Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, 2016, p. 63-90
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Fernando Dall’Onder Sebben, Pedro Perfeito da Silva
2009, p. 12-13; COUTINHO et al., 2012, p. 105; CUNHA; PERFEITO; PERGHER, 2014,
p. 41), construiu-se um modelo analítico que diferencia as políticas de infraestrutura
entre horizontais e verticais
12
. Vale dizer que as políticas governamentais concretas
não são compostas de medidas de apenas um escopo, de modo que, neste trabalho,
considera-se o sentido das políticas industrias e infraestruturais, ou seja, o caráter
predominante das medidas formuladas e, principalmente, implementadas.
Além disso, as duas formas de política também podem ser diferenciadas
quanto ao nível de complexidade. A política horizontal, basicamente, requer
identificar gargalos logísticos, permitir que as cadeias produtivas fluam e que o
mercado automaticamente se ajuste à melhoria de condições. Portanto, seu nível
de complexidade é reduzido. Por outro lado, a política vertical exige a coordenação
com outras políticas públicas, em especial a industrial. É preciso que o Estado
leve em conta, em seu planejamento, sinergias potenciais entre infraestrutura,
indústria e serviços. Por isso, seu nível de complexidade é mais elevado e requer
maior capacidade estatal.
As políticas horizontais não buscam alterar a estrutura produtiva de
determinada economia, mas, sim, aumentar a eficiência, tendo como objetivo a
alocação ótima de recursos escassos. Tais políticas conferem uma centralidade
teórica ao mercado, já que o funcionamento sem falhas desse implicaria na melhor
informação dos agentes, que racionalmente empregariam fatores e distribuiriam
recursos da melhor forma possível. Nesse sentido, qualquer intervenção estatal
no mecanismo de mercado deve ser condicionada a problemas preexistentes,
bem como a efeitos amplos, que afetem igualmente agentes e setores e que,
principalmente, não gerem poder de mercado.
Em relação à estrutura produtiva, a política horizontal pretende ser neutra.
Todavia, é preciso ressaltar que a neutralidade acaba por privilegiar alguns setores
(RODRIK, 2008, p. 6; PERES; PRIMI, 2009, p. 38). Assim, uma intervenção neutra
pode acelerar o avanço de setores, não necessariamente os mais eficientes no
longo prazo (CHANG, 2008), que já se encontram em posição de vantagem em
determinada estrutura produtiva.
Em termos práticos, as políticas horizontais industriais e infraestruturais
reforçam as vantagens comparativas, afinal, ampliam a eficiência do sistema
econômico sem engendrar mudanças estruturais. São exemplos de políticas
12 Uma terceira possibilidade de classificação seria como “política de fronteira”. De viés schumpeteriano também,
na indústria, corresponderia a setores como bio e nanotecnologia; na infraestrutura, o projeto do elevador
espacial seria um exemplo. Esse tipo de política foge ao escopo desse trabalho.