Allana Facchini da Silva; Thiago Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1407, 2023
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para os processos socioeconômicos, políticos e securitários que impactam na
elaboração de política de drogas no plano internacional.
Dividida, exclusivamente por critérios didático-interpretativos, em seis
níveis, a proposta teórico-metodológica mescla a análise de dimensões morais,
securitárias e da economia política. Dessa maneira, o primeiro nível sob foco
de análise é o nível moral-societal que desnuda os componentes racistas e
xenofóbicos existentes no sistema de proibição, bem como a cultura do castigo
e a necessidade de punir os entendidos como “desviantes sociais”.
Na sequência, a dimensão securitária é esmiuçada em quatro níveis. O primeiro
deles é a segurança sanitária, que lança atenção sob o interesse do Estado em
intervir no controle dos corpos, trazendo à tona os efeitos dos psicoativos no bem
jurídico da saúde pública. O segundo é segurança pública, que é diretamente
associado a um período histórico no qual a ameaça do narcotráfico começa a
ganhar legitimidade e quando as legislações penais passaram a ser aprovadas
– ancorando-se na necessidade socialmente construída de criminalizar delitos
relacionados aos psicoativos.
Em um processo de expansão, a problemática atinge os níveis da segurança
nacional, que emerge ainda nesse bojo de preocupações com a figura do
narcotraficante, mas é materializada na declaração de “guerra às drogas” no governo
estadunidense de Richard Nixon. Nesse momento, o narcotráfico passou a ser
caracterizado como uma ameaça à segurança nacional, que deveria ser combatido
sem contingência de forças, abrindo espaço, com isso, para a construção de um
modelo amplamente militarizado de combate ao narcotráfico. A última parte
da dimensão securitária é segurança internacional, que, por sua vez, representa
mais uma expansão, agora elevando a intenção de uniformização do aparato
penal no plano internacional de combate às drogas, e alçando o narcotráfico ao
status de uma ameaça à segurança internacional.
Por fim, o sexto nível, o da economia política, representa a necessidade de
analisar os processos econômicos envolvidos no mercado ilegal do “narcotráfico”
o entendendo como “[...] um mercado complexo, com etapas legais e ilegais, e
formas dinâmicas de difusão que impactam desde formações econômico-sociais
locais até o mercado financeiro global” (Rodrigues, Carvalho e Policarpo 2022, 8,
tradução dos autores)6. Isto posto, munidos dessas reflexões, na sequência
apresentaremos o processo de legalização da Cannabis no Uruguai.
6 No original: “[…] análisis de un mercado complejo, con etapas legales e ilegales, y formas dinámicas de
difusión que impactan desde formaciones económico-sociales locales hasta el mercado financeiro global”.