Ismara Izepe de Souza; Fábio Moreira Meira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 2, e1432, 2024
5-23
de conhecer a imagem do Brasil que o jornal desejava projetar junto à opinião
pública norte-americana. Cumpre mencionar que estamos abordando essa temática
a partir da perspectiva do emissor, pois seria difícil ter uma noção precisa da
forma como tais notícias influenciaram a visão que o leitor médio detinha do
Brasil, especialmente de sua inserção internacional. Por outro lado, sabemos que
a intenção da imprensa, ao selecionar as informações e priorizar alguns assuntos
em detrimento de outros, determina um tipo de apreensão da realidade pelo
leitor. Optamos pelo NYT, dado o seu gigantismo no que se refere ao alcance
que detinha junto ao público leitor dos EUA no período estudado.
Importante expoente da opinião pública norte-americana, o The New York
Times foi fundado em 1851, inicialmente sob o nome New York Daily Times,
adotando, em 1896, o nome atual. Segundo Molina, até dezembro de 2006, o
site do jornal contava com mais de 44 milhões de visitas, sendo possivelmente
um dos mais influentes do mundo (2009, 158). O período aqui estudado é
particularmente importante para o periódico porque marca sua transformação em
um jornal de âmbito nacional, ao abrir uma sucursal na costa oeste americana
(Molina 2009, 115). Em 1971, o jornal se cobriu de glória ao divulgar os “Papéis
do Pentágono”, uma série de documentos ultrassecretos sobre a participação
norte-americana na Guerra do Vietnã, que colocaram em xeque a credibilidade
do país frente à população civil (Molina 2009, 134).
O NYT é classificado como um jornal liberal, embora comumente esteja no
centro do espectro político, pois já apoiou e criticou tanto presidentes republicanos
quanto democratas (Molina 2009). Segundo Gay Talese, na década de 1960, o NYT
estava diariamente presente em 11464 cidades americanas e todas as capitais do
mundo. Em 1966, possuía 5307 empregados e consumia anualmente em papel,
para sua produção, mais de 5 milhões de árvores (2000, 83-84). A escolha do
jornal também obedeceu a uma lógica pragmática de acesso às fontes, uma vez
que seu acervo pode ser consultado integralmente pelos assinantes, através de
um mecanismo denominado Times Machine. Identificamos que o referido jornal
aumentou consideravelmente seu interesse pelo Brasil durante os primeiros anos
da década de 1960 e, em linhas gerais, esteve preocupado em demonstrar que
o país estava suscetível ao “perigo vermelho”.
Com o intuito de melhor apresentar nossas ideias, dividimos o artigo em três
seções, além da introdução e das considerações finais. Na primeira seção faremos
uma explanação sobre a Política Externa Independente, suas principais ações,
apontando que sua imagem, por parte da imprensa nacional, estava associada à