Lucas Barros de Souza; Túlio Sérgio Henriques Ferreira
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 3, e1342, 2023
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O político
No aspecto político, em 1889, a delegação brasileira buscou mostrar um
Brasil monárquico ‘estável’, próximo das dinastias europeias, longe das instáveis
repúblicas sul-americanas. Em 1904, a imagem foi de uma república americanista,
avizinhada aos Estados Unidos. Assim, no capítulo de História do Le Brésil en
1889, relata-se que coube a d. João VI e d. Pedro I construírem as bases civilizadas
do país e trazer a independência. Posteriormente, superadas a instabilidade do
período regencial, D. Pedro II liderou o Império rumo ao progresso: “É, aliás, de
1850, fim do período das guerras civis, que datam verdadeiramente os progressos
realizados pelo Brasil” (Levasseur 2000, 66). Assim, depreende-se uma espécie de
continuação do avanço do progresso, vindo desde o período joanino até o ápice
do Segundo Reinado. Era a monarquia a grande responsável pelas prosperidades
do país. Sobre a emancipação de escravizados, mostrou-se um governo imperial
disposto a extirpar tal mácula “[...]pacificamente no Brasil, sem custar uma gota
de sangue” (Levasseur 2000). Sendo uma monarquia constitucional, o país teria
prosperado em reta ascendente, sempre visando o futuro. Ademais, “[...] o Brasil
é apenas um pedaço de terra lusitana costurada aos flancos da América do Sul;
falamos sua língua; [...]; [Portugal] nos deu nossa dinastia, nossa religião, nossos
costumes, nossa civilização” (Nery 1889a, 461, tradução nossa7). A mensagem
a ser transmitida era que a monarquia constitucional trouxera prosperidade
contínua, sempre visando o futuro. Neste sentido, mesmo reconhecendo os
enormes desafios do país, exaltava-se a habilidade do governo em superá-los,
como no caso da escravidão; ou mesmo atenuá-los, como no caso da educação.
Portanto, revela-se pela construção da aproximação Império-Europa, a vontade
da consolidação de um ramo do ‘Velho Continente’ nos trópicos.
Já para a Representação em Saint Louis, ao falar sobre as condições econômicas
e sociais, a Comissão afirma que o Brasil se guiava pelos resultados dos EUA
(BRASIL, 1904a). Se cada certame internacional era um degrau na história do saber
universal (BRASIL, 1905), participar dessas feiras significava estar seguindo os
passos dos EUA no que concerne aos avanços na educação de seu povo. Percebe-
se uma associação entre o regime republicano e o desenvolvimento do país, que
seria aluno do professor civilizado do Norte. A comissão do Brasil exaltava o
7 Citação original: “Le Brésil n'est qu'un lambeau de terre lusitanienne cousu aux flancs de l’Amérique du
sud; nous parlons sa langue [...] [Portugal] il nous a donné notre dynastie, notre religion, nos moeus, notre
civilisation”.