Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 3, 2016, p. 56-76
61
Pedro Henrique Verano
mais importantes para seu sucesso. Caso descoberto pela Argentina que outro
diplomata brasileiro fora enviado para Assunção, além de expor os interesses do
Império em continuar sua política de aproximação com o Paraguai, poderia ser
um gatilho para uma retaliação militar de Rosas (SOUZA, 1970, v. 3, p. 1-13).
Destaca-se, dentre as instruções do Marquês de Olinda, o temor existente
de que uma revolução, com origem na própria população paraguaia, pudesse
derrubar o governo Lopez e se posicionar favoravelmente à incorporação à
Argentina (SOUZA, 1970, v. 3, p. 6), além da já aventada possibilidade belicosa.
Se essa hipótese fosse confirmada antes da chegada de Bellegarde a Assunção,
deveria esse retirar-se e voltar ao Brasil; caso ocorresse após chegar ao seu destino
final, também deveria regressar, deixando o Paraguai à sua própria sorte, sendo
considerada por Olinda como “inútil, e até de graves implicações, uma missão
diplomática do Brasil naquele Estado” (SOUZA, 1970, v. 2, p. 35). Contudo, outra
possibilidade levantada por Olinda cogitava que a invasão de Rosas ocorresse
diretamente sobre território imperial, implicando em Bellegarde apressar sua
viagem e conduzir as negociações, associando uma guerra feita contra o Império
como uma agressão ao próprio Paraguai, por ser ela decorrente do intuito de Rosas
de impedir o prosseguimento da independência desse país em relação à Argentina.
Em uma diferente direção, a Seção dos Negócios Estrangeiros do Conselho de
Estado, em 8 de outubro de 1848, deu um parecer acerca da política a ser adotada
pelo Império assim que tivessem cessado as intervenções francesa e inglesa no Rio
da Prata. Embora nos dois pareceres emitidos ainda nessa sessão (esse número
justifica-se em função de divergências por parte do Conselheiro Lopes da Gama)
não seja mencionada nenhuma questão referente ao Paraguai, inferem-se questões
tangentes ao país decorrentes das citações a Rosas e a seu aliado uruguaio, o General
Oribe. Em ambos os casos, recomenda-se adotar uma posição de neutralidade,
resultante de uma percepção de fragilidade do exército brasileiro para intervir
militarmente na região, assim como a da existência de poucos ganhos a serem
obtidos pelo Império caso fosse tomada uma postura beligerante.
A hipótese de atuar militarmente na região do Prata teria como incitador maior
a tomada de Montevidéu por Oribe, o que poderia contribuir sobremaneira para
a anexação do Uruguai por Rosas e que deveria ser evitada ao máximo para não
piorar as condições do Brasil no equilíbrio de poder regional. A solução armada
deveria ser evitada, tendo os Conselheiros Bernardo Pereira de Vasconcelos e
Honório Hermeto Carneiro Leão sugerido, caso Oribe chegasse a dominar a capital
uruguaia, formular um tratado definitivo de paz (em substituição ao provisório