
Érico Esteves Duarte; Gabriel Nascimento de Alcântara Benites
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 20, n. 1, e1544, 2025
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planeta (Câmara, Barros-Platiau, Andrade e Hillebrand 2021; MCTI 2013). Tal
relevância levou os doze países signatários do Tratado Antártico (TA), mesmo
durante o auge da Guerra Fria, a congelar seus interesses estratégicos na região,
em favor de um regime internacional baseado na ciência como elemento mediador
(Aguiar 2019; Sampaio 2022). Além dos signatários, o TA estipula uma segunda
categoria de membros plenos que, por apresentarem substancial pesquisa, têm
direito ao poder de veto nas Reuniões Consultivas do Tratado da Antártica (RCTAs)
(Andrade, Mattos, Cruz-Kaled, e Hillebrand 2018, 13–13). Aceito nessa categoria
desde 1982, o vínculo do Brasil ao Sistema do Tratado Antártico (STA) depende,
portanto, da capacidade de produção científica, tornando-a um instrumento e parte
da agenda da sua diplomacia (Andrade, Mattos, Cruz-Kaled, e Hillebrand 2018).
Tal condicionante tem orientado o governo e cientistas brasileiros que
conduziram mais de 40 operações de expedições antárticas (OPERANTAR) com
mais de três mil pesquisadores brasileiros de vinte áreas do conhecimento
(Araújo, Pinho, e Kaled 2024). A última operação envolveu 255 militares e 2
navios em 145 dias de operações, além de 1 aeronave KC-390 e 2 helicópteros
(Agência Marinha de Notícias 2024). Entre 2000 e 2023, o Programa Antártico
Brasileiro (PROANTAR) recebeu mais de 285 milhões de reais em investimentos
para manutenção da Estação Antártica Comandante Ferraz e apoio logístico
às pesquisas (Brasil 2023b). Além disso, o CNPq vem lançando, desde 1991,
editais especiais para pesquisadores brasileiros com um valor total em torno
de 100 milhões de reais, sem contar os investimentos de outras 14 agências
de fomento nacionais e 18 estrangeiras (Brasil 2025a; Araújo, Pinho, e Kaled
2024). Como resultado, a ciência antártica brasileira atende aos requisitos para
manutenção de seu vínculo no STA, envolvendo 26 instituições e uma produção
que alcança 12º lugar em escala mundial, segundo estudos comparativos. Isso é
superior à taxa de produção científica brasileira consolidada de todas as áreas do
conhecimento segundo levantamentos do Banco Mundial (15º) e do indexador
Scimago Journal & Country Rank (13º). Assim, o Brasil possui produção científica
antártica superior à do Chile, Bélgica, Rússia e Japão, países signatários do TA
e com maior tempo de dedicação científica à região (Aguiar 2019).
No entanto, nota-se que o Ministério das Relações Exteriores (MRE) engaja-se
pouco na centralidade dos esforços científicos brasileiros para uma cooperação
antártica ativa. Por um lado, o MRE não possui dados organizados ou relevantes
que informem sua contribuição ao PROANTAR (Brasil 2015; 2023c). Ademais,
o fluxo de comunicações diplomáticas sobre o PROANTAR e o TA é baixo. De