Alexsandro Eugenio Pereira
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OSSIÊD
As múltiplas crises
do internacional
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
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A crise da ordem internacional e os
problemas das democracias liberais1
The crisis of the international order and
the problems of liberal democracies
la crisis del orden internacional y los
problemas de las democracias liberales
DOI: 10.21530/ci.v19n3.2024.1501
Alexsandro Eugenio Pereira2
Resumo
O artigo examina a relação entre a crise da ordem internacional liberal e os desafios
recentes às democracias nacionais. Como sugerem analistas dessa crise, uma das
formas de explicá-la é por meio da articulação entre dois níveis (o doméstico, no qual
surgem os riscos à democracia) e o internacional (onde se formou a ordem atual a
partir de princípios liberais formulados no início do século XX). Nesse sentido, o
artigo argumenta que parte dos problemas da ordem internacional contemporânea
não está dissociada dos desafios impostos às democracias liberais.
Palavras-Chave: Ordem Internacional Liberal; Democracia; Crise; Populismo;
Legitimidade.
1 A pesquisa que originou esse artigo recebeu o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientíico e Tecnológico) por meio da concessão de recursos inanceiros vinculados à bolsa de Produtividade
em Pesquisa.
2 Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq — Nível 2. Doutor em Ciência Política pela USP e Professor
Associado dos Programas de Pós-Graduação em Ciência Política e em Políticas Públicas da Universidade
Federal do Paraná. (alexsep@uol.com.br). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9613-4702.
Artigo submetido em 29/06/2024 e aprovado em 13/03/2025.
Copyright:
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A crise da ordem internacional e os problemas das democracias liberais
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Abstract
This paper examines the relationship between the crisis of the international liberal
order and recent challenges faced by national democracies. As suggested by analysts
of such crisis, one of the ways to explain it is through the articulation between two
levels (the domestic one, where the risks to democracy arise) and the international
one (where the current order was formed based on liberal principles formulated
at the beginning of the 20th century). In this sense, the article argues that part of
the problems of the contemporary international order are not dissociated from the
challenges imposed on liberal democracies.
Key-words: Liberal International Order; Democracy; Crisis; Populism; Legitimacy.
Resumen
El artículo examina la relación entre la crisis de orden internacional liberal y los
desaíos recientes a las democracias nacionales. Como sugieren los analistas de
esa crisis, una de las formas de explicarla es por medio de la articulación entre
dos niveles (a nivel nacional, en el cual surgen los riesgos para la democracia) y el
internacional (donde se formó el orden actual a partir de los principios liberales
formulados a comienzos del siglo XX). En este sentido, el artículo argumenta que
parte de los problemas del orden internacional contemporáneo está asociada a los
desaíos impuestos a las democracias liberales.
Palabras clave: Orden Internacional Liberal; Democracia; Crisis; Populismo;
Legitimidad.
Introdução
A crise da ordem internacional tem origens em diversos fatores, entre os
quais a ausência de reformas capazes de adequar os regimes e organizações
internacionais (OIs) aos desafios complexos do mundo pós-Guerra Fria. Essas
reformas são frequentemente postergadas de acordo com os interesses das
principais potências mundiais, em particular dos Estados Unidos. Mas a crise
tem origem mais profunda do que a inadequação ou os anacronismos das
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principais organizações internacionais atuais. A crise se explica, também, por
fatores relacionados à ordem interna dos Estados e, nesse artigo, o objetivo
é analisar um desses fatores explicativos: os problemas da democracia
que têm reflexos sobre a ordem internacional. É necessário lembrar que a
existência de regimes e organizações internacionais não está condicionada aos
regimes políticos adotados pelos países internamente. Porém, a democracia
representativa e o liberalismo são referências para a construção de regimes
e organizações internacionais depois da Segunda Guerra Mundial, conforme
destacou John Ikenberry (2020).
A democracia representativa foi o regime político que se expandiu ao
longo do século XIX e início do XX, com as sucessivas reformas eleitorais que
ampliaram o acesso ao voto e incorporaram um número crescente de indivíduos
ao processo político. O liberalismo se apresentou num conjunto de componentes
da democracia representativa, como as liberdades de expressão, de associação, a
separação dos poderes e a garantia dos direitos individuais (Mounk 2019).
Na formação de regimes e organizações internacionais estão presentes
elementos do liberalismo e esforços, sobretudo recentes, para incorporar
elementos da democracia representativa nos processos decisórios das OIs.
Exemplos dessas tentativas podem ser observadas: i) no estabelecimento de
mecanismos de accountability pelas instituições econômicas internacionais,
sendo o caso mais notável o Painel de Inspeção do Banco Mundial, criado em
1993 (ver Park 2010); ii) na criação das European Citizens’ Initiative (em 2008),
cujo propósito é estimular a participação dos cidadãos na formulação de
políticas e na tomada de decisões no âmbito da União Europeia; dentre outros.
São tentativas de democratização que apresentam problemas, pois estas
organizações enfrentam desafios significativos para se adequar aos padrões
democráticos estabelecidos nos Estados nacionais, como lembrou Robert
Dahl (1994) num artigo no qual examinou o desenvolvimento institucional da
União Europeia após o Tratado de Maastricht. Nesse artigo, Dahl observou
que as instituições supranacionais, como o Parlamento europeu formado por
representantes eleitos, teriam dificuldades para superar o gap existente entre
esses representantes e as populações representadas por eles. Robert Dahl (1999)
era cético sobre as possibilidades de realização da democracia no interior das
instituições internacionais.
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Nessa direção, esse artigo argumenta que a crise da ordem internacional se
revela, também, por meio da análise das conexões entre essa crise e a situação
das democracias contemporâneas. O propósito é explorar as análises de autores
que relacionam a crise da ordem internacional aos desafios contemporâneos
impostos às democracias liberais (ver, nesse sentido, Ikenberry 2018 e 2020;
e Mearsheimer 2019 ; outras análises sobre a crise da ordem internacional
estão em Duncombe e Dunne 2018; Flaherty e Rogowsi 2021; Simão 2019; Lake,
Martin e Thomas 2021, entre outros). Nessa análise, não se desconsidera a
existência de outros fatores explicativos importantes para a crise da ordem
internacional, como os problemas da insatisfação de Estados do Sul Global cujos
interesses não são devidamente contemplados nas principais organizações
internacionais. Ou as mudanças atuais nas configurações de poder do sistema
internacional, com a ascensão da China e seus reflexos políticos e econômicos
sobre o sistema internacional. O objetivo, no entanto, é reiterar a articulação
existente entre dois níveis (o doméstico no qual se situam as democracias) e
o internacional (onde se formou a ordem liberal). Tal articulação é uma das
formas possíveis de interpretação da crise da ordem internacional liberal e de
seus desdobramentos futuros.
Para desenvolver seu argumento, o artigo está dividido em duas seções
principais, além desta introdução e das considerações finais. A primeira seção
discute os argumentos de alguns analistas que abordam os desafios atuais à
democracia, entre os quais Adam Przeworski (2020), Yascha Mounk (2019),
Pippa Norris e Ronald Inglehart (2019) e Steven Levitski e Daniel Ziblatt (2018).
Embora a experiência dos Estados Unidos seja uma referência desses autores,
as origens dos desafios atuais das democracias têm elementos que podem ser
observados, também, em outras realidades nacionais, incluindo os países do
Sul Global — embora seja necessário compreender as especificidades desses
desafios no desenvolvimento recente das democracias nesses países.
Os elementos essenciais dos problemas das democracias servem como
ponto de partida para se pensar uma das dimensões da crise da ordem
internacional, tema da segunda seção deste artigo: a dimensão institucional.
Algumas análises destacam o aumento da autoridade das organizações
internacionais a partir dos anos 1990 (ver, por exemplo, Börzel e Zürn 2021,
283). Como consequência, aumentam as responsabilidades das OIs sobre
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decisões políticas que afetam a vida dos cidadãos nos Estados nacionais. Esse
aumento da responsabilidade reduz a possibilidade de controle e escrutínio
dos cidadãos nacionais. Com isso, as OIs precisam lidar com o problema da
legitimidade perante Estados, atores não-estatais e cidadãos situados no
interior dos países. Se as democracias não funcionam bem, se cada vez mais
países transitam para regimes autoritários, os problemas de legitimidade das
OIs tendem a se acentuar, sobretudo se houver um aumento da contestação de
suas políticas e decisões.
As democracias liberais estão em crise?
A literatura sobre a crise atual das democracias liberais procura estabelecer
um diagnóstico inicial dessa crise. Adam Przeworski (2020) airma que a
democracia seria um mecanismo para administrar conflitos com o propósito de
organizar politicamente os antagonismos sociais, evitando que eles ocasionem
distúrbios que comprometam a ordem pública. Para manter de pé uma ordem
institucional é necessário que as forças políticas sejam incentivadas a buscar
seus interesses por meio das instituições democráticas. Quando as instituições
são capazes de conduzir e processar os conflitos não apenas nas eleições, mas,
também, nos sistemas de negociação, nas cortes e nas burocracias públicas, a
democracia tende a funcionar bem (Przeworski 2020, 3).
Cenários de polarização, observados atualmente em países como o Brasil e os
Estados Unidos, tendem a tornar mais diícil a tarefa dos governos de encontrar
medidas que sejam aceitas por todas as forças políticas (Przeworski 2020). Nessas
situações, determinadas forças políticas podem argumentar, com sucesso, que
a solução para os problemas existentes é o abandono de direitos políticos e a união
em torno de um líder forte. O resultado é a ascensão de regimes autocráticos
(Przeworski 2020, 6). Para Przeworski (2020, capítulo 4), é possível identificar
alguns sinais de crise das democracias, tais como: o desgaste dos partidos
tradicionais; o avanço de partidos e atitudes xenofóbicos, racistas e nacionalistas;
e o declínio do apoio à democracia nas pesquisas de opinião pública.
Esses sinais são observados, também, na análise de Norris e Inglehart
(2019), embora esses autores identifiquem um elemento positivo na ascensão do
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“populismo autoritário” — definição empregada pelos autores para se referir
ao perfil de políticos que se apresentam aos eleitores como antiestablishment.
Essa ascensão poderia servir como forma de correção às democracias, na
medida que os movimentos populistas podem destacar a necessidade de
reformas, como, por exemplo, as que podem aperfeiçoar os sistemas eleitorais e
o financiamento das campanhas. A expansão do populismo autoritário poderia
contribuir, também, para “reconquistar cidadãos” que estão desencantados
com a democracia e fortalecer a participação. Por fim, o populismo autoritário
chama a atenção para as consequências geradas pelo processo de globalização
e pelos fluxos de migração. Autores consideram que é muito cedo para se falar
em uma “crise de legitimidade” das instituições políticas democráticas, embora
a estratégia do populismo autoritário se concentre na tentativa de questionar
a legitimidade da autoridade constituída e dessas instituições. A “retórica
populista” questiona as crenças sobre o papel dos representantes políticos
nos regimes democráticos, sustentando que o poder legítimo cabe ao povo e
não às elites. Esse é um elemento chave da definição de populismo empregada
pelos autores. O populismo questiona os princípios basilares sobre quem deve
governar, sobre quais políticas devem ser seguidas e sobre quais decisões devem
ser tomadas.
Os sinais da crise são identificados, também, por Norris e Inglehart ao
destacar o crescimento da adesão do eleitorado ao populismo autoritário e a
forma como esse crescimento leva partidos de centro-direita a se moverem
para a direita na Europa em determinadas pautas, como o controle da imigração
e o euroceticismo. Esses partidos, contudo, não incorporam a xenofobia e o
nacionalismo exacerbado que caracterizam os partidos da direita radical.
Przeworski entende que está em curso o desmoronamento dos sistemas
partidários tradicionais, com a ascensão de novos partidos entre os quais os
da direita radical. Em outros termos, partidos que antes conquistavam menos
votos, agora conseguem, em alguns países, votações expressivas, obtendo cargos
nos parlamentos e executivo nacionais. Przeworski diferencia esses novos
partidos populistas a partir da oposição que fazem à globalização e ao processo
de integração europeu. Partidos da extrema-direita e da extrema-esquerda
convergem no que se refere às pautas econômicas, como as preocupações
com o bem-estar social, os direitos dos trabalhadores e o protecionismo. Mas
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se afastam quando entra em jogo o debate sobre a pauta da imigração e da
coexistência de múltiplas culturas. Partidos de extrema-direita são nacionalistas
e xenófobos, tendem a ser racistas e repressivos e adotam uma estratégia
eleitoral que procura enfatizar os problemas da imigração (Pzeworski 2020).
Norris e Inglehart destacam que esses partidos tiveram um crescimento
do seu apoio popular (passou de 4,9% em 1960 para 11,6% na década de 2010).
Os dados mais recentes sobre o desempenho desses partidos nas eleições de
2024 para o Parlamento europeu mostraram que eles conseguiram manter esse
crescimento constante. Eles obtiveram 131 cadeiras no Parlamento Europeu
contra 186 do bloco que permanecerá majoritário (num total de 720 cadeiras em
disputa). Os autores ponderam que estes partidos eram marginais e menores
e tendem a enfrentar maiores dificuldades para traduzir suas propostas em
decisões políticas (Norris e Inglehart 2019, 416). De qualquer maneira, quando
esses partidos conseguem eleger membros do executivo precisam se submeter
ao escrutínio e à avaliação do seu desempenho.
Levitsky e Ziblatt (2018) airmam que os partidos e as elites políticas
estão falhando na sua tarefa de “filtrar” os candidatos que concorrem nas
eleições. Políticos populistas e autoritários se candidatam aos cargos eletivos,
questionando, nas campanhas eleitorais, as próprias regras às quais deveriam
se submeter, como parte do “jogo” no qual se propuseram a participar. Para
os autores, caberiam aos partidos, na condição de “guardiões da democracia,
a tarefa de separar “o joio do trigo. Atualmente, os partidos estão falhando
nessa tarefa: seja por causa das suas orientações políticas e ideológicas (que
determinam a escolha de candidatos que sustentam pautas conservadoras);
seja porque se rendem à capacidade de populistas autoritários de conseguiram
obter votos.
Para Levitsky e Ziblatt, o problema é institucional, isto é, eles não
responsabilizam a adesão crescente das populações dos países europeus e
dos Estados Unidos aos apelos autoritários. Para eles, os problemas ocorrem
nas instituições democráticas, como os partidos políticos. Esses problemas
seriam resultado da violação de duas normas essenciais para o funcionamento
da democracia. De um lado, a tolerância mútua, cujo significado envolve a
necessidade de os candidatos envolvidos na competição política reconhecerem
seus oponentes como adversários políticos, mas não como inimigos que
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precisam ser destruídos. A segunda norma é denominada pelos autores de
reserva institucional, que trata de limitar possíveis excessos dos ocupantes de
cargos no Executivo quanto ao “uso do direito legal”. A reserva institucional
é uma regra não-escrita que existe para evitar que determinadas ações
amparadas pela lei, se adotadas, violem o seu espírito. É o caso, por exemplo,
da possibilidade de mudança na composição da Suprema Corte que pode ser
conduzida por alterações constitucionais realizadas dentro da regra do jogo
democrático. Com essa alteração, o presidente pode nomear os ministros dessa
instituição de acordo com seus interesses. Ou utilizar, de forma excessiva,
o recurso aos decretos presidenciais. Nesses dois exemplos, os governantes
agem sem comedimento ou controle, que é um requisito importante de
funcionamento das democracias.
A polarização atual pode comprometer essas duas normas democráticas,
segundo os autores. Para eles, a polarização pode levar ao desaparecimento
da tolerância mútua, tornando tentadora a possibilidade, para os políticos, de
abandonar a reserva institucional e buscar a vitória nas eleições a qualquer
custo. Nesse contexto, grupos antissistema podem ascender e defender a
rejeição total às regras democráticas. Com isso, a democracia estaria ameaçada.
Um dos sinais mais evidentes dos problemas da democracia atual aparece
nas pesquisas de opinião pública. Elas explicam o desempenho eleitoral
de populistas autoritários e de partidos da extrema-direita em diversas
democracias. Essas pesquisas revelam que há preocupação dos eleitores com
os problemas econômicos decorrentes da globalização e seus impactos sobre os
níveis de bem-estar social na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina.
Mas a adesão dos eleitores a candidatos populistas autoritários não se explica
apenas pela desilusão dos eleitores com soluções políticas produzidas pelos
governantes dos partidos tradicionais. O problema tem um substrato mais
profundo. Por trás das estratégias utilizadas pelos populistas autoritários para
captar a insatisfação dos eleitores (como o recurso à disseminação de fakes news
e de discursos de ódios endereçados a públicos-alvo desses políticos, como os
imigrantes e os grupos étnicos e LGBTQIAPN+), há riscos de uma erosão gradual
dos fundamentos institucionais das democracias.
Os riscos aumentam por causa dos políticos antissistema, que contestam
as regras do jogo, denunciam supostas fraudes nas urnas eleitorais sem
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provas e criticam o papel das instituições democráticas, sobretudo daquelas
que limitarão o seu poder caso se tornem vitoriosos nas eleições. Mas essa
possível erosão pode ocorrer como consequência da perda de apoio dos eleitores
às democracias. Dessa forma, não é possível enxergar esse fenômeno sem
combinar a análise de dois componentes relacionados: o institucional; e as
mudanças em curso na cultura política.
Para Yascha Mounk (2019), a estabilidade da democracia depende de
condições que hoje não existem mais. Ele destaca três dessas condições.
A primeira delas se refere ao padrão de bem-estar dos cidadãos, cujo aumento
estaria estagnado, gerando incertezas sobre o futuro. Os populistas autoritários
mostraram-se capazes de captar essa insegurança, como Donald Trump fez
nas eleições presidenciais de 2016 e 2024. Eles tentam encontrar culpados
para essa insegurança como, por exemplo, quando associam a insegurança ao
fluxo migratório para os seus países ou com a ameaça econômica representada
pela China.
A segunda condição se refere ao predomínio de um grupo racial e étnico
que, nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, esteve associado ao
elemento branco. As minorias étnicas reivindicam “um lugar à mesa, isto é,
terem seus direitos políticos e sociais reconhecidos nos países onde residem.
Como consequência, duas reações antagônicas podem ser observadas. Uma
parte da população apoia essa mudança enquanto outra se sente ressentida e
se move contra o pluralismo étnico e cultural que ganhou ímpeto no ocidente
(Mounk 2019).
A terceira condição, por fim, é a ameaça ao domínio exclusivo das elites
econômicas e políticas sobre os meios de comunicação. Historicamente, os
custos elevados para imprimir um jornal, dirigir uma estação de rádio ou
manter uma rede de TV favoreciam esse domínio (Mounk 2019). O acesso à
internet e às redes sociais colocou em xeque esse domínio, na medida que
os recursos necessários para qualquer cidadão disseminar informações se
tornaram muito reduzidos. Os custos de se organizar politicamente foram
igualmente reduzidos. As informações, assim como a forma como elas são
traduzidas para o público mais amplo, deixaram de ser exclusividade dos meios
de comunicação tradicionais (Mounk 2019).
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Pela perspectiva da cultura política, o recurso às redes sociais e à internet
possibilitou uma forma de reação às profundas mudanças culturais em curso
nas sociedades ocidentais depois da Segunda Guerra Mundial. Essas mudanças
são caracterizadas por Norris e Inglehart (2019) como uma “revolução
silenciosa. A prosperidade, o acesso à educação universitária, os papéis de
gênero menos desiguais e os processos de urbanização favoreceram uma
revolução nos valores socialmente liberais. Essa revolução se tornou visível
no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Por causa dela, houve alteração
no equilíbrio entre liberais e conservadores, com a balança pendendo para
os primeiros. A “revolução silenciosa” permitiu a ascensão de cidadãos que
endossam a democracia, mas são críticos da classe política. Apesar da balança
pender para os valores liberais, os valores conservadores permaneceram fortes,
sobretudo entre: não-graduados; trabalhadores; nos mais religiosos; e homens
e moradores de comunidades rurais. Esses indivíduos, que se identificam com
valores conservadores, apoiam partidos e líderes que prometem defender
a soberania nacional, restringir a imigração e defender valores religiosos e
morais tradicionais (Norris e Inglehart 2019, 15-16).
Para reagir às mudanças culturais da “revolução silenciosa, uma estratégia
atual é a participação em bolhas sociais compostas por pessoas que possuem
ideias semelhantes, evitando potenciais conlitos e desentendimentos.
Outra estratégia seria o “reflexo autoritário, segundo Norris e Inglehart.
Ela corresponde a uma reação defensiva dos grupos conservadores que
rejeitam costumes e normas sociais não convencionais. Esses grupos se
sentem confortáveis para se manifestar ao encontrar eco em líderes fortes
que sustentam valores e crenças tradicionais. Trata-se, segundo Norris e
Inglehart, de uma reação conservadora contra a “revolução silenciosa” (Norris
e Inglehart 2019, 16-17). O “reflexo autoritário” é reforçado pelas consequências
e receios decorrentes da insegurança econômica. A perda de empregos é uma
consequência do avanço tecnológico, da ascensão da economia do conhecimento,
dos fluxos globais de trabalho, capitais e pessoas (Norris e Inglehart 2019, 17).
Os resultados econômicos da globalização colocam em xeque as condições
de bem-estar experimentadas nos países de capitalismo avançado depois da
Segunda Guerra Mundial.
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Os riscos à estabilidade da democracia podem resultar de uma combinação
de elementos institucionais fragilizados com a perda do apoio popular à
democracia. Essa perda de apoio é estimulada pelos políticos populistas
autoritários que mobilizam o que Norris e Inglehart (2019, 420, tradução
livre) chamam de “desencanto público com o funcionamento das instituições
políticas, tais como as eleições, os meios de comunicação social, os tribunais
[...]”3. As críticas dos populistas autoritários questionam a “imparcialidade
dos tribunais, apontam supostas “fraudes eleitorais” e tentam comprometer
a credibilidade e o papel da imprensa. Além disso, estimulam a “intolerância
social, a xenofobia e a islamofobia
4
(Norris e Inglehart 2019, 420, tradução
livre). Para entender melhor esse processo, os autores sugerem que é necessário
examinar os dados sobre o apoio da população aos princípios democráticos e a
confiança em instituições como o parlamento nacional e os partidos políticos
(Norris e Inglehart 2019, 422).
Os dados do Eurobarômetro, examinados pelos autores, mostram que
existiu uma associação, na União Europeia, entre a crise econômica de 2008
e a queda nos percentuais de confiança institucional. O padrão geral indicava
que a confiança nos partidos políticos se manteve relativamente constante.
A confiança nos governos e parlamentos nacionais teve uma queda em 2007,
seguida de uma recuperação que acompanhou a melhora da economia até 2013.
A partir desse ano, houve ligeira erosão (Norris e Inglehart 2019, 431). Dados
mais recentes do Eurobarômetro (publicados em junho de 2023) mostram que
54% dos cidadãos estariam satisfeitos com o funcionamento da democracia na
União Europeia. A satisfação, de acordo com os elementos da democracia, é de:
70% com realização de eleições livres e justas; 70% com a liberdade de expressão;
e 66% com o respeito aos direitos fundamentais (Parlamento Europeu 2023).
Nos Estados Unidos, os dados coletados pelo Gallup em dezembro de
2023 e apresentados em janeiro de 2024 mostravam que a satisfação dos
estadunidenses com o funcionamento da democracia é muito baixa entre
os republicanos (17%) e mais elevada entre os democratas (38%). Dos que se
declaram independentes, 27% se dizem satisfeitos com o funcionamento da
3 Em inglês no original: “[…] public disenchantment with the workings of political institutions, such as
elections, the news media, and the courts […]”.
4 Em inglês no original: “social intolerance, xenophobia, and islamophobia”.
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democracia. Houve uma queda na satisfação com a democracia desde 2021,
logo após a posse do presidente Joe Biden, quando os números mostravam que
47%, 21% e 36% de democratas, republicanos e independentes, respectivamente,
estavam satisfeitos com o funcionamento da democracia (Gallup 2024). O Gallup
pondera que a satisfação dos estadunidenses com a democracia tende a variar
de acordo com o ocupante da presidência (se ele é republicano ou democrata).
As abordagens apresentadas nesta seção do artigo foram construídas a
partir do impacto de dois eventos relevantes que chamaram a atenção dos
analistas políticos e dos intelectuais: a primeira eleição de Donald Trump nos
Estados Unidos em 2016; e o plebiscito que aprovou a saída do Reino Unido da
União Europeia, também em 2016 (Moreira 2023). O quadro geral traçado por
essas abordagens permite identificar elementos da crise das democracias no
Sul Global, como a ascensão de políticos populistas autoritários, observados
em diversas experiências recentes na América Latina, como Brasil, com Jair
Bolsonaro (2019-2022), e Argentina, com Javier Milei (2023). O recurso às
redes sociais como ferramenta de campanhas eleitorais e de disseminação de
ideias por esses políticos é, também, outro traço característico dessa crise.
Suárez Pizzarello e Sánchez (2024 ), por exemplo, destacam os meios utilizados
por políticos populistas como Javier Milei na Argentina, Nayib Bukele
em El Salvador e Dina Boluarte no Perú. Os três recorrem às redes sociais
para disseminar suas ideias e, inclusive, mensagens falsas, são acusados de
perseguição a jornalistas, promovem repressão a protestos sociais contrários
aos seus governos, incentivam a polarização política e contribuem, com seus
comportamentos e ações, para debilitar a democracia nos seus países.
No entanto, a literatura internacional que analisa a crise das democracias
pode ser não ser insuficiente para entender os problemas das democracias no
Sul Global, como sugere Miguel (2022). Como observam Conci e Campos (2022),
o surgimento de lideranças populistas recentes na América Latina demonstra
que a região continua produzindo esse perfil político, como ocorreram em
outros momentos históricos. Esses políticos estão vinculados à esquerda e
à direita do espectro político. A onda de lideranças populistas dos últimos
anos, portanto, não constitui novidade na história dos países da América
Latina. A característica dessas lideranças, no entanto, contribui para as crises
das democracias da região que enfrentam, historicamente, dificuldades de
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consolidação. De modo mais amplo, os países do Sul Global experimentam
períodos de alternâncias entre regimes políticos. Esse ponto foi observado
por autores que escrevem a partir da perspectiva do Sul Global, como Conci e
Campos (2022) e Miguel (2022), dentre outros.
Diferentes abordagens destacam que as democracias do Sul Global têm
especificidades que precisam ser consideradas para se entender as crises pelas
quais estão atravessando nesse momento (ver Miguel 2022, por exemplo). O
quadro geral traçado por Przeworski, Norris e Inglehart e Mounk se aplica,
em parte, à realidade dessas democracias, mas é necessário reconhecer
as especiicidades do desenvolvimento das democracias no Sul Global. Na
contramão da interpretação desses autores, Luis Felipe Miguel (2022) defende
que é necessário avaliar o funcionamento das democracias (e por extensão,
sua crise atual) examinando como os países periféricos tentaram conciliar um
regime político baseado na tentativa de tornar cidadãos iguais em termos de
direitos políticos com profundas desigualdades sociais (de riqueza, de classe,
de gênero, de raça e outras) (Miguel 2022, 8-9). Para Miguel, a democracia
e sua crise atual não podem ser interpretadas de forma dissociada do
desenvolvimento do capitalismo, considerando, inclusive, a natureza desigual
desse desenvolvimento no centro e na periferia do sistema internacional. Esse
desenvolvimento gera desigualdades profundas na periferia com implicações
sobre as dificuldades de consolidação das democracias no Sul Global.
Os problemas atuais se apresentam, também, de forma diferenciada nas
democracias do Sul Global. Por exemplo, um dos temas principais em voga na
democracia da Índia atual é a necessidade de lidar com excessos resultantes das
políticas e leis oficiais. A pretexto de assegurar a ordem social, são adotadas
restrições e suspensões da internet no país que colocam em risco a liberdade
de expressão na medida que são estabelecidas de acordo com o julgamento do
governo, que pode utilizar essas medidas para coibir protestos e manifestações
contrárias aos seus interesses (ver Basu e Sen 2024). Outro exemplo é a natureza
e as motivações dos protestos que podem ter contribuído para a erosão da
democracia, conforme sugerem as análises de Mendonça e Domingues (2021)
a partir de cinco estudos de caso, que incluem países do Sul Global: Estados
Unidos, Brasil, Turquia, Tailândia e Egito. No Brasil, é notável o crescimento
do sentimento antipolítica, que favoreceu a eleição de um presidente em 2018
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As múltiplas crises
do internacional
que defendeu a ditadura militar em entrevistas e discursos políticos. Protestos
realizados a partir desse ano envolveram a defesa explícita da intervenção
militar com o apoio do presidente da República (ver Mendonça e Domingues
2021, 16-17; e 23).
Destacar as especificidades da crise da democracia desde uma perspectiva
do Sul Global permite avaliar essa crise a partir dos problemas que afligem os
países em desenvolvimento. Para os propósitos e para a sequência deste artigo, a
síntese dos problemas das democracias atuais, realizada nesta seção, permitirá
explorar como esses problemas estão na base da crise da ordem internacional
e podem, inclusive, aprofundá-la. Esse tema será abordado na próxima seção
deste artigo.
A crise da ordem internacional liberal
O propósito desta seção é caracterizar a crise da ordem internacional
liberal e mostrar como essa crise pode ser aprofundada como decorrência
dos problemas atuais das democracias, conforme sintetizado na primeira
seção deste artigo. A opção foi eleger duas perspectivas distintas sobre essa
crise, mas que têm pontos de contato importantes. Elas foram elaboradas por
J. Mearsheimer e J. Ikenberry. São perspectivas baseadas em fundamentos
contrapostos no campo teórico das Relações Internacionais: o primeiro autor
está associado ao realismo enquanto o segundo está vinculado ao liberalismo.
Essas duas perspectivas são influentes no debate atual sobre a crise da ordem
internacional. Elas permitem avaliar como leituras teóricas distintas sobre a
crise da ordem internacional são consensuais sobre a necessidade de interpretá-
la à luz dos problemas relacionados às democracias contemporâneas.
Segundo John Ikenberry (2020), a ordem internacional contemporânea se
originou do internacionalismo liberal cujo projeto era reformar as relações
internacionais por meio da cooperação entre os Estados, do estímulo às
relações pacíficas entre eles e da capacidade, dessa ordem, de lidar com riscos
e oportunidades da interdependência econômica. As ideias principais do
internacionalismo liberal seriam: 1) abertura internacional ao comércio e às
trocas com o propósito de gerar ganhos entre os atores estatais e viabilizar a
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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1501, 2024
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As múltiplas crises
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paz entre eles. O pressuposto aqui é o de que a interdependência econômica
poderia fundamentar a paz entre os Estados; 2) o multilateralismo e as relações
estatais baseadas em regras e instituições internacionais — cujo propósito
seria favorecer a abertura internacional ao comércio possibilitando a
interdependência econômica; 3) a cooperação na área de segurança — o
pressuposto é a existência de valores compartilhados pelos Estados que
permitiriam o reforço da confiança mútua e aumentariam as possibilidades de
cooperação na área de segurança internacional.
Ikenberry sintetiza a forma como ele enxerga a ordem internacional em
dois significados. O primeiro significado estaria relacionado às características
liberais dessa ordem (abertura econômica e princípios de reciprocidade e não-
discriminação existentes no comércio internacional). O segundo significado
corresponde à busca da cooperação entre os Estados incluindo temas sensíveis
da agenda internacional (como segurança e defesa) e mesmo que os atores não
sejam liberais.
John Mearsheimer (2019) sustenta que a ordem internacional corresponde
ao conjunto de instituições internacionais que governam as interações entre
os Estados, podendo não incluir necessariamente todos os países, reunindo
instituições regionais ou globais. As instituições são produtos da vontade
das grandes potências e correspondem às regras que permitem tornar
previsíveis os comportamentos dos atores estatais e estabelecer quais desses
comportamentos não são aceitáveis.
Para Mearsheimer, as ordens são necessárias por duas razões. A primeira
delas se refere à crescente interdependência entre os Estados e pela necessidade
de gerenciar diversos temas da agenda internacional que demandam
coordenação e cooperação entre atores estatais em áreas como meio ambiente,
saúde e economia. Ordem serve, sobretudo, para garantir que as grandes
potências possam administrar e restringir ações dos Estados mais fracos.
A segunda razão se refere à necessidade de coordenar recursos e ações dos
membros das alianças militares que se formaram durante a Guerra Fria.
As ordens internacionais são pensadas por Mearsheimer a partir de
uma classificação em três tipos principais, proposta pelo autor. As ordens
podem ser realistas, agnósticas ou ideológicas. É a configuração do poder no
sistema internacional que determinará o predomínio de um desses tipos num
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As múltiplas crises
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determinado período histórico. Num sistema internacional unipolar, como o
do período pós-Guerra Fria, a ideologia política do Estado líder determinará
o tipo de ordem que se formou. Nos sistemas internacionais bipolares ou
multipolares, a ideologia política das grandes potências tem menos importância.
Sendo assim, nos sistemas multipolares, a ordem seria agnóstica.
Num mundo unipolar, a ordem internacional será ideológica e o Estado
líder possui valores centrais e pretende exportar seu sistema político para
outros países. Esse é um elemento importante para a caracterização da crise
da ordem internacional no pós-Guerra Fria, segundo o autor. Nesse momento,
os Estados Unidos são o Estado líder que conduz uma ordem internacional até,
mais ou menos, 2016, quando essa ordem entra em crise. A ordem internacional
liberal depois do fim da Guerra Fria visava realizar três tarefas principais,
segundo a vontade dos EUA: i) expandir o número de membros das instituições
internacionais e criar novas instituições, se necessário; ii) criar uma economia
internacional aberta e inclusiva para favorecer o livre comércio e promover a
abertura de capitais; iii) disseminar a democracia liberal pelo mundo, incluindo
países como China e Rússia, as principais potências desse período depois dos
Estados Unidos.
As duas leituras, de Mearsheimer e de Ikenberry, partem de pressupostos
teóricos diferentes. Mearsheimer entende que é necessário caracterizar a
crise da ordem internacional a partir, primeiramente, da avaliação do papel
dos Estados Unidos, por se tratar da potência líder no pós-Guerra Fria. Essa
ordem só foi possível, segundo ele, pelo fato de os Estados Unidos serem
uma democracia liberal. Se há uma crise no regime político estadunidense,
ela se reflete sobre a ordem internacional conduzida pelos EUA. Além disso,
ele atribui importância às consequências da pretensão estadunidense de
expandir essa ordem para além dos tradicionais países liderados por eles na
aliança que estabeleceu com a Europa ocidental e com o Japão depois de 1945.
No pós-Guerra Fria, os EUA tentaram expandir essa ordem internacional para
diversos países, incluindo a China (ver Weiss e Wallace 2021). Essa pretensão
teve consequências para a crise atual. Entre essas consequências, Mearsheimer
destaca o insucesso dos EUA de expandir a democracia para países nos quais
a implementação desse regime mostrou-se diícil, acarretando guerras
desastrosas tais como as da Síria e da Líbia (iniciadas em 2011).
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As múltiplas crises
do internacional
Além disso, a expansão da ordem internacional liderada pelos EUA
provocou reações negativas de duas potências que rejeitaram as pretensões
estadunidenses (China e Rússia). Enquanto a China desejava limitar a influência
dos Estados Unidos no Pacífico ocidental, a Rússia se opõe à expansão da União
Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa
oriental. Como consequência dessa oposição russa, foi desencadeado o conflito
com a Ucrânia, iniciado com a anexação da Criméia em 2014, e aprofundado com
a guerra entre os dois países a partir de 2022.
Mearsheimer entende que a crise atual das democracias pode ser resultado
da tentativa estadunidense de construção de uma ordem internacional liberal.
Duas razões são apontadas por ele para fundamentar essa interpretação.
A primeira delas se refere ao aumento da autoridade das instituições
internacionais no pós-Guerra Fria. Esse aumento teve consequências sobre
a forma como os cidadãos interpretam o papel dessas instituições como
limitadoras da soberania nacional. Esse ponto é destacado por outros autores
que chamaram a atenção para o aumento da autoridade das instituições
internacionais (ver Börzel e Zürn 2021; Tallberg e Zürn 2019; Zürn 2018).
Mearsheimer argumenta que os cidadãos percebem que as decisões são tomadas
por burocratas localizados em instituições distantes, com baixa responsabilidade
e inacessíveis ao seu controle. Na União Europeia, essa percepção se tornou mais
acentuada por causa do problema dos refugiados e da circulação de pessoas
dentro do espaço Schengen. Além disso, a saída do Reino Unido da União
Europeia (o Brexit) seria, também, consequência desta percepção.
A segunda razão aproxima a interpretação de Mearsheimer dos autores
mencionados na primeira seção do artigo e da abordagem de Ikenberry. Como
ocorre na crise atual das democracias, os efeitos da globalização econômica
(como o aumento da desigualdade econômica dos países desenvolvidos)
geram consequências para o apoio interno, nas democracias liberais, à
ordem internacional do pós-Guerra Fria (Mearsheimer 2019). Para o autor, as
instabilidades da ordem internacional liberal foram produzidas pelos Estados
Unidos na medida que esse país adotou comportamento contraditório: de um
lado, defendeu regras e instituições internacionais muitas das quais criadas e
mantidas pelos estadunidenses depois de 1945; de outro, fragilizou essas regras
ao descumpri-las com certa frequência.
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Ikenberry destaca a vulnerabilidade da democracia liberal como um dos
elementos explicativos da crise recente da ordem internacional. Como notado
na primeira seção do artigo, os questionamentos às instituições democráticas
pelo populismo autoritário têm reflexos sobre a ordem internacional. Não
por acaso, o euroceticismo na União Europeia é alimentado por partidos da
extrema-direita que manifestam ceticismo quanto ao papel das instituições
políticas nas democracias. Mesmo durante o contexto da pandemia da Covid-19,
críticas à Organização Mundial da Saúde (OMS) foram frequentes por políticos,
como Donald Trump, que retirou os EUA da OMS em janeiro de 2025, logo após
sua posse para o seu segundo mandato.
Outro ponto que aproxima as interpretações de Ikenberry e Mearsheimer é
o crescimento da desigualdade econômica gerado pelo processo de globalização.
Esse crescimento seria um dos problemas que afetam a ordem internacional.
Os problemas econômicos estão, também, nas origens de uma eventual crise
das democracias liberais recentemente. Nessa direção, Ikenberry (2020, 276)
entende que o liberalismo econômico estabeleceu o compromisso de lidar
com os efeitos negativos da abertura de mercado sobre o bem-estar social nas
democracias liberais. Para isso, foram criadas regras, instituições e políticas de
bem-estar social materializadas, por exemplo, nos Estados de bem-estar social.
O colapso atual desse compromisso gerou o aumento da insegurança econômica
e da desigualdade. A renda cresceu entre os mais ricos. Indivíduos sem
educação universitária e sem habilidades específicas tendem a ficar para trás.
A renda familiar média dos estadunidenses que não possuem curso superior
caiu 24% entre 1974 e 2015 (Ikenberry 2020, 276-277). O autor identiica,
também, o papel da ascensão da China e da Rússia, que se afastaram da ordem
internacional liderada pelos EUA e promoveram a repressão das influências
ocidentais em seus países. Ambos buscaram expandir suas áreas de influência,
especialmente a China quando se analisa, por exemplo, iniciativas como a do
Cinturão e Rota (ver, a respeito das estratégias chinesas, Zao 2019).
Para Ikenberry, a mudança de posição dos Estados Unidos dentro do
sistema internacional causou perturbações na ordem internacional. Com o fim
da Guerra Fria e o surgimento da unipolaridade, emergiram debates sobre o
poder hegemônico dos EUA e sobre formas de restringir esse poder e assegurar
o compromisso estadunidense com a ordem internacional baseada em regras.
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A estratégia da Guerra Global ao Terror e a Guerra contra o Iraque em 2003,
promovidas pelos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro de
2001, aumentaram as preocupações sobre as necessidades de contenção desse
país. A crise financeira de 2008 levantou questões sobre o modelo econômico
estadunidense. A administração Trump (2017-2020) colocou em xeque o
compromisso dos EUA com a ordem internacional, pois essa administração,
com frequência, questionou as funções de determinadas organizações
internacionais que integram essa ordem, como as críticas que fez à OTAN.
A globalização econômica, associada a uma ordem internacional conduzida
de forma contraditória pelos Estados Unidos, contribuiu para agravar a
governança dessa ordem. Ikenberry (2020, 274) destaca que novos Estados cada
vez mais diversificados entraram nessa ordem com visões e agendas distintas,
e o mundo democrático deixou de ser uma comunidade de segurança mais
homogênea como foi durante a Guerra Fria, reunindo os países da Europa
ocidental e o Japão sob a liderança dos Estados Unidos. Além disso, novas
questões globais mais complexas emergiram, como as mudanças climáticas,
o terrorismo, a proliferação de armas e os desaios da interdependência
(Ikenberry 2020). Como ocorre nas democracias, essa crise é, também, de
natureza institucional. Ela envolve os riscos de uma erosão crescente das
organizações internacionais se elas não se mostrarem capazes de enfrentar
os desaios impostos a elas, sobretudo nos últimos anos. Esses desaios
estão situados na área de segurança internacional, na qual a fragilidade da
Organização das Nações Unidas (ONU) se mostrou mais evidente nos conflitos
recentes da Ucrânia e da Palestina, quando as Nações Unidas não conseguiram
produzir respostas consensuais a esses dois conflitos.
Esse último ponto aproxima os problemas das democracias da crise
da ordem internacional. Ao mesmo tempo, o problema institucional afeta
os regimes políticos democráticos e as regras e instituições da ordem
internacional. Como já foi destacado, as atribuições colocadas às organizações
internacionais se tornaram mais complexas a partir dos anos 1990 sem que
elas fossem redesenhadas para enfrentar esses desafios. A concessão de mais
autoridade política às OIs, as questões complexas que elas precisam enfrentar e
os arranjos que podem ser estabelecidos entre diversas organizações regionais
e internacionais compõem um quadro mais amplo a partir do qual a crise
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da ordem internacional precisa ser avaliada. O problema da efetividade dos
regimes e organizações internacionais é colocado em outros termos a partir
dos anos 1990. Tallbert e Zürn (2019) mencionam que a capacidade das OIs de
lidar com os problemas complexos das suas agendas decisórias depende da
legitimidade que elas possuem perante governos e cidadãos nacionais. Nesse
sentido , as organizações internacionais padecem do mesmo problema que
as instituições políticas democráticas no espaço doméstico: elas precisam
ser reconhecidas como legítimas pelos públicos afetados pelas decisões
tomadas por elas. As crises atuais da ordem internacional e das democracias
envolvem perda relativa de legitimidade das instituições políticas nacionais
e internacionais, pois essas instituições estão sujeitas cada vez mais à
contestação, sobretudo por parte de líderes populistas autoritários, como
o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O crescimento do
populismo autoritário, conforme apontado na primeira seção deste artigo, é
um componente da crise das democracias. Ele se baseia na relação direta dos
líderes populistas com seus seguidores via redes sociais ou com o “povo, sem a
mediação de instituições democráticas tradicionais, como os partidos políticos.
Nessa direção, as instituições tradicionais são contestadas, criticadas e perdem
apoio nas sociedades. O mesmo ocorre com as organizações internacionais,
sujeitas à contestação que não se apresenta apenas nos discursos políticos, mas
podem envolver decisões concretas de rompimento com elas, como se pode
observar na tomada de decisões recente do presidente estadunidense, que
optou por retirar seu país da Organização Mundial da Saúde — como já havia
feito antes, em 2020, no seu primeiro mandato — e do Acordo de Paris sobre as
mudanças climáticas aprovado em 2015.
Para as organizações internacionais, a perda de legitimidade é, ainda, mais
dramática quando comparada às instituições democráticas domésticas, pois
compromete a realização de suas metas políticas e a obtenção de financiamento
dos Estados nacionais. Tallberg e Zürn (2019) argumentam que as OIs não
possuem poder de coerção sobre atores estatais e não-estatais e, por isso,
a legitimidade é relevante na governança global. A baixa legitimidade de
uma organização internacional pode comprometer o respeito às regras
internacionais e gerar um déficit democrático na governança global. Ao
mesmo tempo, as OIs precisam ser estruturadas em conformidade com
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princípios democráticos — o que é mais diícil de implementar sem que nelas
sejam realizadas reformas políticas profundas (Tallberg e Zürn 2019, 582).
Torná-las estruturadas segundo esses princípios envolve pensar nas formas
de controle de governos e cidadãos nacionais sobre os burocratas e agentes
políticos responsáveis pela tomada de decisão. A abordagem de Tallberg e Zürn
define a legitimidade em termos sociológicos. Para os autores, a legitimidade
é determinada pelas crenças e percepções do público sobre o exercício da
autoridade política pelas organizações internacionais. Esse público (formado
por atores estatais e sociais, elites governamentais e cidadãos comuns) avalia se a
OI exerce adequadamente o direito de tomar decisões dentro da área temática na
qual ela atua (Tallberg e Zürn 2019). Nessa direção, pesquisas que coletam dados
sobre a opinião pública, como as que foram apresentadas na seção precedente
deste artigo, servem de termômetro para avaliar o apoio dos cidadãos às OIs.
Sendo assim, a continuidade da crise das democracias pode contribuir
para aumentar os problemas de legitimidade das organizações internacionais,
aprofundando a crise da ordem internacional. As contestações à legitimidade
das OIs partem de atores não estatais, movimentos antiglobalização e do
populismo autoritário de partidos e líderes associados, sobretudo, à direita
radical. Nesse sentido, as organizações precisam enfrentar um desafio mais
complexo do que as instituições políticas nacionais, pois as OIs estão mais
distantes dos cidadãos nacionais como apontou a análise de Robert Dahl (1994
e 1999). Esse problema reitera a insatisfação dos cidadãos com decisões tomadas
por elas, criando maiores dificuldades para que essas organizações possam ser
reconhecidas como capazes de produzir políticas e decisões de forma legítima.
A existência de problemas institucionais comuns à democracia e à ordem
internacional, guardadas as diferenças signiicativas entre ambas, torna
necessário compreender melhor a natureza dos problemas dos regimes
políticos democráticos. Nesse sentido, acompanhar os desenvolvimentos
recentes da democracia, dos indicadores de crescimento de forças políticas
autoritárias, da contestação e da percepção dos cidadãos nacionais sobre esse
regime político pode ser adequado para se avaliar o curso da crise da ordem
internacional contemporânea. Essa crise não se explica, adequadamente, sem
a articulação entre os níveis doméstico e internacional, ponto que aproxima as
distintas análises de Mearsheimer e Ikenberry apresentadas nesta seção.
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Considerações finais
O problema da legitimidade revela como os desaios às democracias
contemporâneas não estão dissociados da crise da ordem internacional. Os
elementos explicativos dessa crise são variados, envolvem o papel dos Estados
Unidos no período pós-Guerra Fria, a ascensão da China e a guerra comercial
com os EUA (ver Zao 2019) e os conflitos que caracterizam esse período. Sem
deixar de reconhecer a complexidade desta crise, pode-se destacar uma
dimensão que foi apontada pelas análises de Mearsheimer e Ikenberry. Como
os problemas da democracia afetam a ordem internacional e, ao mesmo
tempo, como a crise atual dessa ordem tem implicações sobre o crescimento de
perspectivas contrárias aos regimes e instituições políticas democráticas.
No inal da primeira seção deste artigo, o propósito foi destacar a
combinação de duas variáveis que se apresentam nas análises de uma eventual
crise das democracias — a cultura política por meio da qual se pode avaliar a
perda ou não do apoio popular à democracia; e a variável institucional. Essas
duas variáveis estão conectadas, também, na crise da ordem internacional
liberal. A crise dessa ordem é, também, um problema relacionado ao papel
das organizações internacionais no mundo atual e, também: (i) à avaliação
sobre a adequação de seus desenhos institucionais para enfrentar os desafios
complexos da agenda internacional; (ii) às funções que desempenham;
(iii) à capacidade que possuem de representar os diversos interesses envolvidos
nos seus processos decisórios; (iv) e às possibilidades de serem submetidas a
mecanismos de accountability perante os públicos (cidadãos, Estados, atores
da sociedade civil etc.) afetados por suas decisões. É fundamental destacar,
também, a insatisfação dos países do Sul Global com a ordem internacional,
seja pelo fato dela privilegiar os interesses das grandes potências, seja pela
não concretização de propostas de reforma institucional que pudessem
aumentar os espaços de poder dos países em desenvolvimento. Essa insatisfação
estimula o desenvolvimento de uma “ordem paralela” (Stuenkel 2018) cujo
propósito seria complementar as instituições existentes. É o que ocorre, por
exemplo, com a criação no BRICS em 2015 do Novo Banco de Desenvolvimento
(Stuenkel 2018).
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A crise da ordem internacional envolve discutir o problema da legitimidade
que afeta atualmente as instituições democráticas e as organizações internacio-
nais. É igualmente importante medir o apoio conferido pelos cidadãos nacionais
a essas organizações, como fez recentemente a Comissão Europeia num inquérito
produzido pelo Eurobarômetro publicado em 10 de julho de 2023 (Comissão
Europeia, 2023). Nesse inquérito, é possível perceber uma divisão entre os
respondentes: 47% dizem confiar na União Europeia e outros 45% declaram não
confiar; 45% dos cidadãos da UE possuem uma imagem positiva do bloco, 18% têm
uma imagem negativa e 37% têm uma imagem neutra da UE. Esses dados indicam
uma estabilidade, segundo o Comunicado de Imprensa da Comissão Europeia.
Mas são sintomáticos, sobretudo os dados que se referem à confiança na UE.
O caso da União Europeia exemplifica como as análises sobre a percepção
dos cidadãos podem compor uma base de dados para pesquisas cujo propósito
seja avaliar a legitimidade das organizações internacionais. Essa legitimidade
não é avaliada, apenas, a partir da percepção dos cidadãos, pois é necessário
considerar outros atores que interagem com elas, como ONGs, governos
nacionais, associações empresariais, movimentos sociais etc. Mas a percepção
dos cidadãos nacionais é um termômetro importante. Enim, entender os
problemas das democracias, e as mudanças pelas quais estão passando, pode
fornecer contribuições para avaliar: i) a crise da ordem internacional liberal;
e (ii) a necessidade de aprofundar o debate sobre o papel, as funções e o
desempenho das organizações internacionais.
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