Reformas no mundo islâmico: o caso do Iraque (2015-2016)
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 2, e1325, 2023
12-23
Os ministros do atual governo foram escolhidos com base na seleção dos
blocos políticos no Conselho de Representantes nos termos da Constituição
e dentro da representação política e tamanho dos blocos políticos no
Parlamento, e foram aprovados pelo Parlamento com esses fundamentos,
mas partindo da minha responsabilidade e do interesse superior, e
sendo necessário para a segurança do país neste momento, apelo a uma
remodelação ministerial substancial, para incluir figuras profissionais,
tecnocratas e acadêmicos, e invoco o Conselho de Representantes e todos
os blocos políticos a cooperar conosco nesse difícil momento. (Al-Abadi
2016, s/p, tradução nossa )
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A intenção exposta pelo primeiro-ministro era a de operar uma inflexão
no modo como o governo é formado. Há um apelo para a superação da atual
distribuição dos ministérios segundo o tamanho de partidos e blocos no Conselho
dos Representantes, e também por cotas étnicas. Em seu lugar seria erigido
um gabinete de notáveis, de natureza tecnocrática e, portanto, evacuado da
influência dos blocos partidários com assento no Parlamento. Tratava-se, pois,
de uma alteração profunda na dinâmica governamental iraquiana e que estaria
em colisão com os interesses da elite política tradicional do país.
O chamado do primeiro-ministro para uma remodelação ministerial (reshuffle)
marca mais uma iniciativa para reformar as estruturas políticas do país. As
medidas anunciadas em agosto de 2015 não foram, pois, suficientes para aplacar,
por exemplo, as mobilizações populares nas cidades do país. Ao mesmo tempo,
as elites políticas resistiam em cooperar para resolver os grandes problemas do
país, dentre eles a corrupção e os péssimos serviços públicos. Essa incapacidade
de uma conciliação entre uma agenda reformista e os interesses dos grupos
políticos se arrastou por meses. E fez, por exemplo, com que em 05 de fevereiro
de 2016 o aiatolá al-Sistani tenha decidido cessar os seus sermões semanais sobre
questões políticas, demonstrando sua frustração em relação a um avanço nas
negociações para uma reforma do governo (Alarabiya News 2016).
Em termos práticos o primeiro-ministro, para recompor seu ministério, deveria
submeter uma lista de novos ministros ao Conselho dos Representantes, conforme
prevê a Constituição. E neste momento é que poderíamos identificar o epicentro
6 “The ministers in the current government were chosen on the basis of the selection of the political blocs in
the Council of Representatives as per the Constitution and within the political representation and the size of
the political blocs in parliament, and has been approved by the Parliament on this basis, but coming from my
responsibility and the higher interest, and as required for leadership of the country to safety in this stage, I call
for a substantial ministerial reshuffle, to include professional figures, technocrats, and academics, and call on in
this context, the Council of Representatives and all the political blocs to cooperate with us in this difficult stage.”