Agenda Ambiental no Regionalismo Sul-Americano: os casos do MERCOSUL e da OTCA
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 2, e1429, 2024
14-22
O caso da Amazônia desperta a atenção, justamente pela quantidade de
convergência entre os países amazônicos, mas pela baixa articulação comercial
entre os países. Por isso mesmo, a OTCA não representa um processo de integração,
mas sim de cooperação regional tendo como características: o predomínio da
participação estatal na sua estrutura, uma institucionalidade mais restrita pelo
fato de voltar-se para uma agenda específica, baixa interdependência econômica
entre seus integrantes, pouca capacidade de impor suas normas e de punir os
descumprimentos dos acordos.
A Amazônia, ocupa mais de 7,5 milhões de Km², em oito países sul-americanos
e na Guiana Francesa5 (Departamento Ultramarino), sendo que 70% estão em
território brasileiro (em torno de 5 milhões de Km²), composta pela maior bacia
hidrográfica e a mais extensa floresta tropical do planeta, rica em biodiversidade
e endemismo e dispõe de serviços ecossistêmicos que ultrapassam as fronteiras
ambientais e políticas na região.
Apesar de a Amazônia não ser homogênea, alguns desafios impostos aos
países da região são semelhantes. A baixa ocupação territorial da região, a
dificuldade de monitoramento do espaço, a multiplicidade de crimes ambientais,
a porosidade das fronteiras e a pressão internacional sobre a Amazônia promovem
interesses comuns entre os países amazônicos (Godoy 2022).
O primeiro movimento formal de aproximação entre os países da região
foi motivado justamente por pressões ambientais promovidas pela comunidade
internacional, frente aos avanços dos debates ambientais mundiais. A conferência
de Estocolmo (1972), projetou os impactos do descaso ambiental para o mundo e
erroneamente colocou a Amazônia na posição de ‘pulmão do mundo’. Este status
iniciou debates sobre a necessidade de proteção imediata, ampla e internacional
da região, mesmo que isso afetasse a soberania dos países amazônicos.
Importante salientar o papel da diplomacia brasileira nesse processo, que
soube transformar a pressão internacional em impulso para aglutinar os países
(Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) em torno
da defesa de suas soberanias nas áreas florestais e consolidar esta iniciativa no
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) em 1978, que deu origem à Organização
do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) em 1998. Os membros da OTCA
são os mesmos do TCA, ou seja, a Guiana Francesa também foi excluída desta
iniciativa (Godoy 2022).
5 A Guiana Francesa, território ultramarino francês, apesar de estar inserida no bioma amazônico, para fins de
cooperação, normalmente é excluída das negociações, visto que se encontra sob a soberania de um país europeu.