Daniel Sebastián Granda Henao
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1378, 2023
13-25
OSSIÊD
Relações Internacionais:
da América Latina para o mundo
Por várias horas, esses seres de coração moreno traçaram, com suas ideias,
um grande caracol. Partindo do internacional, seu olhar e seu pensamento
foram se aprofundando, passando sucessivamente pelo nacional, regional
e local, até chegar ao que chamam de “El Votán. O guardião e o coração do
povo”, os povos zapatistas. Assim, da curva mais externa do caracol, pensam-
se palavras como “globalização”, “guerra de dominação”, “resistência”,
“economia”, “cidade”, “campo”, “situação política” e outras que o apagador
vai eliminando após a pergunta usual “Está claro ou há perguntas?”. No
inal do caminho de fora para dentro, no centro do caracol, restam apenas
umas siglas: “EZLN”. Depois há propostas e desenham-se, no pensamento
e no coração, janelas e portas que só eles veem (entre outras coisas, porque
ainda não existem). A palavra díspar e dispersa começa a fazer um caminho
comum e coletivo. Alguém pergunta ‘Tem acordo? “Tem”, responde a voz
já coletiva, airmando. O caracol é traçado novamente, mas agora em
caminho inverso, de dentro para fora. O apagador também segue o caminho
inverso até que tudo o que resta, preenchendo o velho quadro-negro, é
uma frase que para muitos é delírio, mas para esses homens e mulheres
é motivo de luta: “um mundo onde cabem muitos mundos”. Depois disso
toma-se uma decisão. (SCI Marcos 2003b)
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.
Outro elemento importante para entender as dimensões meta-teóricas
da luta zapatista é a importância da organização social para conseguir atingir
tudo aquilo que se propõem, a utopia viva nos seus territórios, segundo seus
próprios modos de ser e viver em coletivo. Essa organização é a que permite
articular o pensamento de modo coletivo e ter práticas do seu horizonte
político-ético-epistêmico: olhar o mundo para dentro de si e depois caminhar
juntos do menor ao maior, do pessoal ao global. O subcomandante Moisés, atual
porta-voz, fala sobre isso:
10 No original: Durante varias horas, estos seres de corazón moreno han trazado, con sus ideas, un gran caracol.
Partiendo de lo internacional, su mirada y su pensamiento ha ido adentrándose, pasando sucesivamente por
lo nacional, lo regional y lo local, hasta llegar a lo que ellos llaman "El Votán. El guardián y corazón del pueblo",
los pueblos zapatistas. Así desde la curva más externa del caracol se piensan palabras como "globalización",
"guerra de dominación", "resistencia", "economía", "ciudad", "campo", "situación política", y otras que el borrador
va eliminando después de la pregunta de rigor "¿Está claro o hay pregunta?". Al final del camino de fuera hacia
dentro, en el centro del caracol, sólo quedan unas siglas: "EZLN". Después hay propuestas y se dibujan, en el
pensamiento y en el corazón, ventanas y puertas que sólo ellos ven (entre otras cosas, porque aún no existen). La
palabra dispar y dispersa empieza a hacer camino común y colectivo. Alguien pregunta ‘¿Hay acuerdo? "Hay",
responde afirmando la voz ya colectiva. De nuevo se traza el caracol, pero ahora en camino inverso, de dentro
hacia fuera. El borrador sigue también el camino inverso hasta que solo queda, llenando el viejo pizarrón, una
frase que para muchos es delirio, pero para estos hombres y mujeres es una razón de lucha: "un mundo donde
quepan muchos mundos". Más despuecito, una decisión se toma.