizações internacionais abordadas nesse contexto (HERZ; HOFFMAN,
2004, p. 46). É desse período o conhecido trabalho de Robert Cox e de Harold
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Jacobson sobre oito agências especializadas da ONU (COX; JACOBSON, 1973).
O papel das organizações internacionais após a Segunda Guerra Mundial, segundo
os trabalhos posteriores de Cox, teria sido fundamental para a universalização
das normas compatíveis com o hegemon da pax americanna.
A ideia de hegemon e de hegemonia para o sistema internacional foi
desenvolvida por diversos autores inspirados nos escritos do filósofo sardo Antonio
Gramsci (1891-1937). Em seu O longo século XX, por exemplo, Giovanni Arrighi
constrói um grande painel da história do capitalismo entre os séculos XVI e XX,
buscando demonstrar que tal trajetória histórica teria sido marcada por aquilo
que chama de “ciclos sistêmicos” de acumulação mundial, onde um país assumiu
a posição de centro hegemônico do sistema internacional. O sociólogo italiano
observa que alguns dos fenômenos observados a partir dos anos de 1970 – que
ele e autores como Immanuel Wallerstein (2004) consideram sintomas do fim da
hegemonia dos EUA, como a financeirização e a constituição de uma nova divisão
internacional do trabalho – são características encontráveis em situações anteriores
que marcaram o fim das hegemonias do sistema internacional do capitalismo
histórico (ARRIGHI, 1996).
Por sua vez, a análise de Cox sobre as organizações internacionais se
revela bastante instigante, pois o autor entende que essas desempenham papéis
fundamentais em uma ordem mundial hegemônica, como: “corporificar as regras que
facilitam a expansão das ordens mundiais hegemônicas”; “legitimar ideologicamente
as normas da ordem mundial”; “cooptar as elites dos países periféricos”; e “absorver
ideias contra-hegemônicas” (COX, 2007). Nas palavras de Cox,
As instituições internacionais corporificam regras que facilitam a expansão
das forças econômicas e sociais dominantes, mas permitem simultaneamente
aos interesses subordinados fazerem ajustes com um mínimo de desgaste.
(COX, 2007, p. 119)
O sistema hegemônico construído no pós-Segunda Guerra Mundial, que
incluiu a formatação de todo um sistema de organizações intergovernamentais,
parecia ter chegado a um esgotamento. As organizações internacionais moldadas
no período da chamada pax americanna não poderiam passar incólumes por essa
crise de hegemonia, marcada, entre outros fatos, pelo surgimento de diversos
tipos de coalizões de países do Terceiro Mundo
5
.
5 Estamos utilizando a expressão Terceiro Mundo de maneira meramente descritiva.
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Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
Cox localiza entre fins dos anos de 1960 e início da década de 1970 o fim
daquilo que ele denominou “Estado neoliberal” da Pax Americanna, constituído
após o fim da Segunda Guerra Mundial
6
, uma forma de Estado que tinha
determinados papéis no bloco de forças sociais dentro dos Estados nacionais.
O autor considera o contexto de fins dos anos de 1960 e início dos anos de 1970
como fundamentalmente não hegemônico, e localiza nesse período um ponto de
virada. A crise da hegemonia americana teria provocado a necessidade de uma
nova e modificada estrutura institucional. Essa crise, segundo Cox, teria gerado
a necessidade da construção de um novo consenso hegemônico, que teria que
refletir necessariamente não apenas o novo peso econômico e político da Alemanha
Ocidental e do Japão, bem como levar em conta a ascensão de um conjunto
significativo de nações recentemente industrializadas.
Como veremos, o projeto trilateralista é expressivo dessa busca, que, longe
de ser uma tendência inata ao sistema, depende da atuação dos atores políticos
internacionais. Conforme o próprio Cox enfatiza, o papel da agência dos atores
políticos, embora esteja sempre condicionado, em algum grau, por fatores objetivos,
é fundamental para compreender o desenlace dos conflitos internacionais.
Ao contrário do que encontramos em grande parte da literatura sobre as
relações internacionais, a hegemonia é aqui considerada não somente como
uma relação interestatal, mas como a penetração de um modo dominante de
desenvolvimento.
Discutindo o conceito de hegemonia em Gramsci, Cox procurou aprofundar
teoricamente o uso desse conceito para as relações internacionais, sem reduzi-
lo ao uso comum da ideia de hegemonia como mera “supremacia” (no sentido
de superioridade bélica). Um dos pontos mais enfatizados tanto por Cox quanto
por outros autores chamados “neogramscianos” como Stephan Gill, é que “a
hegemonia deriva dos estratos sociais dominantes dos Estados dominantes,
desde que essas maneiras de agir e pensar tenham obtido a aquiescência dos
estratos sociais dominantes de outros Estados” (GILL, 2007, p. 91-92). Tal ponto
é fundamental para nosso estudo, já que consideramos o trilateralismo, junto
com Gill, como um projeto proveniente dos estratos dominantes dos Estados mais
poderosos, preocupados em garantir instituições internacionais asseguradoras de
consentimento de países menos poderosos – ou, ao menos, de suas elites políticas.
6 Note-se que o termo “neoliberal” em Cox não se refere ao que comumente entendemos como neoliberalismo
(teoria associada a nomes como Milton Friedman ou F. A. von Hayek), mas diz respeito exatamente ao tipo de
liberalismo que vigorou no pós-Segunda Guerra, embutido de políticas keynesianas.
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Vale assinalar que, para Cox, num sistema hegemônico o conflito não é
propriamente “eliminado”, mas regulado e institucionalizado, e, muito importante,
a institucionalização do conflito dentro da potência dominante torna-se base
para essa institucionalização também no plano global” (GARCIA, 2012, p. 202).
A proposta trilateralista representa exatamente essa institucionalização preventiva
do conflito internacional.
Tendo essas reflexões em mente, veremos agora quais foram as formulações
elaboradas no bojo da Trilateral Commission, bem como o debate acerca delas
dentro da entidade, que revelou inúmeras divergências. Analisaremos como
o tema das organizações internacionais foi tratado pela comissão desde seus
primeiros anos de existência; e, em seguida, examinaremos os três Task Force
Reports (doravante TFRs) que a comissão publicou entre 1976 e 1977 sobre a
reforma do sistema internacional, detalhando seus diagnósticos e receituários
7
.
Alertamos que as notas com a descrição dos autores envolvidos na elaboração
dos TFRs, embora longas, se fazem necessárias para demonstrar a relevância dos
atores intelectuais, políticos e econômicos envolvidos na elaboração trilateralista,
requisito essencial para a demonstração da hipótese apresentada.
Trilateral: um projeto cosmopolita, liberal e institucionalista
Desde o início de seus trabalhos, a Trilateral Commission visava a construção de
uma hegemonia de novo tipo, modificando a arquitetura do sistema internacional.
Já no TFR número 3, de 1974, era afirmado que tanto os países desenvolvidos
quanto os países em desenvolvimento deveriam dar maior peso, em sua policy
making, para sua “crescente interdependência”; para os trilaterais, isso significaria
que a assistência e as medidas comerciais em favor dos países em desenvolvimento
não deveriam ser tomadas apenas porque era “o certo”, mas porque o “mundo
trilateral” necessita crescentemente dos países em desenvolvimento como fontes
de matérias-primas e como mercados de exportação (GARDNER, OKITA & UDINK,
7 Os Task-Force Reports da Trilateral Commission – ou “relatórios de força-tarefa”, em tradução literal – eram
densos estudos, escritos em geral ao longo de meses ou mesmo anos de consultas, quase sempre com autores
especialistas nas temáticas em estudo, e provenientes das três regiões “trilaterais” (Estados Unidos, Japão e Europa
Ocidental). Outra publicação importante da comissão eram os Trialogues, boletins mais curtos, de periodicidade
trimestral, nos quais se descrevia os avanços alcançados nos objetivos da comissão, bem como a repercussão
dos Task-Force Reports (TFRs) nas três regiões. Todas as passagens aqui citadas dessas fontes foram traduzidas
por nós dos originais em inglês, que estão disponíveis no sítio eletrônico da entidade (www.trilateral.org).
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1974, p. 19). O principal autor do relatório, Richard Gardner, era um economista
reconhecido nos Estados Unidos, tendo participado de conselhos governamentais
e também de think tanks como a Brookings Institution. Seu pensamento estava
fortemente marcado pela necessidade de construir instituições econômicas
internacionais sólidas.
O novo sistema de relação entre os países, segundo a Trilateral, deveria
respeitar o direito de independência e equidade sob a lei internacional para todos
os membros da comunidade internacional, pobres e ricos, pequenos e grandes.
O relatório dizia rejeitar também a existência de políticas especiais de comércio
e assistência, que enlaçavam a África à Europa, a América Latina aos EUA, e o
Sudeste Asiático ao Japão – continuidades dos antigos sistemas coloniais.
Nós precisamos evitar a tentação que há nos países trilaterais em um período
de escassez de recursos a concentrar sua ajuda e favores comerciais em
um grupo relativamente pequeno de países em desenvolvimento ricos em
recursos enquanto ignora as necessidades do resto. (GARDNER, OKITA &
UDINK, 1974, p. 21)
A preocupação exposta nesse relatório mostra o viés liberal da proposta
trilateralista, em sua defesa de que um genuíno livre-comércio favoreceria as
nações e o sistema internacional como um todo – tema presente no pensamento
ocidental desde a economia política clássica (especialmente Adam Smith e David
Ricardo). Complementando o viés liberal, encontramos a visão institucionalista
que reforça a necessidade de organizações econômicas e políticas internacionais
fortes para regular os conflitos.
Como se sabe, a abordagem funcionalista de relações internacionais desenvolveu
uma alternativa ao liberalismo do início do século, mantendo sua confiança no
progresso e na cooperação internacional, mas acentuando que esses eram possíveis
a partir da busca pela maximização dos benefícios materiais com menores custos.
Nessa concepção, a cooperação nas organizações internacionais, preferível à
competição por ser mais eficiente na conquista desses benefícios, geraria um efeito
gradual de transbordamento (spill-over effect), no qual o sucesso de determinada
forma de cumprimento de um objetivo ou função “transborda” para as demais
áreas. O neofuncionalismo influenciaria claramente as teorias de Nye e Keohane
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 78; HERZ, 1997).
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Interdependência complexa e organizações internacionais
Mas foi apenas no décimo primeiro Task-Force Report da comissão, intitulado
A reforma das instituições internacionais”, e assinado por C. Fred Bergsten
8
,
Georges Berthoin
9
e Kinhide Mushakoji
10
, que o tema da estrutura das instituições
internacionais receberia atenção exclusiva. Apresentado e discutido na plenária
geral da Trilateral Commission na capital canadense Ottawa, entre 9 e 11 de maio de
1976, o processo de elaboração do relatório contou com a colaboração de diversos
nomes academicamente relevantes, como Robert Keohane, da Universidade de
Stanford – um importante autor das relações internacionais –, Hayward Alker, do
Massachussets Institute of Tecnology (MIT), e Donald Puchala, da Universidade
de Columbia; e ocupantes de cargos políticos, como Thierry de Montbrial, chefe
do Centro de Análise e Previsão do Ministério das Relações Exteriores da França.
Os rascunhos do relatório foram discutidos em várias reuniões ocorridas entre
dezembro de 1974 e junho de 1976.
O pressuposto do relatório era que o objetivo mínimo da organização
internacional deveria ser ajudar a “evitar ações nacionais unilaterais” que ferem
a humanidade como um todo”. Por isso, as instituições internacionais deveriam
ajudar a “distribuir os custos e benefícios das ações internacionais” entre as
nações envolvidas em um arranjo aceitável, assim como promover políticas
desejáveis para atingir esses objetivos fundamentais (BERGSTEN, BERTHOIN &
8 Economista ligado à Brookings Institution, trilateralista de primeira hora, C. Fred Bergsten era também membro
do Council on Foreign Relations (CFR), o mais tradicional think tank de política externa dos Estados Unidos,
onde a própria ideia da Trilateral Commission foi gestada. Bergsten chegou a ser membro do National Security
Council sob a gestão Kissinger, onde dirigiu um grupo de discussão durante 1972 e 1973 intitulado “American
interests in the Third World”, e continuou como o líder da discussão de um grupo similar no CFR entre 1974-75.
De forma similar a Brzezinski, outro fundador da Comissão, Bergsten criticava a negligência da administração de
Nixon em relação ao Terceiro Mundo e seu tratamento dessas regiões do globo como meros “peões no xadrez da
política global”. Os argumentos de Bergsten nessa crítica à política externa kissingeriana enfatizavam a enorme
importância do Terceiro Mundo como fornecedor de uma série de recursos para os países centrais, em especial
os Estados Unidos, e também como receptor de investimentos americanos. Tanto para Brzezinski como para
Bergsten, a política externa americana de então não estava levando em consideração tal relevância.
9 Representante-chefe da Comissão das Comunidades Européias no Reino Unido entre 1971 e 1973, ano em que a
Inglaterra entra na comunidade, Berthoin começou sua carreira no serviço público francês como secretário do
Ministério das Finanças. Após um período como chefe de equipe da subprefeitura de Alsácia-Lorena-Champagne,
ele entrou para o serviço público europeu e serviu como primeiro secretário privado de Jean Monnet, então
presidente da Alta autoridade da ECSC (European Coal and Steel Community), na qual passou a ocupar o cargo
de representante em Londres em 1956.
10 K. Mushakoji, que fez carreira acadêmica em Bruxelas e Paris, na área de Ciência Política, foi diretor do Instituto
de Relações Internacionais para estudos avançados sobre a paz e o desenvolvimento na Sophia University entre
1969 e 1975. Na época do relatório, era vice-reitor de programas da Universidade das Nações Unidas em Tóquio.
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Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
MUSHAKOJI, 1976, p. 1). Mais uma vez, o viés institucionalista da proposta
trilateralista fica claro.
Segundo o relatório, uma grande lição do passado é que as instituições
internacionais podem tornar o mundo “seguro para a interdependência” e que,
de fato, são necessárias para evitar esforços de nações individuais de “exportar”
seus problemas internos umas para as outras. Diante disso, todas as questões
da interdependência internacional deveriam ser trazidas junto à “governança de
regras” e “arranjos internacionais efetivos”. Para Bergsten, Berthoin e Mushakoji,
atingir os objetivos das instituições internacionais se tornou mais complexo do
que nunca por causa da intensidade e da extensão do padrão de interdependência
entre as nações.
O termo “interdependência” já se fazia presente na literatura econômica do
período; mas foi o conceito de interdependência complexa, tal como desenvolvido
por Joseph Nye e Robert Keohane desde 1971, que se fez presente em maior
ou menor medida nos relatórios aqui analisados – uma prova cabal da relação
simbiótica entre as teorias de relações internacionais e as propostas normativas
colocadas para as organizações internacionais. Como se sabe, a interdependência
complexa se referia a uma situação entre uma série de países nos quais múltiplos
canais de contato conectam as sociedades (ou seja, os Estados não monopolizam
esses contatos), em que não há uma hierarquia de questões e em que a força
militar não é utilizada pelos governos uns contra os outros. Ao analisar a
política da interdependência, os autores enfatizaram que a interdependência
não levaria necessariamente à cooperação, nem que suas consequências seriam
automaticamente benignas (KEOHANE; NYE, 1971).
O tema da interdependência complexa aparece com proeminência em outro
TFR sobre o tema das instituições internacionais: o TFR 14, “Em direção a um
sistema internacional renovado”, a cargo de Richard Cooper
11
, Karl Kaiser
12
e
Masataka Kosaka
13
. Embora só publicado em 1977, a elaboração do relatório
começou ainda em dezembro de 1974, com uma sessão preliminar em Washington
que incluiu Z. Brzezinski e 22 outros comissionários.
11 Economista Sênior no Council of Economic Advisers entre 1961 e 1963, e Deputy Assistant Secretary of State for
International Affairs entre 1965 e 1966, publicou em 1968 The Economics of Interdependence (1968); na época
do relatório, era diretor de Yale University.
12 Diretor do tradicional Instituto de Pesquisa da Sociedade Alemã para Política Externa.
13 Professor de Direito da Universidade de Kyoto, pesquisador associado ao International Institute for Strategic
Studies de Londres, e estudioso da política externa japonesa.
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Entre os aspectos negativos da interdependência, segundo os autores, estariam
as ameaças de proliferação nuclear e de nocivas mudanças ambientais, juntamente
com a extrema pobreza, especialmente no sul da Ásia e em partes da África.
A ideia forte aqui era a de que, em longo prazo, um “mundo com ordem” não seria
provel se uma grande afluência em algumas regiões continuasse a coexistir com
a pobreza abjeta em outras – cenário agravado já que a comunicação entre todas
as partes crescia exponencialmente, permitindo aos pobres tomar conhecimento
pleno sobre a opulência das parcelas privilegiadas (COOPER, KAISER & KOSAKA,
1977, p. 180-190).
Para os autores do relatório de 1976, liderados por C. F. Bergsten, teria havido
três grandes fases na construção de instituições internacionais. Cada uma delas teria
tido dois objetivos: a ratificação e legitimação da estrutura de poder subjacente às
relações internacionais no período, e a inserção de novos integrantes (newcomers)
nessas relações. Em 1945, isso teria significado basicamente codificar a hegemonia
americana e envolver os outros Estados-nações independentes, com exceção dos
comunistas (entendidos como dropouts – aqueles que “pularam fora”). Em torno
de 1960, isso significava um papel maior para a Europa Ocidental e o Japão, e a
incorporação de países recentemente independentes da Ásia e da África.
Das lições sobre a história das organizações internacionais, segundo o relatório,
poder-se-ia depreender que a própria existência de tais instituições internacionais,
mais do que as regras específicas, é o que “inspira confiança” tanto nos setores
públicos como governamentais – principalmente a “confiança” de que o progresso
não será quebrado pelo conflito entre as nações. Os acordos internacionais
fortaleceriam as forças de visão global (outward-looking) dentro de cada governo
nacional (BERGSTEN, BERTHOIN & MUSHAKOJI, 1976, p. 4). Podemos facilmente
contrastar essa visão sobre o papel das organizações internacionais com a visão da
teoria crítica de Cox e Gill: na ideia de interdependência, desaparecem as relações
de dominação entre países e classes, entrando em seu lugar “assimetrias” a serem
“manejadas” pela institucionalidade internacional.
A “politização” nas organizações internacionais
Outra lição da história, segundo o relatório, seria que organizações
internacionais específicas funcionariam muito melhor que organizações com
múltiplos propósitos para atingir metas concretas. Isso seria mais claro para
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questões essencialmente “não políticas”, como a União Postal Internacional ou a
OMS (Organização Mundial de Saúde). Mas também seria válido para instituições
econômicas específicas, como o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) e
o FMI (Fundo Monetário Internacional), quando comparadas a agências maiores
das Nações Unidas (BERGSTEN et al., 1976, p. 5). A ligação de áreas de questões
distintas (issue-area linkage) e a politização – ambas consideradas “prejudiciais
ao progresso” de negociações internacionais – seriam mais bem evitadas nessas
organizações. A indesejada ligação ocorreria quando países individuais atam o
progresso em uma questão à solução de outras questões, como “preço” para sua
cooperação
14
.
A politização também seria evitada em instituições específicas por conta do
suposto consenso de que essas instituições são as melhores, talvez as únicas, em
que “acordos sérios” poderiam ser feitos. Nas palavras do relatório, os mesmos
países que iriam “esbravejar retoricamente” em organizações multipropositais,
como nas várias agências das Nações Unidas, poderiam ao mesmo tempo negociar
“séria e cooperativamente” em outras estruturas mais focadas em determinada
questão. Nas palavras dos autores, “o foco mais técnico, e menor atenção pública,
de tais organizações promovem esse resultado” (BERGSTEN, BERTHOIN &
MUSHAKOJI, 1976, p. 6, grifo nosso)
Não obstante, de acordo com o relatório, as organizações multipropositais,
como a ONU, também teriam um importante papel a cumprir, pois elas poderiam,
muito melhor que instituições específicas, legitimar esses novos conceitos
internacionais. Elas poderiam coordenar as atividades de muitas organizações
específicas e permitir aos governos nacionais que transmitam suas preocupações
políticas, sem medo de desencaminhar o progresso das “metas objetivas”
(BERGSTEN, BERTHOIN & MUSHAKOJI, 1976, p. 6). Em suma, tratava-se de
deslocar as instâncias centrais de decisão das grandes agências multipropositais
para as inúmeras agências “especializadas” e “despolitizadas”, diluindo assim
os focos de conflito; mas manter organizações como a ONU como suporte para
geração de consenso e legitimação do sistema internacional.
Ainda segundo o relatório, a politização da economia internacional residiria
na própria lógica dos “Estados modernos de bem-estar [social]”. Ao mesmo tempo,
para os países em desenvolvimento mais fracos,
14 A articulação entre questões, segundo o relatório, vinha sendo um traço comum de negociações dentro da
Comunidade Europeia, e dentro de todas as principais negociações comerciais no pós-Segunda Guerra.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 55-75
67
Rejane Hoeveler
a interdependência aparece como um sistema de dependência. Daí o apelo
de teorias que enfatizam elementos de dependência na economia mundial,
incluindo as corporações multinacionais, e as quais formam a base para
grande parte da retórica, senão da estratégia política, de muitos países em
desenvolvimento. (COOPER, KAISER & KOSAKA, 1977, p. 191, grifo nosso)
15
Era por esse motivo, segundo o relatório, que alguns intelectuais, grupos
e governos no Terceiro Mundo crescentemente advogavam uma “estratégia
dissociativa” entre Norte e Sul. A cooperação requisitada tanto a curto como a longo
prazo, segundo os autores, deveria estar baseada na convicção compartilhada que
ela “maximiza o ganho geral” e “aumenta o bem-estar dos envolvidos”. O papel
das instituições, em especial do Banco Mundial, nesse quesito era considerado
fundamental pela possibilidade de, através dele, garantir “assistência” no combate
à “pobreza absoluta”.
A gestão de McNamara no Banco Mundial, cujo escopo ideológico ficou bem
expresso em seu discurso de 1973 sobre a justiça social como um imperativo político,
coadunava-se com os pressupostos trilateralistas (PEREIRA, 2010). A parceria dessa
organização com a Trilateral começou com a participação do então presidente
do banco, Robert McNamara, em diversas reuniões da comissão, culminando
na elaboração, entre 1976 e 1978, de um relatório especial sobre agricultura
na Ásia. O TFR escrito por Umberto Colombo
16
, D. Gale Johnson
17
e Toshio
Shishido
18
intitulava-se “Reduzindo a desnutrição em países em desenvolvimento:
aumentando a produção de arroz no Sul e Sudeste da Ásia”, e foi discutido na
plenária da comissão em Bonn, entre 22 e 25 de outubro de 1977, com diversos
especialistas do Banco (COLOMBO, JOHNSON & SHISHIDO, 1978.
19
Francis Wells, então membro da diretoria de Cooperação Econômica da
OCDE, afirmou claramente como o relatório da Trilateral estava em consonância
15 É uma das únicas passagens em que os teóricos da interdependência mencionam explicitamente a teoria da
dependência, ainda que não seus autores.
16 Umberto Colombo (1927-2006) havia sido diretor do Comitê para Políticas Científicas e Tecnológicas da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), cargo que ocupou entre 1972 e 1975; proveniente
do setor privado, fora diretor-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do conglomerado alimentício Montedison,
de Milão.
17 Professor de Economia da Universidade de Chicago, Johnson serviu como consultor da Agência para
Desenvolvimento Internacional entre 1962 e 1968, e como membro de uma série de órgãos oficiais de consultoria
do Estado nos anos de 1960.
18 Presidente da Nikko Research Center, ocupou diversos cargos de Estado no Japão voltados para pesquisa em
agricultura. Também trabalhou na embaixada japonesa em Washington.
19 O relato sobre a discussão desse TFR no encontro de Bonn pode ser encontrado em OKITA, 1978.
68
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Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
com a abordagem das “necessidades básicas”, delineada pelo encontro de 1977
do Development Assistance Committee da OCDE, a partir da influência do World
Employment Conference da OIT (Organização Internacional do Trabalho), de 1976
– denotando a conexão da Trilateral com múltiplas instituições.
Em junho de 1978, o presidente americano Jimmy Carter anuncia seu plano
de estabelecer uma “Comissão sobre a fome mundial” (Commission on World
Hunger – CWH), num encontro privado na Casa Branca, com membros da Comissão
Trilateral. O anúncio oficial seria em setembro, no mesmo período em que saiu
o TFR coordenado por Colombo. O presidente da CWH coordenaria os esforços
das agências das Nações Unidas com organizações internacionais para combater
a fome. Para o cargo, foi designado o trilateralista Sol Linowitz, o que mostra
como as ideias trilateralistas chegaram ao topo da política externa americana no
governo Carter (SKLAR, 1980, p. 493).
A partir do conceito de hegemonia que apresentamos na primeira parte
deste artigo, fica claro que a proposta trilateralista, centrada no conceito de
interdependência, se mostrou como uma estratégia bastante elaborada de
reordenamento das organizações internacionais.
Compartilhando a liderança global e incorporando o “setor privado”
na reforma das organizações internacionais
Um segundo problema dos arranjos institucionais internacionais, segundo o
relatório coordenado por Bergsten em 1976, seria a falta de consistência e “liderança
decisiva”. A história teria mostrado que um sistema internacional efetivo requer
um “zelador”, e ele precisa ser um país relativamente grande ou um grupo de
países, porque somente uma entidade assim seria tanto atenta a respeito dos efeitos
sistêmicos de suas próprias ações e, portanto, ciente de seu papel de zelador,
quanto apta para “aceitar os efeitos políticos domésticos das ações para defender o
sistema” (BERGSTEN, BERTHOIN & MUSHAKOJI, 1976, p. 10). Os Estados Unidos,
desde o primeiro pós-guerra do século XX, viveram historicamente o dilema entre
priorizar os interesses domésticos e cumprir o papel de garantidor de um sistema
internacional estável. A questão que o relatório se colocava era simples, embora a
resposta fosse difícil: sem os Estados Unidos, quem agora poderia cumprir tal papel?
Nenhum país ou grupo de países parecia apto a desempenhar essa liderança
sozinho. A única alternativa, segundo o relatório, era a “liderança coletiva” ou
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69
Rejane Hoeveler
compartilhada”. Os EUA, o Japão, a Comunidade Europeia como grupo (ou a
Alemanha e talvez mais um ou dois países da Europa Ocidental) e talvez “até
mesmo” um ou dois países membros da OPEP e do Terceiro Mundo pareciam
os proveis parceiros em qualquer arranjo coletivo (BERGSTEN, BERTHOIN &
MUSHAKOJI, 1976, p. 12). Aqui se revela cristalinamente a ideia de uma aliança
orgânica entre os países centrais, incorporando subalternamente os países
considerados mais relevantes na periferia – a qual podemos entender melhor a
partir do conceito de hegemonia anteriormente apresentado.
As propostas corretas para a reforma das organizações internacionais, segundo
o relatório, deveriam se centrar em cinco questões-chave: a criação de novas
instituições sobre determinadas questões críticas para a interdependência, não
contempladas pelas existentes; a reforma de algumas das instituições existentes; a
mobilização mais efetiva de ambos os sets de instituições; a legitimação de todas
as instituições através da integração de newcomers e de dropouts, além de uma
melhor coordenação entre as áreas-chave, de maneira a progredir na questão da
liderança global.
Segundo o relatório, as ações para atingir algumas das demandas substantivas
dos países em desenvolvimento, embora condição necessária para integrá-los dentro
da ordem econômica internacional, não seriam o suficiente, e um segundo passo
seria prover os países em desenvolvimento “chave” com algum papel político no
processo de decision making internacional. É nesse ponto que foi cogitado, no
relatório, a inclusão do Brasil, do Irã e do México na OCDE (BERGSTEN, BERTHOIN
& MUSHAKOJI, 1976, p. 25).
Em adição, as instituições deveriam procurar envolver o setor privado nos
países onde quer que este fosse influente. “De fato”, afirmava o relatório, “grupos
privados podem frequentemente serem mobilizados para ajudar a catalisar a
ação internacional” (BERGSTEN, BERTHOIN & MUSHAKOJI, 1976, p. 24). Aqui
fica claro que a ligação orgânica com o grande empresariado (eufemisticamente
chamado de “setor privado”) era uma condição sine qua non para a viabilidade
das propostas trilateralistas. Isso revela outro viés da elaboração trilateralista: a
reforma das organizações internacionais deveria transcender os encontros formais
entre Estados, incorporando os chamados “atores não estatais”, especialmente os
empresários, em seu cerne. Uma espécie de “diplomacia privada”, na opinião dos
trilateralistas, andaria de mãos dadas com a diplomacia oficial, e não por acaso
o tema das consultas internacionais mereceu um TFR próprio.
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Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
Publicado também em 1976 e intitulado “O problema das consultas
internacionais”, ele foi escrito por três ex-embaixadores que serviram nos EUA:
Egidio Ortona
20
, J. Robert Schaetzel
21
e Nobuhiko Ushiba
22
. O relatório dos ex-
embaixadores destacava que a seriedade e a potencialidade da consulta estavam
em proporção inversa à sua formalidade, algo que iria contra a excessiva ênfase
em instrumentos tais como comitês ministeriais formais. Os contatos informais
e discretos seriam essenciais ao trabalho de grupos mais formais e, além disso,
a informalidade permitiria que as consultas fossem feitas no devido timing da
política, de modo a poder influenciar propriamente o processo decisório (ORTONA,
SCHAETZEL & USHIBA, 1976).
Influências e divergências
A análise pormenorizada da influência direta da Trilateral Commission na
formatação das instituições internacionais – e na criação de novas – foge ao
escopo deste artigo. Entretanto, cabe mencionar brevemente alguns exemplos da
influência direta da alternativa estratégica trilateralista, como mais uma forma de
demonstrar nossa afirmação inicial de que a proposta em tela constituiu a mais
elaborada estratégia cosmopolita dos anos de 1970.
Além da já mencionada relação com o Banco Mundial e com outros organismos,
o exemplo talvez mais evidente da influência da comissão na construção de uma
organização internacional foi a criação, em 1975, da Agência Internacional de
Energia (IEA, em sua sigla em inglês), que foi explicitamente sugerida em um
relatório de 1974 da comissão (CAMPBELL, CARMOY & KONDO, 1974). Segundo
dois importantes estudos sobre a Trilateral Commission, a criação da agência foi um
produto direto desse relatório (SKLAR, 1980, p. 472; SHOUP; MINTER, 1977, p. 83).
Diversos membros da Trilateral Commission participaram de iniciativas de
encontros internacionais informais, tais como os Economic Summits em Rambouillet,
na França, em 1975, e em Porto Rico, em 1976, e também de iniciativas formais
como a criação da CIEC (Conference on International Economic Cooperation), em
1975. Essas iniciativas eram por eles bastante valorizadas, pois constituíam um
embrião do qual poderia emergir a tão almejada “liderança coletiva”. O Comitê Rey
20 Ex-embaixador da Itália para os Estados Unidos.
21 Ex-embaixador dos Estados Unidos para as Comunidades Europeias.
22 Ex-embaixador do Japão para os Estados Unidos.
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Rejane Hoeveler
da OCDE, que ajudou a lançar as bases para as Multilateral Trade Negotiations,
contou com a participação de trilateralistas; bem como o “Grupo das Nações
Unidas de Pessoas Eminentes”, que tentou construir, na época, uma Comissão
sobre Negócios Transnacionais (Commission on Transnational Enterprises). Isso
mostra como os trilateralistas estavam inseridos nas mais relevantes iniciativas
internacionais do período, tanto as formais como as informais.
Não obstante, é preciso notar que não havia consenso dentro da comissão sobre
inúmeros assuntos, por exemplo, se encontros como o de Rambouillet seriam a
melhor saída a longo prazo. A posição oficial da comissão, que podemos encontrar
em uma resolução conjunta de seu comitê executivo, publicada ainda em 2 de
dezembro de 1975, aprovava a realização do encontro, ocorrido entre 16 e 18 de
novembro do mesmo ano, e ressaltava sua importância especialmente no que tangia
à coordenação das políticas economias domésticas entre os “governos trilaterais”.
Como podemos ler no Trialogue que publicou tal resolução, um comissionário
teria criticado a visão “diretiva” e não multilateral de Rambouillet, o que geraria
um grande “ressentimento” nos países que ficariam de fora. O encarregado de
fazer um relato sobre o encontro para a comissão, Otto Lambsdorff (membro
do Bundestag alemão), propôs não tornar Rambouillet uma instituição regular
(TRILATERAL COMMISSION, 1976, p. 14) – opinião que acabou não prevalecendo,
pois os encontros de Rambouillet e Porto Rico acabaram se tornando os embriões
do G-7 (BONHOMME, 2014).
O Trialogue número 11 revela que, para alguns, a proposta de criar novas
instituições internacionais, presente no relatório de Bergsten de 1976, estaria
“fora de momento” e seria “ambiciosa demais”. A OCDE, para eles, seria ainda a
melhor estrutura para fazer os progressos possíveis. Outra divergência relacionou-
se com a própria composição da OCDE: como vimos, o relatório “A reforma das
instituições internacionais” propunha que o Brasil e o Irã fossem convidados para
ingressar na OCDE. Mas, segundo o Trialogue, muitos membros da comissão foram
relutantes em aceitar tais sugestões, alegando, entre outras razões, a natureza
autoritária dos regimes domésticos no Irã e no Brasil (TRILATERAL COMMISSION,
1976, p. 12-13).
Outro reflexo do dissenso dentro da Trilateral Commission foi a publicação
de dois task forces sobre segurança internacional, entre 1977 e 1978. O primeiro
relatório (OWEN, SHONFIELD & HOSOYA, 1977) favorecia maior cooperação
econômica e funcional com a URSS, e apoio às políticas de controle de armas; já
o segundo expressava claramente uma linha de confronto explícito, refletindo,
72
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 55-75
Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
possivelmente, os sentimentos antissoviéticos que reascendiam massivamente
nos EUA e a opinião de novos ingressantes na comissão, ligados ao complexo
industrial-militar (AZRAEL, LÖWENTHAL & NAKAGAWA, 1978).
Em 1979, três acontecimentos mudariam os rumos dessas discussões de
maneira decisiva. A invasão soviética ao Afeganistão e a revolução iraniana, ambas
no final daquele ano, marcariam uma virada na elaboração de política externa das
chamadas “sociedades trilaterais”. Uma forte mudança de humor político se deu
nos Estados Unidos, que em 1980 acabaram elegendo o republicano Ronald Reagan
como presidente, legitimando um discurso fortemente nacionalista e unilateralista.
Com o reconhecido revés da administração Reagan no que se referia à participação
dos Estados Unidos em organizações internacionais, era previsível que as propostas
trilateralistas se tornassem menos influentes e aos poucos fossem obliteradas.
O terceiro acontecimento veio do campo econômico: o chamado “choque Volcker”
– o aumento dos juros pelo FED, o Banco Central americano – recordou para o
mundo o poder dos Estados Unidos como emissor da única moeda internacional,
e colocou o problema da hegemonia americana em novos patamares.
Seria muito simplista tentar enxergar na atual configuração das organizações
internacionais uma “realização” ou uma “não realização” das propostas trilateralistas
– tal leitura certamente beiraria o “conspiracionismo”. O formato dessas organizações
é foco de disputa permanente, que tem uma historicidade própria e é condicionado
por inúmeros fatores objetivos, como a economia internacional, a distribuição
de poder bélico, entre tantos outros. Entretanto, a configuração atual de muitas
das instituições internacionais que eram alvo da terapia trilateralista indica que
recomendações essenciais presentes nas elaborações da comissão permaneceram
vivas nas últimas décadas. Por exemplo, a estrutura dual marcada por um
inegável fortalecimento de organismos supostamente mais “técnicos”, como a
OMC (Organização Mundial do Comércio, o antigo GATT), em detrimento dos
organismos mais amplos politicamente e de formato multiproposital, como a ONU,
que, entretanto, seguem legitimando uma certa ordem internacional.
Conclusões
Demonstramos, neste artigo, como a característica institucionalista e liberal
das teorias que influenciaram diretamente os relatórios da Trilateral Commission
nos anos de 1970, especialmente a partir de economistas como C. F. Bergsten e de
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 55-75
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Rejane Hoeveler
teóricos de relações internacionais como Joseph Nye e Robert Keohane, constituiu
a coluna vertebral da proposta trilateralista para a reforma das organizações
internacionais, denotando a relação orgânica entre teoria analítica e propostas
normativas.
Também demonstramos, a partir da análise detalhada dos relatórios da
comissão sobre as instituições internacionais nos anos de 1970, em especial entre
1976 e 1977, que os trilateralistas não estavam preocupados com mudanças de curto
prazo, mas sim com formatos institucionais de longa duração: uma reorganização
institucional internacional numa hegemonia de novo tipo. Diante da crise de
hegemonia, tratava-se, para os trilateralistas, de oficializar o “compartilhamento”
do poder nessas instituições, incorporando novos membros (newcomers) e
aproximando ou neutralizando a ação dos dropouts, em especial o bloco soviético.
Mostramos como, na visão estratégica trilateralista, as linhas gerais da
reforma das organizações internacionais visavam uma estratégia de longo prazo de
prevenção de conflitos internacionais, muito além de uma mera reação imediata a
alguns deles. Segundo os trilateralistas, o único modo de construir a tão almejada
“hegemonia compartilhada” entre os países “trilaterais” seria aprofundar os
mecanismos de consulta e cooperação, além do fortalecimento das instituições
internacionais. Um aspecto importante desse fortalecimento seria a “despolitização”
das questões internacionais e o direcionamento das “questões mais sensíveis”
a organismos técnicos específicos. O aprofundamento da institucionalização de
organizações internacionais exigia, na visão trilateralista, uma maior participação
do “setor privado” no processo decisório, dentro de um sistema de consultas
internacionais que complementasse as relações oficiais entre Estados.
Retomando a teoria crítica que apresentamos no início do artigo, podemos
afirmar que se tornou evidente, para um espectro considerável de atores políticos
relevantes nos anos de 1970, que a aquiescência de estratos sociais dominantes
de outros Estados, de que fala Stephen Gill, é uma premissa da hegemonia no
plano internacional. A proposta trilateralista para a reforma das organizações
internacionais representa perfeitamente as funções descritas por Robert Cox em
suas análises das instituições internacionais.
Independentemente dos sucessos e fracassos relativos das inúmeras propostas
trilateralistas, bem como de suas divergências internas, o que emerge como fato
notável é a reunião de representantes de altos círculos empresariais, burocráticos
e políticos dos países centrais, num cenário de crise de hegemonia, com o objetivo
de não apenas forjar alianças, mas também de formatar concepções fundamentais
74
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 55-75
Hegemonia compartilhada e organizações internacionais: a proposta trilateralista dos anos de 1970
acerca das instituições internacionais. Enquanto as tendências recentes das relações
internacionais apontam para o enfraquecimento de organizações internacionais e
para um ascenso nacionalista e anticosmopolita, o projeto trilateralista merece ser
relembrado: não como uma proposta normativa capaz de resolver os problemas
atuais, mas como um alerta de que o leque de alternativas estratégicas num cenário
de crise pode ser mais diversificado do que o que a realidade aparente sugere.
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