Moçambique no CSNU: Perspectivas, Desafios e Benefícios
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 18, n. 1, e1298, 2023
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onde são desenvolvidos os grandes projetos correlatos, aliada à memória da guerra
civil, conflitos interestatais, ameaças marítimas, tráficos dos seres humanos,
narcotráfico e contrabando, entre outras ameaças, e na tentativa de contribuir com
a sua experiência na solução pacífica dos conflitos mundiais, bem como na sua
proposta de reforma do CSNU, impuseram ao país a busca por um dos assentos
no órgão como membro não-permanente para o biénio 2023-2024, cujas bases da
candidatura penderiam para uma política simples, mas, sólida e coerente com os
atuais desafios de paz e segurança internacionais, traduzidas numa concepção
realista do papel de Moçambique na região da SADC, em África e no Mundo.
Tal anseio assenta nos pressupostos da política externa do país expressa nos
dois White Papers publicados na Resolução número 32/2010 e nos princípios e
objetivos da Carta da ONU que, no conjunto, asseguram a manutenção da paz e
segurança internacionais, como condição sine qua non para o desenvolvimento
sustentável e proteção dos direitos humanos; reafirmação da importância do
multilateralismo, da ação coletiva, da cooperação internacional, e na busca de
soluções pacíficas e inclusivas, baseadas na construção de consensos, como formas
primordiais para o alcance e manutenção da paz e segurança internacionais; e
promoção e defesa dos interesses nacionais e do continente africano no CSNU e,
por outro, movido pela complexa conjuntura nacional e internacional (Nyusi 2022).
Foi uma das campanhas mais enfáticas e mediatizadas a nível interno e
externo, com argumento de que Moçambique procura junto do conselho mitigar
as vulnerabilidades e ameaças internas, regionais e internacionais, quais sejam
a porosidade das suas fronteiras terrestres, as assimetrias regionais e sociais,
o combate aos insurgentes chamados Al-Shababi, grupo radical islâmico que
desde 2017, vem protagonizando ações terroristas na província de Cabo Delgado,
no norte de Moçambique. Somada à sua vulnerabilidade, encontra-se a parte
costeira, constituída pelo Oceano Índico, que banha toda a região Leste do país,
onde anualmente transita grande parte de petroleiros do Médio Oriente, com
cerca de 762 milhões de toneladas métricas em média, para Europa, Japão e o
continente americano (Macamo 2022).
Na SADC, região que há bem pouco tempo era tida como uma das mais
seguras do mundo e distante do terrorismo, sem, no entanto, a necessidade de
militarização desse espaço geográfico, o surgimento dos primeiros ataques em
Moçambique, o país passou a ter a difícil missão de proteger não só as suas
fronteiras para impedir a proliferação do terrorismo no país e na região, bem
como por forma a responder aos problemas recorrentes de contrabandos, tráfico