A internacionalização das empreiteiras e a política externa brasileira durante a ditadura [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 1, e1417, 2024
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sentido de possíveis exportações adicionais como no estreitamento de
relações com países produtores de petróleo.
Trata-se das comemorações, em 28 de novembro próximo, do décimo quinto
aniversário da independência da Mauritânia. Conforme convite enviado, o
governo do referido país espera que o Brasil se faça representar, naquelas
comemorações, por delegação chefiada por ministro de Estado.
Comparecerão delegações semelhantes, de cerca de 40 países, muitos deles
produtores de petróleo. Quase todos atuais ou potenciais compradores de
bens e serviços brasileiros.
Por outro lado, como é do conhecimento de vossa excelência, a Mendes
Junior, empregando duzentos brasileiros, mil mauritanianos, constrói
atualmente, na Mauritânia, a estrada Nouakchott-Kiffa, com 603 quilômetros,
maior obra do país.
Curso no Oeste da África. É a primeira vez que uma firma brasileira
realiza, naquela região, serviço desse vulto e exportação de tecnologia
tão expressiva.
Outrossim, salientamos que, em função dessa obra, já foram geradas
exportações brasileiras de cerca de dez milhões de dólares em equipamentos,
mais seis milhões de dólares em asfalto, mais frete.
[...] Pelas razões expostas, estamos ansiosos de o governo brasileiro aceite
o convite e designe delegação altamente expressiva, a nível de ministro, o
que, além de outros benefícios, viria também incentivar os brasileiros já
empenhados em operações geradoras de recursos externos, a prosseguirem
em seus esforços na busca de novos mercados. (CPDOC/FGV 1975a)
Esse documento, encontrado no fundo do ministro Azeredo da Silveira no
arquivo do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do
Brasil (CPDOC/FGV) — para quem o ministro Golbery encaminhou o memorando
—, nos parece revelador de várias questões. Em primeiro lugar, parece claro que o
empresário possuía um canal direto com um ministro de Estado altamente poderoso
que era o caso de Golbery do Couto e Silva, um dos principais articuladores do
golpe de 1964 e da abertura política da ditadura. Em segundo lugar, parece ser
evidente que a empreiteira demanda a ação estatal, alegando ganhos gerais à
economia brasileira, para protegê-la e apoiá-la no exterior. Ou melhor, a empresa
privada sugere uma ação de política externa aos agentes que cumprem funções
oficiais no Estado brasileiro, sinalizando a possibilidade de usar um evento como
mecanismo para promover os interesses brasileiros junto aos países presentes no
encontro. O documento é antecedido por um despacho do ministro de Relações