Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 3, 2016, p. 124-148
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Tamires Aparecida Ferreira Souza
União de Nações Sul-Americanas e o advento do CDS
A União de Nações Sul-Americanas
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é uma instituição voltada à cooperação
regional, partindo do viés político, porém abrangendo as vertentes econômica, de
infraestrutura, social e de defesa (SANAHUJA, 2013, p. 56-57), compondo uma
ferramenta estratégica de inserção internacional de seus países membros, com o
efetivo fortalecimento da região como “sujeito político” (GARCÍA, 2010, p. 30).
Faz-se importante destacar que sua criação teve como incentivo a busca por uma
organização própria sul-americana, pautada em interesses históricos, políticos e
culturais, desvinculada de interferências extrarregionais (RIBEIRO, 2014, p. 25).
Desde sua consolidação, a UNASUL vem desempenhando um papel de
mediador para a solução de conflitos regionais, como no caso Colômbia, Equador
e Venezuela, de 2008, originado pelo ataque colombiano ao acampamento das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), estabelecido em território
equatoriano, próximo à fronteira; e em reivindicações de autonomia nas províncias
bolivianas, com o ataque ao gasoduto de Tarija e aos campesinos favoráveis
ao governo de Evo Morales. Nos eventos que passam a se originar, a UNASUL
articulou-se com o seu Conselho de Defesa para a resolução das instabilidades,
especialmente em 2010, no Equador, com a tentativa de golpe policial ao governo
de Rafael Correa; em 2012, com o golpe de Estado do parlamento ao presidente
do Paraguai, Fernando Lugo; e na crise política na Venezuela, com a crescente
violência perpetuada mesmo com a eleição de Nicolás Maduro como presidente
(BATALLA, 2014, p. 10-14). Apesar da capacidade intrarregional da UNASUL, sua
presença em foros internacionais ainda não constitui um “mecanismo de projeção
da região” (SANAHUJA, 2013, p. 58-60), estando em processo de consolidação.
Por meio da UNASUL, os países sul-americanos buscaram uma via alternativa
às propostas da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca, estabelecendo um “sistema paralelo” com
capacidade de resolução de conflitos e atuante em conjunto com a OEA, quando
necessário (DREGER, 2009, p. 64). A partir de março de 2008, o ex-ministro da
Defesa brasileiro, Nelson Jobim, iniciou suas visitas aos países sul-americanos para
obtenção de apoio à criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, sendo uma de
suas reuniões realizada na Junta Interamericana de Defesa, nos Estados Unidos,
7 A UNASUL está formada por Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru,
Suriname, Uruguai e Venezuela.