Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 2, 2016, p. 200-221
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Luciano da Rosa Muñoz
Em suas grandes linhas, a política exterior inaugurada em 1946, descontinuada
arbitrariamente em 1955, retomada em 1973 e também depois esvaziada
de conteúdo, deve ser “a” política exterior argentina, adaptada a mudanças
adicionais e ainda dialéticas que se produzam no regime internacional. É
lisonjeiro ao autor deste livro, chanceler em 1973, comprovar que ao cabo de
nove anos, apesar de críticas no mais das vezes emocionais e de inflamadas
perseguições ocultas e ostensivas, é demonstrado que estava correto quanto
contribuiu a planejar e executar a única ação externa que é funcional à
realidade social e geopolítica argentina e à estrutura e funcionamento do
regime internacional atual. (PUIG, 1982, p. 163, grifos nossos, tradução livre)
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É preciso compreender que a teoria de autonomia de Puig prevê um processo
de autonomização, vale dizer, um percurso gradual por etapas que, no exemplo
histórico argentino, foi da dependência nacional da Geração de 80 à autonomia
heterodoxa do terceirismo. Assim, muito embora o autor contraste as opções de
cada período, não nos parece que advogue uma ruptura total com o passado.
O objetivo teórico primordial de seu texto é evidenciar a coerência estrutural da
política exterior argentina por meio do delineamento de suas tendências profundas.
Nesse sentido, Puig (1982, p. 102) salienta quatro constantes inauguradas no
modelo alberdiano, que se encerra em 1914: (1) afiliação à esfera de influência
britânica; (2) indiferença, isolamento e oposição aos Estados Unidos; (3) isolamento
com respeito à América Latina; e (4) debilidade da política territorial.
Tendo em mente sua defesa do terceirismo, é importante destacar a relação
estabelecida entre a segunda e a quarta constantes da política exterior argentina,
com notada ênfase no caso das Malvinas. Como afirma Puig (1982, p. 111-112),
o afastamento em relação aos Estados Unidos – bastante marcado no período
da Geração de 80 – radicou-se em sua congruência com o projeto nacional da
República Argentina. Por um lado, isso deveu-se à afiliação à Inglaterra e ao baixo
intercâmbio comercial com os norte-americanos. Por outro, decorreu do episódio
das Malvinas. Significativamente, Puig aponta a postura político-diplomática hostil
dos Estados Unidos como principal responsável pela perda das ilhas no século
XIX. Assim, afirma o autor que somente após a destruição da colônia argentina
4 “En sus grandes rasgos, la política exterior inaugurada en 1946, discontinuada arbitrariamente en 1955, retomada
en 1973 y también vaciada de contenido después, debe ser “la” política exterior argentina, adaptada a los cambios
incrementales y aun dialécticos que se vayan produciendo en el régimen internacional. Es halagador para el autor
de este libro, canciller en 1973, comprobar que al cabo de nueve años, a pesar de críticas las más de las veces
emocionales y de enconadas persecuciones solapadas y ostensibles, se demuestra que estuvo acertado cuando
contribuyó a planear y ejecutar la única acción externa que es funcional a la realidad social y geopolítica argentina
y a la estructura y funcionamiento del régimen internacional actual.” (PUIG, 1982, p. 163, grifos nossos)