Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
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Process tracing na Ciência Política e
nas Relações Internacionais brasileiras:
uma análise bibliométrica (2012-2023)
Process tracing in Brazilian political
science and International Relations:
A bibliometric analysis (2021-2023)
Process tracing en la Ciencia Política
y las Relaciones Internacionales
brasileñas: un análisis bibliométrico
(2012-2023)
DOI: 10.21530/ci.v18n3.2023.1365
Enzo Lenine
1
Eduardo Grizenti
2
Agnes Bia
3
Beatriz Cardoso
4
Resumo
O uso de process tracing nas pesquisas em Ciência Política e Relações
Internacionais publicadas em periódicos brasileiros segue as diretrizes
dessa abordagem metodológica? Process tracing tornou-se um dos
1 Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal da
Bahia – UFBA – Brasil. (lenine@ufba.br),
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5280-4252.
2 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal da Bahia – UFBA – Brasil. (eduardo.grizenti@gmail.com),
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4742-2641.
3 Graduanda em Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia – UFBA –
Brasil. (ac.agnesbarbosa@gmail.com),
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-5925-5207.
4 Graduanda em Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia – UFBA –
Brasil. (cardosobextriz@gmail.com),
ORCID: https://orcid.org/0009-0007-5602-684X.
Artigo submetido em 26/04/2023 e aprovado em 23/10/2023.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
Copyright:
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principais métodos qualitativos para identificar relações causais no tempo, sendo cada
vez mais utilizado no Brasil. Entretanto, persistem dificuldades em sua implementação,
sobremaneira no que tange aos seus pressupostos epistemológicos e metodológicos. Neste
artigo, realiza-se uma análise bibliométrica dos artigos publicados em periódicos de Ciência
Política e RI nacionais na última década que mobilizaram process tracing, avaliando se sua
implementação segue as diretrizes mínimas recomendadas pela literatura.
Palavras-chave: process tracing; metodologia qualitativa; causalidade; mecanismos causais.
Abstract
Does process-tracing-based research in Brazilian political science and International Relations
follow the guidelines of this methodological approach? Process tracing has become one of
the main qualitative methods for identifying causal relationships in time, being increasingly
used in Brazil. However, difficulties persist in its implementation, especially with regard
to its epistemological and methodological assumptions. In this article, we perform a
bibliometric analysis of articles published in Brazilian political science and IR journals
in the last decade that mobilized process tracing, assessing whether its implementation
follows the minimum guidelines recommended by the literature.
Keywords: process tracing; qualitative methodology; causality; causal mechanisms.
Resumen
¿El uso de process tracing en investigaciones de Ciencia Política y Relaciones Internacionales
publicadas en revistas brasileñas sigue las directrices de este enfoque metodológico?
Process tracing se ha convertido en uno de los principales métodos cualitativos para
identificar relaciones causales en el tiempo, siendo cada vez más utilizado en Brasil. Sin
embargo, persisten dificultades en su implementación, especialmente en lo que se refiere
a sus premisas epistemológicas y metodológicas. En este artículo se realiza un análisis
bibliométrico de los artículos publicados en revistas nacionales de Ciencia Política y RRII
en la última década que movilizaron process tracing, evaluando si su implementación
sigue las directrices mínimas recomendadas por la literatura.
Palabras-clave: process tracing; metodología cualitativa; causalidad; mecanismos causales.
Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
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Introdução
Desde os debates metodológicos dos anos 1990, as academias de Ciência
Política e RI têm refletido sobre as condições de produção de conhecimento a
partir de métodos qualitativos (Brady e Collier 2010; Goertz e Mahoney 2012;
Kin, Keohane e Verba. 1994/2021; Yanow e Schwartz-Shea 2015). Se em larga
medida o debate envolvia a demonstração de que tais métodos eram tão valiosos
para essas disciplinas como os métodos quantitativos, uma parte das discussões
buscou argumentar que abordagens qualitativas seriam igualmente capazes
de demonstrar que “a evidência qualitativa pode definir a causalidade (...)
preenchendo as lacunas e ajudando a demonstrar os mecanismos reais e (...)
usando um modelo diferente de causalidade”5 (Dowding 2016, 162).
Nesse contexto de efervescência de reflexões metodológicas, a abordagem
de process tracing emergiu como uma possibilidade de conferir a um só tempo
novos significados de causalidade e formas de evidenciá-la em fenômenos políticos
e internacionais reais (Beach e Pedersen 2019; Bennett 2008, 2010; Bennett e
Checkel 2015; Collier 2011; Mahoney 2015; Waldner 2012). Oriundo da psicologia
cognitiva (Bennett e Checkel 2015, 5; Dowding 2023, 328), o termo adentra a
Ciência Política no contexto americano ainda nos anos 1970, mas se torna uma
prática comum na disciplina apenas nos anos 1990 e, sobretudo, no século XXI.
A promessa de conferir um rigor metodológico que atendesse às expectativas
da comunidade científica – ainda muito presa aos pressupostos de rigor dos
métodos quantitativos (Lenine, 2023) – determinou um lugar especial ao process
tracing nos debates que visavam a reposicionar os métodos qualitativos como
instrumentos fundamentais e legítimos da pesquisa política e internacional.
Não por acaso, esses debates seguem ativos, com diferentes posições sobre seus
significados, utilidades e capacidades de revelar mecanismos e relações causais
(Beach 2016; Bennett 2016; Clarke 2023; Dowding 2023; Jacobs 2016; Runhardt
2016; Waldner 2016).
No Brasil, a introdução de process tracing como instrumento de pesquisa
política tem-se dado ainda de forma bastante incipiente. Se é um fato que reflexões
sobre essa abordagem metodológica podem ser mapeadas principalmente ao longo
dos anos 2010 (Aviles 2018; Cunha e Araújo 2018; Henriques, Leite e Teixeira
Junior 2015; Rezende, 2014; Silva e Cunha 2015), a sua aplicação em estudos
5 Essa e as demais traduções foram realizadas pelos autores.
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empíricos ainda se encontra limitada a poucas incursões tanto na pesquisa
política como na internacional. Ademais, paira sobre tais empreendimentos
analíticos a questão sobre se as diretrizes dessa abordagem são adequadamente
mobilizadas no curso da pesquisa, nomeadamente no que tange às concepções
de causalidade e ao mecanismo causal. Em outras palavras, persiste a dúvida
se realmente process tracing é aplicado ou se ele se tornou um novo rótulo para
estudos de caso e narrativas históricas.
Nesse sentido, o presente artigo postula a seguinte pergunta de pesquisa:
o uso de process tracing nas pesquisas em Ciência Política e RI publicadas
em periódicos brasileiros segue as diretrizes dessa abordagem metodológica?
Argumentamos que a centralidade da noção de causalidade e mecanismos causais,
e o desiderato de aprimoramento das evidências (por triangulação ou por análise
bayesiana) são elementos essenciais do process tracing que o distinguem de outros
métodos qualitativos (Clarke 2023), nomeadamente daqueles que se fundam em
narrativas históricas ou causais (Kurki e Suganami 2012; Suganami 2008). Esses
têm sido pontos cruciais ao longo dos debates sobre process tracing que, a rigor,
não poderiam ser elididos no uso do mesmo como estratégia metodológica.
De modo a responder a essa pergunta, propomos uma análise bibliométrica dos
trabalhos publicados em periódicos nacionais de Ciência Política e RI (de acordo
com as classificações do Qualis CAPES) que utilizam process tracing orientada
por categorias focadas, sobretudo, em questões de causalidade e evidências.
Essa análise nos permite avaliar o estado da arte do uso de process tracing nas
academias brasileiras dessas disciplinas, sinalizando não só como as mesmas
compreendem essas questões, mas, sobremaneira, como as pesquisas locais
implementam os pressupostos fundamentais dessa abordagem metodológica.
O artigo está estruturado em quatro seções. Na primeira, apresentamos um
panorama de process tracing, focando em sua epistemologia e metodologia. Na
segunda seção, discutimos os entendimentos sobre causalidade e evidências
nas práticas de pesquisa de process tracing. Na terceira, descrevemos o desenho
metodológico de nossa análise bibliométrica e, na quarta seção, apresentamos
e discutimos os resultados da mesma.
Process tracing: um panorama epistemológico e metodológico
Process tracing emergiu como uma das principais respostas epistemológicas e
metodológicas aos desafios lançados por Gary King, Robert O. Keohane e Sidney
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Verba em sua obra Designing Social Inquiry (1994/2021). Naquela ocasião, KKV
(como ficaram conhecidos os autores e seu livro) objetivaram não só avançar a
noção da existência de uma única lógica inferencial de pesquisa, como também
buscaram firmar em bases mais “sólidas” os métodos qualitativos, aproximando-
os, por meio da inferência causal, ao modus operandi dos métodos quantitativos.
Essa mesma compreensão da lógica de pesquisa é projetada sobre process
tracing, que merece, na obra de KKV, uma menção breve para advogar que
essa abordagem estaria contemplada pela visão de metodologia avançada no
livro (King, Keohane e Verba 2021, 225-27). Os debates que sucederam a essa
publicação provocaram respostas de diferentes setores das disciplinas de Ciência
Política e RI, as quais buscaram, sobremaneira, requalificar o lugar dos métodos
qualitativos na pesquisa política e internacional.6
Nesse contexto, process tracing passou a ser visto como uma prática da
pesquisa qualitativa com uma longa tradição, demarcada fundamentalmente
no seu compromisso de busca de relações causais em profundos estudos de
caso (Clarke 2023; Goertz e Mahoney 2012; Mahoney 2010). A centralidade da
causalidade define essa abordagem metodológica justamente com o objetivo
de confrontar a denúncia de que os métodos qualitativos seriam incapazes de
evidenciar relações causais. Mais especificamente, “a primeira característica
definidora de process tracing (...) é que os rastreadores de processos buscam (e
tentam explicitar) o mecanismo que ajudou a produzir um dado resultado em
um dado caso ou casos” (Clarke 2023, 307; ver também Beach 2016). Porém,
esse aparente denominador comum esconde uma miríade de entendimentos
sobre os significados de process tracing, o que tem levado alguns a acusar essa
abordagem de “inefável” e “ad hoc” (Gerring 2006, 178) ou de ser pouco precisa
e transparente (Mahoney 2015).
Diante desse dilema, faz-se mister explorar algumas das definições mais
correntes sobre process tracing, partindo do pressuposto de que qualquer definição
perpassa por questões epistemológicas e metodológicas. Um dos entendimentos
basilares compreende process tracing como um método para realizar estudos
de caso aprofundados, no que se convencionou chamar de within-case analysis
(George e Bennett 2005; Goertz e Mahoney 2012). Segundo essa leitura, o uso
principal de process tracing consiste em evidenciar as cadeias causais de eventos
6 Para uma discussão sobre a obra de KKV, ver Lenine (2023). Para uma introdução crítica aos debates
metodológicos na Ciência Política, ver Lenine e Mörschbächer (2019, 2020).
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entre uma causa C e um resultado R, id est, os elos intermediários entre esses
dois pontos (C e R) da sequência. Nos termos de Waldner (2012), process tracing
está assentado em uma lógica de concatenação de eventos.
Essa descrição de process tracing como uma sequência causal produz
contenciosos entre metodólogos. A imprecisão sobre os critérios para a condução
de um estudo com process tracing parece reduzi-lo a uma narrativa causal ou
um estudo de caso, sem estabelecer os elementos diferenciais que tornam a
abordagem metodológica distinta de outros métodos (como as narrativas históricas,
por exemplo) (Dowding 2023; Gerring 2005). Não por acaso, Beach e Pedersen
(2019, 1-3) enfatizam a distinção entre narrativas que se preocupam apenas em
descrever eventos em uma sequência sem se ocuparem de rastrear processos/
mecanismos causais. Segundo esses autores, o que torna process tracing uma
epistemologia, uma metodologia e um método é precisamente seu enfoque nos
mecanismos causais, o que requer uma teorização particular sobre os mesmos,
da qual se possam derivar hipóteses passíveis de rastreamento no mundo real.
Com essa priorização do mecanismo causal, quatro formas de process tracing
são mapeadas pelos autores: process tracing para teste de teoria, cujo objetivo é
testar se um mecanismo causal proposto pela teoria está presente em um caso
e funciona como preconizado teoricamente; process tracing para construção
de teoria, que utiliza um caso e as evidências a ele associadas para construir o
mecanismo causal operante nos fenômenos de interesse; process tracing para
revisão de teoria, no qual um determinado mecanismo proposto pela teoria falha
no mundo real e a pesquisa se debruça sobre o caso para entender o porquê de tal
falha; e process tracing para explicar um resultado, que é orientado diretamente
a um caso, servindo ao propósito de fornecer uma explicação mecânica sobre o
resultado histórico observado (Beach e Pedersen 2019, 9-12). Além destes tipos,
existe ainda process tracing hermenêutico (ou interpretativo), que “enfatiza a
interpretação como um meio de entrar nos mundos conceituais daqueles que
estudamos, mas também trabalha para explicar como as mudanças nos mundos
intersubjetivos atuam em nossas explicações causais de resultados sociais e
políticos bem especificados” (Norman 2021, 951), interligando explicações de
natureza causal e constitutiva.7
7 Explicações constitutivas descrevem as propriedades dos componentes de uma estrutura (natural ou social) e
como esses componentes dão origem às propriedades da estrutura. Para uma discussão detalhada e comparada
entre explicações causais e constitutivas, ver Ylikoski (2012) e Wendt (1998).
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Diante dessa pluralidade de abordagens, Clarke (2023) estabelece quatro
critérios 8para definir se uma determinada pesquisa é de process tracing, os
quais estão apresentados no quadro 1.
Quadro 1. Critérios de process tracing
Critério Definição
Critério 1 – CR1 “Para um estudo contar como process tracing, ele
deve identificar a presença ou ausência de elos causais
intermediários entre algum fator A e o resultado de interesse
E.” (Clarke 2023, 308)
Critério 2 – CR2 “Para um estudo contar como process tracing, ele deve
descrever cada um dos elos intermediários em termos das
entidades que se engajam em atividades regulares e bem
compreendidas”. (Clarke 2023, 308)
Critério 3, Versão A – CR3A “Para um estudo contar como process tracing, ele deve, em
última análise, objetivar testar a hipótese de que o fator de
partida numa sequência era uma causa do resultado final.
E os meios pelos quais ele persegue esse objetivo final deve
obedecer à seguinte estrutura lógica: (i) A evidência geral e
se baseia na hipótese h apenas por se basear primeiro nas
hipóteses intermediárias; (ii) para cada hipótese intermediária,
existe um pedaço de evidência e’ que se baseia somente nesta
hipótese intermediária.” (Clarke 2023, 313)
Critério 3, Versão B – CR3B “Para um estudo contar como process tracing, seu objetivo
final deve ser a identificação/descrição dos elos intermediários
em uma cadeia causal”. (Clarke 2023, 313)
Fonte: Elaboração própria, com base em Clarke (2023).
CR1 é considerado um critério consensual para a realização de process
tracing. Independentemente do tipo de process tracing, qualquer pesquisa que
o utilize se debruça sobre cadeias causais intermediárias entre dois fatores, no
qual um é uma causa e o outro é o resultado. CR2, por sua vez, assume um
8 Clarke (2023, 319) postula dois critérios para determinar que um estudo não é de process tracing. Esses
critérios envolvem o problema da homegeneidade das unidades e o uso de funções matemáticas para computar
propensões causais com base na variação de variáveis quantitativas. Esses critérios servem para excluir trabalhos
estatísticos que auto-proclamem o uso de process tracing. Porém, não significa que o uso de process tracing
não permita recorrer a métodos estatísticos e dados quantitativos: Clarke entende que essa é uma restrição
contraproducente, considerando que existem pesquisas exemplares de process tracing que utilizam dados e
modelos estatísticos.
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caráter mais fraco e controverso, uma vez que uma “boa” compreensão de
entidades e suas atividades é um termo vago tanto do ponto de vista conceitual
quanto teórico, não provendo, portanto, uma base sólida para julgar se uma
pesquisa é ou não de process tracing. O terceiro critério é desmembrado em dois,
porque oferece duas possibilidades de uso de process tracing. CR3A presume
uma análise início–chegada, na qual se busca construir uma cadeia causal para
explicar um fenômeno – ou seja, o objetivo é testar a cadeia que liga o ponto de
partida ao ponto de chegada. Já CR3B assume process tracing como um fim em si
mesmo, no qual já se sabe da existência de uma relação causal entre C e R (por
exemplo, via um teste estatístico), e a reconstrução das cadeias intermediárias
serve apenas para aprofundar o entendimento de um caso específico. Clarke
(2023, 315-316) argumenta que, devido a essa dupla possibilidade, um estudo
de process tracing pode ter sucesso em realizar o objetivo de CR3A e falhar
em CR3B, e vice-versa, concluindo que “não existe um bom ou mau estudo de
relações causais intermediárias. Em vez disso, existem bons e maus estudos
em relação ao objetivo final de testar hipóteses de início–chegada [CR3A] e em
relação ao objetivo final de testar apenas hipóteses intermediárias [CR3B]” (316).
Esse panorama epistemológico e metodológico demonstra que, mais do
que um método a ser instrumentalizado em uma pesquisa, o uso de process
tracing envolve a imersão em reflexões sobre causalidade e evidências. Afinal,
se a questão central é revelar os mecanismos causais subjacentes a um conjunto
de fenômenos, faz-se mister determinar os significados de causalidade em sua
relação com mecanismos e como os rastros desses mecanismos são tomados
como evidências para a construção de explicações causais. Debruçamo-nos sobre
essas questões na próxima seção.
Causalidade e evidências em process tracing
No campo da filosofia das ciências sociais, a questão da causalidade é
discutida com bastante profundidade, uma vez que “o nosso tratamento filosófico
da causalidade deve deixar claro por que os métodos que usamos para testar
afirmações causais fornecem uma boa justificativa para os usos que damos a
essas afirmações” (Cartwright 2007, 2). Entender o que são causas e como elas
podem ser evidenciadas na pesquisa social tem produzido diferentes debates nas
disciplinas de Ciência Política e RI, evocando questões que vão desde reflexões
sobre o modelo humeano de conjunção constante, o modelo dedutivo-nomológico
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de lei geral e a linguagem de condições necessárias e ou suficientes (Gerring
2005, 2017; Goertz e Mahoney 2012; King, Keohane e Verba 2021); passando
por interpretações acerca de observações de processos causais9 (causal-process
observations, CPOs) e variáveis intervenientes
10
(Brady, Collier e Seawrigth
2010); até a novas perspectivas sobre a ontologia das causas, com referências
ao realismo científico da filosofia (Bennett e Checkel 2015; Beach e Pedersen
2019; Kurki 2008; Patomäki e Wight 2000; ver também Lenine e Machado, 2023).
Essas incursões nos significados da causalidade demonstram a complexidade e a
relevância do tema para a metodologia, uma vez que diferentes entendimentos
sobre o significado de causas e relações causais incidem sobre os compromissos
ontológicos, epistemológicos e metodológicos da pesquisa (Kurki 2008).
No caso específico de process tracing, que se caracteriza como uma abordagem
de investigação orientada à busca de relações causais, há uma compreensão destas
como mecanismos causais (Beach 2016; Clarke 2023). Entretanto, a polissemia
desse termo tem gerado disputas epistemológicas e metodológicas sobre o que
se entende por mecanismos; como se rastreiam mecanismos; o que significa
produzir uma explicação mecanicista; e, finalmente, quais tipos de explicações
são melhores, o que implica definir critérios de avaliação do poder explicativo
de um dado mecanismo causal.
A ideia de mecanismos é profundamente polissêmica dentro das Ciências
Sociais (Hedström e Ylikoski 2010), mas uma aproximação particularmente útil
e sintética do seu significado é apresentada por Woodward:
Uma condição necessária para a representação de um modelo aceitável de
mecanismo é que a representação (i) descreve um conjunto organizado
ou estruturado de partes ou componentes, onde (ii) o comportamento de
cada componente é descrito por uma generalização que é invariante sob
intervenções, e onde (iii) as generalizações que governam cada componente
são também independentemente variáveis, e onde (iv) a representação
nos permite ver como, em virtude de (i), (ii) e (iii), a saída [output] geral
do mecanismo variará sob a manipulação da entrada [input] para cada
componente e mudanças nos próprios componentes. (Woodward 2002, S375)
9 Brady, Collier e Seawright (2010) postulam que a pesquisa qualitativa investiga a causalidade através de
processos causais observáveis, que envolvem contextos, processos ou mecanismos. Entretanto, não só essa
abordagem não é process tracing (Collier 2011), como o próprio conceito é vago (Beach e Pedersen 2019, 5).
10 Algumas interpretações consideram mecanismos como variáveis intervenientes (King, Keohane e Verba 2021).
Porém, essa visão elimina os elos causais que se busca investigar, porque “a evidência relevante para o efeito
causal da variável interveniente (ou seja, mecanismo) é a diferença que a presença/ausência dela faz em
casos que são semelhantes em todos os outros fatores” (Beach e Pedersen 2019, 3).
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Essa concepção de mecanismos salienta os elementos principais da pesquisa
de process tracing. Como visto na seção anterior, um dos primeiros passos desse
tipo de pesquisa consiste em postular uma hipótese sobre um mecanismo causal,
especificando, nesse processo, seus componentes e como eles operam. Assume-me
que, uma vez presente o mecanismo sob condições ceteris paribus, sua operação
é determinística de um resultado (Beach e Pedersen 2019). Na linguagem de
Woodward, isso significa que os comportamentos dos componentes do mecanismo
são invariantes, permitindo-lhes, assim, produzir as generalizações observadas
como resultado da sua manipulação no conjunto operacional do mecanismo. De
uma maneira mais concreta, os componentes do mecanismo geram atividades
próprias e invariantes frente a manipulações, e são essas atividades que nos
permitem rastrear sua existência em um fenômeno real (Woodward 2003; ver
também Dowding 2023).11
É precisamente no que tange ao rastreamento das atividades e dos componentes
que as produzem que emerge a questão da evidência em process tracing. Do
mesmo modo que a concepção de mecanismos causais informa a maneira como
a causalidade é investigada numa dada pesquisa, as evidências também são
influenciadas por aquilo que se busca rastrear. Subjacente a isso está a determinação
de que tipo de evidência serve como base para a produção de inferências causais
sobre uma dada sequência de eventos ou fenômenos (Collier 2011, 824). No
contexto mais amplo dos métodos qualitativos, os testes propostos por Van
Evera (1997) serviram de base para o aprimoramento do teste de hipóteses sobre
inferências causais em process tracing (Bennett 2010; Collier 2011). O objetivo
desses testes consiste em determinar as condições necessárias e/ou suficientes
para aceitar uma determinada proposição causal (Dowding 2023). No quadro 2,
são apresentados os quatro testes originais de Van Evera segundo a elaboração
de Collier (2011) para process tracing.
11 Beach (2016) critica essa concepção de mecanismos, por considerar que a mesma enfoca em seus componentes
mais do que no mecanismo completo. Alternativamente, ele propõe uma visão sistêmica, na qual “mecanismos
são tipicamente descritos como sendo compostos por uma série de partes composta de entidades engajadas
em atividades” (Beach 2016, 17, ênfase no original). O foco dessa visão é compreender a fundo como as
atividades estão interligadas na estrutura do mecanismo.
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Quadro 2. Testes de Van Evera e process tracing
Teste de Van Evera Características segundo Collier (2011)
Straw in the wind
(palha ao vento)
Passar nesse teste afirma a relevância da hipótese, mas não a
confirma; não passar não a elimina, mas a fragiliza.
Hoop test
(teste do aro)
Passar nesse teste afirma a relevância da hipótese, mas não a
confirma; não passar a elimina.
Smoking gun test
(teste da arma fumegante)
Passar nesse teste confirma a hipótese; não passar não a
elimina, mas a fragiliza.
Doubly decisive test
(teste duplamente decisivo)
Passar nesse teste confirma a hipótese e elimina as rivais; não
passar elimina a hipótese.
Fonte: Adaptado de Van Evera (1997) e Collier (2011).
É importante destacar que os testes de Van Evera lidam com dois tipos de
evidência: precisas e características. Uma evidência precisa fornece uma previsão
inequívoca; já uma evidência característica é produzida unicamente por uma
teoria e não por outras (Dowding 2023, 339, nr. 3). Nesse contexto, um teste
duplamente decisivo, no qual as evidências são precisas e características, fornece a
evidência mais forte para crer que o mecanismo e a inferência causais postulados
operam naquele fenômeno. Para além desses testes, Waldner (2015) estabelece
ainda um “padrão de integridade” que impõe critérios ainda mais rigorosos para
a corroboração de explicações causais produzidas por process tracing:
Process tracing produz suficiência causal e explicativa na medida em que:
(1) é baseado em um gráfico causal cujos nós individuais são conectados de
tal forma que são conjuntamente suficientes para o resultado; (2) também se
baseia em um mapa histórico de eventos que estabelece uma correspondência
válida entre os eventos em cada estudo de caso particular e os nós no gráfico
causal; (3) as afirmações teóricas sobre os mecanismos causais ligam os nós no
gráfico causal aos seus descendentes e a empiria dos estudos de caso nos permite
inferir que os eventos foram realmente gerados pelos mecanismos relevantes;
e (4) explicações rivais foram eliminadas com credibilidade, por meio de testes
diretos de hipóteses ou pela demonstração de que não podem satisfazer os três
primeiros critérios listados acima. (Waldner 2015, 128)
Todas essas iniciativas visam a resolver o problema da transparência e dos
testes na pesquisa qualitativa em process tracing, mas, como Dowding (2023)
aponta, persiste nos trabalhos sob esse método a ausência de preocupação em
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testar e avaliar as hipóteses causais. Em outras palavras, os testes existem,
são reconhecidos como necessários para conferir maior rigor metodológico,
mas raramente são mobilizados na pesquisa de process tracing.
Uma das articulações recentes mais importantes encontrou no teorema
de Bayes uma forma de pôr à prova as hipóteses sobre sequências e relações
causais (Bennett 2008, 2014). Subjacente a essa proposta reside o pressuposto
de atualização da crença na qualidade das evidências, um processo que é central
para a abordagem de process tracing. Como estratégia de validação tanto das
evidências, como das inferências, o enquadramento bayesiano pode tanto assumir
um caráter formal (Bennett 2014), como um caráter meramente lógico do desenho
de pesquisa (Beach e Pedersen 2019). Entretanto, recorrer a uma epistemologia
bayesiana (Clarke 2023) não tem implicado em um recurso à estatística bayesiana
como método de teste de hipóteses (Dowding 2023), o que per se projeta uma
sombra de dúvidas não só sobre a necessidade do teorema de Bayes na pesquisa
de process tracing, como também nas vantagens que isso traz para o avanço de
uma argumentação causal.
Ademais, na construção da pesquisa, há uma preocupação com o uso de
múltiplas evidências, frequentemente em triangulação, com o objetivo de reforçar
sua credibilidade (Beach e Pedersen 2019). Além dos eventos históricos, entrevistas
com agentes posicionados em espaços decisórios, documentos oficiais, minutas
de reuniões entre outros tipos de dados são triangulados no esforço de conferir
maior solidez à pesquisa (ver, por exemplo, Hammoud-Galego e Freier 2022; Ho
2022). Essa lógica segue os princípios do bayesianismo, na medida em que a
cada nova evidência, é possível atualizar a confiança nas evidências anteriores
e, sobretudo, reforçar os argumentos causais desenvolvidos no curso da análise.
As diversas interpretações sobre mecanismos e evidências, associadas aos
testes de Van Evera, caracterizam os debates contemporâneos sobre process
tracing. Das várias críticas tecidas ao método, duas merecem ser ressaltadas,
quais sejam: o problema da causalidade em colisões e o problema do detetive
honesto. A causalidade em colisão (bump-bump causation) refere-se ao fato
de que as cadeias causais intermediárias entre os fenômenos X e Y (no qual X
é a causa de Y) são meramente um detalhamento excessivo que não altera a
relação causal ulterior entre X e Y (Dowding 2023). Ao postular apenas uma
interveniência entre esses dois fenômenos, esse entendimento de causalidade
apenas complexifica relações entre fenômenos sem agregar novas informações
Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
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à própria relação causal global. Destarte, nessa visão crítica, o esforço de um
mapeamento sequencial por process tracing estaria inerentemente reduzido a
prover mais informações, o que per se pode recair no problema da regressão
ad infinitum: sempre é possível perguntar quais relações causais subjazem em
níveis cada vez menores entre dois pontos quaisquer da sequência causal.
Já o problema do detetive honesto pode ser compreendido da seguinte
maneira: uma vez que o suspeito principal é determinado, é mais eficiente para
a polícia procurar evidências que o incriminem; em um estudo de caso, uma
vez que se determine o resultado a que se quer chegar, é mais fácil escolher as
evidências que sustentam uma determinada cadeia causal (Dowding 2023). Esse
é um desafio para qualquer pesquisa que se apoie em narrativas históricas, dado
que as mesmas são tecidas selecionando eventos que melhor estruturam uma
determinada sequência causal. Nesse sentido, os testes supracitados são ainda
mais relevantes para o estabelecimento da credibilidade de uma dada narrativa
causal. Ademais, como pontuam Kurki e Suganami:
As explicações causais que oferecemos estão, enquanto explicações, sujeitas
a critérios de avaliação intersubjetivos relativos à boa argumentação causal,
tais como testabilidade e corroboração empírica, coerência e inteligibilidade,
capacidade de incorporar explicações mais detalhadas, quando necessárias,
sem se desvirtuarem. (Kurki e Suganami 2012, 415).
A explicação causal, portanto, presume uma construção passível de avaliação, e
é justamente nessa senda que as intervenções mais recentes sobre a abordagem de
process tracing caminham. Os critérios elencados e sistematizados por Clarke (2023)
refletem justamente a preocupação com a realização dos objetivos epistemológicos
e metodológicos de process tracing, sintetizando, nesse processo, a centralidade
da produção de inferência a partir da postulação de mecanismos causais e o
posterior teste dos mesmos.
Metodologia
De forma a avaliar o uso de process tracing nas pesquisas de Ciência Política
e RI no Brasil, realizamos uma análise bibliométrica dos artigos publicados em
periódicos nacionais entre os anos de 2012 e 2023 (até maio deste ano). Recorremos
às bases da SciElo e Web of Science para realizar a pesquisa, utilizando diferentes
Process tracing na Ciência Política e nas Relações Internacionais brasileiras [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
14-26
termos derivados de process tracing, tal como especificado no quadro 3. Incluímos
artigos apenas de periódicos classificados no Qualis de Ciência Política e Relações
Internacionais (avaliações 2013-2016 e 2017-2020)12; escritos em português,
inglês e espanhol; e com aplicações empíricas de process tracing. Excluímos
artigos fora do período de publicação supracitado; publicados em periódicos
sem classificação no Qualis de Ciência Política e Relações Internacionais; e
artigos sobre discussões do método sem aplicação empírica. A aplicação desses
filtros resultou em 21 artigos que definem process tracing como sua abordagem
metodológica.
Quadro 3. Desenho da pesquisa bibliométrica
Elemento do desenho
de pesquisa Detalhamento
Unidade de análise Artigos acadêmicos
Bases de dados SciElo e Web of Science
Termos de busca process tracing, process AND tracing, process-tracing, proc AND trac,
process, tracing, trace, rastreamento AND processo, rastr AND processo
Critérios de inclusão
1. Periódico classificado no Qualis de Ciência Política e Relações
Internacionais nas avaliações de 2013-2016 e 2017-2020;
2. Idioma: português, inglês ou espanhol;
3. Período de publicação dos artigos: 2012 a maio de 2023.
Critérios de exclusão
1. Artigos em periódicos sem classificação no Qualis de Ciência
Política e Relações Internacionais;
2. Artigos de discussão do método pelo método, sem aplicação
empírica;
3. Artigos publicados fora do período de 2012 a maio de 2023.
Fonte: Elaboração própria, 2023.
Uma vez que o corpus de análise foi constituído, procedemos com a construção
de um livro de códigos para codificar os artigos (Sampaio e Lycarião 2021). Esse
livro de códigos sintetiza as discussões metodológicas anteriormente apresentadas,
apoiando-se sobremaneira nas contribuições de Beach e Pedersen (2019), Bennett
(2014, 2016), Bennett e Checkel (2015), Collier (2011) e Norman (2021). Estes
12 Cabe destacar que, no decorrer da realização dessa pesquisa, houve mudanças nos critérios de estratificação
do Qualis, com alterações significativas para a classificação dos periódicos de Ciência Política e RI. Optamos
por incluir ambas as classificações de modo a aumentar o escopo da pesquisa, evitando, assim, a perda de
dados (id est, artigos) durante o uso dos mecanismos de busca.
Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
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debates sistematizam premissas e princípios de process tracing que vinham
sendo discutidos desde os anos 1990, com as intervenções de King, Keohane e
Verba (1994/2021), Van Evera (1997) e Bennett (2008), apenas para mencionar
alguns. O livro de códigos é apresentado no quadro 4.
Quadro 4. Livro de códigos
Código Definição
Tipo de process tracing O autor informa o tipo de process tracing com base nas
definições de Beach e Pedersen (2019) e Norman (2021)
Teste de teoria O autor informa que usa process tracing para testar uma
teoria
Construção de teoria O autor informa que usa process tracing para construir uma
teoria
Revisão de teoria
O autor informa que usa process tracing para revisar uma
teoria no caso de um mecanismo postulado anteriormente
não haver sido observado no caso analisado no artigo
Explicação de resultado O autor informa que usa process tracing para explicar um
resultado histórico sem recorrer à teoria
Process tracing hermenêutico O autor informa que usa process tracing para explicar
processos intersubjetivos de significação e causação
Mecanismo causal O autor informa que sua explicação envolve um mecanismo
causal usando o termo “mecanismo” ou “mecanismo causal”
Hipótese sobre mecanismo
causal
O autor propõe uma hipótese/conjectura explicativa baseada
em um mecanismo causal
Evidência O autor informa os dados e sua natureza
Triangulação de evidência O autor utiliza os diferentes tipos de dado para construir
seu argumento
Análise bayesiana O autor informa que utiliza análise bayesiana
Hoop test O autor informa que fez um hoop test ou teste do aro (ou
outra tradução válida)
Smoking gun test O autor informa que fez um smoking gun test ou um teste de
arma fumegante/fumaça de arma (ou outra tradução válida)
Straw in the wind test O autor informa que fez um straw in the wind test ou um
teste de palha ao vento (ou outra tradução válida)
Doubly decisive test O autor informa que fez um doubly decisive test ou teste
duplamente decisivo (ou outra tradução válida)
Testes de Van Evera O autor informa que fez um teste de Van Evera, sem
especificar o tipo de teste
Fonte: Elaboração própria, 2023.
Process tracing na Ciência Política e nas Relações Internacionais brasileiras [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
16-26
Outrossim, construiu-se um quadro de codificação para classificar os artigos.
O quadro 5 exemplifica o modelo utilizado pelas autoras. As respostas possíveis
a cada pergunta de classificação dos artigos são: sim, não e não se aplica.
Quadro 5. Exemplo de quadro de codificação
Ar-
tigo
Perió-
dico
O artigo
possui
uma
seção
específi-
ca para
descre-
ver a
metodo-
logia?
Defi-
ne o
tipo
de
pro-
cess
tra-
cing?
Qual
tipo?*
Pos-
tula
me-
canis-
mo
cau-
sal?
hipó-
teses
sobre
me-
canis-
mo
cau-
sal?*
Apre-
senta
múl-
tiplas
evi-
dên-
cias?
Trian-
gula
evi-
dên-
cias?
Rea-
liza
aná-
lise
baye-
sia-
na?
Rea-
liza
testes
de
Van
Eve-
ra?
Qual
teste
de
Van
Evera
é rea-
liza-
do?*
Quais
auto-
res de
process
tracing
são
mobili-
zados?
Tí-
tulo
do
arti-
go
Nome
do
perió-
dico
S
ou
N
S
ou
N
TIPO1
ou
NSA*
S
ou
N
S,
N ou
NSA*
S
ou
N
S
ou
N
S
ou
N
S
ou
N
TIPO2
ou
NSA*
Autores
que es-
crevem
sobre
process
tracing
Fonte: Elaboração própria. Legenda: S = sim; N = não; NSA = não se aplica; TIPO1 = tipo de process tracing; TIPO2 =
tipo de teste de Van Evera. *Essas perguntas são dependentes da resposta à pergunta imediatamente anterior.
A partir do livro de códigos e do quadro de codificação, as autoras realizaram
um pré-teste de classificação para alinhar a interpretação dos códigos e sua
identificação nos artigos. Consideraram-se os artigos em sua integralidade, o
que implicou na leitura completa dos mesmos. Os resultados desse protocolo de
codificação são apresentados na próxima seção e discutidos à luz dos debates
metodológicos apresentados nas seções anteriores.
Resultados e discussão
Utilizando os protocolos estabelecidos na seção anterior, categorizamos cada
um dos artigos contidos em nosso corpus. Os resultados são apresentados na
tabela 1 de acordo com as categorias apresentadas no quadro 5.
Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
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Tabela 1. Resultados da análise
Categoria Frequência de ‘sim’ [%]
Seção específica de metodologia 42,86%
Definição do tipo de process tracing 19,05%
Postulação de mecanismo causal 28,57%
Presença de hipótese sobre mecanismo causal 23,81%
Uso de múltiplas evidências 80,95%
Triangulação de evidências 66,67%
Teste bayesiano 0%
Teste de Van Evera 4,76%
Fonte: Elaboração própria, 2023.
Os dados apresentados na tabela 1 sinalizam, de um modo geral, uma
baixíssima adesão aos protocolos de process tracing. Embora em 42,86% do
artigos haja uma seção específica para discutir metodologia, a apresentação da
abordagem de process tracing é bastante limitada, principalmente no que tange
à mobilização da literatura especializada para além de descrições generalistas
do método. Via de regra, process tracing é visto como uma técnica qualitativa
para analisar relações causais, sem adentrar nos conceitos envolvidos. Ademais,
a menção ao tipo de process tracing – uma preocupação cara tanto a Beach e
Pedersen (2019), como a Norman (2021) –, só aconteceu em 4 (quatro) artigos
do corpus, dos quais 3 (três) foram justamente os mais detalhados em termos
dos pressupostos epistemológicos e metodológicos de process tracing.
A linguagem de causalidade transparece de diferentes maneiras nos textos, mas,
em nossa análise, nenhuma definição se aproximou dos debates sobre mecanismos
causais – menos ainda na descrição elaborada por Woodward (2002) –, tampouco
da totalidade dos critérios de Clarke (2023). Como os dados da tabela 1 apontam,
71,43% dos artigos não postula um mecanismo causal e 76,19% não oferecem
uma hipótese que mobilize a ideia de mecanismos como base da explicação,
violando, portanto, CR2, CR3A e CR3B. Na verdade, a noção de que process
tracing é um método qualitativo para revelar relações causais elide quaisquer
referências epistemológicas sobre causalidade, centrando-se apenas em sinalizar –
frequentemente, em menções distraídas – que os dados mobilizados na pesquisa
permitem gerar explicações causais. Por exemplo, Chase (2019, 2) define process
tracing da seguinte forma: “Eu usei o método de process tracing (...), que requer
Process tracing na Ciência Política e nas Relações Internacionais brasileiras [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
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examinar declarações governamentais, artigos da mídia e outros documentos para
identificar relações causais entre eventos (...) e seus impactos”. Prevalece, nesse
e em outros artigos, uma narrativa descritiva que concatena eventos históricos
com outros tipos de dados (testemunhos de entrevistas, biografias, normas,
minutas de reuniões entre outros), depreendendo-se dessa concatenação uma
explicação com vistas à causalidade. Entretanto, a vaga menção aos termos dificulta
separar esse tipo de narrativa de outras formas narrativas na literatura, como,
por exemplo, as narrativas causais (Kurki e Suganami 2012; Suganami 2008), as
quais não operam necessariamente sob os preceitos ontológicos, epistemológicos
e metodológicos de process tracing (Beach e Pedersen 2019).
Destarte, cabe enfatizar que não estamos, com isso, afirmando que as pesquisas
analisadas não advogam relações causais. Muito pelo contrário, transparece em
boa parte desse corpus uma tentativa de estabelecer a causalidade entre fenômenos
políticos recorrendo aos caminhos causais operantes entre eles (Gerring e Seawright
2022, 123). Porém, assim como existem diversas formas de se desenvolverem
argumentos causais (Cartwright 2007; King, Keohane e Verba 2021; Kurki 2008;
Mantzavinos 2016), a proposição de uma relação causal sem a referência clara aos
pressupostos de process tracing não confere elementos suficientes para qualificar
uma análise como de process tracing. Em outras palavras, as pesquisadoras
podem avançar argumentos causais por outros caminhos, e é precisamente isso
que parecem fazer em seus trabalhos. No entanto, no que tange a fazê-lo pela
via de process tracing, nossa análise demonstra que estão ausentes diversos
elementos caros a essa abordagem.
No que tange às evidências e seu tratamento, o cenário é um pouco mais
otimista. Em 80,95% dos artigos, são mobilizadas múltiplas evidências para
construir a narrativa causal, e em 66,67% deles essas evidências são trianguladas.
Esses resultados demonstram uma preocupação com o reforço da confiabilidade das
evidências, um elemento central da pesquisa de process tracing. Ao combinarem
eventos históricos com documentações oficiais, discursos e entrevistas, as autoras
e os autores aprofundaram as suas narrativas causais, urdindo um fio conector
entre esses vários tipos de evidência com o objetivo de torná-las mutuamente
confiáveis. Cabe, portanto, reconhecer esse esforço como uma boa prática dentro
dos procedimentos de process tracing, ainda que se perceba uma compreensão
vaga acerca dos pressupostos epistemológicos e metodológicos dessa abordagem.
Essa compreensão vaga de process tracing denota uma acomodação das
narrativas históricas tradicionalmente realizadas em ambas as disciplinas em torno
Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
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de um método qualitativo delineado, mais do que uma mudança de paradigma
e práxis metodológicos. O parco engajamento com a literatura específica de
process tracing, somada à ausência de reflexões metodológicas mais aprofundadas
(seja em seções específicas para isso ou não) revela uma aderência tão somente
ao rótulo, mas não aos debates subjacentes aos compromissos ontológicos,
epistemológicos e metodológicos do mesmo. Consequentemente, process tracing
parece servir ao interesse de conferir um lastro de rigor metodológico a práticas
de pesquisa que pouco ou nada se alteraram. Isso coaduna com outros resultados
já encontrados em pesquisas bibliométricas que se debruçam sobre metodologia
na Ciência Política (Leite 2016; Lenine e Mörschbächer, 2020; Nicolau e Oliveira
2017; Soares 2005) e nas RI (Carvalho, Gabriel e Lopes 2021; Medeiros et al.
2016; Novelli 2022), as quais apontam as persistentes fragilidades metodológicas
de ambas disciplinas no país.
Porém, mesmo diante desse cenário, cabe destacar dois estudos exemplares de
process tracing que incorporam suas discussões epistemológicas e metodológicas.
Teixeira Júnior e Silva (2017) propõem-se a analisar por meio de process tracing
a proposta brasileira de criação do Conselho de Defesa da UNASUL. Para tanto,
os autores iniciam seu artigo com uma seção metodológica robusta, na qual
são mobilizados diferentes autores que discutem process tracing e situando a
sua análise na tipologia de Beach e Pedersen (2019) – nomeadamente, process
tracing orientado à explicação de resultados. Essa escolha é justificada pelo seu
enfoque em um caso específico, o que dialoga com as recomendações de George
e Bennett (2005) para o estudo de eventos particulares. Sua compreensão de
process tracing como uma abordagem para a produção de explicações causais os
leva a uma discussão aprofundada sobre como mecanismos causais são derivados
em três teorias rivais: realismo contingente, equilíbrio de poder e comunidades
de segurança. A partir dessas teorias, os autores derivam hipóteses sobre os
mecanismos causais em operação e utilizam process tracing para testá-los. Nesse
sentido, o artigo visa a preencher a lacuna explicativa da literatura especializada
em defesa, uma vez que, embora esta literatura “reconheça um conjunto de
eventos históricos possivelmente conectados (...), ela não conecta o evento e o
cenário a explicações teóricas” (Teixeira Júnior e Silva 2017, 7), o que os leva a
postular mecanismos causais que conectem justamente as evidências históricas
e empíricas às teorias. Para construir a narrativa causal com base em process
tracing, os autores apresentam as condições para testar as teorias no que tange
às possíveis rotas causais, e as mapeiam por meio tanto da documentação oficial
Process tracing na Ciência Política e nas Relações Internacionais brasileiras [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
20-26
quanto dos eventos históricos que levaram à criação do Conselho de Defesa
da UNASUL. Embora não realizem os testes descritos na literatura de process
tracing, a forma como os autores o implementaram dialoga com a vasta maioria
dos pressupostos dessa abordagem, além de oferecer, de forma transparente,
um mapa epistemológico e metodológico da análise, enfatizando a dimensão
mecânica da explicação causal.
O segundo estudo exemplar é de autoria de Forti Neto (2020). O autor parte
de duas perguntas de pesquisa voltadas ao papel de duas organizações regionais
latino-americanas (SICA e UNASUL) na consolidação da democracia e sua relação
com a segurança dos cidadãos. Forti Neto lança duas hipóteses que são tratadas com
process tracing, tanto para o estudo dos casos isoladamente (within-case analysis)
e comparativamente (Bengtsson e Ruonavaara 2017), utilizando uma multiplicidade
de dados, tais como centenas de documentos oficiais das organizações e entrevistas
com 31 atores envolvidos com os casos em tela. Em uma longa seção teórica, Forti
Neto discute os elementos conceituais que informam o seu modelo de mecanismo
para compreender a relação entre as organizações regionais, a consolidação da
democracia e a segurança dos cidadãos. Essa discussão é complementada com
uma seção sobre metodologia, na qual se demarcam os entendimentos e usos
de process tracing. Nela, o autor recupera a noção de causalidade subjacente a
process tracing; mobiliza Beach e Pedersen (2019) e Bengtsson e Ruonavaara
(2017) para definir os usos do método em um estudo aprofundado de caso e
na comparação entre casos, respectivamente, além de situar o estudo como de
explicação de resultados; e a triangulação de dados como “critérios de validação e
confiabilidade” (Forti Neto 2020, 579). Dessa forma, o autor afirma que “o objetivo
era entender os mecanismos envolvidos na relação entre organizações regionais
com as questões de cooperação em segurança dos cidadãos e consolidação da
democracia” (Forti Neto 2020, 579; grifo nosso). Como resultado, sua narrativa
alicerça-se nesses mecanismos causais e utiliza da triangulação de evidências para
avançar os argumentos explicativos. Mais uma vez, a linguagem de testes de Van
Evera (1997) e Collier (2011) não é mobilizada diretamente, mas o entendimento
da triangulação de evidências como critério de validação e confiabilidade visa a
preencher o espaço devotado ao teste da narrativa causal.
Diante desse cenário, quais seriam os caminhos para aprofundar o uso
de process tracing e alinhá-lo às boas práticas preconizadas pela literatura?
Primeiramente, engajar-se com o debate sobre causalidade, nomeadamente no
que tange aos mecanismos causais, é um passo fundamental, uma vez que ele
Enzo Lenine; Eduardo Grizenti; Agnes Bia; Beatriz Cardoso
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
21-26
permite estabelecer as hipóteses e inferências causais que caracterizam esse
método. Em segundo lugar, situar o método dentro de um dos tipos elencados por
Beach e Pedersen (2019) e Norman (2021) permite às pesquisadoras estabelecer
mais explícita e claramente os objetivos da pesquisa, bem como mobilizar os
instrumentais epistemológicos e metodológicos necessários para a aplicação
de process tracing. Em terceiro lugar, a prática de utilizar múltiplas evidências
deve ser encorajada, de modo a fortalecer a confiabilidade da análise, como
também enquadrá-la na epistemologia bayesiana (Clarke 2023). Concomitante
a esse enfoque em diferentes tipos de evidências, enfatizamos a necessidade de
triangulá-las, utilizando-as mutuamente como reforço da confiabilidade. Finalmente,
ainda que sejam desafiadores, os testes de Van Evera e bayesianos são peças
importantes para testar hipóteses e validar as explicações causais produzidas
em uma determinada pesquisa. Em nossa análise, apenas 1 (um) dos artigos
do corpus recorreu aos testes de Van Evera para situar os tipos de evidências
mobilizadas no estudo; no entanto, o cenário geral é de fragilidade da dimensão
de transparência e validade das explicações produzidas. Destarte, reforçar a
necessidade de examinar sob algum teste as narrativas causais construídas no
curso da análise é um desiderato para o fortalecimento do uso de process tracing.
Conclusão
A pesquisa qualitativa em Ciência Política e RI vem, desde os anos 1990,
passando por inovações em suas ferramentas de análise, produção de inferências
e explicações causais. A abordagem de process tracing se tornou, nesse período,
uma das principais promessas para fazer frente às demandas por maior rigor
metodológico. Não por acaso, o tema segue atual e urgente, dada a importância
dessa ferramenta para confrontar as acusações de setores céticos, em ambas
disciplinas, quanto aos métodos qualitativos.
No Brasil, a penetração de process tracing ainda é bastante tímida. Nosso
mapeamento bibliométrico, ainda que circunscrito à última década, demonstra,
antes de tudo, que essa inovação metodológica ainda não atingiu seu potencial
como ferramenta na análise qualitativa histórica. Ademais, nos poucos trabalhos
que recorrem a process tracing, persistem dificuldades quanto à compreensão do
método em suas dimensões ontológicas, epistemológicas e metodológicas. Mais
preocupante é o fato de que a linguagem de causalidade não parece integrar as
Process tracing na Ciência Política e nas Relações Internacionais brasileiras [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1365, 2023
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pesquisas nacionais que usam process tracing, o que é sintomático dado que
esse é o objetivo fundamental dessa abordagem.
Por outro lado, há sinais que apontam para as potencialidades do método
no Brasil. O recurso a múltiplas evidências e a consciência de que uma pesquisa
fundada em narrativas históricas não pode prescindir de uma especificação
metodológica rompem com práticas vistas como pouco transparentes em ambas
as disciplinas. Nesse sentido, mesmo com os problemas na implementação de
process tracing, o fato de imergir, ainda que limitadamente, nessa literatura tem
levado às pesquisadoras de Ciência Política e RI a refletir sobre a construção
de suas sequências históricas à luz das evidências de que dispõem, buscando
aprimorá-las para sustentar a própria narrativa.
Os caminhos que se abrem a partir dessa análise convergem para um
engajamento mais robusto com a epistemologia e a metodologia de process
tracing. Se é salutar o esforço de conferir maior rigor às análises de sequências
históricas, esse rigor só será obtido com a incorporação dos principais compromissos
ontológicos, epistemológicos e metodológicos de process tracing. Esse é um
passo fundamental para que os estudos exemplares de process tracing não sejam
exceção, mas sim a regra dentro de uma perspectiva de pesquisa qualitativa
causal, transparente e rigorosa.
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