André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
1-28
A produção acadêmica sobre Regionalismo
no Brasil: características a partir dos
resumos das teses e dissertações na área de
Ciência Política e Relações Internacionais
no período 1987-2021
Scholarly Research on Regionalism in
Brazil: Characteristics from the Abstracts of
Theses and Dissertations in Political Science
and International Relations (1987-2021)
La producción académica sobre el
Regionalismo en Brasil: características a partir
de los resúmenes de tesis y disertaciones
en el área de Ciencia Política y Relaciones
Internacionales en el período 1987-2021
DOI: 10.21530/ci.v19n3.2024.1530
André Leite Araujo
1
Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
2
Resumo
O artigo apresenta e discute as características da produção acadêmica
sobre Regionalismo nos Programas de Pós-Graduação (PPGs) do
Brasil. Foram analisados os resumos das Teses de Doutorado
e Dissertações de Mestrado defendidas nos PPGs da Área de
Ciência Política e Relações Internacionais, no período 1987-2021.
1 Pós-doutorando na UNESP. Doutor em Ciências Políticas e Sociais pela
Universidade de Bolonha. (andre.l.araujo@unesp.br). ORCID: https://orcid.
org/0000-0002-9203-1247.
2 Doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San
Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP). Professor do Departamento de
Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
(gagferreira@unifesp.br). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3732-5661.
Artigo submetido em 25/09/2024 e aprovado em 23/12/2024.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Copyright:
This is an open-access
article distributed under
the terms of a Creative
Commons Attribution
License, which permits
unrestricted use,
distribution, and
reproduction in any
medium, provided that
the original author and
source are credited.
Este é um artigo
publicado em acesso aberto
e distribuído sob os termos
da Licença de Atribuição
Creative Commons,
que permite uso irrestrito,
distribuição e reprodução
em qualquer meio, desde
que o autor e a fonte
originais sejam creditados.
ISSN 2526-9038
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
2-28
Argumentamos que o volume e as temáticas da produção acadêmica sobre Regionalismo
estão atrelados à relevância que a Política Externa Brasileira dá ao tema e, especificamente,
à alguma iniciativa regional, como visto com o Mercosul e a Unasul.
Palavras-Chave: Regionalismo; Produção Acadêmica; Relações Internacionais; Brasil.
Abstract
The article presents and discusses the characteristics of scholarly production on Regionalism
within Brazil’s Graduate Programs (PPGs). The abstracts of Doctoral Theses and Master’s
Dissertations defended in the Political Science and International Relations PPGs from
1987 to 2021 were analyzed. We argue that the volume and themes of scholarly work on
Regionalism are linked to the importance that Brazilian Foreign Policy attributes to the
topic and, specifically, to certain regional initiatives, as seen with Mercosur and Unasur.
Keywords: Regionalism; Scholarly Research; International Relations; Brazil.
Resumen
El artículo presenta y discute las características de la producción académica sobre el
Regionalismo en los Programas de Posgrado (PPGs) de Brasil. Se analizaron los resúmenes
de las Tesis de Doctorado y las Disertaciones de Maestría defendidas en los PPGs del área de
Ciencia Política y Relaciones Internacionales, en el período 1987-2021. Argumentamos que
el volumen y las temáticas de la producción académica sobre Regionalismo están vinculados
a la relevancia que la Política Exterior Brasileña le otorga al tema y, específicamente, a
ciertas iniciativas regionales, como se ha visto con el Mercosur y la Unasur.
Palabras clave: Regionalismo; Producción Académica; Relaciones Internacionales; Brasil.
Introdução
Neste artigo, apresentamos e discutimos as características da produção
acadêmica sobre Regionalismo nos Programas de Pós-Graduação (PPGs) em
Ciência Política e Relações Internacionais do Brasil. Para tanto, realizamos
uma análise quantitativa e qualitativa dos resumos das Teses de Doutorado e
Dissertações de Mestrado defendidas nos PPGs da Área 39 – Ciência Política e
Relações Internacionais da CAPES, no período 1987-2021 (CAPES 2023).
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
3-28
A articulação dos Estados em arranjos regionais, com distintos graus de
institucionalidade, vem se acentuando no sistema internacional desde o final da
Guerra Fria (Panke e Stapel 2023). Em particular, no Brasil, o regionalismo e as
iniciativas de integração regional são temáticas centrais na política externa brasileira
ao menos desde a redemocratização, sendo o Mercado Comum do Sul (Mercosul)
sua iniciativa mais expressiva. Apesar desta prática política, são raras as reflexões
sobre a produção de conhecimento específico sobre Regionalismo no Brasil.
É bem verdade que, quando consideramos a área de Relações Internacionais
como um todo, identificamos importantes esforços de reflexão sobre a produção
de conhecimento no Brasil. Os trabalhos de Miyamoto (1999; 2003), Herz (2002),
Vizentini (2005), Pecequilo (2017) e Lopes, Nicolini e Carvalho (2022) são
exemplos de um esforço de compreensão das características da evolução da
produção acadêmica e do ensino em Relações Internacionais no Brasil. O mesmo
pode-se dizer do recente trabalho de Rocha (2023) que propõe uma análise
cienciométrica sobre a produção em periódicos de Relações Internacionais no
Brasil. Recentemente, tal esforço se desdobrou em compreender e discutir as
abordagens metodológicas utilizadas na área. Destacam-se os trabalhos de Soares
(2005) e Carvalho, Gabriel e Lopes (2021).
Assim, fica clara uma crescente tendência em realizar estudos de observação
sobre a produção acadêmica brasileira em Relações Internacionais, no sentido
de identificar macrocategorias sobre temáticas e metodologias mais frequentes
na área. Ao mesmo tempo, contudo, são raros os estudos que direcionam o
mesmo esforço na análise de subáreas das Relações Internacionais, tal como o
Regionalismo. É essa lacuna, portanto, que este artigo busca preencher.
Utilizando a divisão de áreas de avaliação da CAPES, não ignoramos que
teses e dissertações de PPGs de outras áreas além de Ciência Política e Relações
Internacionais também podem abordar o tema do Regionalismo. PPGs de Sociologia
(Área 34), Direito (Área 26), Economia (Área 28) e outros, certamente, possuem
trabalhos vinculados ao tema. Como exemplo, as teses e dissertações do PPG
em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/USP)
não são consideradas na nossa análise, dado que o referido PPG está vinculado à
Área 45: Interdisciplinar da CAPES. Contudo, nosso foco está em compreender a
realidade específica da área de Relações Internacionais e, portanto, entendemos
que são reduzidos os prejuízos em não considerar tal produção.
O recorte temático partiu da definição de regionalismo proposta por Börzel
e Risse (2016), que o definem como processo, predominantemente liderado pelo
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
4-28
Estado, de construção e manutenção de instituições e organizações regionais
formais entre, pelo menos, três Estados. Afinal, como nos ensina Hurrell (1995),
a década de 1980 foi marcada pela necessidade de repensar a variável dependente
dos estudos sobre o que até então eram os estudos sobre integração regional
que, a partir da compreensão do processo de integração na Europa enquanto
uma experiência sui generis, se limitava aos estudos daquilo que Haas (1979)
definiu como processo de desnacionalização das funções governamentais, isto
é, de construção de instituições supranacionais.
No caso das experiências na América Latina e, mais especificamente, na
América do Sul, tal esforço no sentido da compreensão da área como estudos
sobre Regionalismo se faz ainda mais importante, na medida em que são poucas
as experiências que, de fato, construíram a supranacionalidade. Assim, ao pensar
a área a partir do conceito de Regionalismo, foi possível englobar os estudos que
tratam das dinâmicas clássicas da integração regional (como os estudos sobre a
União Europeia, por exemplo) e das distintas experiências latino-americanas e
sul-americanas (Mercosul, CAN, Unasul e outras), mas também as discussões
contemporâneas que marcam a área, vinculadas ao regionalismo comparado e
ao inter-regionalismo.
A evolução dos estudos sobre Regionalismo no Brasil demanda explicação
que não foi clarificada pela literatura corrente. Partimos do pressuposto de
que a produção científica brasileira está relacionada com os impactos vistos
na sociedade, isto é, a pesquisa é feita em resposta aos problemas que estão
mais presentes. Desse modo, as dinâmicas próprias do Brasil vão se refletir nas
pesquisas feitas localmente.
Por esse motivo, nossa hipótese e argumento central afirmam que o volume
e as temáticas da produção acadêmica sobre Regionalismo estão atrelados à
relevância que a Política Externa Brasileira dá ao tema e, mais especificamente,
à alguma iniciativa regional em particular. Assim, os diferentes rumos dados à
política externa pelo governo brasileiro de turno influenciaram e influenciam
diretamente o que e como é estudado nos programas de pós-graduação na Área
de CP e RI a respeito de Regionalismo.
Identificamos, nesta análise, que há correspondência entre as teses e dissertações
e os principais marcos da Política Externa Brasileira. Desse modo, os trabalhos
respondem a problemas contemporâneos que tem interesse e impacto para a
sociedade. As variações de objeto de estudo vistas ao longo das décadas demonstram
que a academia está conectada com a realidade prática referente ao relacionamento
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
5-28
que o Brasil tem com sua região. Os períodos de maior, ou menor, atividade do
regionalismo são refletidos na preocupação acadêmica sobre o tema.
Subsidiariamente, identificamos que, do ponto de vista teórico, a área ampliou
seu repertório teórico-conceitual. Para além das teorias tradicionais, baseadas
na experiência europeia, outras perspectivas estão indicadas nos resumos dos
trabalhos mais recentes. Nota-se que há esforços iniciais na direção do Regionalismo
Comparado, acompanhando uma tendência global nesse campo de estudos.
Do ponto de vista metodológico, notamos igualmente que ao longo do
tempo, as dissertações e teses paulatinamente demonstraram cuidado em indicar
métodos e técnicas de pesquisa em seus resumos. Identificamos também maior
diversidade de abordagens, tanto qualitativas quanto quantitativas. No entanto,
esse é um aspecto que ainda carece de maior atenção, ao menos, quando da
elaboração dos resumos dos trabalhos de pós-graduação brasileiros. Nas seções
seguintes, apontamos que muitos trabalhos não mencionam explicitamente a
metodologia utilizada em seus respectivos resumos e os que mencionam nem
sempre o fazem de maneira criteriosa. Percebe-se, sobretudo, uma aparente
confusão entre a indicação de fontes de pesquisa e métodos e técnicas de análise.
Ao oferecer uma visão geral sobre as características da produção acadêmica
sobre Regionalismo nos PPGs em Ciência Política e Relações Internacionais do
Brasil, esperamos que este artigo contribua para ampliação do conhecimento da
academia brasileira de Relações Internacionais sobre a área, bem como possa
subsidiar as discussões no âmbito da gestão universitária. Ademais, esperamos
que este trabalho ofereça apoio àqueles que buscam, por meio da reflexão
acadêmica, realizar ações no campo social, político e econômico com o objetivo
de fortalecer o regionalismo.
A produção acadêmica em Relações Internacionais no Brasil:
o que sabemos?
Conforme há aumento da produção científica, técnicas automatizadas como
a bibliometria permitem compreender, de forma sistemática, as dinâmicas do que
é publicado nas diversas áreas específicas do conhecimento (Sangalli e Kauchakje
2021). Através de indicadores quantitativos, é possível traçar comparações ao
longo do tempo, que são complementadas por análises qualitativas dos resultados.
A interpretação dos achados é uma contribuição para que acadêmicos possam
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
6-28
entender a evolução e o estado atual das pesquisas, mas também contribui para
a gestão e alocação de recursos diante das dinâmicas vistas e mensuradas na
área do conhecimento.
Nos últimos anos, o emprego das análises bibliométricas tem crescido e
tem sido aplicada a distintas áreas do saber científico, como em análises sobre
a evolução de um método, como faz Rihoux et al (2013), ou de uma subárea de
estudos, como propõe Battacharya et al (2021).
No Brasil, apesar de antecedentes em outras áreas, as Relações Internacionais
como campo de estudo autônomo foram estruturadas a partir da década de 1970.
Sua evolução foi marcada pelos avanços, sobretudo, nos estudos de Política
Externa Brasileira (Lopes, Nicolini e Carvalho 2022). A evolução da disciplina
no Brasil foi caracterizada de forma ampla por Lopes, Nicolini e Carvalho
(2022), que identificaram grande número de estudos a respeito do regionalismo
latino-americano, algo vinculado à preocupação com as questões de inserção
internacional do Brasil. Sainz et al (2024) detectaram que parte dos estudos
de Relações Internacionais são produzidos dentro do macro-campo de Ciência
Política, criando conexões entre os temas no Brasil.
Para compreender as técnicas empregadas nas pesquisas de Relações
Internacionais no Brasil, Carvalho, Gabriel e Lopes (2021) analisaram o uso de
métodos em artigos publicados em periódicos científicos, através de revisão
sistemática da literatura. Suas conclusões apontam para um amplo uso de
métodos qualitativos ou mesmo a não identificação de metodologia claramente
especificada nos artigos. Estudo semelhante foi aplicado em revistas de outros
países sul-americanos, mostrando o mesmo padrão na região (Medeiros et al,
2016). Também a subdisciplina de Análise de Política Externa teve sua trajetória,
no Brasil e no mundo, analisada por Salomón e Pinheiro (2013).
Dessa forma, análises bibliométricas vem se tornando mais comuns nos
últimos anos, visando mapear as características e a evolução do conhecimento.
As contribuições feitas trazem o cenário acadêmico desenvolvido no Brasil
em Relações Internacionais, porém a construção do Regionalismo se vê pouco
explorada dentro das ferramentas de bibliometria. Deve-se registrar que os artigos
disponíveis na base Scopus a respeito de regionalismo latino-americano foram
levantados por Dall’Agnol, Batista e Carvalho (2021). Dois resultados que se
destacam são: a preponderância do Mercosul como a organização regional mais
estudada; e o uso intercambiável dos termos sul-americano e latino-americano.
Estes resultados são analisados também no presente artigo.
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
7-28
Diante desse quadro, nota-se importantes avanços no mapeamento da atividade
científica brasileira – em particular na área de Relações Internacionais. Entretanto,
as subáreas de Relações Internacionais ainda carecem de investigações mais
detalhadas. A atividade empreendida neste artigo avança na identificação da
produção de Regionalismo, tanto através de indicadores quantitativos a respeito
dos trabalhos de pós-graduação quanto por meio de uma análise qualitativa,
que rastreia a evolução da subárea de estudos no Brasil através dos resumos das
teses de doutorado e dissertações de mestrado.
Metodologia e Fontes da Pesquisa
Este trabalho tem como principal fonte de dados o Catálogo de Teses e
Dissertações da CAPES. Trata-se de uma plataforma de livre acesso, na qual
constam todos os trabalhos de pós-graduação defendidos no Brasil desde 1987
(o ano de cada observação é o ano no qual a dissertação ou tese foi defendida),
o que oferece vantagens pela sua ampla cobertura em todo o território nacional,
abarcando instituições públicas e privadas, bem como todas as áreas temáticas3.
Nesse sentido, se constitui como a principal referência para analisar os estudos
em nível de pós-graduação no Brasil, em perspectiva histórica, não havendo
registro de bases de dados com a mesma dimensão para períodos anteriores.
Com o objetivo de realizar uma análise longitudinal que captasse as dinâmicas
nos estudos sobre Regionalismo, foi decidido que o recorte temporal abrangeria
toda a base de dados disponível, isto é, de 1987 a 2021. Nesse período, foram
registrados 1.401.083 trabalhos, em todas as áreas do conhecimento.
Tal recorte temporal é significativo não apenas pela disponibilidade de
dados, mas também pelo fato de que acompanha a maior projeção internacional
do Brasil e sua estratégia para a região latino-americana, cujo principal marco
foi a fundação do Mercosul em 1991. Ademais, a partir da década de 1990, há
estruturação dos cursos de graduação e pós-graduação em Relações Internacionais
no Brasil em maior número, pois até então a quantidade de ofertas formativas na
área eram reduzidas. Sendo assim, o recorte temporal se justifica pelas dinâmicas
próprias nos estudos de pós-graduação a respeito de Regionalismo, assim como
3 Os dados utilizados nesta pesquisa estão disponíveis, para replicação, no Repositório de Dados de Pesquisa
da Unifesp e podem ser acessados em: https://hdl.handle.net/20.500.12682/rdp/T89W7N
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
8-28
pelo desenvolvimento de novos processos regionais – como a consolidação
da União Europeia, a fundação do Mercosul e do Nafta, além da reforma da
Comunidade Andina, entre outros casos. Considerando o recorte temporal até
2021, os anos mais recentes apresentaram desafios nesses mesmos processos,
com questionamentos à dinâmica regional e retrocessos institucionais.
Em termos substantivos, foi feito um primeiro filtro que restringiu a análise à
área de “Ciência Política e Relações Internacionais”, na qual há 9.955 casos – ou
seja, apenas 0,71% dos trabalhos de pós-graduação no Brasil estão classificados
nesta área. A partir desta base de dados, selecionamos todas as observações
que continham as expressões “regionalismo”, “integração regional” e/ou “inter-
regionalismo”. A limpeza dos dados foi concluída com a exclusão de trabalhos
que tratavam de outros sentidos desses termos, tratando região como ente
federativo ou outra forma de organização subnacional. Isso posto, o banco de
dados foi reduzido a 258 casos, que é o conjunto que analisamos neste artigo e
que representam a produção acadêmica sobre Regionalismo na área 39 – Ciência
Política e Relações Internacionais.
Para as buscas, foram utilizados os termos em português, inglês e espanhol,
que são os três idiomas com maior produção nos PPGs no Brasil. A esse respeito,
cumpre salientar que 250 casos (97%) na nossa amostra são em português,
havendo 6 em espanhol e 2 em inglês.
É importante notar que outras dissertações e teses que abordam Regionalismo
existem fora do recorte colocado neste artigo. Ao ser um tema complexo e
interdisciplinar, é frequentemente investigado em outras Ciências Humanas – como
Direito e Economia. No entanto, a escolha por refinar a base de dados para a área
de “Ciência Política e Relações Internacionais” se justifica para compreender a
trajetória do Regionalismo como subárea de Relações Internacionais, abordando
sua evolução intelectual e acadêmica e quais foram os esforços teóricos para
consolidá-la no Brasil. Por esse motivo, apesar dessa decisão restringir o número
de casos analisados neste artigo, mantém o foco sob a perspectiva da disciplina
de Relações Internacionais, ainda que o objeto de Regionalismo seja estudado
por outras áreas do conhecimento. Os autores reconhecem a importância das
demais pesquisas que, dentro desse recorte, não foram incluídas na análise, mas
contribuem para a ampliação do conhecimento nessa área.
Foram utilizadas ferramentas de estatística descritiva e de visualização de
dados como recursos para a análise bibliométrica conduzida neste artigo. Sendo
assim, um dos pilares do artigo baseou-se em uma perspectiva frequentista
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
9-28
para verificar a ocorrência de termos específicos nos resumos dos trabalhos
de pós-graduação e captar padrões ao longo do tempo. Adicionalmente, os
autores realizaram, de forma independente entre eles, a leitura dos resumos para
interpretar seu conteúdo, com o objetivo de identificar a evolução de como o
Regionalismo foi abordado. Sendo assim, abordando o tema com métodos mistos,
foi possível combinar vantagens tanto qualitativas quanto quantitativas para
obter os resultados que melhor respondam ao problema de pesquisa deste artigo.
O emprego de formas automatizadas de análise permite a mensuração
da literatura acadêmica em grande escala e a identificação dos principais
indicadores bibliométricos (Sangalli e Kauchakje 2021 . Entre as variáveis
analisadas estão: ano de defesa; programa de pós-graduação; instituição de
ensino superior; título; tipo de produção; palavras-chave; nome do discente;
nome do orientador; estado da instituição de ensino superior; número de páginas;
idioma; e resumo. Desse modo, trata-se de uma sistematização das informações
que facilitam a interpretação tanto no nível macro quanto na identificação de
casos específicos para a análise qualitativa aprofundada. A decisão por analisar
os resumos se dá pela disponibilidade de informações no catálogo da CAPES.
Ali, não são disponibilizados os textos integrais, de modo que os resumos
são as amostras mais extensas que permitem análise quantitativa e qualitativa
de cada trabalho. Considerando a palavra como dado, analisar o maior texto
disponível permitiu ter mais informações que refletem os estudos conduzidos sobre
Regionalismo.
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil:
dimensão quantitativa
Primeiramente, deve-se entender quais as dimensões do fenômeno analisado.
O campo de Regionalismo é razoavelmente novo e pouco estudado no Brasil.
Os primeiros trabalhos que mencionam o tema foram registrados em 1996.
Considerando os prazos até a defesa de um trabalho de pós-graduação, esse
fato corrobora a nossa hipótese de que o tema está relacionado com os rumos
da política externa brasileira. Isso porque em 1991 foi fundado o Mercosul,
tornando a participação em um arranjo regional uma realidade para a sociedade
brasileira. A partir do início da década de 1990, houve debates mais frequentes
a respeito da estratégia internacional para a América do Sul e isso se reflete nas
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
10-28
primeiras defesas de Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado no campo
de Regionalismo.
Figura 1. Número de Dissertações e Teses Defendidas por ano (1987 – 2021)
na área de Ciência Política e Relações Internacionais contendo Regionalismo,
Integração Regional ou Inter-regionalismo no resumo
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
Na Figura 1, nota-se que há 4 trabalhos inaugurais em 1996 que foram
seguidos, ao longo da década de 1990, por uma quantidade reduzida de produção.
A partir dos anos 2000, o número de trabalhos aumenta e, apesar de algumas
variações, segue uma tendência de alta até seu pico em 2016, com 23 dissertações
de mestrado e teses de doutorado defendidas. A partir desse momento, a produção
inicia uma queda até 2021, quando atinge níveis semelhantes aos da década
anterior. Portanto, Regionalismo é um campo pequeno no Brasil, mas que apresenta
crescimento ao longo das últimas décadas, sendo construído paulatinamente e
de forma distinta a outras perspectivas, como Estudos de Área.
Essas dinâmicas acompanham a evolução que houve na política externa do
Brasil ao longo do século XXI. A maior projeção internacional na primeira década
e o lançamento de novas estratégias de cooperação regional e de inserção no
sistema internacional são refletidos no aumento de trabalhos de pós-graduação
que analisaram esses fenômenos. No final dos anos 2010 e início da década de
2020, as alterações na estratégia internacional brasileira são vistas também na
diminuição do interesse de pós-graduandos a esse respeito.
Tal fenômeno pode ser verificado não apenas em números absolutos, que
podem aumentar ou diminuir conforme o número de pós-graduandos muda,
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
11-28
dadas as dinâmicas educacionais e de financiamento da pesquisa no país. Em
termos percentuais, dentro de todos os casos defendidos em Ciência Política e
Relações Internacionais, mais de 4% dos trabalhos abordaram o Regionalismo no
período de maior protagonismo internacional do Brasil. Em 2021, esse percentual
foi reduzido para menos de 2% do que foi produzido na área de Ciência Política
e Relações Internacionais.
Além dos contrastes vistos na evolução cronológica, a distribuição dos casos
entre os estados brasileiros também chama a atenção. A Figura 2 demonstra
que a amostra está fortemente concentrada no eixo Sul-Sudeste e em Brasília.
Em especial, destaca-se que mais da metade da produção sobre regionalismo
provém de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Em paralelo, apenas 4
estados do Nordeste e nenhum do Norte foram registrados na base.
Figura 2. Distribuição de dissertações de mestrado e teses de doutorado por
UF (1987-2021) na área de Ciência Política e Relações Internacionais contendo
Regionalismo, Integração Regional ou Inter-regionalismo no resumo
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
Essa distribuição geográfica se reflete nos PPGs que tiveram maior produção
acadêmica sobre o Regionalismo ao longo da série histórica. Com 35 trabalhos,
o PPG em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-
SP) lidera essa frequência, seguido pelo PPG em Relações Internacionais da UnB
(32 trabalhos) e pelo PPG em Integração Contemporânea da América Latina da
UNILA (21 trabalhos).
A Tabela 1 apresenta os PPGs em que houve 10 ou mais produções de
pós-graduação na área, dentro de um total de 42 Programas. Convém destacar que
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
12-28
há um grande número de trabalhos produzidos pelo Instituto Rio Branco, órgão
de formação dos diplomatas do Ministério de Relações Exteriores. Isso mostra
que há contribuição relevante e pesquisas feitas fora do ambiente estritamente
universitário.
Tabela 1. PPGs com produção igual ou maior que 10
PPG Universidade UF Frequência
Relações Internacionais UNESP/UNICAMP/PUC-SP SP 35
Relações Internacionais UnB DF 32
Integração Contemporânea da América Latina UNILA PR 21
Ciência Política UFPE PE 16
Estudos Estratégicos Internacionais UFRGS RS 13
Diplomacia IRBr DF 12
Relações Internacionais PUC-Rio RJ 11
Relações Internacionais USP SP 10
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Teses e Dissertações – CAPES.
A respeito do conteúdo das dissertações e teses, a Figura 3 indica quais
regiões foram objeto de estudo na pós-graduação brasileira. Aqui foi feito um
recorte para os trabalhos que mencionavam nominalmente um bloco regional,
pois alguns casos não investigam blocos específicos. Assim, há preponderância
de análises sobre a região latino-americana, na qual o Brasil se insere e que é a
principal área de ação de sua política externa.
A divisão em 5 regiões se deu baseada nos próprios objetos de estudo das
dissertações e teses. A que teve mais ocorrências foi a América Latina e notou-se
um uso inconstante em torno de “América Latina” e “América do Sul”. Inclusive,
há casos em que os dois termos aparecem no mesmo trabalho para designar a
mesma região. Dessa maneira, ambas as expressões tendem a ser consideradas
equivalentes, ainda que conceptualmente se refiram a realidades distintas.
Uma das explicações para essa variação é o emprego desses termos nos
discursos da diplomacia brasileira, que historicamente utilizou os dois termos
conforme seus projetos estratégicos para a região. A perspectiva a partir do Brasil
é vista também no uso de expressões como “Amazônia”, “Cone Sul” e “Bacia
do Prata”, que destacam a localidade do país dentro da América Latina.
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
13-28
Figura 3. Quantidade de menções a blocos regionais nos resumos, por região
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
Isso se reflete na grande presença de estudos que conjugam Regionalismo
com Política Externa – particularmente Política Externa Brasileira. Na Figura
4, é vista a frequência de casos que mencionam “política externa” nos seus
resumos, seguindo padrão semelhante ao visto na distribuição da amostra, isto
é, de crescimento até 2016, seguido por decréscimo na quantidade.
Figura 4 – Trabalhos com menção a “Política Externa” nos resumos
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
A partir dessa perspectiva, analisamos quais blocos foram pesquisados
dentro de cada região, destacando que um mesmo trabalho pode abordar mais
de um bloco. Em primeiro lugar, América do Norte e Europa não apresentam
variação. O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e a União
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
14-28
Europeia (UE) (incluindo aqui suas predecessoras como a Comunidade Europeia
do Carvão e do Aço – CECA e a Comunidade Econômica Europeia – CEE) são
os únicos blocos estudados em suas respectivas regiões. Por outro lado, as
demais regiões abrangeram um número maior de iniciativas regionais, conforme
discutido a seguir.
Conforme a Figura 5, dentro da América Latina, o Mercosul e a UNASUL
(incluindo dois projetos de destaque: Conselho de Defesa Sul-Americano; e
Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana) foram
objeto de maior produção. Em que pese os estudos sobre outros projetos, inclusive
históricos, como Pacto do ABC e Tratado da Bacia do Prata, aqueles dois arranjos
tiveram maior preponderância na política externa brasileira no século XXI e isso
se refletiu em ser o tema de maior preocupação universitária. Por esse motivo,
foram estudados sob distintas perspectivas e abrangendo vários tópicos dentro
de suas realidades.
Figura 5. Trabalhos distribuídos por blocos latino-americanos
mencionados nos resumos
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
A respeito de Regionalismo africano, também há diversidade de blocos
estudados, contabilizando 6 iniciativas vistas na Figura 6: Comunidade Econômica
Africana (CEA); Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO);
Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC); Mercado Comum
da África Oriental e Austral (COMESA); Comunidade de Desenvolvimento da
África Austral (SADC); União Econômica e Monetária do Oeste Africano (UEMOA).
Por fim, há 3 blocos asiáticos analisados: Associação das Nações do Sudeste
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
15-28
Asiático (ASEAN); Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional (SAARC);
e Parceria Trans-Pacífico.
Figura 6. Trabalhos distribuídos por blocos africanos mencionados nos resumos
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
Ao comparar longitudinalmente na Figura 7, as três iniciativas que mantêm
constante presença nos estudos de Regionalismo são Mercosul, UNASUL e
União Europeia. Tratando particularmente do Mercosul, com exceção de 1997,
não houve um ano em que não houvesse a defesa de uma tese ou dissertação a
respeito desse bloco. Em relação aos demais, apresentam produção inconstante,
com intervalos de anos em que não há registro de trabalhos a respeito. Sendo
assim, tal fato aporta evidência para compreender quais são os polos temáticos
de preocupação acadêmica dentro do Regionalismo no Brasil. Isto é, os dois
blocos priorizados pela política externa brasileira e a União Europeia, que é
um ator crescentemente estudado por seu caráter sui generis nas Relações
Internacionais.
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
16-28
Figura 7. Trabalhos distribuídos por blocos mencionados nos resumos
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
Outro aspecto que se destaca nesse levantamento é o uso de conceitos.
A palavra “integração” aparece 699 vezes nos resumos, ao passo que “regionalismo”
aparece 106 vezes. São os dois conceitos tradicionalmente usados para definir
o fenômeno próprio da área, mas empregados com frequência distinta. Isso
levanta questões importantes sobre qual é a perspectiva teórica empregada
em cada trabalho, na medida em que preferência pelo uso de “integração” ou
“regionalismo” apontam para perspectivas teóricas distintas.
A esse respeito, a leitura dos resumos indicou que menos da metade das
dissertações e teses menciona explicitamente uma teoria. Isso sugere que a maioria
da produção científica sobre Regionalismo não apresenta, nos resumos, um
quadro teórico para estruturar sua pesquisa. Lembra-se que esse achado ocorre
a partir da interpretação do que está claramente colocado nos resumos, pois
não foi possível conduzir a análise dos textos integrais, ou seja, as dissertações
e teses podem empregar teorias, mas não explicitar seu uso nos resumos.
Entre os trabalhos que mencionaram abordagens teóricas, as mais comuns
foram Construtivismo, Neofuncionalismo, Institucionalismo Histórico e Complexos
Regionais de Segurança. Contudo, um grande número de outras abordagens
são mencionadas, indicando um crescente pluralismo teórico na pós-graduação
brasileira.
Padrão semelhante é encontrado a respeito de métodos e técnicas de pesquisa.
Menos da metade dos trabalhos indicam o método utilizado nos seus resumos, o
que também demonstra que os pós-graduandos majoritariamente optam por não
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
17-28
indicar essas informações nos resumos de seus trabalhos. Dentro do conjunto
dos que indicaram os procedimentos de pesquisa (71 casos), há amplo uso de
métodos qualitativos, sendo os trabalhos quantitativos em número reduzido.
Há destaque para a indicação de uso de entrevistas, estudos de caso, análise de
documentos e process tracing.
Observando o conjunto de casos, foi mencionado que a maioria não indica
o método e a teoria utilizados. Entretanto, entre os que indicam nem sempre
mencionam ambos, isto é, podem mencionar uma teoria sem o uso de método,
ou o método sem o uso de teoria. Outras pesquisas já indicaram que a produção
científica brasileira nas Ciências Humanas segue esse padrão (Soares 2005; Medeiros
et al 2016; Carvalho, Gabriel e Lopes 2021; Lopes, Nicolini e Carvalho 2022).
Dessa forma, apesar de teoria e método serem tradicionalmente considerados
instrumentos essenciais para performar pesquisa científica, esses elementos não
aparecem nos resumos analisados. Ademais, apesar de não ter sido sistematizado
nesta investigação, muitos resumos tampouco apresentam hipótese e/ou pergunta
de pesquisa. Ainda que essas informações possam constar ao longo dos textos
das dissertações e teses, a escolha por não explicitá-las nos resumos chama a
atenção.
Frente ao exposto, percebe-se que a produção acadêmica acompanha as
dinâmicas e estratégias da política externa brasileira, com foco nos blocos
sul-americanos. Assim, nota-se que os estudos sobre África e Ásia são ainda
reduzidos no Brasil. Ademais, o levantamento feito até aqui identificou profundas
desigualdades nos trabalhos produzidos no país, em termos de distribuição entre
as UFs na concentração em algumas universidades.
Nesse contexto, futuros trabalhos podem aprofundar as análises a respeito
das estruturas de produção do conhecimento, observando variáveis como gênero,
classe social e acesso a bolsas de pesquisa, que impactam como a pesquisa é
desenvolvida.
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil:
dimensão qualitativa
A história dos PPGs em Relações Internacionais no Brasil, amplamente
analisadas por Santos e Fonseca (2009), é relativamente recente. Com exceção
dos PPGs em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e da
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
18-28
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), criados no final
da década de 1980, os demais PPGs em Relações Internacionais são posteriores
ao ano 2000. Como apontam Santos e Fonseca (2009), o edital San Tiago Dantas
de Apoio ao Ensino de Relações Internacionais, lançado pela CAPES em 2000,
e o Programa Renato Archer de Apoio à Pesquisa em Relações Internacionais,
lançado em parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Ministério de
Relações Exteriores em 2006, são fatores que explicam a ampliação do número
de PPGs em RI no Brasil a partir dos anos 2000.
Como não poderia deixar de ser, o contexto de construção da pós-graduação
em Relações Internacionais no Brasil impactou substantivamente como a agenda
do Regionalismo se desenvolveu. Os primeiros trabalhos sobre Regionalismo em
PPGs em RI são quatro dissertações de mestrado defendidas em 1996 no PPG em
Relações Internacionais da PUC-Rio4. Todos eles ilustram uma das características
marcantes dos estudos sobre Regionalismo nos PPGs em RI no Brasil: foco nos
processos da América do Sul e uma preocupação em pensar a relação entre
regionalismo e a liberalização comercial.
Ao longo dos anos 1990, a agenda da política externa brasileira foi amplamente
marcada pelo processo denominado pela CEPAL (1994) como Regionalismo Aberto.
Tratava-se de um momento em que se pensava o regionalismo e os processos de
integração regional como parte de uma estratégia mais ampla de liberalização
comercial e inserção na economia globalizada. Para o Brasil, especificamente, o
regionalismo era parte da estratégia de consolidação da democracia e da inserção
na “economia globalizada”. O debate sobre a participação brasileira na ALCA e
a construção do Mercosul foram centrais na agenda da PEB.
Assim sendo, as discussões sobre os impactos da liberalização comercial
e dos processos de integração regional conformam o primeiro dos dois eixos
que caracterizam a produção científica sobre Regionalismo entre a década de
1990 e início dos anos 2000. Notadamente, havia uma marcada preocupação em
pensar o tema desde a perspectiva dos atores não governamentais, especialmente
desde a perspectiva da indústria, dos sindicatos, dos partidos políticos, dos
governos subnacionais e outros atores da sociedade civil. Importante destacar a
4 Faz-se referência às seguintes dissertações de mestrado: i) As Américas e a Globalização: Alternativas e
Estratégias de Inserção Internacional da América Latina nos Anos 90; ii) Serviços Financeiros no Brasil:
Liberalização Multilateral e Regional; iii) A Relevância das Variáveis Exógenas na Construção do Mercosul; e
iv) A Dinâmica da Liberalização Comercial dos Países-Membros da Associação Latino-Americana de Integração
e a Difusão do Regionalismo Aberto: Impactos sobre o Intercâmbio Comercial Recíproco.
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
19-28
produção resultante dos seminários realizados pelo Centro de Estudos de Cultura
Contemporânea (Cedec) e a Escola Sul da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
que resultaram em uma série de publicações com destaque para Zylberstajn et
al (1996), Vigevani (1998) e Vigevani e Lorenzetti (1998).
Nos PPGS em Relações Internacionais e Ciência Política, como exemplo
desse eixo, para além das quatro dissertações defendidas em 1996 no PPG em
Relações Internacionais da PUC-Rio citados acima, tem-se a dissertação de
mestrado “Percepções e ações do empresariado industrial brasileiro no contexto
do Mercosul”, defendida em 1999, também no PPG da PUC-Rio; e a Tese de
Doutorado “As Políticas Domésticas e a Negociação Internacional: o caso da
Indústria automobilística no Mercosul”, defendida em 1999 no PPG em Ciência
Política da Universidade de São Paulo (USP).
O segundo eixo refere-se à agenda de pesquisa dedicada aos aspectos
institucionais das iniciativas de integração regional em que o Brasil estava inserido,
orientada majoritariamente pelas teorias europeias da integração regional, a saber,
o Neofuncionalismo (Niemann e Schmitter 2009) e o Intergovernamentalismo
Liberal (Moravcsik e Schimmelfennig 2009). Um exemplo dessa agenda foi o
esforço de publicação, no número 80 da revista Lua Nova, do artigo “A experiência
da integração europeia e seu potencial para a integração regional”, de autoria de
Phillipe Schmitter (2010), que ilustra de forma clara a lógica desses estudos que
assumiram o “modelo europeu” como modelo normativo para o regionalismo
na América do Sul e demais regiões do mundo.
Na produção dos PPGs, exemplo deste eixo são as dissertações de mestrado
intituladas “A Estrutura Institucional do Mercosul”, defendida em 1998 no PPG
em Ciência Política da USP e “A Institucionalidade do Mercosul: Impasses e
Oportunidades das Estruturas Intergovernamental e Supranacional”, defendida
em 1999 no PPG em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
A Figura 8, apresenta uma nuvem de palavras
5
elaborada a partir dos resumos
das dissertações e teses defendidas entre 1996 e 2004. Nela está clara a relevância
de termos como “Mercosul” e “Integração Regional” que, somados à presença
dos termos “comércio”, “Europeia” e “institucional”, evidenciando os dois eixos
elencados acima.
5 Nuvem de Palavras é uma representação visual de um conjunto de palavras em que a frequência ou relevância
de cada termo é indicada pelo tamanho de sua fonte.
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
20-28
Figura 8. Nuvem de Palavras – Dissertações e Teses defendidas entre 1996 e 2004
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
De uma maneira geral, esse período ofereceu uma contribuição essencial
para a consolidação dos estudos sobre regionalismo no Brasil, contribuindo
para o debate sobre o papel estratégico das iniciativas regionais no processo de
inserção internacional do Brasil, com um olhar crítico aos efeitos da liberalização
comercial. Nota-se que o foco esteve nas questões regionais da América do
Sul, sem a presença de trabalhos analisando experiências de outras regiões do
mundo, com exceção do processo de integração europeu que, neste momento,
foi estudado enquanto paradigma político e normativo.
Com a chamada “Onda Rosa” na América Latina (Lievesley e Ludlam 2009)
e o lançamento do que consensuou-se chamar “Regionalismo Pós-Hegemônico”
(Riggirozzi e Tussie 2012) ou “Regionalismo Pós-Liberal” (Sanahuja 2009), as
iniciativas regionais passaram por transformações profundas. Segundo Riggirozzi
e Tussie (2012), foi estabelecido um novo consenso em torno do regionalismo e
da integração regional caracterizado pelo retorno da agenda do desenvolvimento
e pela construção de novas formas de cooperação regional, firmado em relações
menos formais e com protagonismo de organizações sociais. Veiga e Ríos (2007) e
Sanahuja (2009) apontam que se estabeleceu um novo entendimento sobre como
os processos de integração regional deveriam acontecer, marcado por uma maior
preocupação com as dimensões sociais do desenvolvimento; com o tratamento
das assimetrias entre os Estados; e com a ampliação da participação de atores
sociais, no sentido de dotar os processos regionais de maior legitimidade social.
É nesse contexto que se implementou o relançamento do Mercosul, a criação
da Aliança Bolivariana para o Povos da Nosso América/Tratado de Comércio dos
Povos (ALBA/TCP) e da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). A despeito
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
21-28
da avaliação do sucesso e limites destas iniciativas, que fogem do escopo deste
artigo, é fato que o regionalismo latino-americano neste período, para além da
sua tradicional dimensão econômico-comercial, assumiu uma face social e de
governança política mais ampla.
A produção nos PPGs em Relações Internacionais refletiu essa mudança,
conforme ilustra a Figura 9. De um lado, do ponto de vista do objeto das pesquisas,
nota-se um crescente interesse em avaliar essas novas iniciativas regionais, com
destaque para os estudos sobre a UNASUL. De outro, houve a inserção de temas
não-comerciais – dimensão política, combate às assimetrias, cooperação para o
desenvolvimento, cultura, educação e outros – nas discussões sobre o Mercosul
e o regionalismo como um todo.
Como exemplo, já em 2005 nota-se a emergência de uma agenda de pesquisa
vinculada de maneira mais enfática nos aspectos não comerciais dos processos
de integração. No PPG em Ciência Política do Instituto Universitário de Pesquisas
do Rio de Janeiro (IUPERJ) foi defendida a Dissertação “Integração Regional,
Democracia e o Caso do Mercosul”; e no PPG em Relações Internacionais da
UnB, a dissertação “A Proteção Social aos Trabalhadores no Mercosul: Da Lacuna
Inicial ao Acordo Multilateral de Seguridade Social”.
Figura 9. Nuvem de Palavras – Dissertações e Teses defendidas entre 2005 e 2021
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
Ademais, é neste momento que se iniciam estudos sobre outras regiões do
mundo, com destaque para a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
(SADC) e Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), conforme Figura
7. As dissertações “O regionalismo asiático revisitado: Impactos para a Asean da
emergência da China pós-Deng”, defendida em 2005 no PPG em Ciência Política
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
22-28
da USP, e “A integração regional na África Austral: obstáculos e oportunidades
(1980-2008)”, defendida em 2010 no PPG em Relações Internacionais San Tiago
Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) são ilustrativas desse tímido movimento
na agenda dos estudos sobre regionalismo.
De toda forma, do ponto de vista dos blocos regionais estudados, nota-se
que há uma relativa continuidade entre as duas fases, com predominância de
estudos das iniciativas sul-americanas e da União Europeia, conforme demonstra
a Figura 10 abaixo. A principal variação é a crescente presença de estudos
sobre a UNASUL após 2004, sem, no entanto, comprometer o protagonismo do
Mercosul. Entendemos que tal característica reflete as prioridades da política
externa brasileira, que teve a integração sul-americana como eixo central da sua
ação externa. O interesse estável pela UE se explica, em larga medida, por ser
considerada experiência de referência nos estudos do regionalismo.
Ao observar a produção sobre Mercosul, UNASUL e UE distribuída pelos
governos brasileiros, nota-se que há uma crescente produção atingindo seus
maiores quantitativos nos governos de Dilma Rousseff e Michel Temer. No
entanto, é importante considerar que a análise observa o ano de defesa da
dissertação ou tese. Portanto, as motivações iniciais apresentadas no projeto e o
desenvolvimento da pesquisa podem ter surgido em período anterior ao governo
durante o qual foi apresentada.
Figura 10. Quantidade de trabalhos que mencionam Mercosul, União Europeia e
Unasul. Número de Dissertações e Teses Defendidas por ano (1987 – 2021) na área
de Ciência Política e Relações Internacionais
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
23-28
Ainda sobre os objetos de estudo dos trabalhos sobre regionalismo, é
importante considerar a existência de trabalhos que, ainda que quantitativamente
menores, se propuseram a um diálogo entre os estudos sobre regionalismo e os
estudos de defesa, cujo foco esteve majoritariamente nos avanços da cooperação
nuclear entre Brasil e Argentina e na experiência do Conselho de Defesa Sul-
americano no âmbito da UNASUL. A tese “Entre a cooperação e a dissuasão:
políticas de defesa e percepções militares na América do Sul”, defendida em
2010 no PPG em Ciência Política da USP, e a dissertação “A Formação de uma
Comunidade de Segurança na América do Sul”, defendida em 2010 no PPG em
Relações Internacionais da UnB, são exemplos dessa agenda.
Do ponto de vista teórico, como já citado, não há indicação de abordagem
teórica na maioria dos resumos. Como ilustra a Figura 11, naqueles em que
há referência de abordagem teórica, a maioria indica paradigmas tradicionais
das Relações Internacionais, como Liberalismo, Realismo e Construtivismo. De
maneira específica às teorias do campo do regionalismo, nota-se que as teorias
da integração europeia e o (neo)institucionalismo são as mais utilizadas. Por
fim, ainda que sejam numericamente menores, nota-se que os estudos que
abordam temas de segurança indicam de maneira mais clara as teorias da área,
notadamente, abordagens vinculadas ao conceito de complexos regionais de
segurança.
Figura 11. Proporção de trabalhos distribuídos por macrocategorias
teóricas indicadas no resumo
Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Catálogo de Tese e Dissertações – CAPES.
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
24-28
Contemporaneamente, nota-se o início tímido de estudos vinculados às
abordagens do campo do regionalismo comparado, que partem de uma crítica ao
potencial analítico das teorias europeias da integração. Notadamente, a dissertação
“Entre as pegadas do dragão e os mapas do sudeste asiático: as relações entre
Beijing e a ASEAN no campo da segurança regional”, defendida em 2017 no PPG
em Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU); e a tese
“ Overlapping organizations, political crises, and coexistence: complementarity
and fragmentation in south america and african regionalisms”, defendida em
2020 no PPG em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP,
PUC-SP).
Atualmente, as pesquisas sobre Regionalismo no Brasil passam por um
momento de redefinição. A baixa prioridade dada pela Política Externa Brasileira,
a partir de 2016, aos temas do regionalismo e da integração regional refletiu no
baixo interesse acadêmico pelo tema, que terá reflexos no número de dissertações
e teses defendidas na subárea em 2024 e nos próximos anos. Ao mesmo tempo,
as múltiplas crises que vivem o sistema internacional e a crescente importância
que as relações regionais e inter-regionais tem assumido, indicam a permanência,
se não crescente, relevância do regionalismo como subárea de estudos nas
Relações Internacionais.
Conclusões
Diante do exposto, foi possível identificar a evolução dos estudos de
Regionalismo no Brasil e as principais tendências que estruturaram o campo
nas últimas décadas. Dessa forma, diante da redução do número de pesquisas
sobre Regionalismo nos últimos anos, parece que a retomada de uma agenda
de estudos do regionalismo perpassa, majoritariamente, por cinco principais
desafios.
Primeiramente, a necessidade de pensar o regionalismo em um contexto de
múltiplas crises internacionais. Nesse sentido, uma agenda de pesquisa dedicada
a pensar o papel do regionalismo junto aos mais diversos temas e iniciativas
da agenda internacional, em uma perspectiva vinculada à ideia de governança
regional: Agenda 2030; novas tendências do regime internacional de comércio,
proteção da democracia, enfrentamento da emergência climática, preservação
da Amazônia, e outras;
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
25-28
Um segundo desafio diz respeito à dimensão teórica. Já há um consolidado
debate que aponta os limites das teorias da integração europeia como modelo
normativo e/ou analítico para os estudos sobre as demais regiões do mundo.
Assim, é central ampliar os esforços de diálogo da produção dos PPGs brasileiros
com a abordagem do Regionalismo Comparado. Isso significa que é preciso
ampliar os estudos sobre as experiências e blocos regionais africanos e asiáticos,
mas, sobretudo, engajar a agenda de pesquisa brasileira em estudos comparados
e sobre inter-regionalismo.
Em terceiro lugar, a questão metodológica das pesquisas na área deve
avançar, em linha com o que tem ocorrido na área de Ciência Política e Relações
Internacionais no mundo. Como já indicado neste artigo, a dimensão metodológica
é uma das principais carências da produção em Relações Internacionais no
Brasil. Seja em pesquisas quantitativas, qualitativas ou mistas, o fato é que
se se pretende que a produção de conhecimento na área de Regionalismo no
Brasil tenha projeção e impacto internacional, é central investir na formação
metodológica na pós-graduação.
O quarto desafio é a demanda prática por financiamento à pesquisa. Diante
das limitações nos orçamentos universitários e das agências de fomento, há
limitações estruturais para financiar pesquisas de referência no Brasil, ampliando
e democratizando o acesso à pós-graduação.
Por fim, é preciso criar mecanismos de ampliação da interlocução entre a
produção acadêmica brasileira na área de regionalismo, o governo brasileiro e
os demais setores da sociedade civil. Nesse sentido, nos parece que uma agenda
de pesquisa voltada ao monitoramento e avaliação das iniciativas regionais, de
forma a oferecer insumos e subsidiar a ação de atores do governo e da sociedade
civil comprometidos com o regionalismo e com a integração regional na América
do Sul é um caminho possível e potencialmente promissor.
A pesquisa feita aqui mostra que a produção dos pós-graduandos não está
desconectada da prática da política externa e tampouco é um esforço puramente
teórico. Pelo contrário, o artigo apontou que são pesquisas aplicadas a investigar
temas relevantes e presentes para a sociedade. Dessa forma, faz-se necessário
aprofundar atividades de divulgação científica e de diálogo com a sociedade sobre
o que é descoberto nas pesquisas sobre Regionalismo e como podem contribuir
para sociedade civil, atores privados e governo.
Por fim, este artigo encerra com sugestões para futuras pesquisas, avançando
em compreender como se dá a construção do conhecimento no Brasil. Um dos
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
26-28
aspectos é identificar os impactos do financiamento da pós-graduação no Brasil,
analisando se os cortes podem reduzir o interesse de indivíduos se dedicarem a
mestrado e doutorado – explicando, assim, o declínio das produções nos anos
mais recentes. Ademais, a falta de recursos financeiros pode ser uma explicação
para a preponderância de pesquisas de Regionalismo centradas na atuação do
Brasil, pois dificultaria a realização de trabalhos de campo em outros países.
Referências
Bhattacharya, Caroline; Hart, Gavin; Haughey, Sean; Bates, Stephen Holden; and Meakin,
Alexandra . 2021. “Authorship & Topics in Three Parliamentary Studies Journals:
A Bibliometric Analysis, 1996–2021.” PSA Parliaments Working Paper Series, 02-2021.
Accessed at <https://psaparliaments.org/working_papers/> on 4 November, 2021.
Börzel, Tanja A; Risse, Thomas (eds). 2016. The Oxford Handbook of Comparative
Regionalism. Oxford: Oxford University Press.
CAPES. Catálogo de Teses e Dissertações. Disponível em: <https://dadosabertos.capes.
gov.br/group/catalogo-de-teses-e-dissertacoes-brasil>. Acesso em: 27 jun. 2023.
Carvalho, Thales; Gabriel, João Paulo Nicolini; Lopes, Dawisson Belém. 2021. “‘Mind
the Gap’: Assessing Differences Between Brazilian and Mainstream IR Journals in
Methodological Approaches.” Contexto Internacional 43, no. 3: 461-488.
CEPAL (Comisión Económica para América Latina). 1994. El Regionalismo Abierto en
América Latina y el Caribe. La Integración Regional al Servicio de la Transformación
Productiva con Equidad. Santiago de Chile: CEPAL.
Dall’Agnol, Augusto C.; Batista, Ian R; Carvalho, Thales L. 2021. “Apresentação: A Integração
Sul-Americana em Tempos de Cólera.” Revista InterAção 12, no. 1: 5-17.
Haas, Ernst B. 1979. El reto del regionalismo. In: Hoffmann, Stanley. 1979. Teorías
contemporáneas sobre las relaciones internacionales. Madrid: Tecnos.
Herz, Mônica. 2002. “O Crescimento da Área de Relações Internacionais no Brasil.”
Contexto Internacional 24: 7-40.
Hurrell, A. 1995. Explaining the resurgence of regionalism in world politics. Review of
international Studies, 21(4), 331-358.
Lievesley, Geraldine; Ludlam, Steve. 2009. Reclaiming Latin America: Experiments in
Radical Social Democracy. New York: Zed Books.
Lopes, Dawisson Belém; Nicolini, João Paulo; Carvalho, Thales. 2022. “200 Years of
International Relations in Brazil: Issues, Theories, and Methods.” In Oxford Research
Encyclopedia of International Studies.
André Leite Araujo; Guilherme Augusto Guimarães Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
27-28
Medeiros, Marcelo de Almeida; Barnabé, Israel; Albuquerque, Rodrigo; Lima, Rafael.
2016. “What Does the Field of International Relations Look Like in South America?”
Revista Brasileira de Política Internacional 59: e004.
Miyamoto, Shiguenoli. 1999. “O Estudo das Relações Internacionais no Brasil: O Estado
da Arte.” Revista de Sociologia e Política, 83-98.
Miyamoto, Shiguenoli. 2003. “O Ensino das Relações Internacionais no Brasil: Problemas
e Perspectivas.” Revista de Sociologia e Política, 103-114.
Moravcsik, Andrew; Schimmelfennig, Frank. 2009. “Liberal Intergovernmentalism.”
In European Integration Theory, edited by Antje Wiener and Thomas Diez, 67-87.
Oxford: Oxford University Press.
Niemann, Arne; Schmitter, Philippe C. 2009. “Neofunctionalism.” In European Integration
Theory, edited by Antje Wiener and Thomas Diez, 45-65. New York: Oxford University
Press.
Panke, Diana; Stapel, Sören. 2023. “Overlapping Regionalism Around the World:
Introducing the Overlapping Regionalism Dataset.” International Area Studies
Review 26, no. 4: 449-463.
Pecequilo, Cristina Soreanu. 2017. “Academy Versus Reality: Stagnation or Strengthening?”
Meridiano 47-Journal of Global Studies 18.
Rigirozzi, Pía; Tussie, Diana. 2012. The Rise of Post-hegemonic Regionalism: The Case
of Latin America. New York: Springer.
Rihoux, Benoît; Álamos-Concha, Priscilla; Bol, Damien; Marx, Axel; Rezsöhazy, Ilona. 2013.
“From Niche to Mainstream Method? A Comprehensive Mapping of QCA Applications
in Journal Articles from 1984 to 2011.” Political Research Quarterly, 175-184.
Rocha, Pedro Diniz. A New Scientometric Database of Scientific Publications in Brazilian
International Relations Journals (1997-2021). Contexto Internacional, v. 45, n. 1,
abr. 2023.
Sainz, Nilton; Codato, Adriano; Silva, Rodrigo; Clemente, Augusto. 2024. “Separate
Tables: Thematic and Methodological Divisions in Brazilian Political Science.”
Brazilian Political Science Review 18, no. 1: e0007.
Salomón, Mónica; Pinheiro, Letícia. 2013. “Análise de Política Externa e Política Externa
Brasileira: Trajetória, Desafios e Possibilidades de um Campo de Estudos.” Revista
Brasileira de Política Internacional 56: 40-59.
Sanahuja, José Antonio. 2009. “Del ‘Regionalismo Abierto’ al ‘Regionalismo Post-
liberal’: Crisis y Cambio en la Integración Regional en América Latina.” Anuario
de la Integración Regional de América Latina y el Gran Caribe 7: 37-55.
Sangalli, Amanda; Kauchakje, Samira. 2021. “Introdução à Bibliometria e Cientometria:
Exemplo Prático de Aplicação ao Tema Presidencialismo Latino-Americano.” Revista
Política Hoje 30, no. 1: 87-160.
A produção acadêmica sobre Regionalismo no Brasil: características partir dos resumos [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1530, 2024
28-28
Santos, Norma Breda; Fonseca, Fúlvio Eduardo. 2009.A Pós-graduação em Relações
Internacionais no Brasil.” Contexto Internacional 31: 353-380.
Schmitter, Philippe C. 2010. “A Experiência da Integração Europeia e Seu Potencial para
a Integração Regional.” Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 9-44.
Soares, Gláucio Ary Dillon. O calcanhar metodológico da Ciência Política no Brasil.
Sociologia, problemas e práticas, v. 48, p. 27–52, 2005.
Veiga, Pedro da Motta; Rios, Sandra Polónia. 2007. “O Regionalismo Pós-liberal na América
do Sul: Origens, Iniciativas e Dilemas.” CEPAL.
Vigevani, Tullo. 1998. Mercosul: Impactos para Trabalhadores e Sindicatos. São Paulo:
Editora LTr.
Vigevani, Tullo; Lorenzetti, Jorge. 1998. Globalização e Integração Regional: Atitudes
Sindicais e Impactos Sociais. São Paulo: LTr.
Vizentini, Paulo Fagundes. 2005. “A Evolução da Produção Intelectual e dos Estudos
Acadêmicos de Relações Internacionais no Brasil.” In O Crescimento das Relações
Internacionais no Brasil, 17-32.
Zylberstajn, Hélio; Rodrigues, Iram Jacome; Castro, Maria Silvia Portela; e Vigevani,
Tullo. 1996. Processos de integração regional e a sociedade: o sindicalismo na
Argentina, Brasil, México e Venezuela. São Paulo: Paz e Terra.