
Soberania e Crise Ambiental: um estudo sobre a cooperação relacionada ao compartilhamento [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 2, e1431, 2024
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Nesse cenário, é importante considerar as estruturas para a governança
dos recursos hídricos, que reúnem sistemas políticos, sociais, econômicos e
administrativos para regular a alocação e distribuição desses recursos nos
diferentes níveis da sociedade (Centre for Environment Education 2020). Esse
entendimento é desenvolvido por Assis, Ribeiro e Silva (2020), ao afirmarem
que a governança das águas se baseia em arranjos interdependentes entre essas
esferas, e incluem o processo de formulação e implementação de políticas e
estruturas institucionais, formais ou não, para regular a alocação do recurso.
Além dos aspectos ressaltados, a literatura especializada entende a necessidade
de uma abordagem adaptativa em relação aos recursos hídricos transfronteiriços,
que enfatize a aprendizagem e a experimentação estruturada, conjuntamente
com flexibilidade nos meios para obtê-las (Huitema et al. 2009, 1).
A governança de bacias hidrográficas transfronteiriças ou internacionais tem
estimulado diversos estudos direcionados, por um lado, para a potencialidade
para o conflito, implícito no compartilhamento de recursos de água doce por
Estados soberanos e pelos múltiplos e concorrentes usos da água e, por outro
lado, nas condições necessárias ao desenvolvimento da cooperação entre os
Estados ripários para estabelecer parâmetros para a apropriação, uso, preservação
e conservação desses recursos. Além dessa perspectiva, Newell e Paterson (2010),
destacam o papel central que atores econômicos desempenham no estabelecimento
de políticas ambientais. Esses atores frequentemente priorizam o crescimento
econômico e a exploração dos recursos, em detrimento de soluções coletivas e
sustentáveis, o que agrava a crise ambiental e limita a eficácia das iniciativas
de cooperação.
Outro aspecto a ser levado em conta é o da importância de estruturas de
governança multinível, que “se refere a um sistema no qual várias camadas de
autoridade governam ou tomam decisões simultaneamente, sendo que cada
uma possui níveis de poder, competência e responsabilidade específicos, a
depender dos problemas enfrentados” (Souza 2024, 83). Embora complexas, tais
estruturas podem reduzir os desafios da gestão. Abordagens que incorporam
a governança multinível reconhecem a complexidade dos sistemas políticos
e os desafios relacionados às questões ecossistêmicas. Desse modo, entende-
se que a governança multinível atende à necessidade de eficácia na gestão
dos recursos hídricos, dado que requer a participação de múltiplos níveis de
governo e de outros atores como Organizações Não Governamentais (ONGs),
stakeholders e comunidades locais. Ela também valoriza a interação entre os