
A crise da ordem internacional e os problemas das democracias liberais
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1501, 2024
12-25
OSSIÊD
As múltiplas crises
do internacional
democracia. Houve uma queda na satisfação com a democracia desde 2021,
logo após a posse do presidente Joe Biden, quando os números mostravam que
47%, 21% e 36% de democratas, republicanos e independentes, respectivamente,
estavam satisfeitos com o funcionamento da democracia (Gallup 2024). O Gallup
pondera que a satisfação dos estadunidenses com a democracia tende a variar
de acordo com o ocupante da presidência (se ele é republicano ou democrata).
As abordagens apresentadas nesta seção do artigo foram construídas a
partir do impacto de dois eventos relevantes que chamaram a atenção dos
analistas políticos e dos intelectuais: a primeira eleição de Donald Trump nos
Estados Unidos em 2016; e o plebiscito que aprovou a saída do Reino Unido da
União Europeia, também em 2016 (Moreira 2023). O quadro geral traçado por
essas abordagens permite identificar elementos da crise das democracias no
Sul Global, como a ascensão de políticos populistas autoritários, observados
em diversas experiências recentes na América Latina, como Brasil, com Jair
Bolsonaro (2019-2022), e Argentina, com Javier Milei (2023). O recurso às
redes sociais como ferramenta de campanhas eleitorais e de disseminação de
ideias por esses políticos é, também, outro traço característico dessa crise.
Suárez Pizzarello e Sánchez (2024 ), por exemplo, destacam os meios utilizados
por políticos populistas como Javier Milei na Argentina, Nayib Bukele
em El Salvador e Dina Boluarte no Perú. Os três recorrem às redes sociais
para disseminar suas ideias e, inclusive, mensagens falsas, são acusados de
perseguição a jornalistas, promovem repressão a protestos sociais contrários
aos seus governos, incentivam a polarização política e contribuem, com seus
comportamentos e ações, para debilitar a democracia nos seus países.
No entanto, a literatura internacional que analisa a crise das democracias
pode ser não ser insuficiente para entender os problemas das democracias no
Sul Global, como sugere Miguel (2022). Como observam Conci e Campos (2022),
o surgimento de lideranças populistas recentes na América Latina demonstra
que a região continua produzindo esse perfil político, como ocorreram em
outros momentos históricos. Esses políticos estão vinculados à esquerda e
à direita do espectro político. A onda de lideranças populistas dos últimos
anos, portanto, não constitui novidade na história dos países da América
Latina. A característica dessas lideranças, no entanto, contribui para as crises
das democracias da região que enfrentam, historicamente, dificuldades de