Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 3, 2017, p. 30-53
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Augusto W. M. Teixeira Júnior, Gills Vilar-Lopes, Marco Túlio Delgobbo Freitas
Pensar nessa tendência faz sentido se observar-se a evolução do poder nuclear
como derivado do pensamento e da teoria do poder éreo
25
(FORSLING, 2016).
Similar ao ocorrido com as armas nucleares nos anos de 1940 e de 1950, analistas
acreditam que o ciberespaço será o principal teatro de operações da guerra do
futuro, retirando do combate físico o mecanismo da vitória (BUMILLER; SHANKER,
2012; CLARKE; KNAKE, 2015). Na prática, a compreensão do ciberespaço como
vetor de uma revolução militar, como a nuclear, advoga em favor da reestruturação
radical das organizações militares para reacomodar essas “novas armas” (COHEN,
2010, p. 147). O militar deve estar atento à quinta dimensão da guerra, a cibernética,
para a qual a informação é um ativo estratégico central, além de relacioná-la com
as demais. Desse modo, investiga-se, a partir de agora, o ciberespaço como um
novo domínio que, como tal, apresenta seus próprios objetivos e obstáculos; logo,
examina-se a guerra cibernética enquanto “arma estratégica” (KREPINEVICH, 2012).
Inicialmente, destaca-se a importância de seu maior objetivo, qual seja: buscar
a superioridade da informação, entendida, nesse caso, com o mesmo desdobramento
que os conceitos de superioridade naval ou aérea defendem. Em síntese, suas
metas principais são: proteger a capacidade de coletar, processar e disseminar um
fluxo ininterrupto de informações, negando ao adversário o mesmo e cumprindo,
assim, requisitos da chamada software warfare (BELLAMY, 2001). Entretanto, para
atingir tal fim, deve-se dominar três áreas da guerra na era da informação, a saber:
física, informacional e cognitiva. No domínio físico, os elementos de uma força
militar devem estar ligados à realização segura e transparente de conectividade e
interoperabilidade. No domínio informacional, pessoas e plataformas devem ser
capazes de acessar, compartilhar e, mais importante, proteger os dados a um grau
que as forças armadas possam estabelecer e manter uma vantagem de informação
sobre o adversário. Finalmente, no domínio cognitivo, os militares devem ser
capazes de usar essa informação comum para desenvolver a consciência de seu
ambiente e compartilhá-la com outros participantes da rede.
Entretanto, a dominância da informação não garante a paralisia estratégica
do inimigo, pois a guerra cibernética tem limitações na capacidade de coagir um
oponente, caso não seja corroborada por um poder convencional e atuação do
espaço físico onde se desdobra força e energia cinética (GARTZKE, 2013; SHELDON,
2011). Como afirmam Thomas e Hecker (2009), esse instrumento não provoca
casualidades suficientes para ser considerada guerra e, logo, não consegue ser
25 Principalmente da teoria de bombardeio estratégico (TOR, 2015).