
Autonomia na política externa brasileira: uma história do conceito no pós-guerra
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 2, e1335, 2023
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de soberania nacional, em benefício da cooperação e da paz internacionais” (Couto
e Silva 1981, 74). Percebemos como autonomia e independência funcionam como
conceitos sobrepostos. Por um lado, a autonomia associa-se ao desenvolvimento
econômico e social; por outro, a independência política admite autolimitações.
Na visão de Golbery, a sobrevivência do Ocidente estava ameaçada em função
do antagonismo dominante das superpotências na Guerra Fria. Assim, caberia
ao Brasil contribuir com os Estados Unidos em sua estratégia de contenção ao
comunismo. Por sua vez, o conceito paralelo de segurança nacional designa a
“garantia que o Estado proporciona à coletividade nacional, para a consecução e
salvaguarda de seus Objetivos, a despeito dos antagonismos internos ou externos,
existentes ou presumíveis” (Couto e Silva 1981, 155). Como Objetivos Nacionais,
portanto, vemos que autonomia, independência política e desenvolvimento
econômico e social são condicionados pela segurança nacional e pela posição
geográfica do Brasil no Ocidente. Por essa razão, a autonomia na política externa
presumiria priorizar a cooperação e as relações especiais com os Estados Unidos:
Ora, o Brasil, pelo prestígio de que já goza no continente e no mundo, pelas
suas variadas riquezas naturais, pelo seu elevado potencial humano e, além
disso, pela sua inigualável posição geopolítica ao largo do Atlântico Sul,
ocupa posição de importância singular quanto à satisfação de todas essas
imperiosas necessidades da defesa do Ocidente. [...] E, no entanto, para
a solução definitiva do problema do subdesenvolvimento continental, a
questão de ritmo e de escala é, sem dúvida, capital. [...] O reconhecimento
pelos países líderes do Ocidente, em particular pelos E.U.A., da justeza
e solidez de nossos anseios dependerá, entretanto, grandemente de nós.
(Couto e Silva 1981, 249)
Em 1952, João Cleofas, ministro da Agricultura de Vargas, ofereceu a dois
grupos de intelectuais cariocas e paulistas o acesso ao Parque Nacional de Itatiaia,
a meio caminho entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde tomaria sede o Grupo
de Itatiaia, no seio do qual ocorreriam reuniões mensais para a discussão de
temas brasileiros ligados ao desenvolvimento. Entre os paulistas, apenas Roland
Corbisier integrou-se ao grupo dos cariocas. Dessa alteração de quadros, emergiu
o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP), sob a direção de
Helio Jaguaribe. As dificuldades financeiras, contudo, implicaram a necessidade
de se transformar o IBESP em uma instituição pública. O projeto entregue por
Jaguaribe ao Ministério da Educação de Vargas previa a criação de algo similar