
Terra Friedrich Budini; Flávia D’Angelo; Marcela Greggo
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1467, 2024
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OSSIÊD
As múltiplas crises
do internacional
mobilizar por ações climáticas mais ambiciosas e aumentar suas próprias ações,
encorajando o registro de tais iniciativas na então Plataforma NAZCA/Global
Climate Action Portal (UNFCCC 2015b).
A atuação não-estatal tem se dado em, pelo menos, duas frentes: por um
lado, iniciativas autônomas, protagonizadas por atores privados e ONGs, fora
do sistema UNFCCC. O Science Based Targets Initiative (SBTi), por exemplo, é
uma das principais plataformas por meio da qual o setor privado demonstra
suas metas de redução de emissões, tendo em vista o objetivo de limitar o
aquecimento global a 1,5°C. Há, também, padrões amplamente aceitos para a
elaboração de relatórios de sustentabilidade, prática cada vez mais comum
entre empresas e demandada por seus acionistas, como o Global Reporting
Initiative (GRI) e, mais recentemente, as normas IFRS S1 e S2. Além das
iniciativas autônomas, destaca-se a participação não-estatal no sistema UNFCCC
propriamente dito, com presença nas COPs e nas delegações nacionais.
Grande parte da literatura produzida sobre o tema nas relações
internacionais vem das abordagens liberais institucionalistas, predominantes
na teoria de regimes e produzida majoritariamente nas universidades do
norte global. Essa literatura caracteriza a multiplicação de atores e iniciativas
não estatais como uma camada de governança transnacional (Hale 2016; 2020;
Abbott 2018), como uma forma de multilateralismo híbrido (Bäckstrand et al.
2017; Kuyper, Linnér e Schroeder 2018), de governança policêntrica (Oberthür
2016; Dorsch e Flachsland 2017; Abbott 2018), de orquestração (Hale e Roger
2013; Abbott 2018; Kuyper, Linnér e Schroeder 2018) ou ainda de um regime
complex climático transnacional (Abbott 2012). Em comum, a maioria dessas
contribuições, com exceções pontuais, prioriza a institucionalidade construída
por diversos atores, com destaque justamente para essa multiplicidade e
pouca análise sobre as disparidades de poder, desigualdades de acesso e
representação entre atores tão assimétricos quanto instituições financeiras e
comunidades locais. A revisão dessa literatura nos mostra que os principais
pontos de análise dizem respeito a 1) quem são os atores não-estatais; 2) sobre
as formas de interação com o regime intergovernamental; 3) questões relativas
à legitimidade; e 4) à efetividade dessa participação, como veremos a seguir.
Sobre o primeiro ponto, chama a atenção justamente a falta de
problematização sobre a natureza assimétrica dos diversos atores agrupados