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A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
A Coluna Prestes e as relações
Brasil-Argentina na década de 1920
Prestes Column and the
Brazilian-Argentine relations in the 1920s
DOI: 10.21530/ci.v11n1.2016.261
Mateus Fernandez Xavier
1
Resumo
O presente artigo tem como objetivo apontar as influências da Coluna Prestes sobre a política
externa brasileira da década de 1920 para a Argentina. Por meio da análise do contexto político,
social, econômico e internacional do país, foi possível compreender as condicionalidades
impostas à atuação externa do Brasil. A apresentação da configuração do Exército Brasileiro
e dos movimentos subversivos que tiveram origem no interior dessa instituição também
forneceu elementos importantes para o estabelecimento da relação existente entre a Coluna
Prestes e as medidas tomadas pelas chancelarias de Félix Pacheco e, em menor medida, de
Otávio Mangabeira. Por meio da correlação de dados e informações levantados foi possível
perceber como o Ministério das Relações Exteriores foi utilizado como instrumento de
repressão a movimentos que contestaram a ordem oligárquica da República Velha.
Palavras-chave: Coluna Prestes; política externa brasileira; movimentos revolucionários;
repressão; Ministério das Relações Exteriores; Argentina.
Abstract
This article attempts to describe the influences that the ‘Coluna Prestes’ had on the Brazilian
foreign policy for Argentina during the 1920 decade. Analyzing the political, social, economic
and international context of that period, it was possible to understand which limits of
1 Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, possui mestrado em Relações Internacionais
pela mesma instituição, mestrado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco (2011). Diplomata de carreira,
trabalha atualmente em Brasília.
Artigo recebido em 16/10/2015 e aprovado em 23/02/2016.
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action affected Brazilian international movements. The description of the Brazilian Army
configuration and the analysis of the insurgent revolutionary movements that were triggered
by ideologies of this institution, furnish important information on the impacts of ‘Coluna
Prestes’ over the chancelleries of Félix Pacheco and, to a lesser extent, of Otávio Mangabeira.
Correlating all data obtained, it is possible to perceive how the Ministry of External Relations
was used as an instrument of repression against the movements that opposed the oligarchic
order of the República Velha.
Keywords: Coluna Prestes; Brazilian foreign policy; revolutionary uprisings; repression;
Ministry of External Relations; Argentina.
Introdução
A existência de poucos estudos a respeito da política externa brasileira durante
a década de 1920 e o fato de o governo Artur Bernardes ter sido caracterizado por
grande agitação interna chamam atenção para os anos compreendidos entre 1922
e 1926. Nesse período, a Coluna Prestes destacou-se como movimento importante
no contexto de grande agitação ideológica dentro das Forças Armadas brasileiras.
Considerando que a marcha revolucionária de Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa,
Luiz Carlos Prestes, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias, Juarez Távora e João
Alberto passou por regiões próximas à fronteira do Brasil com a Argentina,
atravessou território paraguaio para ingressar no Mato Grosso e exilou-se na
Bolívia, é plausível concluir que esse movimento produziu impactos internacionais.
Com vistas a compreender como a política externa brasileira foi influenciada
pela Coluna Prestes e pelos movimentos rebeldes que lhe originaram, é importante
entender, previamente, a situação política, social e econômica do Brasil naqueles
anos. A elucidação do contexto histórico da década de 1920 e das causas que deram
origem à eclosão do movimento em questão proporciona suporte para compreender
as principais ideologias que orientaram as Forças Armadas e os integrantes da
Coluna Prestes, além de destacar as diretrizes essenciais que pautaram a política
externa brasileira no período.
O presente artigo busca demonstrar como o movimento rebelde mencionado
causou repercussão principalmente na América do Sul, com destaque para
a Argentina. As missões diplomáticas do Brasil em Assunção, Buenos Aires,
Montevidéu e La Paz enviaram informes, telegramas e outras correspondências
diplomáticas com significativa frequência ao Rio de Janeiro, dando ciência ao
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governo federal das ações dos jovens oficiais. De acordo com o planejamento dos
rebeldes, a busca por víveres, suprimentos e armamentos nos países vizinhos era
essencial para a marcha, e o governo federal bem o sabia. Dessa maneira, durante
o mandato de Artur Bernardes, a política externa brasileira para a região platina
foi caracterizada por considerável esforço para neutralizar o empreendimento
logístico da Coluna e amenizar as repercussões negativas advindas do combate
aos insurgentes, gerando impactos expressivos sobre as relações bilaterais com
a Argentina.
As origens e o desenvolvimento da Coluna Prestes
O contexto doméstico e as ideologias em voga nas Forças Armadas
Configurado por anos de grande instabilidade política e social, o período
denominado pela historiografia brasileira de República Velha (1889-1930) abrangeu
desde os governos militares de Deodoro da Fonseca (1889-91) e Floriano Peixoto
(1891-94) até a Revolução de Trinta e a ascensão de Vargas ao poder. Ao longo
desses anos, o país foi palco de diversas revoltas e sublevações de cunho militar,
além de inúmeras contestações civis.
Entre 1889 e 1930, a sociedade brasileira tornou-se mais complexa e a crescente
urbanização e industrialização do país fizeram surgir uma classe operária nas
grandes cidades da época, composta, em sua maioria, por imigrantes europeus.
Foi desta maneira que ideias anarquistas e socialistas chegaram a São Paulo e ao
Rio de Janeiro, por exemplo, no início do século XX.
Além dos operários, as camadas médias urbanas foram outro setor da
sociedade que se formou a partir dos processos de industrialização e urbanização.
Esse conjunto de agentes nunca apresentou coesão em suas ações uma vez
que era composto por grupos de diferentes interesses. Assim, filhos de famílias
tradicionais decadentes, profissionais liberais, pequenos proprietários de fábricas,
comerciantes, funcionários públicos e intelectuais faziam parte do crescente setor
médio da sociedade e, com o tempo, passaram a reivindicar maior participação
na vida política da nação (MENDONÇA, 1990, p. 320).
O equilíbrio de poder entre as oligarquias nacionais também foi alterado
nesse período. Enquanto algumas oligarquias dissidentes, como a do Rio Grande
do Sul e outras do Nordeste, iniciaram processo de fortalecimento, as tradicionais
de Minas Gerais e São Paulo começaram a apresentar cisões. Essa conjuntura
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política caracterizada pela ascensão de novos protagonistas e pelo enfraquecimento
de antigos grupos hegemônicos foi responsável pela crescente animosidade no
Brasil, durante a década de 1920. Como consequência, o contexto político à época
caracterizou-se pela insatisfação de setores da sociedade brasileira alijados do
processo de decisão desde início do século: operários, camadas médias urbanas,
forças armadas e crescente número de oligarquias dissidentes demandavam a
implantação do voto secreto, a criação de uma justiça eleitoral, a disponibilização
de educação pública obrigatória, a independência do Legislativo e do Judiciário
em relação ao Executivo e maior moralidade política e administrativa no país
(MENDONÇA, 1990, p. 318-319).
A eleição de Artur Bernardes para a Presidência, com apoio das oligarquias
dominantes de Minas Gerais e São Paulo, contribui para melhor apreender o
clima tenso vigente à época. Nilo Peçanha, candidato opositor lançado pela
Reação Republicana, recebeu suporte de oligarquias dissidentes de Rio de Janeiro,
Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e de grupos do Exército ligados a Hermes
da Fonseca, como os jovens tenentes, por exemplo
2
. Apesar da considerável
quantidade de ameaças e hostilidades direcionadas ao político mineiro, as eleições
foram realizadas e o candidato do Partido Republicano Mineiro foi declarado
vencedor (CARONE, 1974a, p. 56-57).
A posse de Artur Bernardes aumentou a insatisfação política de setores do
Exército vinculados ao Marechal Hermes da Fonseca, gerando contexto propício à
ascensão dos tenentes como atores sociais relevantes. O movimento denominado
“tenentismo” foi constituído pelas contestações capitaneadas por jovens oficiais
das Forças Armadas e das Forças Públicas estaduais e representou ações de um
grupo específico de militares vinculados a uma certa ideologia, dentre outras então
em voga no Exército Brasileiro. Dessa maneira, as ações dos tenentes entre 1920
e 1930 não podem ser consideradas como representantes da política institucional
de nenhuma das Forças Armadas (CARVALHO, 2005, p. 14; MCCANN, 2007, p.
326, 336-340).
Três grupos com três diferentes ideologias existiam dentro da força terrestre,
segundo José Murilo de Carvalho (2005, p. 38-40). O primeiro defendia a ideia de
2 À época, foi atribuída ao então governador de Minas Gerais a autoria de algumas cartas cujo teor era extremamente
desrespeitoso ao Marechal Hermes da Fonseca. Uma das cartas fazia alusão ao banquete promovido pelo
Marechal por ocasião de sua posse na presidência do Clube Militar e continha difamações e impropérios contra
o ex-presidente. O episódio das cartas falsas aumentou de modo significativo a rejeição a Artur Bernardes por
parte dos jovens tenentes. Mesmo depois de descoberta a farsa e de os responsáveis por ela terem confessado
a autoria, forte oposição militar à candidatura do oligarca mineiro manteve-se.
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“soldado-cidadão”, em que, além das obrigações militares, todos os membros do
Exército tinham o dever de exercer papel cívico ativo na esfera política. Surgida ao
final do Império, essa corrente esteve vinculada aos defensores do positivismo e
ganhou força na década de 1920, por meio dos ideais dos jovens tenentes rebeldes
3
.
O argumento utilizado à época foi que a “força armada é hoje parte integrante
do povo.” (TÁVORA apud CARVALHO, 2005, p. 39)
4
. “Os tenentes pregavam uma
intervenção reformista a ser feita pelo militar independente da organização, ou
mesmo contra ela" (CARVALHO, 2005, p. 42).
A segunda ideologia, em oposição à primeira, defendia o distanciamento do
Exército da vida política nacional como condição para uma profissionalização do
militar. Conhecidos como "Jovens Turcos", os oficiais que realizaram estágio no
exército alemão, entre 1906 e 1910, em sua maioria, permaneceram à margem das
contestações de seus pares, durante a década de 1920. Ao contrário da corrente
ideológica anterior, essa perspectiva fomentava a unidade da instituição e defendia
o fortalecimento do Exército, possibilitando, dessa maneira, o surgimento de uma
terceira ideologia.
Composto por algumas das características das duas vertentes apresentadas,
o terceiro conjunto de ideias diferenciava-se das demais pela defesa de aspectos
centralizadores. Os militares adeptos de tal posicionamento admitiam a indispen-
sabilidade de profissionalizar o corpo do Exército e a necessidade de eventuais
intervenções na vida política e social do país. Porém, entendiam que somente por
meio de uma intervenção centralizada e planejada pelo alto escalão do Exército
seria possível uma política da instituição Exército ao invés de várias políticas
realizadas no interior dessa Força Armada. Segundo José Murilo de Carvalho (2005,
p. 41-43), essa racionalidade teria o objetivo de extinguir a ideia de intervenções
de cunho contestatório para dar lugar a uma intervenção controladora.
Ao não conseguir dar vazão a suas reivindicações políticas e sociais e sendo
estimulados pelo debate ideológico existente no interior das Forças Armadas e
pela insatisfação decorrente da situação profissional na carreira militar, os jovens
tenentes passaram a contestar de modo violento a ordem vigente, por meio de
rebeliões armadas, que refletiam o desejo de mudança social e política do país,
3 A vasta maioria dos oficiais participantes da Coluna Prestes agiu motivada por essa primeira ideologia.
Os rebeldes opuseram-se a seus superiores e às autoridades civis da época em prol de princípios que julgavam
ser de interesse nacional.
4 O principal problema da perspectiva de "soldado-cidadão" era o enfraquecimento do princípio da hierarquia
dela decorrente. Se necessária, a atuação do militar poderia ocorrer mesmo em oposição a seus superiores, já
que os ideais da pátria estariam acima de tudo.
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assim como alterações nas estruturas institucionais das Forças Armadas. A esse
conjunto de revoltas denominou-se “tenentismo”. Foi nesse contexto conturbado
da década de 1920 que a Coluna Prestes teve sua origem.
Os movimentos revolucionários e a formação e a marcha da Coluna Prestes
Em 1922, durante o agitado contexto de eleições para os executivos estaduais,
o então presidente Epitácio Pessoa determinou a prisão do Marechal Hermes da
Fonseca após desentendimentos entre ambos. No dia seguinte, Epitácio ordenou
também o fechamento do Clube Militar. Esses dois fatos serviram como estopim
para a eclosão de movimentos revolucionários planejados pela jovem oficialidade,
que ganharam impulso em novembro do mesmo ano, com a posse de Artur
Bernardes na Presidência da República.
Em apenas dois anos, 1921 e 1922, várias conspirações ocorreram em São
Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Rio de Janeiro, no entanto,
somente nos dois últimos estados houve efetiva ação rebelde, mesmo que pouco
eficiente. O Levante na Escola Militar do Realengo e o Levante do Forte de
Copacabana, em 5 de julho de 1922
5
, ambos no Rio de Janeiro, foram as primeiras
de várias manifestações e ações contestatórias da década de 1920.
Em 1924, exatamente dois anos após o movimento dos Dezoito do Forte, uma
sublevação liderada pelo general Isidoro Dias Lopes eclodiu em São Paulo
6
.
Após 4 dias de lutas entre as forças rebeldes e as tropas legalistas, o movimento
revolucionário fez o Presidente do estado de São Paulo, Carlos de Campos,
abandonar o palácio dos Campos Elíseos. No entanto, os rebeldes não puderam
suportar a contraofensiva do governo. Após controlarem a capital do estado e
resistirem a 23 dias de lutas e bombardeios aéreos, na madrugada do dia 28 de
julho de 1924, os rebeldes abandonaram São Paulo e marcharam em direção ao
oeste do estado do Paraná.
Uma das primeiras providências tomadas por Artur Bernardes, como forma
de assegurar a ordem, foi decretar o estado de sítio no mesmo dia da eclosão da
5 O Levante do Forte de Copacabana deu origem ao que ficou conhecido na historiografia como os Dezoito do
Forte.
6 O plano rebelde consistia em sublevar, de modo sincronizado e sem derramamento de sangue, os quartéis do
Exército e da Força Pública do estado de São Paulo na madrugada do dia 5 de julho de 1924. Após controlarem
a capital do estado, os revoltosos marchariam até o Rio de Janeiro, para depor o presidente Artur Bernardes e
alijar do poder não somente a pessoa que consideravam inimiga do Exército, mas também todo o estamento
político por ele representado: as corruptas oligarquias regionais que colocavam seus interesses privados acima
dos nacionais e utilizavam o aparato institucional do Estado para auferir benefícios particulares.
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revolta em São Paulo. Com isso, o governo central obteve controle das notícias que
circulavam nos maiores jornais nacionais e pôde abafar as repercussões de várias
rebeliões, liberando informações somente depois de 3 a 15 dias dos eventos terem
ocorrido e, mesmo assim, com forte viés pró-governo. Mesmo assim, diversas
revoltas militares eclodiram por todo o país em apoio à rebelião de Isidoro Dias
Lopes
7
(MEIRELLES, 1997).
Nesse contexto, um contingente de oficiais rebeldes, de vários quartéis do
Rio Grande do Sul, planejou ações para sublevar-se, estabelecendo certo grau de
coordenação com os militares de São Paulo, em especial com Juarez e Joaquim
Távora. A atuação do capitão Luis Carlos Prestes foi fundamental para a revolta
iniciar-se nessa região (PRESTES, 1997, p. 117-119; CURVO, 2005, p. 50). Apesar
de todo o planejamento prévio e de terem estabelecido linhas de abastecimento
que julgavam confiáveis
8
, os rebeldes não conseguiram manter sob seu controle a
maior parte das unidades militares rebeladas no sul. Pouco depois da eclosão dos
levantes nos quartéis, a atuação repressora do governo foi significativa e obrigou
os revoltosos a marcharem na direção do oeste de Santa Catarina e Paraná.
Em Foz do Iguaçu, o encontro dos revolucionários paulistas e gaúchos
representou o embate entre duas percepções militares diferentes. A guerra de
posição clássica – ensinada pela Missão Francesa ao Exército Brasileiro e arraigada
nas estratégias dos oficiais mais velhos – e a guerra de movimento – defendida
por Prestes e pelos oficias que vieram com a coluna gaúcha, em função dos êxitos
obtidos durante a marcha entre o Rio Grande do Sul e o oeste do Paraná. Em
carta a Isidoro Dias Lopes, Prestes já havia deixado clara sua visão a respeito do
Exército e do movimento rebelde à época:
A guerra no Brasil, qualquer que seja o terreno, é a guerra de movimento.
Para nós revolucionários, o movimento é a vitória.
7 Como punição pelo envolvimento direto ou indireto no levante do Forte de Copacabana, o Governo Federal
transferiu para organizações militares distantes vários oficiais subalternos. Ao invés de arrefecer os ímpetos
dos rebeldes, essa ação ajudou a disseminar o espírito revolucionário para outros pontos do país. Aliado a esse
fato, o Segundo 5 de Julho contribuiu para fazer surgir outras revoltas, solidárias aos ideais e aos propósitos
dos rebeldes paulistas. Assim, sublevações de unidades militares ocorreram em Sergipe, Mato Grosso, Amazonas
e Pará. Maiores detalher em Curvo, 2005; Meirelles, 1997.
8 As autoridades argentinas que haviam sido subornadas para permitir a passagem de armamentos negaram-se
a cumprir com o acordado, por alguma razão. Tanto Meirelles (1997, p. 303-304) quanto Prestes (1997, p. 132)
atribuem tal fato a pressões da chancelaria brasileira junto à Argentina, no sentido de cobrar do país vizinho maior
vigilância do tráfego de pessoas e de bens em sua fronteira com o Brasil. Apesar de tal explicação ser verossímil,
ela não pode ser estendida ao ponto de afirmar-se que o compromisso argentino com as autoridades brasileiras foi
cumprido com o mesmo rigor, durante toda a campanha da Coluna, conforme analisado mais adiante.
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A guerra de reserva é a que mais convém ao governo que tem fábricas de
munição, fábricas de dinheiro e bastantes analfabetos para jogar contra as
nossas metralhadoras. (MOREIRA LIMA, 1979, p. 110)
9
A decisão dos revolucionários de enviar à Argentina o seu comandante,
o Marechal Isidoro Dias Lopes, com a finalidade de estabelecer e manter ativa
rede de abastecimento bélico e de víveres, também foi tomada em Foz do Iguaçu.
Com isso, esperava-se criar as condições para que o movimento rebelde pudesse
perdurar e, eventualmente, triunfar
10
.
Do oeste do Paraná, os rebeldes atravessaram parte do território paraguaio
e retornaram ao Brasil pelo Mato Grosso. A partir daí, marcharam até Goiás,
subindo para o Maranhão, Piauí, Ceará. Em seguida, passaram a se direcionar
para o Rio Grande do Norte, passando por Paraíba, Pernambuco e Bahia. Graças
à movimentação da Coluna Prestes, o governo central e as oligarquias regionais
não conseguiram deter o avanço da marcha rebelde, comprovando a eficácia
da estratégia de Prestes. No entanto, a experiência pela região Nordeste fez
desaparecer, nos revoltosos, a esperança de incendiar as massas populares e obter
apoio a suas aspirações políticas
11
. Muitas adesões à Coluna ocorriam, mas as
deserções também eram frequentes. Assim, durante todo o trajeto da marcha, a
quantidade de integrantes oscilou entre 800 e 1400 pessoas, número muito aquém
do necessário para empreender um avanço sobre o Catete.
9 Trecho de carta de Luis Carlos Prestes ao marechal Isidoro Dias Lopes, escrita em Barracão, Paraná.
10 Duas questões são passíveis de controvérsia e merecem atenção: o nome da Coluna e em que momento ela
surgiu. O movimento rebelde teve como líder formal o Marechal Isidoro Dias Lopes. A marcha realizada pelo país
ficou sob comando direto de Miguel Costa, mas foi marcada pela ascensão da liderança de Luis Carlos Prestes.
Assim sendo, optou-se pelo nome de “Coluna Prestes” em função de esta nomenclatura ter sido escolhida por
Moreira Lima, integrante da Coluna e responsável direto pela elaboração do diário de campanha dos rebeldes.
Escolheu-se Foz do Iguaçu como o local de surgimento da Coluna Prestes em função do fato de que, até o
encontro entre as forças paulistas e gaúchas, na cidade paranaense, o movimento revolucionário não tinha seu
destino determinado. Mesmo que a intenção de Prestes, desde o início, tenha sido a de empreender uma guerra
de movimento contra o governo federal, essa estratégia só foi absorvida pelo Estado-Maior revolucionário em
Foz do Iguaçu. Neste local, ficou acordado que os rebeldes deveriam marchar pelo país, esperando engrossar
suas fileiras para, em seguida, derrubar Artur Bernardes.
11 A dura realidade encontrada fez os jovens tenentes compreenderem que a dominação das elites sobre as camadas
mais humildes da sociedade brasileira ocorria de modo muito mais intenso e complexo do que supunham. A fome
e a miséria grassavam o interior brasileiro e, na maioria das vezes, a única maneira de diminuir ou amenizar
os nefastos efeitos desse quadro era associar-se aos líderes locais. Assim, os rebeldes compreenderam que suas
reivindicações por voto secreto, maior transparência na gestão do Estado e livre manifestação dos grupos de
oposição pertenciam a uma realidade distante para as camadas populares nacionais. Antes de preocupar-se com
tais aspectos da cidadania civil e política, a maior parte da população ainda se preocupava com a obtenção de
meios de subsistência.
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A saída da Bahia e a entrada da Coluna em Minas Gerais ocorreu mais por
necessidade que por escolha. Ao atingir o norte de Minas, o alto comando da Coluna
já havia decidido emigrar para o exterior, dada as condições políticas e militares
que enfrentavam. Em um primeiro momento, tal decisão só foi compartilhada
entre comandantes da Coluna, nem mesmo os oficiais sabiam dela. Posteriormente,
com o desenrolar da marcha, a necessidade de buscar abrigo no exterior ficou
clara para todos.
Do norte de Minas Gerais, a Coluna retornou à Bahia, indo até Remanso,
às margens do rio São Francisco. Em seguida, os rebeldes voltaram a Mundo
Novo e cruzaram o estado até Rondelas, onde transpuseram o rio em direção a
Pernambuco. Depois, entraram no Piauí e deixaram rastros na direção do Maranhão,
para tentarem confundir as tropas que os perseguiam. Os rebeldes entraram em
Goiás, seguiram para a região sul de Mato Grosso, retornaram a Goiás e, por
fim, cruzaram a região norte de Mato Grosso até internarem-se em San Matias e
Guaíba, já em território boliviano.
Em dois anos e meio de marchas, lutas e combates, a Coluna Prestes
percorreu mais de 25 mil quilômetros. Ainda hoje, a distância total da Coluna
continua sendo objeto de polêmica. A depender do total de quilômetros atribuídos
ao movimento, esse feito pode ser considerado como a primeira ou a segunda
maior marcha militar da história humana, disputa que tem como contraparte o
percurso de 27.500 quilômetros feito por Alexandre, o Grande. Desse modo, não
foi somente pelo fato de Luiz Carlos Prestes ter-se tornado comunista que tal
empreendimento foi difundido na China, na União Soviética, na Iugoslávia e em
outros países comunistas. A Grande Marcha de Mao Tsé Tung, por exemplo, foi
realizada baseando-se nos feitos da guerra de movimento da Coluna Prestes e,
ao contrário do movimento brasileiro, tornou-se conhecida também no mundo
ocidental (SOUTO MAIOR, 2006, p. 27-47; MOREIRA LIMA, 1979, p. 497-498).
Como a Grande Marcha forneceu as bases para a vitoriosa Revolução
Chinesa, seu estudo e sua difusão foram facilitados. Em contrapartida, como
Prestes tornou-se comunista em 1930, incitou a Intentona Comunista em 1935 e
transformou-se em inimigo do regime getulista, houve forte incentivo para que
tudo vinculado ao seu nome fosse relegado a segundo plano na história do Brasil.
Mesmo após a queda de Vargas, o contexto de Guerra Fria da segunda metade
do século XX foi outro empecilho para a desideologização da história nacional,
dificultando assim o surgimento de novas abordagens a respeito da Coluna Prestes.
Isso tem sido alterado nas últimas décadas. Novos estudos a respeito da
Coluna Prestes apresentam análises mais objetivas, na medida em que se abstêm
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de propagandas político-ideológicas e focam na compreensão da lógica subjacente
aos acontecimentos ligados ao evento. Vale lembrar que, até 1927, Prestes ainda
não havia tido contato com o pensamento marxista-leninista, tendo-se convertido
a ele na Argentina, entre 1928 e 1930.
Como será visto, ao longo de todo o período em que a marcha percorreu
o país, a rede de contatos entre a Coluna Prestes e os rebeldes localizados
na Argentina foi sistematicamente vigiada pelo governo federal com todos os
recursos de que dispunha: serviço de inteligência, informantes e redes consular
e diplomática brasileira no exterior, principalmente a existente na Argentina.
Além das repercussões internacionais e das perturbações domésticas, a influência
da marcha rebelde na Política Externa Brasileira pode ser auferida por meio dos
telegramas trocados entre a embaixada brasileira em Buenos Aires e os consulados
no interior da Argentina, de um lado, e a Secretaria de Estado do Ministério das
Relações Exteriores, no Rio de Janeiro, de outro.
As influências da Coluna Prestes sobre a política externa brasileira
para a Argentina
As políticas externas de Brasil e Argentina na década de 1920
As relações entre Brasil e Argentina na década de 1920 foram caracterizadas
por tensões. Atritos entre os dois países foram constantes nesse período e, como
se verá, a Coluna Prestes foi fator que contribuiu para maior distanciamento entre
os governos de Buenos Aires e Rio de Janeiro.
Embora a PEB tenha apresentado continuidade em vários aspectos, desde
o início da República Velha, a atuação externa brasileira sofreu oscilações
decorrentes de opções políticas e preferências diplomáticas elaboradas de
acordo com necessidades de cada momento. Segundo Eugênio Vargas Garcia (2006,
p. 25-26), a década de 1920 foi caracterizada por três eixos de ação da política
externa brasileira: os Estados Unidos, a Europa e a América do Sul. A análise da
ação externa, nesse período, deve levar em conta:
um contexto interno de crise política e institucional, prevalência do modelo
agroexportador, dificuldades econômicas, dependência do capital estrangeiro
e limitada capacidade estratégico-militar. Convém assinalar que a formulação
e a execução da política externa estavam dominadas por pequeno círculo
de elite, basicamente atores ligados ao Ministério das Relações Exteriores
e a setores do governo federal. (GARCIA, 2006, p. 25)
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A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
“Na cultura política oligárquica, a ‘amizade’ pressupunha compromissos
e obrigações mútuas entre os membros da comunidade. A amizade entre iguais
significava aliança, a amizade entre desiguais, proteção em troca de lealdade”
(GARCIA, 2006, p. 585). Enquanto o Brasil interpretava sua relação com os EUA
como sendo entre iguais, os norte-americanos não recebiam o que esperavam
pela proteção prestada, e esse quadro gerava dissonâncias nas relações entre
os dois países. As expectativas norte-americanas de lealdade brasileira não
se confirmaram, porque a política externa brasileira não se baseava em um
alinhamento automático” com os EUA, na década de 1920. A recusa do Brasil
em assinar o Pacto Briand-Kellog – ou Tratado de Paris – e a decisão de não se
retirar da Liga das Nações, em um primeiro momento, demonstraram tal assertiva.
Em relação à Europa, a política externa brasileira tinha como principais
preocupações questões comerciais, financeiras e de status. O envolvimento do
Brasil em assuntos políticos no Velho Continente buscava dotar o país de prestígio
internacional. Lutando por um assento permanente no Conselho da Liga das
Nações, o Brasil pareceu demonstrar não ter calculado bem seu peso na esfera
internacional, à época, e acabou por gerar crise significativa no âmbito da Liga, ao
vetar a entrada da Alemanha e, ato contínuo, anunciar sua retirada do Conselho
e da própria Organização.
No âmbito da América do Sul, a diplomacia brasileira não se pautou
por questões econômicas, uma vez que o comércio exterior do país era feito
majoritariamente com os EUA e com a Europa. Nos anos de 1920, as principais
preocupações do Brasil em relação à sua vizinhança passavam por aspectos
estratégicos, militares e políticos. Sentindo a necessidade de modernizar e reequipar
suas Forças Armadas, o Brasil buscou atuar no cenário internacional de modo a
obter legitimidade para seu empreendimento. Tal fato, no entanto, foi responsável
por aumentar a rivalidade com a Argentina, gerando tensões entre os dois países
(GARCIA, 2006, p. 587-588)
12
.
Amado Cervo (1994) e José Carlos de Macedo Soares (1927) concordam que
a atribulada gestão de Félix Pacheco foi uma maneira de tentar neutralizar as
12 Os efeitos dos esforços brasileiros para modernizar suas Forças Armadas foram prejudiciais à imagem externa
do país. Após a I Guerra Mundial, tópicos sobre desarmamento e limitação da capacidade bélica dos países
dominavam a agenda internacional. Desse modo, a diplomacia nacional trabalhou no sentido oposto ao do
restante do mundo e suscitou desconfianças em sua vizinhança. Desde a chancelaria de Rio Branco, a rivalidade
com a Argentina já se havia intensificado. O temor de uma “relação especial” entre Brasil e Estados Unidos e
o desejo do primeiro em reequipar-se militarmente despertaram temores nos argentinos. Para mais detalhes,
ver Garcia, 2006, p. 218-221; 587-588; Paradiso, 2005, p. 109-110.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
199
Mateus Fernandez Xavier
repercussões das revoltas internas, tanto na esfera internacional quanto no âmbito
doméstico. Eugênio Vargas Garcia (2006, p. 491-492; 601) demonstrou como o
corpo burocrático do Ministério das Relações Exteriores – MRE – foi utilizado
para tentar neutralizar os efeitos e as repercussões danosos que os movimentos
domésticos de contestação tiveram no exterior.
Exemplo desse fato pode ser encontrado ao analisar a marcha da Coluna
Prestes. Esse movimento causou repercussão principalmente na América do Sul.
As missões diplomáticas do Brasil em Assunção, Buenos Aires, Montevidéu e La
Paz mandavam ao Rio de Janeiro informes e outras correspondências diplomáticas
com frequência, dando ciência ao governo federal dos passos dos jovens oficiais.
Dessa maneira, a política externa platina do Brasil, durante o mandato de Bernardes
e início do governo de Washington Luis, empreendeu significativo esforço junto
às nações vizinhas, para neutralizar o empreendimento logístico da Coluna e
amenizar as más repercussões advindas do combate contra ela.
Por sua vez, na Argentina, o primeiro governo de Hipólito Yrigoyen, 1916
a 1922, e todo o mandato de Marcelo Torcuato de Alvear, 1922 a 1928, tiveram
como fundamentos a luta por melhor inserção dos bens produzidos pela Argentina
junto à Europa e aos Estados Unidos, demonstrando a ênfase que as autoridades
do país davam à dimensão econômica da política exterior.
Se no início do século XX o principal eixo da Política Externa Brasileira já
havia se deslocado da Europa para os Estados Unidos, o mesmo ainda não era
verdade em relação à política externa de Buenos Aires. Na década de 1920, as
relações da Argentina com a Europa continuaram sendo o centro da atuação
internacional desse país. Segundo José Paradiso (2005):
Um componente central dessa trama de ligações econômicas era o fato
de que a Grã-Bretanha adquiria 76% da carne argentina, sendo 54% da
carne bovina congelada e 99% da resfriada. Nesses itens, em torno dos
quais se articulava a coalizão de interesses econômicos mais poderosa
do país – pecuaristas e empresas frigoríficas –, a subordinação argentina
ao consumidor inglês e ao seu poder aquisitivo era praticamente absoluta.
Esses interesses estavam no centro da ‘relação especial’ com Londres –
por sua vez núcleo básico do ‘europeísmo’ econômico – e influíam nas
decisões que pudessem afetá-los. Eles definiam, em última instância, as
linhas principais da relação do país com o resto do mundo. (PARADISO,
2005, p. 97)
200
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
Assim sendo, quando Artur Bernardes assumiu a presidência da República
e Félix Pacheco, a pasta do Ministério das Relações Exteriores, as percepções de
mundo e as prioridades que ambas as chancelarias tinham eram muito diferentes.
Mesmo com a consecução do Pacto Gondra
13
, instrumento que conseguiu reduzir
as tensões entre os países do Cone Sul, o distanciamento entre as maiores nações
da América do Sul permaneceu durante a década de 1920.
Os esforços do MRE para combater a atuação da Coluna Prestes nos países
vizinhos ocorreram em contexto de tensão, desconfiança e incompreensão entre
Argentina e Brasil. Ao longo desse período, a Coluna Prestes forçou o Itamaraty a
permanecer de prontidão para atuar junto a países vizinhos sempre que atividades
rebeldes eram detectadas em territórios estrangeiros. Se a cooperação auferida
pelo Brasil junto às autoridades paraguaias e uruguaias, por exemplo, foi tida
como satisfatória, o mesmo não ocorreu em relação à Argentina, conforme se
depreende dos telegramas trocados entre a embaixada do Brasil em Buenos Aires
e a Secretaria de Estado, no Rio de Janeiro.
O Itamaraty no combate à Coluna Prestes e aos movimentos que deram
origem à marcha rebelde – a repercussão na política externa brasileira
Entre os anos de 1924 e 1929, as missões do Brasil em Montevidéu, Assunção
e, principalmente, Buenos Aires foram instrumentos importantes para a política
externa de repressão a insurgentes, iniciada por Bernardes e continuada por
Washington Luis. Assim, a questão não foi meramente pessoal, como grande
parcela dos autores que escrevem sobre o tema afirma, posto que um dos objetivos
declarados pelos insurgentes era a queda do governo de Artur Bernardes.
O levantamento de informações pela rede diplomática do Brasil
e as despesas extraordinárias
As críticas da Argentina à política militar e naval do Brasil pode gerar a falsa
impressão de que o MRE atuou somente na defensiva durante a década de 1920.
No entanto, ao reagir perante as diferentes demandas externas, a chancelaria
brasileira não descuidou do combate aos revolucionários.
13 Para maiores informações ver Garcia, 2006, p. 266-267.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
201
Mateus Fernandez Xavier
Como exemplo da atuação do serviço de inteligência do Exército Brasileiro,
pode-se citar a vigilância sobre a movimentação dos rebeldes nas fronteiras do
Brasil com seus vizinhos, além da atenção dada pelos militares à atuação dos
servidores do Itamaraty que trabalhavam nos consulados brasileiros no exterior.
Os dois casos transcritos abaixo são decorrentes do período em que a Coluna
Prestes saiu de Foz do Iguaçu, cruzou parte do Paraguai e ingressou em Mato
Grosso.
Para conhecimento de V. Ex. transcrevo o telegrama do Tenente Romeu
Balster meu agente de informações do Rio Paraná acaba de receber Foz
do Iguaçu: “Foz do Iguaçu 9/6 às 12 horas urgente Gal. Rondon Ponta
Grossa. a (Conforme meu telegrama último de Posadas tem chegado da
zona Mato Grosso Ponta Poran em Encarnación diversos elementos gente
de Prestes creio desertores. (...) Em Encarnación pretenderam iludir boa fé
nosso Consulado fazendo-se passar por emigrados Mato Grosso. Consegui
em tempo reconhecê-los.) – b (Dia 31 próximo findo notei viajarem trem
internacional Assunción para Argentina dois passageiros revolucionários de
Prestes um negro e um menos 14 anos presumíveis. Autoridades argentinas
quando comboio procede Assunción chega território argentino revistam
rigorosamente e exigem passaporte. Como esses dois passageiros passaram
presumo que existe alguma facilidade fornecimento de passaporte em nosso
Consulado Assunción.) (...) e – (General Isidoro continuando Assunción
telegrafou Simas Enéas dizendo que dinheiro todo deveria ser entregue a
Miguel Costa. (...) Saudações Tte Balster.” Essa informação que é verdadeira
nos mostra que Assunción e Posadas são centros atuais de onde os chefes
rebeldes continuam a incentivar o bando que invadiu os sertões de Mato
Grosso. (...) (AHI. Rondon a Pacheco, tel. nº 2129, Ponta Grossa, 1925,
Lata 46, maço 377)
Rebeldes continuam auxílios vindos da Argentina. A munição que estão
empregando é reconhecida daquela origem. Seria para desejar que houvesse
mais vigilância nos pontos de acessos desde Bela Vista até Pirahy. Os rebeldes
viviam cruzando em livre trânsito em Bela Vista e Pedro Juan Caballero
para Concepción desde muito tempo. (AHI. Rondon a Pacheco, tel. nº 1813,
Guarapuava, 1925, Lata 46, maço 377.)
Analisando as informações contidas nos telegramas, percebe-se que o Itamaraty
estava informado em relação ao que se passava com os rebeldes. Os dados que
chegavam dos consulados, da inteligência das Forças Armadas e de informantes
civis criaram uma base de dados importante para o governo federal. Não se sabia
das movimentações revolucionárias com profundidade; essa, inclusive, foi uma
202
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
das razões pelas quais a Coluna Prestes conseguiu iludir as forças legalistas em
diversas oportunidades, ao longo de sua marcha pelo país, mas muitas informações
sobre os revolucionários – suas reais condições de combate, seus objetivos de
médio prazo e seus estoques de suprimentos – eram conhecidas por Felix Pacheco
e Artur Bernardes.
Como exemplo da eficiência na coleta de informações por parte do governo,
pode-se citar a previsão de levante revolucionário no Rio Grande do Sul, mais tarde
confirmada pela atuação de Prestes, Siqueira Campos e Juarez Távora. Há destaque
para o cônsul de Posadas, que parecia estar a par de várias movimentações
revolucionárias:
Dei aviso ao Presidente Borges de Medeiros desse plano dos revoltosos, que
iniciarão a seção, invadindo súbita e simultaneamente o Rio Grande, por
municípios de Palmeiras, São Luiz, Santo Ângelo, Bagé e Sant´Anna. João
Francisco espera aviso de Tavora para vir a Posadas e seguir ao encontro de
Zecca Netto e Leonel Rocha. Respeitosamente, (A) Paulo Demodoro. Cônsul.
(AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 203, 14 out. 1924, Buenos Aires, 208/03/02)
Uma das maneiras encontradas pelo governo federal para obter quantidade
expressiva de dados a respeito dos rebeldes foi o pagamento de informantes,
conforme se depreende do seguinte telegrama de 27 de maio de 1925:
Apurar melhor denúncia Mendes dizendo-lhe não teremos dúvida pagar-lhe
os 3.500 pesos pedidos, mas depois que ele nos forneça as provas das
informações que deve possuir. (AHI. Pacheco a Toledo, tel., nº 82, RJ, 27
mai. 1925, 208/02/03)
Pela documentação pesquisada no Arquivo Histórico do Itamaraty, nota-se
a existência de significativo número de “despesas extraordinárias” geradas pela
Embaixada Brasileira em Buenos Aires e pelos consulados do Brasil em Posadas,
Paso de los Libres, São Tomé e Alvear, durante o período em que a Coluna
Prestes marchou pelo país. Além do atendimento a necessidades urgentes de
famílias brasileiras que imigraram em busca de segurança, do reabastecimento de
tropas federais e do financiamento de operações militares próximas às fronteiras,
o pagamento de particulares por informações vinculadas às atividades rebeldes foi
um dos principais sorvedouros das “despesas extraordinárias”, sendo consideráveis
as somas de recursos liberados aos postos da região platina (AHI, 208/02/03; AHI,
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208/02/04; AHI, 208/02/05; AHI, 208/02/06; AHI, 208/03/01; AHI, 208/03/02).
O pagamento de pessoas que tinham informações a respeito dos rebeldes
fica também comprovado por meio de outro telegrama com o seguinte conteúdo:
Telegrama de Posadas para La Prensa dizem todas as forças rebeldes
encontram-se em Foz do Iguaçu (...). Comando rebelde solicitou representante
imprensa intervenham autoridades telégrafos argentino, uruguaio evitem
violação despachos, dizem praticadas Libres, Santo Tomé, Caseros,
Alvear, Artigas, Rivera, Mello e Rio Branco, mediante suborno pessoas
interessadas. (AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 199, Buenos Aires, 10 out,
1924, 208/02/03)
Algumas conclusões interessantes podem ser retiradas desses despachos
telegráficos em destaque e de outros com conteúdo similar constantes do
Arquivo Histórico do Itamaraty. Em primeiro lugar, parece não haver dúvidas de
que o serviço de inteligência das Forças Armadas brasileiras atuou, de maneira
estreita, com os cônsules brasileiros na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, em
contexto de articulação entre o Itamaraty e o Ministério da Guerra, tal como era de
antever-se. Também, como era esperado, o pagamento por informações relacionadas
à movimentação dos revolucionários foi atitude praticada pelos postos do Brasil
no exterior, conforme o aumento das “despesas extraordinárias” dessas missões
atesta. Surpreendente, no entanto, foi a capacidade de infiltração dos interesses
brasileiros sobre os serviços de telégrafos estrangeiros
14
. Para obter dados sobre os
rebeldes, o governo de Artur Bernardes conseguiu violar os despachos telegráficos
que transitavam nas redes domésticas da Argentina e do Uruguai
15
.
Sabendo que os membros da Coluna Prestes combatiam a censura interna
no Brasil por meio do envio de informações à imprensa argentina
16
, as autori-
dades brasileiras conseguiram subornar pessoas que trabalhavam nos telégrafos
estrangeiros, para obter o conteúdo das mensagens que os rebeldes enviavam
14 De acordo com denúncias do jornal La Prensa, de 5 de dezembro de 1924, o governo brasileiro chegou a subornar
funcionários de prefeituras argentinas, do sistema de transporte ferroviário e dos telégrafos com a finalidade
de obter informações sobre os revolucionários. Maiores informações podem ser encontradas em AHI. Toledo a
Pacheco, tel. nº 386, Buenos Aires, 6 dez., 1924, 208/02/03.
15 Os dados relatados em AHI, Toledo a Pacheco, tel. nº 237, Buenos Aires, 31 out., 1924, 208/02/03, também
parecem ter sido obtidos por meio de violação de despachos telegráficos.
16 Os revolucionários tinham grande facilidade de acesso aos meios de comunicação argentinos, como jornais
e revistas, e deram a eles, por diversas vezes, entrevistas e declarações que incomodavam o governo federal
brasileiro (AHI 208/03/02 e AHI 208/03/04).
204
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A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
à imprensa estrangeira
17
. A existência dos dados do telegrama 199, de 10
de outubro de 1924, comprova que houve violação da correspondência dos
rebeldes
18
.
De outra feita, conclusão interessante a respeito do comportamento dos
comandados de Isidoro Dias Lopes também chama atenção. Além de combater
as forças do governo federal por meio de propaganda e de ações militares, os
membros da Coluna Prestes também produziram atividades de contrainteligência
ao longo da marcha. Os rebeldes sabiam que o governo de Artur Bernardes
havia mandado violar despachos telegráficos, subornar particulares e pagar por
informações a respeito da movimentação revolucionária, e, mais uma vez, o
conteúdo do telegrama 199 comprova isso, assim como outras correspondências
do período. Impressiona, no entanto, o fato de que também os revolucionários
tinham informantes no sistema de telégrafos do Brasil, conforme o embaixador
Pedro de Toledo apurou e avisou à Secretaria de Estado, no Rio de Janeiro:
Quer dizer que os revolucionários têm no Telegrafo Nacional ou no Cabo
Submarino quem lhes dê cópia dos telegramas oficiais, convindo por isso que
os cônsules não transmitam por esse meio notícias que possam comprometer
o movimento de tropas legais contra os rebeldes. (AHI. Toledo a Pacheco,
tel., nº 403, Buenos Aires, 15 dez, 1924, 208/02/03)
Além de informantes nos telégrafos, os revolucionários tinham outros métodos
para a obtenção de dados e para enganar o governo federal. Ao fazerem-se passar
por emigrados, desertores ou particulares comuns, os rebeldes que se direcionavam
aos consulados brasileiros no exterior buscavam recursos do governo que poderiam
17 Esses subornos parecem ter sido financiados pela mesma fonte de renda que sustentou a obtenção de informações
sobre os rebeldes, ou seja, as “despesas extraordinárias” dos postos brasileiros na Argentina.
18 Há outra possibilidade para a obtenção de informações como as contidas do telegrama 199. Caso o governo
brasileiro tivesse informantes infiltrados nos jornais argentinos ao invés dos telégrafos, os despacho telegráficos
enviados pelos rebeldes aos periódicos platinos poderiam chegar ao conhecimento das autoridades brasileiras. Essa
possibilidade parece menos crível em função de alguns aspectos. Em primeiro lugar, o governo não sabia quando
e para qual jornal, ou jornais, os rebeldes enviariam mensagens – os contatos rebeldes com a imprensa argentina
envolviam mais de um meio de comunicação. No entanto, o governo conhecia em quais cidades estrangeiras as
atividades subversivas ocorriam. Em segundo lugar, qualquer pessoa vinculada aos diários argentinos pensaria
duas vezes antes de vazar informações que pudessem prejudicar sua fonte. Além de poder perder a confiança
dos revolucionários e deixar de gerar receitas com a venda de notícias, a repercussão negativa que o caso geraria
poderia prejudicar a empresa que fornecesse essas informações ao Brasil. Em terceiro lugar, o serviço de inteligência
rebelde e os jornais argentinos afirmaram que a violação dos despachos ocorria nas cidades de “Libres, Santo
Tomé, Caseros, Alvear, Artigas, Rivera, Mello e Rio Branco, mediante suborno pessoas interessadas”, conforme o
telegrama 199 deixou claro. Conferir AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 386, Buenos Aires, 6 dez., 1924, 208/02/03.
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ser úteis ao movimento – dinheiro por informações falsas ou vistos para faturas de
exportação
19
–, além de tentar confundir as autoridades nacionais a respeito das
operações da Coluna, por meio de informações equivocadas. É provável que sejam
essas as principais razões pelas quais Pacheco chamou a atenção dos servidores
no exterior para não se equivocar, “tomando rebeldes como legalistas”
20
, e para
fornecer comprovação das “despesas extraordinárias” lançadas na contabilidade
de seus postos.
O conhecimento de que o governo brasileiro estava disposto a pagar por ações
ou informações que trouxessem prejuízos à Coluna Prestes não ficou restrito a
pequeno grupo de pessoas. Exemplo disso é encontrado em correspondências de
setembro de 1924, enviadas de Buenos Aires para o Rio de Janeiro. De acordo com
o embaixador brasileiro na Argentina, um caudilho paraguaio de nome Plácido
Jara procurou aquela embaixada, para desmentir o boato de que participava
da Coluna Prestes e deu a entender que colocava seus serviços à disposição do
governo brasileiro. Toledo desaconselhou a contratação de Jara, por considerá-
lo perigoso e pouco confiável, mas deixou isso em aberto, para decisão final de
Pacheco. Cinco dias depois, o mesmo caudilho procurou, novamente, a missão
brasileira em Buenos Aires, para oferecer a organização de uma força de mil
homens que viessem a combater os rebeldes, caso eles atravessassem a fronteira
com o Paraguai. Novamente, Toledo desaconselhou a contratação dos serviços
desse caudilho
21
.
Esse exemplo demonstra que, à época, na região platina, muitas pessoas
sabiam que o Brasil estava disposto a pagar por todo tipo de ação ou informação
que pudesse ser usada contra os rebeldes. Isso atraiu particulares que desejavam
tirar proveito das verbas disponibilizadas pelo governo federal seja por meio de
19 Ao que parece, no período em análise, todo produto argentino que tivesse o mercado brasileiro como destino
deveria ter suas faturas visadas no consulado brasileiro mais próximo, antes de ingressar em território nacional.
O tráfico de armas é analisado mais adiante. Pelos dados do efetivo rebelde muito acima do real que foram
informados às autoridades brasileiras no telegrama AHI, Toledo a Pacheco, tel. nº 29, Buenos Aires, 16 jan.,
1925, 208/02/04, pode-se ter ideia de como os rebeldes plantavam informações falsas nos consulados, com
vistas a ludibriar o governo quanto ao seu real poder de fogo.
20 Como exemplo, podem-se citar as constantes tentativas dos rebeldes de obter vistos de exportação junto aos
consulados brasileiros. Em alguns casos, equívocos foram cometidos, e os revolucionários conseguiram ter suas
faturas visadas por essas repartições. Nessas ocasiões, inquéritos foram instaurados, para averiguar se houve
ou não conivência dos servidores do posto, seguindo ordem da Secretaria de Estado. Conferir AHI, Pacheco a
Toledo, tel., RJ, 14 out., 1924, 208/03/01.
21 Maiores detalhes podem ser encontrados em AHI, Toledo a Pacheco, tel., nº 154, Buenos Aires, 24 set. 1924,
208/02/03; AHI, Toledo a Pacheco, tel., nº 170, Buenos Aires, 29 set. 1924, 208/02/03.
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A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
informações falsas
22
, seja por meio de dados fidedignos e de serviços a serem
prestados. Encontram-se, na correspondência do período, relatos de que a
“vigilância” sobre os rebeldes seria suspensa caso não se enviassem os recursos
solicitados pelos cônsules (AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 55, Buenos Aires, 28
jan., 1925, 208/02/04; AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 223, Buenos Aires, 8 mai.,
1925, 208/02/04). comprovando, assim, mais uma vez, o pagamento de particulares
para o constante monitoramento dos membros da Coluna.
Com vistas a coibir eventuais enganos por parte dos funcionários dos
consulados e dar maior eficiência às ações de combate aos revolucionários,
o Itamaraty intensificou seu controle sobre as ações dos postos do exterior.
A vigilância sobre os servidores foi de tal monta que, além de punir e desautorizar
quem agisse de maneira autônoma, Félix Pacheco deu instruções para Pedro
de Toledo instaurar inquéritos sigilosos contra servidores que trabalhavam
nos consulados brasileiros na Argentina, incluindo, no rol de investigados,
os próprios cônsules. Havia o temor por parte do governo de que os rebeldes
poderiam estar recebendo ajuda de funcionários consulares, conforme denúncias
ocorridas à época e de acordo com relatos do serviço de inteligência das
Forças Armadas (AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 267, Buenos Aires, 5 nov.,
1924, 208/02/03; AHI, Lata 46, maço 377). A Secretaria de Estado transmitiu
ordem para que nenhum tipo de facilidade consular fosse disponibilizado aos
revolucionários, podendo ser punido quem procedesse de maneira contrária.
O controle sobre os postos na Argentina deveria ser estrito em função do objetivo
do governo brasileiro de cortar a rede de abastecimento rebelde situada neste país.
O combate ao tráfico de armas pelo Itamaraty e a cooperação argentina
Dentre os problemas gerados no âmbito internacional pelos revolucionários
da Coluna Prestes, o tráfico de armas, munições e víveres foi, talvez, aquele que
mais exigiu esforços por parte do Itamaraty, conforme se passa a averiguar. Pouco
depois de eclodir o Segundo 5 de Julho, em São Paulo, a Secretaria de Estado já
22 A tentativa de contratar o cangaceiro Virgulino Ferreira – conhecido como Lampião – e a formação de Batalhões
Patrióticos foram exemplos de disposição do governo federal em pagar particulares dispostos a combater a
Coluna Prestes. O caso de Lampião, no entanto, também ilustra como o governo federal foi iludido em algumas
situações. Tal parece ser a intenção de Placido Jara, segundo diagnóstico do embaixador Pedro de Toledo.
O risco de perder os recursos que, eventualmente, seriam passados a esse caudilho não seria compensado pelos
serviços que ele estava disposto a conceder ao Brasil. Ademais, sabendo que ele era um agitador, também
se corria o risco de criar problemas com o Paraguai, caso Jara, financiado pelo Brasil, provocasse distúrbios.
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havia sido informada por Demétrio de Toledo, então cônsul em Paso de los Libres,
da precária situação existente na fronteira do Brasil com a Argentina, na região
compreendida entre as cidades de Uruguaiana, Paso de los Libres e adjacências
– fronteira do Rio Grande do Sul com Corrientes. Em relatório de mais de 50
páginas, o cônsul expôs que o contrabando de víveres entre os dois países era
algo problemático e causava grandes prejuízos ao erário nacional em razão dos
impostos sobre importação e exportação que deixavam de ser arrecadados
23
.
Conforme o relato em questão, a situação precária da fiscalização alfandegária
na fronteira entre Brasil e Argentina era bem conhecida em toda a região. Como
muitos dos revolucionários eram do Sul, o mais provel é que tenham escolhido
a Argentina como base logística de suas operações em decorrência da deficiência
de atuação das autoridades. A relativa facilidade de escoar armas, munições e
víveres através da fronteira contribuiu para que os rebeldes obtivessem recursos
e criou mal-estar nas autoridades brasileiras em relação ao governo argentino.
Uma das primeiras atitudes do governo brasileiro foi enviar ordem a todas as
missões da região do Prata para que tivessem rigorosa atenção em suas emissões
de licenças de exportação de bens da Argentina para o Brasil. Assim, a tentativa
de obter maior controle fronteiriço sobre os bens que entravam no país começou
logo após o Segundo 5 de Julho, em São Paulo, conforme Félix Pacheco deixou
claro por meio de telegrama emitido em 8 de julho de 1924: “autorizo consulado
legalizar embarque toda e qualquer quantidade armamentos munições que governo
Rio Grande do Sul importar” (AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 31, RJ, 8 jul., 1924,
208/03/01)
24
. Em outras correspondências isso também fica evidente:
Governo recomenda que consulados não permitam embarques de armas,
munições e explosivos para o Brasil sem licença especial que deverá ser
pedida para cada caso por intermédio deste Ministério. Rogo providenciar
para exato cumprimento destas instruções. (AHI, Pacheco a Toledo, tel. nº 50,
RJ, 17 set., 1924, 208/03/01)
A intenção era cortar a rede de abastecimento revolucionária localizada
no exterior, dificultando as ações dos rebeldes no âmbito doméstico. Apesar de
todo o esforço do governo federal, o contrabando não foi eliminado. Em julho
23 Informe do cônsul Demetrio de Toledo a Félix Pacheco, AHI, Lata 518, maço 8427.
24 Convém lembrar que tais armas poderiam ter como objetivo combater os opositores de Borges de Medeiros que
haviam lutado contra ele em 1923, mas, após o Pacto de Pedras Altas, assinado em dezembro de 1923, o mais
provel era que tais recursos bélicos tivessem como alvo os rebeldes de São Paulo.
208
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A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
de 1925, quando a Coluna Prestes havia acabado de enfrentar forças legalistas
comandadas por Bertoldo Klinger na invernada denominada Zeca Lopes, no estado
de Goiás, a Secretaria de Estado retransmitiu à Embaixada brasileira em Buenos
Aires telegrama com o seguinte conteúdo:
Rogo atenção de Vossa Ex. para os seguintes telegramas reservados, que
acabamos de receber da fronteira:
“Os caixões de armas estavam ocultos em Garruchos e foram transportados
para S.Xavier em carroças, acompanhando uma mudança simulada destinada
a Caseros. O Chefe de serviço assumiu o compromisso de interceptá-la.
Fidencio Mello, Leonel Rocha e Honorio Lemos desembarcaram ontem em
Caseros.”
“O chefe de serviço conseguiu desviar o destino de uma caixa com vinte
e cinco armas Mauser, modelo 1894, vindas de S.Xavier e endereçadas ao
sanatório Brasil Vianna, em Caseros, com o rótulo de material cirúrgico.
Em Garruchos estão ocultos cinco caixas de armas, que Leonel Rocha
e Fidencio Mello providenciam para transportá-las Caseros ou Yapeiú.
As armas apreendidas pelo chefe de serviço estão ocultas em Porto
Candelaria. Honório Lemos partiu na noite de vinte e sete para Estação
Itapevicua, em companhia de tropeiros simulados, com destino a Concordia.
À Fazenda dos Mendes, Porto de Caseros chegam diariamente grupos de
seis a oito indivíduos, dizendo-se praças, mas são rebeldes vindos de
S.Tomé e Libres.”
Nossas forças fronteiras e autoridades uruguayas estão vigilantes para
impedir qualquer passagem de armas. (AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 90,
RJ, 1 jul., 1925, 208/03/01)
25
No segundo semestre de 1926, já na fase final da marcha revolucionária,
ocorreram apreensões de armas e munições na fronteira com a Argentina, conforme
telegramas desse período evidenciam. Em correspondência de 17 de setembro de
1926, direcionada à Embaixada brasileira em Buenos Aires, por exemplo, em nome
do ministro da Guerra, Félix Pacheco solicitou a Pedro de Toledo que obtivesse,
junto ao governo argentino, facilidades para o livre trânsito de armas e munições
apreendidas dos rebeldes na cidade de Encarnación, localidade defronte a Posadas
(AHI. Pacheco a Alves, tel. nº 54, RJ, 17 set., 1926, 208/03/01; AHI. Rio Branco a
25 As localidades de São Xavier e Caseros, mencionadas na mensagem, são as cidades atuais de Porto Xavier, na
divisa do Rio Grande do Sul com a província argentina de Missiones e Caseiros, localizada no norte do estado
gaúcho. Isso demonstra que a divisa entre Brasil e Argentina, do sul do Rio Grande até o oeste do Paraná, era
região vulnerável à atividade de contrabando, na década de 1920, conforme relatório de Demétrio de Toledo.
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Mateus Fernandez Xavier
Mangabeira, tel. nº 37, Buenos Aires, 15 fev., 1927, 208/02/05), comprovando
a coordenação entre Itamaraty e Forças Armadas na perseguição à Coluna Prestes.
Com o intuito de combater os revolucionários, diversas gestões foram feitas
junto às autoridades portenhas entre 1924 e 1927. As articulações do governo
brasileiro com a Argentina envolveram pedidos a funcionários de postos policiais
e alfandegários de fronteira, coordenação de ações com governadores de
províncias
26
, reuniões com o ministro das Relações Exteriores, Àngel Gallardo,
e conferências com o presidente Marcelo T. de Alvear. Como se pode deduzir
pelas correspondências constantes no Arquivo Histórico do Itamaraty, no aspecto
formal, a Argentina não se furtou ao esforço de atender aos pedidos brasileiros,
no entanto, no aspecto prático, as ações desse país deixaram a desejar, segundo
a perspectiva de Félix Pacheco.
Tentando dar maior efetividade no combate aos rebeldes, os cônsules
brasileiros foram instruídos a procurar estrita cooperação com as autoridades
das províncias em que atividades de membros da Coluna eram detectadas. Foi
nesse sentido que o cônsul em Posadas, Paulo Demoro, manteve conversações
com os delegados da região, com o governador da província de Missiones e com
o presidente do Paraná.
Transmito (...) Conversa com governador manifestei receios possibilidade
vice-cônsul argentino Iguaçu ser surpreendido pedido armadores para
legalizar documentos relativos cargas mercadorias embarcadas portos
brasileiros e na boa fé as atender. Governador telegrafou de Aguirre a fim
evitar possa realizar-se minha previsão, e que obstaria consulado embarcar
aqui, medida último caso pretende usar. Sei que Rivera, República Uruguay,
foram transmitidos telegramas para João Francisco, dirigidos aqui e
Aguirre. Procurarei informações mais completas. Assinado Paulo Demoro,
Cônsul Brasil em Posadas. (AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 169, Buenos
Aires, 29 set., 1924, 208/02/03)
27
As gestões feitas por Pedro de Toledo junto a Àngel Gallardo também merecem
destaque. Após a eclosão do movimento revolucionário sob comando de Isidoro
Dias Lopes, Toledo passou a pedir maior cooperação da Argentina para repreender
26 Entre 1924 e 1927, os contatos do Itamaraty com os governadores de Missiones, Corrientes e Entre Rios foram
constantes. A cooperação fornecida por essas autoridades ajudou o Itamaraty a obter muitos dados sobre as
atividades revolucionárias.
27 Esse telegrama, novamente, evidencia a capacidade de o governo brasileiro violar os despachos telegráficos
rebeldes. Uma vez mais, os indícios apontam para interceptações na fonte das mensagens e não em seus destinos,
tal como discutido anteriormente.
210
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
as atividades dos membros da Coluna Prestes que viessem a ocorrer em seu
território. Entre essas medidas, estavam incluídos maior rigor na fiscalização
fronteiriça, internação de rebeldes que emigrassem para esse país vizinho,
extradição de alguns brasileiros e informações a respeito de movimentações dos
revolucionários:
Conversei com o ministro sobre os seguintes assuntos:
1º. Contrabando na fronteira. Informei em Santo Tomé e outras partes
da fronteira argentina continuava o contrabando de armas, gasolina etc
para os revoltosos, segundo denunciavam nossos cônsules. Respondeu
que atendendo minhas anteriores gestões havia providenciado junto às
autoridades argentinas fronteiriças para evitar quanto possível esses e
outros contrabandos. Hoje renovaria a expedição de ordens severas no
mesmo sentido.
2º. Reuniões de grupos revolucionários nas fronteiras. Também estavam
dadas ordens para evitá-las, de acordo com o que antes eu havia pedido:
prometia ratificá-las com energia e assegurou maior simpatia fará tudo esteja
a seu alcance para auxiliar o Governo brasileiro na manutenção da ordem e
restabelecimento da paz. Porém, não pode impedir que os revolucionários
e legalistas atravessem desarmados o território argentino, considerando
todos como simples passageiros, desde que respeitadas as leis de polícia e
outras do país.
3º. Firma Siqueira Campos & Companhia. O assunto exposto não é de
competência do Governo e sim do Poder Judiciário, caso os interessados
reclamem contra a recusa de legalização dos documentos. O Ministro das
Relações Exteriores perguntou por que o Governo brasileiro não mandava
visar as faturas e não tomava depois, no Rio, providências após desembarque
das mercadorias. (AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 266, Buenos Aires, 6 nov.
1924, 208/02/03)
Pela correspondência do período, parece ter existido cooperação por parte
da Argentina. É provável que a fiscalização na fronteira tenha sido melhorada
tanto no lado brasileiro quanto no argentino, e a troca de informações entre as
autoridades dos dois países foi prática recorrente nesse contexto de luta contra
a Coluna Prestes.
Acabo de receber do Ministro das Relações Exteriores uma nota confidencial,
contendo o seguinte radiograma oficial, procedente de Aguirre:
“10 de outubro, Ministro da Marinha, de bordo do Iberá-. Ausentaram-se
hoje o major Rodrigues e o Tenente Perdigão, que, parece, se dirigem ao Rio
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
211
Mateus Fernandez Xavier
Grande do Sul, com o objetivo de ativar os preparativos para a Revolução.
Saíram também, provavelmente com mesmo destino e objetivo, Cunha Bueno
e dois tenentes alemães, que estão a serviço da insurreição. Vinte e dois
refugiados em 8 de outubro, mencionados no radiograma 23, embarcaram
com destino a Posadas e Puerto Irigoyen. Assinado. Gallardo.”
Agradeci ao Governo argentino essa deferência. (AHI. Toledo a Pacheco,
tel. nº 209, Buenos Aires, 15 out., 1924, 208/02/03)
Apesar do esforço por parte da Argentina em ajudar a combater as atividades
revolucionárias que ameaçavam a ordem doméstica do Brasil, a impressão nos
escalões mais altos do governo de Artur Bernardes era que Buenos Aires não estava
disposta a cooperar e apresentava atitude que deixava a desejar se comparada às
ações tomadas pelos governos de Assunção e Montevidéu.
Como exemplo, pode-se citar episódio em que Isidoro Dias Lopes e outros
líderes rebeldes foram à Argentina, para cuidar da articulação da rede de
abastecimento, em novembro de 1924. De posse de tal informação, o Itamaraty
solicitou que Toledo realizasse conferência com o presidente Marcelo T. de
Alvear, para transmitir-lhe tais dados e solicitar medida “enérgica e definitiva”
(AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 69, RJ, 11 nov., 1924, 208/03/01) contra esses
revolucionários. Seguindo instrução dada por Pacheco, Toledo reuniu-se com
Alvear e, depois, informou ao Rio de Janeiro os resultados obtidos:
Tive hoje uma longa conferência, muito cordial, com o Presidente da
República, sobre o propósito de Isidoro e João Francisco de invadir o Rio
Grande do Sul. Pediu detalhes, que enviei imediatamente por memorando.
Prometeu empregar todos os meios ao seu alcance para atender ao meu
pedido, dentro da Constituição e dos precedentes diplomáticos. Manifestou,
em termos muito honrosos, o interesse do governo argentino em concorrer
e facilitar a obra desse governo para o restabelecimento da paz e concórdia
na família brasileira. (AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 311, Buenos Aires, 12
nov., 1924, 208/02/03) Destacou-se.
Poucos dias depois, Gallardo enviou notificação a Toledo a respeito das
movimentações rebeldes no interior da Argentina. Segundo correspondência
enviada à Embaixada brasileira em Buenos Aires, o governador de Missiones
informou ao Ministério do Interior argentino, em 12 de novembro de 1924, que
“os chefes revolucionários brasileiros Isidoro Dias Lopes, João Francisco (...)
desembarcaram em porto caçador (...) seguindo viagem de automóvel em direção
S. Tomé, Corrientes, vigiado convenientemente pela polícia do destacamento
212
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
dessa região” (AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 323, Buenos Aires, 14 nov., 1924,
208/02/03). Pela correspondência analisada, fica evidente que as autoridades
argentinas revistaram os rebeldes brasileiros e, não tendo nenhuma razão para detê-
los, liberaram seu trânsito, vigiando-os, no entanto. O pedido de uma “providência
enérgica e definitiva para obstar que aqueles dois celerados prosseguissem em
seu diabólico intento.”
(AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 69, RJ, 11 nov., 1924,
208/03/01) não foi atendido. Como resposta a esse telegrama, Pacheco emitiu a
seguinte mensagem a Pedro de Toledo:
Agradeço seu 323. A Argentina perdeu infelizmente a ocasião de fazer um
gesto de boa amizade para conosco. O Memorando é uma confissão que
nos penaliza. Notamos com profundo pesar o contraste dessa atitude frouxa
com a solicitude das autoridades uruguaias e paraguaias de fronteira. Vossa
Excelência, entretanto, não deve dar-se por achado, sem demonstrar o menor
ressentimento. Temos elementos para manter a paz pública em nossa terra,
ainda que a complacência das autoridades na fronteira desse país vizinho
e amigo embarace e dificulte a nossa ação. (AHI. Pacheco a Toledo, tel.
nº 71, RJ, 17 nov., 1924, 208/03/01).
A vontade do governo brasileiro era que as autoridades argentinas internassem
os líderes rebeldes que estivessem atuando no território desse país, independente
dos procedimentos formais que a situação demandava
28
. Como relatado por Toledo
no telegrama nº 266, de 6 de novembro de 1924, Gallardo havia deixado claro
que a polícia argentina não poderia impedir a livre passagem de legalistas ou
rebeldes que, desarmados, comprometessem-se a respeitar a ordem pública e as
leis locais. Essa interpretação foi reforçada ainda pelo Presidente Marcelo T. de
Alvear quando afirmara que tomaria todas as medidas ao seu alcance, “dentro
da Constituição e dos precedentes diplomáticos”. Tal atitude foi interpretada
pelo governo brasileiro como leniência e má vontade argentina em relação aos
problemas brasileiros.
A irritação do Itamaraty em relação à Argentina foi constante nos anos
de 1924 e 1925
29
. Depois de diversas gestões de Toledo junto a Gallardo e ao
Presidente Alvear, o governo brasileiro não conseguiu demover as autoridades
28 Por meio do telegrama AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 312, Buenos Aires, 13 nov. 1924, 208/02/03, Toledo deixa
claro que esse pedido foi feito durante a conferência com o Presidente Alvear.
29 A carta de reclamação do cônsul brasileiro Demetrio de Toledo ao governador de Corrientes é exemplar nesse
sentido. Conferir AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 351., Buenos Aires, 23 nov., 1924, 208/02/03.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
213
Mateus Fernandez Xavier
argentinas do respeito aos requisitos legais que a situação em questão demandava.
Diante da frustração de Pacheco em ser constantemente informado sobre as ações
revolucionárias em território argentino, sem poder fazer algo para impedi-las,
o chanceler brasileiro orientou o embaixador em Buenos Aires a fazer uma
reclamação formal perante o Ministério das Relações Exteriores desse país,
quando houve, em maio de 1925, recrudescência das atividades rebeldes nas
áreas próximas à fronteira:
Presidente recomenda-me telegrafar Vossa Excelência para que procure sem
demora Ministro Gallardo salientando todos esses fatos e pedindo internação
urgente daqueles cabecilhas e da gente que se prepara na Argentina para
invadir novamente o Brasil.
Não é possível que esse governo amigo continue a recusar-nos esse pequeno
serviço. V. Excelência deveria mesmo conversar depois em nota a nossa
justa solicitação que é também uma reclamação. (AHI. Pacheco a Toledo,
tel. nº 75, RJ, 10 mai., 1925, 208/03/01)
Quanto mais intensas eram as atividades rebeldes na fronteira, mais a atitude
legalista da Argentina irritava Pacheco e Bernardes. Com vistas a conseguir que
indivíduos suspeitos fossem barrados nas fronteiras de ambos os países, Pedro
de Toledo chegou a tentar um acordo de cavalheiros com Gallardo, baseando-se
em princípios de Direito Internacional. Circular emitida pela Secretaria de Estado
orientou os consulados na Argentina a “impedir que pessoas indesejáveis ou
quaisquer outras desprovidas de documentos penetrem pela fronteira, dentro
de sua jurisdição, em território brasileiro” (AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 337,
Buenos Aires, 18 nov., 1924, 208/02/03). Sustentava tal diretriz a promessa de
reciprocidade por parte das autoridades argentinas. Tal articulação, no entanto, não
produziu os efeitos que o governo brasileiro desejava, e Pacheco chegou a afirmar
que o fracasso do governo federal em derrotar os revolucionários era decorrente do
fato de os rebeldes “contarem com a falta de rigor das autoridades argentinas”
(AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 89, RJ, jun., 1925, 208/03/01).
De outro modo, apesar de os altos escalões do governo brasileiro interpretarem
como lenientes as atitudes da argentina destinadas a coibir as atividades rebeldes
em seu território, em março de 1927, Isidoro Dias Lopes afirmou, em entrevista
a jornais argentinos, que a revolução só teria falhado por falta de apoio das
autoridades vizinhas em permitir o abastecimento das forças rebeldes com armas
214
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
e mantimentos (AHI. Rio Branco a Mangabeira, tel. nº 67, Buenos Aires, 22 mar.,
1927, 208/02/05). É pouco provável que qualquer meio de comunicação argentino
aceitasse publicar entrevista com conteúdo que pudesse ser utilizado pelo Brasil
para acusar o governo daquele país de cumplicidade com os rebeldes, mas, se
não se pode afirmar que a atitude argentina foi de omissão perante os pedidos
do Brasil, tampouco pode-se dizer que foi de coerção ativa, tal como desejada
pelo governo brasileiro.
As razões pelas quais a Argentina não se empenhou da maneira desejada
pelas autoridades brasileiras podem ser diversas. A princípio, o mal-estar gerado
pelos episódios em torno do debate sobre a modernização das Forças Armadas
brasileiras e o equilíbrio militar no Cone Sul, anteriores à eclosão do Segundo 5
de Julho, podem ter gerado certa indisposição no governo argentino, em relação
ao problema brasileiro. Esse fator, no entanto, não serve como única explicação.
Outras duas possibilidades para a atitude legalista argentina podem ser
aventadas. Em primeiro lugar, o fato de os rebeldes brasileiros comprarem
produtos argentinos representava lucros para os comerciantes desse país.
As compras feitas pelos membros da Coluna Prestes, ainda que não fossem
extraordinárias, representaram ganhos para as economias das províncias de
Missiones, Corrientes, Entre Rios e Buenos Aires. Mesmo reconhecendo que
tais compras não representavam benefício significativo para a Argentina, há de
salientar-se que, menos ainda, representavam prejuízos a esse país, ao ponto de
demandar uma ação repressora por parte do governo portenho.
Em segundo lugar, a falta de interesse das autoridades argentinas em empenhar
recursos e tempo para debelar as ações dos rebeldes em seu território pode ser
decorrente do fato de que esse país não estava interessado em comprometer parcela
de suas receitas com ações que iriam beneficiar diretamente o Brasil. O dispêndio
de tempo e dinheiro para combater uma revolução que era exclusivamente brasileira
não era visto como algo prioritário para o governo de Alvear. Na década de 1920,
a Argentina tinha como diretriz de política externa os interesses econômicos dos
setores produtores de carnes, trigos e outros bens primários cujo principal mercado
consumidor era a Europa. Comprometer recursos do governo central de Buenos
Aires na perseguição de revolucionários brasileiros que não perturbavam a ordem
doméstica e, além disso, compravam produtos argentinos para enviá-los ao Brasil
era fugir às prioridades estabelecidas pela chancelaria de Ángel Gallardo.
A posição legalista frente às demandas brasileiras pode ter sido a maneira
encontrada de demonstrar que a Argentina colaborava, mas dentro de certos limites.
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
215
Mateus Fernandez Xavier
Para Buenos Aires, esse pode ter sido o modo encontrado para não comprometer
suas receitas com um problema que não lhe dizia respeito. Para o Rio de Janeiro,
ficou a percepção de zelo excessivo em relação a normas e diretrizes legais que
obstavam a solução de um problema grave.
Além disso, como a imprensa portenha acompanhava, de perto, todos os
desdobramentos da atuação dos revolucionários da Coluna Prestes, um conjunto
de ações que não respeitasse preceitos legais poderia ter má repercussão para o
governo de Alvear, prejudicando sua imagem frente à opinião pública. Tal como
constatado por Afrânio de Mello Franco, à época da Conferência Pan-Americana,
em Santiago, a imprensa argentina foi responsável por criar tensões entre Brasil e
Argentina ao longo da década de 1920, e o contexto envolvendo a Coluna Prestes
não foi exceção.
Último ponto que chama atenção nos telegramas acessados no AHI foi a
duração da perseguição aos revolucionários que perdurou mesmo depois do
final do governo de Artur Bernardes. No mandato de Washington Luis, houve
gestões para tentar uma anistia aos rebeldes, mas, como o novo presidente
negou tal indulgência, houve conversações entre Brasil e Argentina para que os
revolucionários obtivessem o status de asilados nesse país. Existiu a aceitação
argentina nesse sentido, mas com algumas condições impostas aos rebeldes.
Os insurgentes aceitaram as condições para desfrutar do asilo político, mesmo
sabendo que não permaneceriam muito tempo em solo argentino. Puderam, assim,
recuperar suas debilitadas saúdes e esperar pelo momento de retornar à vida
pública ou militar no Brasil. Um movimento revolucionário de cunho maior estava
em planejamento conforme as missões do Brasil no exterior já detectavam. De
qualquer maneira, o fato de os participantes terem continuado a sofrer perseguições
e intensa vigilância demonstrou que houve continuidade entre Artur Bernardes
e Washington Luis na política externa de repressão aos movimentos subversivos
da República Velha
30
.
Conclusões
De tudo exposto, percebe-se que a influência dos revolucionários da Coluna
Prestes sobre a atuação externa do Brasil foi significativa entre julho de 1924
e março de 1927. O combate aos movimentos sediciosos do período, a busca
30 Para maiores informações sobre essa continuidade, conferir as correspondências constantes em AHI 208/02/05;
AHI 208/02/06; AHI Lata 46, maço 378.
216
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
por neutralizar as notícias que eram direcionadas ao exterior e a tentativa de
cooperação com os países da vizinhança foram constantes. Os esforços do Itamaraty
foram recompensados por meio da ajuda recebida das autoridades das nações
vizinhas, ainda que Pacheco tenha considerado o empenho da Argentina como
algo comedido.
O contexto foi caracterizado por momentos de tensão e mal-estar nas relações
entre Rio de Janeiro e Buenos Aires. Quando Gallardo assumiu a chancelaria
argentina, a situação entre os dois governos já se encontrava deteriorada, e as
desconfianças mútuas permaneceram ao longo da década de 1920. Pouco depois
da posse de Gallardo no Ministério das Relações Exteriores argentino, ocorreu
a eclosão do Segundo 5 de Julho em São Paulo. Dessa data até o fim da marcha
revolucionária, em março de 1927, o Brasil utilizou-se de seus postos consulares e
de sua Embaixada na Argentina para demandar junto a Alvear ajuda no combate
aos revolucionários que tinham o território desse país como base de operações
logísticas para sua rede de abastecimento.
A cooperação argentina foi realizada de modo constante, mas não da
maneira desejada pelo Itamaraty. Bernardes e Pacheco queriam que Buenos Aires
efetivasse a prisão, a internação ou qualquer outra medida contra os rebeldes que
colocasse fim a suas atividades na região platina. Apesar de Pacheco ter obtido
informações sobre os revolucionários, o governo brasileiro não conseguiu impedi-
los de continuar atuando na Argentina, em decorrência do respeito de Buenos
Aires a diretrizes legais, o que irritou, profundamente, o Itamaraty e o presidente
Bernardes. Para o MRE, os argentinos usavam preceitos legais para disfarçar sua
má vontade em lidar com o caso, o que, como visto, pode não ser totalmente
desprovido de verdade.
Com o levante dos membros da Coluna Prestes, as relações com Buenos
Aires ganharam importância para o Brasil. O uso do Ministério das Relações
Exteriores como instrumento de repressão foi importante estratégia do governo
brasileiro no combate aos rebeldes. O suborno a empregados dos telégrafos e de
outros órgãos dos países vizinhos, o pagamento por informações vinculadas aos
revolucionários e a atuação dos cônsules junto às alfândegas do Brasil e dos outros
países da região platina demonstram como o Itamaraty tentou cercar a atuação
dos membros da Coluna. Ademais, o trabalho em conjunto entre o Itamaraty e o
Ministério da Guerra pode ter ajudado os comandantes militares que combateram
a Coluna Prestes a melhor conhecer a situação dos revolucionários. Ressalte-se,
no entanto, que o conhecimento dessas informações pode ter sido importante,
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Mateus Fernandez Xavier
mas não foi decisivo para as operações do governo, já que as tropas legalistas
não conseguiram derrotar os rebeldes.
31
Nos anos de 1927 e 1928, a vigilância dos postos brasileiros nos Estados
platinos possibilitou ao governo federal saber que algo estava para ocorrer. Um
movimento maior do que o produzido pela Coluna Prestes estaria na ordem do
dia, segundo alguns relatórios enviados pelos cônsules brasileiros em Posadas,
Paso de los Libres, Corrientes, Missiones e Iguazu. Até que ponto tal preocupação
era somente uma especulação decorrente do receio que tais funcionários tinham
e até que ponto esse fato conseguiu predizer a Revolução de 1930 é algo que
os telegramas não permitem concluir. Certo é, no entanto, que, de acordo com
vários autores, Prestes foi convidado a liderar militarmente o movimento contra
Washington Luis, quando ele ainda estava na região platina. Assim sendo, as
conversações preliminares entre rebeldes ilustres, como Siqueira Campos, Juarez
Távora e Luis Carlos Prestes, com os organizadores da Revolução de 1930 podem
ter sido, em algum grau, captadas pelas autoridades brasileiras entre 1928 e 1930,
por meio do que Eugênio Vargas Garcia (2006, p. 491) denominou “diplomacia
antirrevolução das oligarquias”. Demonstrando como o eficiente aparato montado
para combater a Coluna Prestes continuou a funcionar mesmo após o fim do
movimento.
Referências
ARQUIVO HISTÓRICO DO ITAMARATY – AHI
AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 31, RJ, 8 jul., 1924, 208/03/01.
AHI, Pacheco a Toledo, tel. nº 50, RJ, 17 set., 1924, 208/03/01.
AHI, Toledo a Pacheco, tel., nº 154, Buenos Aires, 24 set. 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 169, Buenos Aires, 29 set., 1924, 208/02/03.
AHI, Toledo a Pacheco, tel., nº 170, Buenos Aires, 29 set. 1924, 208/02/03
AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 199, Buenos Aires, 10 out, 1924, 208/02/03.
AHI, Pacheco a Toledo, tel., RJ, 14 out., 1924, 208/03/01.
31 Os telegramas AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 173, Buenos Aires, 16 abr., 1925, 208/02/04 e AHI. Toledo a
Pacheco, tel. nº 192, Buenos Aires, 24 abr., 1925, 208/02/04, demonstram que o governo federal previu a
possibilidade de os rebeldes, acuados no oeste do Paraná, abrirem caminho pelo Paraguai, para atingir o Mato
Grosso. Como Rondon foi surpreendido por essa manobra, abre-se espaço para indagações a respeito de como
os dados levantados pelo Itamaraty eram utilizados pelo Ministério da Guerra e vice-versa, já que ambos os
órgãos trabalharam em estreita cooperação no combate aos revolucionários.
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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 203, 14 out. 1924, Buenos Aires, 208/03/02.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 209, Buenos Aires, 15 out., 1924, 208/02/03.
AHI, Toledo a Pacheco, tel. nº 237, Buenos Aires, 31 out., 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 267, Buenos Aires, 5 nov., 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 266, Buenos Aires, 6 nov. 1924, 208/02/03.
AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 69, RJ, 11 nov., 1924, 208/03/01.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 311, Buenos Aires, 12 nov., 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 312, Buenos Aires, 13 nov. 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 323, Buenos Aires, 14 nov., 1924, 208/02/03.
AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 71, RJ, 17 nov., 1924, 208/03/01.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 337, Buenos Aires, 18 nov., 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 351, Buenos Aires, 23 nov., 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 386, Buenos Aires, 6 dez., 1924, 208/02/03.
AHI. Toledo a Pacheco, tel., nº 403, Buenos Aires, 15 dez, 1924, 208/02/03.
AHI, Toledo a Pacheco, tel. nº 29, Buenos Aires, 16 jan., 1925, 208/02/04.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 55, Buenos Aires, 28 jan., 1925, 208/02/04.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 173, Buenos Aires, 16 abr., 1925, 208/02/04.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 192, Buenos Aires, 24 abr., 1925, 208/02/04.
AHI. Toledo a Pacheco, tel. nº 223, Buenos Aires, 8 mai., 1925, 208/02/04.
AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 75, RJ, 10 mai., 1925, 208/03/01.
AHI. Pacheco a Toledo, tel., nº 82, RJ, 27 mai. 1925, 208/02/03.
AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 89, RJ, jun., 1925, 208/03/01.
AHI. Pacheco a Toledo, tel. nº 90, RJ, 1 jul.,1925, 208/03/01.
AHI. Rondon a Pacheco, tel. nº 2129, Ponta Grossa, 1925, Lata 46, maço 377.
AHI. Rondon a Pacheco, tel. nº 1813, Guarapuava, 1925, AHI Lata 46, maço 377.
AHI. Pacheco a Alves, tel. nº 54, RJ, 17 set., 1926, 208/03/01.
AHI. Rio Branco a Mangabeira, tel. nº 37, Buenos Aires, 15 fev., 1927, 208/02/05.
AHI. Rio Branco a Mangabeira, tel. nº 67, Buenos Aires, 22 mar., 1927, 208/02/05.
AHI. Lata 46, maço 377.
AHI. Lata 46, maço 378.
AHI. Lata 518, maço 8427.
AHI. Maços 208/02/03; 208/02/04; 208/02/05; 208/02/06; 208/03/01; 208/03/02;
208/03/04.
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Nota: Em função das especificidades envolvidas na pesquisa no Arquivo Histórico do
Itamaraty, os mesmos documentos citados pordem ser referenciados da seguinte maneira:
Escritório Regional do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro.
Correspondências:
Missão diplomática brasileira em Buenos Aires
Telegramas Recebidos: 1924 (208/2/3), 1925-1926 (208/2/4), 1927 (208/2/5),
1928-1929 (208/2/6).
Telegramas Expedidos: 1921-1926 (208/3/1), 1927-1929 (208/2/6).
220
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 188-220
A Coluna Prestes e as relações Brasil-Argentina na década de 1920
Missão diplomática brasileira em Montevidéu
Ofícios: 1922 (223/3/1)
Missão diplomática brasileira em Assunção
Telegramas Recebidos: 1917-1926 (202/2/1)
Outros documentos relacionados, separados por organização temática:
Lata 46, maço 377
Lata 183, maço 3039
Lata 471, maço 7203
Lata 478, maço 7453
Lata 518, maço 8427