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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 3, 2016, p. 222-248
O Brasil como potência regional: uma análise da sua liderança na América do Sul no início do século XXI
capacidade material, o país se destaca frente a seus vizinhos e é a maior potência
sul-americana. Além da capacidade material, a capacidade de exportação e o peso
de seus investimentos se mostraram elementos de barganha fundamentais nas
negociações internacionais brasileiras (MALAMUD, 2012).
No que diz respeito às potências secundárias, a Argentina é tradicionalmente
o país que ocupa o segundo lugar na hierarquia de poder regional. Com grande
território, população, recursos naturais diversos, o 2º maior PIB e o melhor
IDH da América do Sul, além do histórico de ativismo internacional, o país vem
demonstrando ambições de exercer a liderança regional (MALAMUD, 2012).
Entretanto, as dificuldades econômicas enfrentadas ao longo dos últimos anos
obstaculizaram o seu crescimento econômico e sua projeção de poder na região,
ampliando a assimetria frente à potência regional. O default da dívida externa
em 2001 abriu um longo período de resultados negativos para a economia e de
crise política no país. Além disso, é o país do grupo apresentado com o menor
percentual de gastos militares em relação ao PIB.
Conforme pode ser observado na Tabela 2, a Argentina cresceu menos que
Colômbia e Chile nos últimos cinco anos e, de acordo com as projeções econômicas,
até 2020 sua economia crescerá apenas 1,6%, enquanto a Colômbia crescerá
acima dos 20% no período 2016-2020, a maior taxa entre as maiores economias
da América do Sul.
Tabela 2: Taxa de crescimento econômico (2011-2020)
Países
Real
Previsão
2 011 2012 2013 2014 2015 2011-2015 2016 2017 2018 2019 2020 2016-2020
Argentina 8,4% 0,8% 2,9% 0,5% -0,3% 12,6% 0,1% 0,3% 0,4% 0,4% 0,5% 1,6%
Brasil 3,9% 1,9% 3,0% 0,1% -1,0% 8,1% 1,0% 2,3% 2,3% 2,4% 2,5% 10,9%
Chile 5,8% 5,5% 4,0% 1,9% 2,7% 21,4% 3,3% 3,6% 3,7% 3,8% 3,9% 19,7%
Colômbia 6,6% 4,0% 4,9% 4,4% 3,4% 25,5% 3,7% 4,0% 4,2% 4,3% 4,3% 22,2%
Venezuela 4,2% 5,6% 1,3% -3,9% -7,0% -0,3% -4,0% -2,5% -1,5% -0,5% 0,0% - 8,3%
Fonte: elaboração própria a partir de dados disponíveis no site do FMI, 2016.
A Venezuela, por seu turno, exerceu, sob a gestão de Hugo Chávez (1999-
2013), uma liderança paralela ao Brasil na América do Sul, ganhando espaço como
potência secundária. Além de altas taxas de crescimento econômico, impulsionadas
pelos recursos financeiros gerados pela diplomacia do petróleo, o país ampliou
sua capacidade de atrair aliados para sua esfera de influência (FLEMES, 2010;
MALAMUD, 2012) e investiu na área militar, ocupando a terceira posição regional