
Elizeu Santiago T. de Sousa
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 2, e1516, 2024
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A Cidade e a província do Rio de Janeiro são, há algum tempo, a parte do
Império considerada como contendo mais amigos de Dom Pedro, e com um
governo mais forte, senão absoluto (monarquia), do que qualquer outra
parte do Brasil. As províncias do Norte, – o país das minas (Minas Gerais),
– e de São Paulo (São Paulo) têm inveja do poder no Monarca. Menciono
estes últimos com certa ênfase, pois, pela educação, pelos costumes, pela
moral e pelo elevado patriotismo, são considerados o orgulho da população
brasileira. O grande objetivo político do revolucionário parece ser assimilar
o governo deste país, em todos os detalhes possíveis, ao nosso, – fazer
Estados das províncias, permitindo-lhes o seu próprio governo e leis, e
formar, a partir destes, uma confederação como a nossa. Sou induzido a
pensar que a república é o sistema de governo preferido da maioria do
povo do Brasil (Brown apud Manning 1932).
2
A crença no elemento democrático – a federação para os moderados, a
república para os exaltados – veio acompanhada por sua contraparte nas relações
internacionais: o americanismo, sobretudo, mas não exclusivamente, o monroísta.
Acreditava-se que a reforma das instituições monárquicas aproximaria naturalmente
o país das jovens repúblicas do continente, argumento persistente no pensamento
internacional liberal ao longo do século XIX que se materializaria de forma cabal
no Manifesto Republicano de 1870.
Muito antes, no entanto, Alves Branco, Fernandes da Silveira, França pai e
filho, nas páginas do recém-criado Jornal Americano, propagandeariam o que
consideravam ser o “regime mais perfeito que até agora tem governado os destinos
dos homens” (França et al. 1831). De um lado, a “decrépita Europa”, com o seu
“apego à centralização, tão útil ao despotismo” (França et al. 1831). Do outro, a
jovial América, a cuja liderança intelectual caberia à grande república do norte,
exemplo de federação e presidencialismo. Aos norte-americanos:
2 Do texto original, publicado em língua inglesa, por William Manning (1932), o seguinte: “The City and
Province of Rio de Janeiro, have been, for some time, the part of the Empire thought to contain more friends
to Dom Pedro, and to a stronger, if not an absolute government [monarchy] than any other part of Brazil. The
northern provinces, – the country of the mines (Minas Gerais), – and of St. Paul’s (São Paulo) are jealous of
power in the Monarch. I mention the last with some emphasis, since, for education, manners, morals, and
high minded patriotism, they are considered the pride of the Brazilian population. The great political object
of the revolutionist seems to be to assimilate the government of this country, in every practicable particular,
to our own, – to make States of the provinces, allowing them their own government and laws, and to form,
of these, a confederation like ours. I am induced to think that a republic is the favorite system of government,
among the majority of the people of Brazil”.