Fábio Rodrigo Ferreira Nobre; Lauro Henrique Gomes Accioly Filho
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 3, e1277, 2022
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Democracias avançadas em risco:
estudo de caso da campanha eleitoral
de Donald Trump (2016)
Advanced democracies at risk: a case
study of Donald Trump’s election
campaign (2016)
Democracias avanzadas en riesgo: un
estudio de caso de la campaña electoral
de Donald Trump (2016)
DOI: 10.21530/ci.v17n3.2022.1277
Fábio Rodrigo Ferreira Nobre
1
Lauro Henrique Gomes Accioly Filho
2
Resumo
O artigo discute os prováveis riscos às democracias no processo de
formular e exprimir preferências políticas na contemporaneidade,
em especial, o impacto que a mídia exerce nas relações sociais
e políticas. A partir de um estudo de caso que segue o recorte
temporal do processo eleitoral dos Estados Unidos de 2016, a
pesquisa estrutura-se em sete seções, as duas primeiras discutem
questões conceituais da consciência cívica, o terceiro o papel da
mídia e os demais versam o estudo de caso.
Palavras-chaves: Estados Unidos; Processo Eleitoral; Democracia.
1 Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor
do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais e da graduação
em Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
(fabio.f.nobre@servidor.uepb.edu.br). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2905-0541
2 Mestrando em Relações Internacionais na Universidade Estadual da Paraíba.
(henriqueacciolygf@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1294-9366
Artigo submetido em 09/05/2022 e aprovado em 18/12/2022.
AssociAção BrAsileirA de
relAções internAcionAis
ISSN 2526-9038
Copyright:
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Democracias avançadas em risco: estudo de caso da campanha eleitoral de Donald Trump (2016)
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 3, e1277, 2022
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Abstract
The article discusses the probable risks to democracies in the process of formulating and
expressing political preferences in contemporary times, in particular, the impact that the
media has on social and political relations. From a case study that follows the temporal
cut of the electoral process of the United States of 2016, the research is structured in seven
sections, the first two discuss conceptual issues of civic conscience, the third the role of
the media and the others deal with the case study.
Keywords: United States of America; Electoral Process; Democracy.
Resumen
El artículo discute los riesgos probables para las democracias en el proceso de formulación
y expresión de preferencias políticas en la época contemporánea, en particular, el impacto
que los medios tienen en las relaciones sociales y políticas. A partir de un estudio de
caso que sigue el corte temporal del proceso electoral de los Estados Unidos de 2016,
la investigación se estructura en siete apartados, los dos primeros abordan cuestiones
conceptuales de la conciencia cívica, el tercero el papel de los medios de comunicación y
los demás tratan el estudio de caso.
Palabras clave: Estados Unidos; Proceso electoral; Democracia.
Introdução
Os sistemas políticos contemporâneos de democracia enfrentam obstáculos
prejudiciais ao seu desenvolvimento, o avanço da tecnologia de comunicação
é um deles, dado o aumento de sua influência nas questões políticas, sociais
e econômicas. O aumento exponencial do descontentamento da população
com os regimes democráticos advém do efeito danoso da lógica de “política do
escândalo” a partir da maneira como algumas plataformas comunicacionais são
utilizadas (Castells 2018).
Parte dessa problemática advém do papel da mídia no mundo político com sua
capacidade de construir imaginários, principalmente, os meios de comunicação
de massa que detém forte influência no processo de significação do mundo
(Fontes et al. 2017). Somando-se o avanço desnorteado da internet com as redes
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sociais desestabilizando a qualidade do debate público de avaliar os méritos
e deméritos de propostas políticas, o crescente uso de agressões verbais entre
grupos políticos em oposição política torna-se notório (Brown 2019).
Logo, apesar do potencial de ampliar discussões políticas e permitir vasto
acesso à informação, as redes sociais trazem implicações agudas aos processos
sociopolíticos contemporâneos devido a maneira como elas são moderadas.
Sendo assim, o respectivo artigo objetiva analisar os riscos que as democracias
avançadas estão sujeitas ao controle e à manipulação de informações na era
digital.
Para isso, o artigo é estruturado por um estudo de caso analítico e heurístico
que empenha-se a gerar hipóteses de modo indutivo, com intenção de tornar
inteligível as razões da aparição de fenômenos específicos dentro de um estudo
de acontecimentos elegidos (Henriques, Leite e Júnior 2015). Neste aspecto,
será feito uma análise do fenômeno de instabilidade política nos Estados Unidos
durante a campanha eleitoral de 2016.
Por sua vez, a escolha por um estudo de caso é preferida em virtude da
sua concepção metodológica de priorizar a profundidade do conhecimento
produzido, o que remete a trabalhar a explicação de processos complexos através
de especificidades, mas que não distancia-se da totalidade do que se investiga,
o que condiz com a pretensão do presente projeto de pesquisar o impacto da
mídia nas democracias, levando em conta que o fenômeno repercute em outras
democracias além do Estados Unidos. Assim será possível esclarecer variáveis
pertinentes ao caso analisado de forma que possa analisar os resultados e
processos dos fenômenos elencados na pesquisa (Henriques, Leite e Júnior 2015).
A concepção de democracias avançadas parte do referencial teórico de
Robert Dahl que define-as como aquelas que possuem índices avançados de
desenvolvimento econômico e das garantias institucionais de direitos políticos
propostos a coexistirem nos regimes democráticos, como é o caso da França
e do Reino Unido. A escolha do recorte advém de pesquisas acadêmicas com
apontamentos constantes sobre a falta de crença nos regimes democráticos,
vastíssimo em democracias antigas, como os Estados Unidos, a França, o Reino
Unido e outros países europeus. A pergunta norteadora do artigo é: em que medida
o controle das informações por grupos políticos pode ser prejudicial para
um sistema político democrático, mesmo sendo uma democracia avançada?
A primeira seção traz as contribuições dahlsiana sobre formulação de
preferências políticas, erguendo apontamentos dos efeitos que a evolução
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tecnológica gera aos processos de formular e exprimir preferências políticas. Em
seguida, é debatido os desafios da consciência cívica, encarando a insuficiência
participativa do público nos processos e eventos políticos. E, complementarmente,
retrata-se as modificações que a mídia recebeu e projetou, ecoando desafios
latentes à integração política dos cidadãos.
Posteriormente, serão analisados os fatores da conjuntura contemporânea
que contribuíram para o fanatismo político pôr os arranjos democráticos em
riscos. Nesta seção é dialogado reflexões dos impactos neoliberais causados aos
grupos afetados com o desmonte da assistência pública. Subsecutivamente, será
feito uma leitura dos grupos políticos engajados ao comportamento incendiário
de Trump para compilar as causalidades do fenômeno de ataques partidários
intransigentes da campanha eleitoral de 2016. Colocando, portanto, descrições
e reflexões de conjunturas e estruturas proporcionadoras do desentendimento
político que abalou, em certa medida, o sistema político dos Estados Unidos
durante este cenário.
A pesquisa também pretende acrescentar alicerces explicativos e ilustrativos
da centralidade que a mídia3exerce nas relações internacionais, apesar de sua
importância postergada nas abordagens acadêmicas de Relações Internacionais
(Marinucci 2008). Portanto, a mídia é inserida na pesquisa como ator que
intervém na opinião pública.
Apesar da academia de Relações Internacionais não colocar a mídia com
destaque enquanto interventor das relações internacionais, alguns arcabouços
teóricos mencionam, por vezes, formas de enquadrá-las, como Robert Cox,
destacando a relevância das instituições e sua propagação de ideias, exercendo
forças sociais. Proporcionado, de tal modo, visibilidade aos demais atores que
compõem as relações internacionais como: sociedade civil, a mídia e outros
(Marinucci 2008).
Por outro lado, o ensaio de Onuf (2001) agrega ao campo das Relações
Internacionais com uma abordagem construtivista, a compreensão de que as
representações sociais narradas são capazes de gerar construções sociais normativas
a partir de representações parciais e altamente seletivas do que foi desejado
exibir. E, portanto, abre caminhos à percepção do papel da mídia nas relações
internacionais para além de mero instrumento.
3 Meios de comunicação e tecnologias de informação cujas menções no campo de estudo das Relações
Internacionais são frequentemente colocados como fatores coadjuvantes do desenvolvimento teórico sobre
os efeitos econômicos, políticos e culturais que afetam e transformam o mundo da política internacional.
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1. Preceitos de Robert Dahl sobre democracia
A concepção de democracia é atribuído ao sistema político que seja em parte ou
inteiramente responsivo com as preferências dos seus cidadãos, evitando distinções
políticas e garantindo a todos que compõem o sistema político contemporâneo
de democracia oportunidades plenas de formular suas preferências, expressá-las
e tê-las consideradas na conduta do governo. Ao avaliar o grau democrático das
instituições contemporâneas, comparando-as entre si e usando a referência da
concepção ideal de democracia, tais avaliações mostram-se úteis para imaginar
e promover instituições políticas apropriadas às realidades sociais estudadas
(Dahl 1997)
Oportunidades de participação e competição no sistema político dispostas
aos cidadãos não são suficientes para avaliar estes regimes, portanto, Dahl
(2014) parte do pressuposto de que as garantias proporcionadas pelas instituições
precisam ser avaliadas, pois possibilita ordenar contundentemente as variações
de responsividade dos Estados em assegurar essas garantias, podendo fornecer
mecanismos robustos de averiguação dos requisitos necessários para os regimes
serem quase, aproximadamente ou plenamente democráticos.
A garantia de que as pessoas possam formular e exprimir suas preferências
é um dos requisitos que os regimes democráticos devem ter para evidenciar se
a igualdade política e a soberania popular estão ou não consonantes com os
processos de votações e concretude das decisões políticas. Assim, preferências
individuais devem ser analisadas em sua participação nas etapas que antecedem,
ocorrem durante e posteriormente as eleições dos líderes políticos (Dahl 1997).
Nesse sentido, a formação de preferências políticas é associada as informações
recebidas e processadas pelas pessoas que verificam sua relevância aos seus
interesses individuais e coletivos. Todavia, esses processos podem ser afetados
quando alguns atores políticos veiculam informações com intuito de incentivar
alteração da interpretação das informações fornecidas. Tal efeito demonstra as
probabilidades de existir interferência na formulação de preferências políticas
das pessoas (Druckman e Lupia 2000).
Formular e exprimir preferências sublinha a importância da cidadania
informada, os cidadãos são condicionados a deter capacidades de eleger quem
represente seus interesses, portanto, precisam de informações acerca das
alternativas de representantes que precisam eleger. Contudo, o controle da
informação e sua distribuição desigual, condiciona uma estrutura onde alguns
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grupos políticos possuem vantagens de influência sobre os demais, prejudicando
alguns de analisar criticamente sua opção de representante. E, também, “muitos
cidadãos têm uma compreensão deficiente das políticas que terão consequências
diretas e importantes para seus interesses básicos” (Dahl 2014, 7).
Para Dahl (2012), um país avançado é situado com vulnerabilidade democrática
quando há uma distribuição limitada de recursos políticos para as pessoas
exercerem seus papéis sociais como parte do demos. A igualdade política é
um meio e um fim crível para a distribuição justa de liberdade, assim como
de oportunizar chances equitativas de autodesenvolvimento das pessoas. As
deliberações coletivas são mecanismos e justificativas da democracia representativa,
são processos inerente às capacidades e oportunidades dos cidadãos de se inserir
na agenda política, acompanhá-la e fazerem parte dela. Portanto, as desigualdades
de capacidades e oportunidades devem ser abrandadas.
A democracia sofre ameaças com as assimetrias de recursos econômicos
entre os cidadãos no momento em que o trabalho torna-se o eixo centralizador da
vida social. São as relações sujeitas ao trabalho, o caráter de poder, autoridade e
controle que revela o quanto ele afeta incisivamente as questões da vida cotidiana,
como: o autodesenvolvimento, o status, o consumo, a liberdade pessoal e dentre
outros. Os recursos políticos são atrelados aos recursos econômicos, quem
precisa consumir algo depende de sua renda e, notoriamente, sabe-se que caso
a distribuição econômica não seja suficientemente igual, haverá marginalização
das pessoas inaptas a consumirem algo (Dahl 2012).
A ordem econômica de um país democrático avançado, em certa medida,
entra em discórdia com certos eixos da concepção democrática, assim que as
disparidades sociais e econômicas se tornam conflitantes. Dahl introduz essas
questões quando o crescimento da desigualdade ao redor do mundo com a
transformação do capitalismo industrial em corporativo, provocado, em parte, pela
amplificação do individualismo liberal, germinou e desenvolveu uma sociedade
de consumo, reduzida a garantir seus direitos ao consumo pela liberdade em
detrimento da tolerância da distribuição desigual de recursos sociais e econômicos,
os quais são também políticos (Abu-El-Haj 2008).
O neoliberalismo
4
, responsável por desestruturar os padrões de vida da
classe média e trabalhadora do Norte global, bem como fragilizar a proteção
4 Uma esfera de políticas privatizadoras dos serviços públicos que minimizam o Estado social em detrimento
de uma exaltação da liberdade embora, ainda contida por um conceito raso da concepção econômica clássica
do pensamento keynesiano.
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dos empregos até o definhamento da qualidade e oportunidade de acesso à
educação, permanece gerando desafios para algumas democracias. Além disso,
a crescente segmentação do consumo de mídia na contemporaneidade transmite
desafios as democracias ao passo que o acesso desigual a meios de formular e
exprimir preferências impactam a sociedade (Brown 2019). À vista disso, Dahl
(2012) aponta o avanço e transformação da tecnologia de comunicação como
ferramentas contributivas e perigosas à participação dos cidadãos nas discussões
políticas, principalmente, ao enfatizar que elas não são suficientes para aquisição
da consciência cívica.
Nessa conjuntura, cabe-se destacar uma das críticas ao estudo clássico
de Almond e Verba (1963) cuja postulação sobre cultura política se limitou ao
campo das ideias, pressupondo que os cidadãos eram ativos e informados de
forma racional diante de sua relação com a política, mostrando, de outra forma,
pouca compatibilidade com o mundo real e os eventos políticos que provam o
contrário, conforme abordará a segunda seção.
Em tal caso, conforme destaca Huntington (1975), quando uma sociedade
torna-se complexa e heterogênea, maiores são as necessidades de haver
instituições políticas que moderem os rumos do poder que cada grupo exerce
enquanto uma força social. Isso posto, é imprescindível que haja a obrigação
de um código de comportamento, princípio ou objetivo em comum para existir
autoridade e ordenamento por parte das instituições políticas. Portanto, quando
não atendido estes recursos, maiores os riscos de fragilidade das instituições
políticas e mais enfraquecido fica o desenvolvimento do Estado diante da evolução
da sociedade.
2. Desafio da consciência cívica:
implicações da formulação de preferências
De acordo com Porto (2003), o dilema democrático consiste na incongruência
do processo de formação da opinião pública, ocorre à medida que os cidadãos não
respondem a teoria democrática conforme o idealizado, os quais devem tomar
decisões racionais na formulação e expressão de suas preferências. Todavia, esse
dilema é limitado por muitos autores da escolha racional a obtenção de informação
como requisito maior para se alcançar uma competência razoável de consciência
cívica, sem pautar incorporações de habilidades em interpretar a realidade e
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elaborar significados, visto que a informação se estrutura simbolicamente e
contribui na formação dos atos de interpretação.
Assim, poucos recursos são colocados por esses autores, como Anthony
Downs, Kenneth Arrow, Gordo Tullock, James Buchanan e George Stigler, sobre
o entendimento do dilema democrático a partir da compreensão de como os
indivíduos processam as informações dispostas. A mídia transforma a esfera
política e remodela o instrumento usual dos líderes políticos de se comunicarem
com a população, o que lhe dá uma centralidade e os tornam responsáveis pela
forma como influenciam o comportamento político das pessoas (Miguel 2000).
Tentando avançar nas respostas ao dilema democrático, Porto (2003)
desenvolve o modelo cidadão interpretante, acrescentando questões de cognição,
estrutura política e enquadramentos da mídia a fim de abranger o entendimento
do processo de formação das preferências políticas. O que, por outro lado, não
foi destacado pelos autores Almond e Verba (1963), que introduziram o tema
da cultura cívica de forma limitado, tratando somente do que deveria ser a
consciência cívica, faltando, por sua vez, debater como ela pode ser alcançável
no mundo real diante de obstáculos concretos.
Desta maneira, sabe-se que a depender da forma como são expostos os temas
e eventos políticos pelos ambientes comunicacionais e políticos, a mídia pode
desenvolver papéis de influência na estruturação de alternativas informacionais
e dos enquadramentos interpretativos que os cidadãos usam para elaborar suas
preferências políticas. Sendo assim, o risco da realidade política ser interpretada
de forma equivocada é menor à proporção que há mais opções informacionais
e interpretativas para população tomar sua decisão, evitando um processo de
interpretação raso (Porto 2003).
Logo, a mídia é uma grande provedora dos enquadramentos interpretativos
que abordam os assuntos da esfera pública, gerando ações significativas nos
processos de interpretação dos temas e eventos políticos pela sociedade. Seus
enquadramentos das interpretações políticas podem servir para manipular os
grupos desprovidos de senso crítico por grupos economicamente poderosos, já
que os conteúdos exibidos nas mídias vinculam-se às formas que as pessoas
interpretam os eventos político-sociais (Porto 2003).
Deste modo, notar os interesses corporativos permite compreender os
desafios que os civis enfrentam de acessar informações de modo amplo e com
credibilidade. Ainda mais, com o mercado dos meios de comunicação obtendo
uma competitividade exígua, o que acaba por favorecer os meios de veiculação
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a terem um viés favorável a grupos que investem na estrutura da propriedade
midiática, por exemplo, os anunciantes. Principalmente, sabendo do papel dos
meios de comunicação em fornecer às pessoas comuns um “canal” para se situar
sobre a esfera política e agirem diante do que relatam sobre ela (Miguel 2000).
Usar os meios de comunicação para construir uma vontade coletiva que
os legitime nas batalhas políticas é do interesse de alguns grupos políticos, o
que, por outro lado, prejudica o papel da mídia de favorecer seu princípio de
gerar debates públicos (Miguel 2000). Nos meios de comunicação de massa
da era televisiva as práticas de indução dos comportamentos das pessoas são
contumazes, os estímulos simbólicos de representação da realidade emergem
da mídia (Castells 1999).
O meio televisivo representa a facilidade comunicacional, as pessoas consomem
a mídia por ela se tornar um recurso, um produto básico, ela não é atividade
exclusiva (Mcluhan 1994). Tal característica faz com que o apelo ao associativo
lírico seja mais presente do que o analítico, posto que o processamento das
mensagens é ininterrupto devido ao alcance imenso que as altas projeções
ilustrativas e narrativas podem difundir. Neste aspecto, a mídia audiovisual com os
estímulos simbólicos e seu modo de difundir-se causa impacto no processamento
das mensagens, podendo serem emitidas de forma subliminares ou explícitas
e com pretensões diversificadas, o que acaba modificando a linguagem da
comunicação social (Castells 1999).
O meio pelo qual a mensagem é difundida torna-se capaz de moldar e
controlar tanto a forma como a densidade da ação humana, na medida em que
a mídia é uma extensão do ser humano e suas relações. Nesse aspecto, os efeitos
causados na sociedade pela mídia não devem ser reduzidos a uma entonação
diferenciada de comunicação (Mcluhan 1994).
Por efeito, tal debate recorda a aparição da abordagem construtivista tanto
na Sociologia como nas Relações Internacionais, ao passo que os construtivas
consideram que ideias e valores determinam a relação do agente com o
mundo material, pois desempenham uma função importante na formulação
do conhecimento sobre o mundo. Essa reflexão advém da virada linguística, a
qual concebeu a metodologia da análise do discurso meios mais robustos de
compreender a análise dos eventos sociais em geral, haja vista que os discursos
são representações sociais narradas que podem gerar construções sociais
normativas a partir de representações parciais e seletivas do que foi desejado exibir
(Onuf 2001).
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3. A transformação da mídia
A construção do mundo midiático por uma comunicação modelada em
linguagens sintéticas permite a projeção exponencial das identidades políticas no
sentido insidioso. E com a perda das avaliações dos méritos e deméritos propostos
no debate público, o uso da internet e de outras plataformas ao fomento de
discussões cívicas são anulados (Castells 2018). Logo, as novas tecnologias de
comunicação desenham uma sociedade segmentada, determinando conquistar
massas de audiências específicas, por valores e ideologias que dialoguem com
públicos focais (Ito 1991).
A estrutura global que o ambiente televisivo assume de difundir mensagens
a cada cultura e grupo social reforça a emblemática proposição do McLuhan de
que o meio é a mensagem, confirmando que ela se tornou pura comercialização.
Cada vez mais, programas de televisão alteram a forma de veicular a mensagem
para produzir um vínculo realístico com os espectadores alvos (Castells 1999).
A mídia televisiva assumida como mercadoria, enquanto uma economia
da informação (Briggs e Burke 2009), revela a exclusão que pessoas com
vulnerabilidades econômicas vivenciam na era informacional (Castells 1999).
Por isso, condições de participação na esfera pública são fatores decisivos para
as pessoas tomarem decisões coesas, visto que competências adquiridas de forma
desigual podem dificultar os indivíduos a se posicionarem coerentemente (Miguel
2000). Aliás, a comunicação digital que buscava criar redes que formassem uma
comunicação simétrica acabou sendo banalizada com a sociedade exercendo
papéis de remetente e produtor ativo de informação, dado que o imediatismo
da era da informação torna excludente as funções de mediação adequada do
ambiente informacional (Han 2018).
Porquanto, a banalização do espaço midiático nas redes sociais esfarela a
pouca capacidade de mediação da comunicação quando o excesso de sensação
de transparência iludem os cidadãos, ao mesmo tempo que agrava a indignação
deles diante de um ambiente domado por ambiguidades informativas. Esses
efeitos transferem-se aos processos políticos fatigados devido uso extremo do
escândalo como forma de política, domando os cidadãos por ambiguidades
informativas que ativam a ruptura da crença na instituição democrática e seus
adereços (Castells 2018).
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A era digital destaca o contexto das enxurradas de informações sufocando o
intuito de dialogar, fazendo sua acelerada circulação refletir em alguns distúrbios
psíquicos, caso da Síndrome da Fadiga de Informação que deixa a sociedade
contemporânea entregue ao cansaço da informação que é deformadora (Han
2018). E, a capacidade dos cidadãos, com poucas aptidões de cognição para
interpretar as realidades políticas, de se situar nos debates políticos e tomar
decisões coesas são rudemente restringidas (Porto 2003).
A era da informação norteada pela comunicação digital reforça as fragilidades
das condições para o exercício da cidadania informada, sugerido por Dahl (2004)
como um dos requisitos basilares da democracia representativa. As redes sociais
impactam os processos sociopolíticos contemporâneos à medida que os ambientes
das mídias se articulam as práticas sociais devido sua complementaridade, visto
que determinados aspectos das práticas sociais desdobram-se com a presença
dos ambientes das mídias (Martino 2019).
Nesse enquadramento, as redes digitais alteram características subjetivas
e culturais dos modos de ser com novas práticas de expressão e comunicação
nas redes sociais que podem provocar impactos sociopolíticos desfavoráveis
(Sibilia 2008). Portanto, encarar a comunicação na concepção social concebe,
de tal maneira, uma compreensão crítica de que os ambientes de comunicação
são desdobradores da constituição de realidades, o que permite investigar a
transformação do mundo/processos sociopolíticos, pela mídia.
Ressalta-se que movimentos da extrema direita recorrentemente utilizam
plataformas de baixos custos como Twitter e Facebook para se conectarem com
outros movimentos sociais extremistas compatíveis com seus objetivos políticos,
bem como para produzir uma representação de potência. Essas causalidades
surgem das divisões culturais nos debates políticos e nas alterações de identificação
de eleitorados, antes divididos com mais frequência entre pautas econômicas
a respeito do papel do Estado e do mercado, o que muda na agenda política
contemporânea com a inserção dos debates sobre valores pós-materialistas e
socialmente liberais como liberalização sexual, igualdade de gênero, respeito aos
direitos da comunidade LGBTQIA+ e outros. Com o advento dessa mudança
político-social, ergue-se em contrapartida, uma reação cultural de grupos sociais
conservadores e a partir disso, a politização das identidades sociais recebem
pesos consideráveis ao âmbito da rivalidade partidária, contudo, com aspectos
intransigentes (Norris e Inglehart 2019).
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4. Respostas à crise neoliberal:
gabinete dos outsiders políticos do século XXI
O capitalismo corporativo do século XXI destaca uma alteração social, as
pessoas são caracterizadas como sujeitos do desempenho pelo modus operandi
da competitividade social associado a comercialização das fontes máximas
de poder hábil. O filósofo sul coreano, Han (2018) destaca, em “A Sociedade
do Cansaço”, que a dialética da liberdade se autotransforma em aparato de
coação do desempenho dos corpos e mentes humanas dentro do sistema
de mercado competitivo, propiciando um colapso psíquico nas pessoas em
função da procura individual das pessoas de superarem a si mesmas por um
inconsciente social.
À custa disso, designam a criação de uma racionalidade com princípios que
orientam o homo oeconomicus a se sujeitar ao aprimoramento do capital humano.
Prontamente, o neoliberalismo reposiciona o Estado a uma “governamentalização”
do mercado, o qual se fortalece com o enfraquecimento da socialdemocracia,
partindo do pressuposto que a razão neoliberal é viabilizada e amparada pelo
mercado, ao instituírem que os indivíduos são independentes e competidores
do seu desempenho sendo, portanto, capazes de resgatar seus recursos sociais
(Brown 2019).
Em contrapartida, o ataque ao Estado social nasce de um projeto construído
por uma cultura antidemocrática, sendo-a inserida pela máscara do privatismo
liberal nas ordens capitalistas. Um reflexo disso são as escolhas de Trump às
chefias das instituições norteadoras do gerenciamento de bem-estar social por
pessoas inexperientes no trabalho de políticas públicas, mas que são experts no
modus operandi empresarial. Por exemplo, a indicação de Kushner5 e outros
ultra ricos que maquinam um governo plutocrático (Brown 2019).
Não obstante, a globalização que solapou as economias nacionais é a
mesma de quem teve proveito das políticas neoliberais que potencializaram as
desigualdades econômicas e sociais com suas crises, caso da bolha imobiliária
de 2008. Por outro lado, as perdas de empregos causadas foram atribuídas aos
migrantes e minorias beneficiárias de cotas escolares.
A partir disso, a polarização social ergue-se, em determinados grupos com
os efeitos do capitalismo financeiro global que promoveu a separação dos grupos
5 Investidor e promotor imobiliário, proprietário de jornais e conselheiro do ex-Presidente Donald Trump.
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cosmopolitas de alguns trabalhadores locais desvalorizados, os quais são eximidos
do avanço tecnológico e descentralizados da nova indústria (Castells 2018).
Segundo Hobsbawm (1995), os “cinturões de ferrugem”
6
vivificam a própria
ferrugem desde que a evolução tecnológica propagou crises e pressões econômicas,
enfaticamente a neoliberal, com o desmonte das políticas assistenciais dos setores
mais enfraquecidos dos trabalhadores. Neste cenário, a coesão social é dissipada
com a latente estratificação entre os trabalhadores considerados qualificados
por se adaptarem à era da produção de alta tecnologia e os que não ficaram
excluídos dela.
Advindo dessa lógica irrestrita do mercado, a desigualdade se acentua e o
distanciamento do Estado simboliza para muitos uma crise de representação
de seus interesses, criando suspeitas e descrença dos processos democráticos
(Castells 2018). Evidentemente, a configuração é um ambiente fértil para aparição e
desenvolvimento de outsiders populistas que conquistam aparição e sensibilização
pública em contextos de fragilização econômica e social (Levitsky e Ziblatt 2018).
Os avanços antidemocráticos eclodem com a subordinação do político aos
mecanismos econômicos. Os direitos políticos e econômicos são dependentes,
a existência do primeiro não é equivalente sem o segundo. A consciência cívica
que os cidadãos exercem depende de ambas para estarem como iguais nas
deliberações públicas para exercerem seus papéis político-sociais (Abu-El-Haj
2008). Portanto, deve ser lembrado que as mudanças sociais, as alterações das
conjunturas políticas, sociais, culturais e econômicas fazem parte também da
formação de opinião do público (Dewey 1954).
5. Analisando os eleitores de Donald Trump
De acordo com Eatwell & Goodwin (2018), a turbulência econômica após
a crise de 2008 não foi a causa primária para firmar o núcleo do eleitorado de
Trump, o que se obteve foi uma coalização entre grupos distintos da sociedade
unidos em valores e objetivos comuns. Portanto, Donald Trump estava mais
focados em ecoar mensagens específicas aos que representavam metade do seu
eleitorado.
6 Refere-se à área de industrialização extensa dos Estados Unidos do século XX que entrou em decadência com
a transferência de fábricas para o oeste devido ao aumento da automação. O termo em inglês é “Rust Belt”,
podendo ser traduzido também como Cinturão da Manufatura (Manufacturing Belt).
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Na pesquisa de Ekins (2017), as motivações e prioridades de sua comunicação
concentrava-se no grupo listado como conservadores firmes e apoiadores do
mercado livre, simbolizando 31% de seu eleitorado. Eles eram identificados por
fidelidade ao tradicionalismo moral, era uma classe média alta que encaravam a
religião cristã como a verdadeira identidade dos estadunidenses, posicionavam-se
com rispidez ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e indicavam a existência
de uma discriminação a pessoas brancas.
Esse eleitorado consente com as propostas neoliberais de desmonte da
provisão pública, haja vista as condições que o desmonte da democracia liberal
propiciavam para eles (re)cristianizar a esfera pública, permitindo contestar os
princípios basilares da democracia como igualdade e pluralismo ao se afirmarem
em denúncias de excedimentos do Estado, os quais dizem colocar em risco sua
liberdade religiosa e de expressão, enquanto cristãos. Com forte investimento
da Alliance Defending Freedom (ADF)7, a deslegitimação da democratização dos
poderes sociais se promove com retóricas desse grupo de conservadores que
enfrentam as agendas de direitos reprodutivos, como o aborto legal e as pautas
LGBTQIA+ como “ameaça” aos seus direitos de liberdade individual de exercer
sua fé publicamente (Brown 2019).
A mesma instituição dispõe de programas de bolsas jurídicas para advogados
que declaram compromisso aos princípios da ADF de repelir o casamento
gay e os direitos relacionados ao aborto, os quais tentam converter o direito
privado numa liberdade pública, tornando-se um poder predatório que rechaça
os direitos fundamentais da Primeira Emenda. Deste modo, buscam firmar
uma jurisprudência com fortes vínculos aos princípios cristãs fanatizados por
conservadores da administração Trump, como é o caso do vice-Presidente Pence e
a Ministra da Educação Betsy Devos que fazem parte e colaboram financeiramente
com a instituição que prolifera a nomeada “esfera pessoal protegida” em
detrimento de poderes desigualitários de gênero, raça, sexualidade e classe
(Brown 2019).
Outro grupo visado na estratégia de Trump foram os Preservacionistas,
ilustrados como 20% do seu eleitorado, representando os grupos sociais de baixos
rendimentos financeiros e com quase nulo acesso à educação formal. Todavia,
eram os maiores consumidores de conteúdos televisivos e pouco informados
politicamente, afirmando consumir mais a Fox News do que outros canais de
7 Uma instituição de caridade dos Estados Unidos com ênfase internacional na legislação de liberdade religiosa.
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transmissão de notícias. Estes, também, acreditam que haja uma discriminação
a pessoas brancas e declararam abertamente que a identidade americana não
deve ser representada de forma plural (Ekins 2017).
Há também um representativo número de mulheres que se engajam e assumem
concordância a políticos como Trump, representando cerca de metade das que
consentem com as atitudes e discursos ofensivos dele (Eatwell e Goodwin 2018).
Todavia, tal gravura não é nova, nos períodos de pronunciamentos e ações
hostis, o apoio à McCarthy em sua missão de enfrentamentos dos comunistas
durante a Guerra Fria foi amparado por mulheres, as quais correspondiam,
na década de 50, cerca de 41% do eleitorado cativante dos republicanos,
sendo retratadas nos noticiários como o Gabinete de Cozinha do macarthismo
(Lepore 2020).
A polarização sectária, para alguns, sustenta-se das mudanças sociais que
são retroalimentadas por ressentimento social gerado a partir da drástica perda
da estabilidade no emprego provocada com as mudanças econômicas (Kramer
2016). Nesse aspecto, o impacto de favorecimento às propostas de Trump são
intensificadas por questões de choques culturais e, para alguns grupos, pela
junção das questões de desigualdade econômica agravadas com os efeitos da
austeridade da crise de 2008.
Também, deve-se encarar que grandes modificações sociais nos Estados Unidos
não se deram por unanimidade de todos os grupos sociais do país, a questão
da segregação racial nas escolas se ampliou mediante a repercussão da imagem
do país no exterior por jornais estrangeiros, visto que o cenário de Guerra Fria
pressionou seus líderes políticos a encararem a incoerência do país defensor do
“mundo livre” ser conivente com ações de discriminação racial em seu próprio
território. Somente tornando-se uma questão de segurança nacional, frente às
disputas por influência com a URSS foi que os Estados Unidos buscaram apresentar
interesse para com os direitos políticos desse grupo social (Lepore 2020)
6. Analisando o Trumpismo:
o que há por trás do “Make America Great Again”?
A fim de desfavorecer algumas garantias democráticas, o neoliberalismo busca
prejudicar a igualdade política ao nomear medidas de justiça social como “ações
tirânicas”, reduzindo a importância de ações afirmativas que buscam reparar
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as estratificações históricas de exclusão das minorias. É com a privatização do
Estado social que justificativas banais de reivindicações da liberdade individual
em detrimento das proteções sociais são germinadas (Brown 2019).
A racionalidade neoliberal forneceu um niilismo que construiu a imagem
totalitária sobre os que falam de políticas igualitárias. A edificação da igualdade
formal, sem dar destaques às condições e situações restritas que os outros têm
para exercê-la, fez da liberdade um instrumento de poder de mera licença pessoal.
Por exemplo, qualquer ação contra negligências sociais cravadas por legados de
opressão, eram representadas como lamúrias infundadas, ou, segundo Thatcher:
uma política da inveja (Brown 2019).
Conforme apresenta Levitsky e Ziblatt (2018), o sistema político norte-
americano presencia uma densa animosidade política, encarando que entre 70%
dos democratas e mais de 60% dos republicanos declaram estar com medo de
como o outro partido pode agir politicamente. Nesse sentido, um dos aspectos
que engajaram esse cenário foi a separação de eleitores e representantes políticos
em campos homogêneos, evidenciando por qual motivo as diferenças identitárias
estão marcando a polarização do povo americano.
A separação política evidencia por que as diferenças ideológicas estão
marcando a polarização nos Estados Unidos, posto que alguns fatores emergem
do triunfo do movimento pelos direitos civis que foi um desdobramento de outras
emancipações étnicas que pressionaram uma remodelagem dos valores e abordagens
políticas que os partidos adotavam. Com isso, grupos específicos transmutaram-
se de um partido para outro, caso dos republicanos com representantes da
direita cristã que retratam 80% do eleitorado evangélico interessado em 2016
nos representantes do partido (Levitsky e Ziblatt 2018).
De acordo com Bishop (2009), o advento da internet e das redes sociais gerou
uma dinâmica de bolhas de interesses que aguçou as divisões dos desdobramentos
dos movimentos por direitos civis da década de 1950 a 1970, o que demonstra o
cenário da campanha eleitoral de 2016. Em pesquisa do Pew Research Center, a
crítica proeminente dos democratas aos republicanos é de seus membros terem
a mente mais fechada”, enquanto, quase metade dos eleitores republicanos
encaram os democratas como imorais. Já os considerados “independentes”
mostram inclinação a um partido a partir de concepções negativas que possuem do
outro, sem concordarem com as propostas políticas do partido escolhido, segundo
os dados da pesquisa supracitada, 30% demonstra compreender os efeitos das
propostas políticas da sua escolha partidária (Doherty, Kiley e Jameson 2016).
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Diante disso, encontramos os efeitos que a transformação da mídia ressoou
na sociedade estadunidense em consequência da esfera pública consumida por
uma lógica neoliberal, evacuando a empatia cívica que deveria ser o alicerce da
conquista plena de igualdade política por todos. O espaço digital, assim, pode
ser visto, como fomentador de uma sociabilidade ilusória, da qual não oferta
ferramentas robustas de fortalecimento dos laços sociais (Brown 2019).
Condizente às ilustrações de Levitsky e Ziblatt (2018), a mídia faz parte da
construção do populismo nacional, somente em 2010 quase 70% dos eleitores
republicanos comprovavam serem espectadores dos canais de mídia declarados
partidários, caso da Fox News. Sendo este canal televisivo representante do
prolífero camarim dos legitimadores de discursos incivis, como Rush Limbaugh8,
Laura Ingraham9 e outros, que firmavam ataques deselegantes aos democratas
e também linchavam quem fugisse das agendas obstrucionistas.
Todavia, as normas não escritas de tolerância mútua entre os partidos políticos
nos Estados Unidos erguidas silenciaram pautas de exclusão racial com intuito
de suprimir qualquer proposta que provocasse divergências políticas. A Guerra
Civil, por exemplo, possibilitou ser uma ilustração candente, com inúmeros
casos de violência física registrados na história estadunidense de que feios e
contrapesos devem existir nos regimes democráticos (Levitsky e Ziblatt 2018).
Conforme recorda Angela Davis (2018), o movimento pelos direitos civis
surge devido à ineficiência da Proclamação de Emancipação e da 13º Emenda
de proporcionar condições da população negra exercer a cidadania plena. O
movimento evocava problemas aludidos a todo país, solicitavam direitos civis
de participação ativa no ambiente político e também focavam em resgatar a
liberdade econômica que foi retirada das pessoas negras e inibiram suas chances
de acesso à educação, saúde, moradia e entre outros recursos.
Neste aspecto, o afastamento das liberdades concretas da população negra
na agenda política do aparato estatal, demonstra o quão problemático é fornecer
direitos rasos que promovem a igualdade artificialmente (Davis 2018). Não
houveram alterações efetivas com a conquista dos direitos formais para minar
a desigualdade econômica entre questões de raça e gênero, pois a lei não se
submete a encarar sob quais condições, por exemplo, uma pessoa pertencente
à comunidade negra do subúrbio cometeu uma infração (Davis 2019).
8 Iniciou a carreira como radialista, com o passar do tempo ficou conhecido como ativista político e comentarista
conservador norte-americano.
9 Jornalista estadunidense com histórico de aproximadamente vinte anos trabalhando para a Fox News.
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Os problemas sociais retratam, assim, sua conexão às ausências de liberdades
concretas, o que, por conseguinte, não é acaso notar o fornecimento de uma
indústria da punição ao invés do desenvolvimento de instituições sociais que
ajudem as pessoas na conquista de vidas mais satisfatórias. Os cárceres costumam
ser ocupados majoritariamente por pessoas que cometem infrações rasas, caso
das mulheres negras condenadas por tráfico de drogas, a maioria segue tal
alternativa devido às restrições impostas em suas trajetórias de vida (Davis 2019).
7. A política do escândalo:
o papel da mídia ao fortalecimento do Trumpismo
Precisão científica não foi prerrogativa das notícias dispostas na internet
durante o ataque terrorista às torres gêmeas, teorias da conspiração ganharam
atenção em dobro nesse período. A exemplo disso, teve-se o Infowars, elaborado
pelo radialista Alex Jones, demonstrando o poder de sua campanha virtual de
“promulgação da verdade” ao incentivar suposições de que o Governo Federal
dos Estados Unidos foi responsável pelo ataque do Onze de Setembro, criando,
assim, um grupo político conhecido como: truthers (Lepore 2020).
À vista disso, anos de agressão ao Estado e à Imprensa promoveram um público
totalmente descrente em ambos. Posteriormente, transformados os truthers em
birthers: grupo focado em provar que o primeiro Presidente afro-estadunidense não
era americano, dentro de um ambiente frenético, com explicações que contentava
as pessoas do seu próprio imaginário político (Lepore 2020). Mesmo com o
favorecimento do aumento da integração humana em redes, as barreiras de diálogo
não permitem que os laços orgânicos sociais fluam na internet (Castells 1999).
À vista disso, o nacionalismo cristão é um dos focos da campanha eleitoral
de Trump que estaria disposto em apoiá-lo até mesmo com ele envolvido em
escândalos, a promoção da própria agenda moral de forma intolerante surge
como uma alternativa para este grupo extinguir as elites culturais que firmam
a extinção do privilégio e monopólio do poder da branquitude. Assediam e
cometem injúrias a sua própria tradição moral, conforme descreve o lema deste
grupo “é a única alternativa”: TINA10 (Brown 2019).
10 Acrônimo do inglês para “There is no alternative”, slogan político visto com frequência nos períodos da
administração Thatcher, enquanto Primeira-Ministra que juntamente com Reagan eram maiores entusiastas
do neoliberalismo.
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Em vista disso, a questão da identidade não é anedótica, pois as motivações
dos movimentos da extrema direita que conquistam visibilidade com recrutamento
de pessoas identificadas entre si como marginalizadas socialmente tem provado
o contrário (Castells 2018). A ausência de moderação do avanço da internet e
suas extensões na busca e seleção das informações disponibilizadas mostraram
as implicações agudas que a falta de comprometimento de certas indústrias da
era de conhecimento desenvolvem à política, pois focam mais nos lucros do que
com os efeitos que eles podem transmitir ao interesse público.
A comercialização da mídia e distanciamento da mediação das informações
concedeu espaço para o hiperindividualismo, com ações excêntricas de blogar,
publicar e tuitar o que convinha ao lucro. Algumas redes de informação como a
Fox News iniciam um processo de transmitir mensagens para audiências específicas
e também as encorajam a seguirem determinados comportamentos (Han 2018)
Glenn Beck, uma personalidade midiática de forte vinculação a direita
política norte-americana, promoveu quadros que reforçavam comentários de
comparação do Obama a Mussolini, no seu programa da emissora Fox News,
quebrando recordes históricos de audiência, o que lhe concedeu uma popularidade
inestimável. Ele modificou sua forma de proferir suas mensagens ao destacar
afirmações de que a presença do Obama, enquanto Presidente, representava
uma traição aos pais fundadores do país, atraindo animosidades que vivificaram
o ódio racial, mobilizando grupos a instituírem um movimento nomeado
Tea Party com comícios nas ruas das cidades de todo o país, exibindo cópias da
Constituição e cartazes estritamente racistas (Lepore 2020).
O Tea Party e outros movimentos ligados à extrema direita são destaques
ao ressentimento das políticas assistenciais de imigração, fora que são contra a
conquista de um Presidente afro-estadunidense, o que traz recordações do caso
Dred Scott em 1857 que foi ressuscitado por Beck no seu programa, recordando
quando o Chefe de Justiça, Roger Taney, ecoou as propostas de evitar que
qualquer pessoa de ascendência africana estivesse apta a ser considerada um
cidadão americano. Por sua vez, essa contextualização torna visível o porquê dos
cartazes de pedido de impeachment ao Obama com o lema: ele é inconstitucional
(Lepore 2010).
Nesse aspecto, abordar a comunicação como uma organização simbólica, ao
invés de instrumento informacional, por um nível crítico-cognitivo, proporciona
uma compreensão robusta da transformação do mundo por forças sociopolíticas
das tecnologias de mídia, ao passo que cada novo meio comunicacional reflete
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a alteração realística de um mundo (Sodré 2014). O caso do movimento político
Tea Party reflete algo similar a invasão do capitólio em 2021, uma vez que as
redes sociais assumem aspectos funcionais de ação política, lhes configurando
habilidades de trabalhar níveis logístico, organizacional e ideológico para tornar
a multidão uma força estabilizada e coesa, evitando-a de ser uma aglomeração
de pessoas com encontros e diálogos dispersos (Munn 2021).
Todavia, essa força social da mídia não é algo novo, pois é também percebido
na constituição da Primavera Árabe emergida em 2010 com os movimentos
populares usufruindo das redes sociais como Twitter, Facebook e Youtube
para disseminar informações e organizar manifestações durante períodos de
reivindicações políticas, econômicas e sociais. O que, de tal forma, proporcionou
ao povo árabe mecanismos de potencializar a ação de seus movimentos políticos
contra o governo autoritário nos seus países, como foi na Tunísia, Egito e Líbano
(Bartkowiak et al. 2017). O que não se esperava era seu uso para alimentar
retóricas que põem as democracias em riscos.
Nesta conjuntura, o neoliberalismo investe nas tecnologias comunicacionais
enquanto um recurso para lucrar com o controle psicopolítico dos indivíduos.
A iminência do big data e sua capacidade de reconhecer os hábitos digitais das
pessoas, proporcionando uma representação mais exata da identidade das pessoas
com dados que agrupam informações sobre o comportamento dos indivíduos
nas redes sociais e demais extensões da internet, revela a proeminência de
comercialização da comunicação. A critério de exemplo, percebe-se o caso da
Acxiom, comercializadora de dados particulares de 300 milhões de cidadãos dos
Estados Unidos, dispondo de mais informações sigilosas do que o próprio FBI
(Han 2014).
Outrossim, os ataques iminentes de Trump e outros republicanos às normas
não escritas de tolerância mútua e zelo às instituições democráticas independentes
como a Imprensa, criam um grande dano à democracia, ataques contundentes
aos adversários tornou-se a nova linguagem dos republicanos com seu eleitorado.
O escândalo, o agir de forma intolerável era o mais lucrativo para essas pessoas,
o candidato ao Congresso em 2017, Greg Gianforte, por exemplo, comprovou
esse modelo ao conquistar uma cadeira na Câmara por uma agressão explícita
ao repórter do The Guardian (Levitsky e Ziblatt 2018).
Portanto, propostas como a construção de um muro, com intuito de minar
a entrada de imigrantes latinos no país, demonstrou uma das táticas mais
elaboradas de distorção dos problemas reais que parte dos americanos operários
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enfrentavam com os efeitos do capitalismo global. Porém, entoavam as vozes
daqueles que já vivenciavam uma lógica xenófoba latente (Castells 2018). Nesse
enquadramento, conforme destaca Judith Butler (2021), os discursos injuriosos
não são palavras soltas, pois a linguagem é uma agência, ou seja, é um ato que
tem consequências. O discurso é o ponto chave da incitação à violência, pois
convence públicos a tomarem ação em detrimento de uma lógica comum que
os leva a incitar antagonismos e intensificar constantemente a animosidade a
ponto de explodir em ação violenta (Apter 1997).
Sendo assim, o comportamento de Trump frente aos críticos da mídia,
mostrando o seu caráter autoritário, quando tuitou ameaças de cassar licenças,
como fez com a NBC, evidencia a razão da despreocupação de suas ações gerarem
um péssimo exemplo ao seu eleitorado, como foi o caso do vídeo publicado
na sua conta do Twitter com a montagem de uma cena que apresenta o Trump
violentado fisicamente uma pessoa com a logotipo da CNN (Levitsky e Ziblatt
2018). Tratar seus adversários políticos com abusos de poder podem, portanto,
serem encarados como meios de corporificar sua base política que se anima
e se satisfaz com seu espetáculo de se opor ao outro, de desprezar a lei e de
caluniar os fatos, a vontade de potência pode ser lido como o papel que Trump
representa aos seus eleitores (Brown 2019).
Considerações finais
Embora os efeitos neoliberais tenham impactado nas condições de acessos
aos recursos econômicos favoráveis à classe operária estadunidense, o que tomou
conta do movimento populista nacional em favor do Trump foram as retóricas de
responsabilizar as políticas de ações afirmativas que deram direitos excessivos
aos LGBTQIA+, aos afro-estadunidenses e aos imigrantes.
Por outra, têm-se a atuação de alguns meios de comunicação desde o ataque
do Onze de Setembro incitando comportamentos ácidos ao grupo listado como
Preservacionista nesta pesquisa, levando, por conseguinte, o uso contrário das
tecnologias de comunicação de agregar às garantias institucionais democráticas
meios adequados de formular e exprimir preferências políticas. Conforme
apresentando na pesquisa, as representações sociais narradas pela mídia são
capazes de gerar construções sociais a partir de representações seletivas do
que é desejado visualizar e exibir, caso do jornalista Glenn Beck da Fox News
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em ataque ao primeiro Presidente negro, Obama. À custa disso, trazem efeitos
prejudiciais aos regimes democráticos.
Logo, a depender do contexto social, político, cultural e econômico que os
grupos sociais estão condicionados, os sujeitos podem desvanecer suas capacidades
de gerência de diálogos. Provando-se, assim, o impacto que a mídia exerce nas
relações sociais e políticas enquanto ator interveniente, abrindo chances de tais
desafios serem replicados em outros cenários nacionais.
Desta maneira, o controle das informações por grupos políticos pode ser
prejudicial ao sistema político democrático dos Estados Unidos a partir da ausência
de responsabilidade de canais de informação como a Fox News de gerenciar a
veiculação das mensagens de seus jornalistas que incitavam comportamentos
prejudiciais à estabilidade política do país. E, dos meios digitais de informação
que desde o acontecimento do Onze de Setembro não solucionam problemáticas
de averiguação da difusão de mensagens conspiratórias que prejudicaram e
instigaram a proliferação de notícias falsas prejudiciais ao vínculo da população
com o aparato estatal e seus adereços, promovendo movimentos antidemocráticos
juntamente com os efeitos condicionados pela política neoliberal.
Conforme sublinha Han (2018) os atores responsáveis pela filtragem de
conteúdo nas redes sociais (forças sociopolíticas) assumem papéis ímpares
na conjuntura sociopolítica que condiciona ambientes informativos ambíguos
e meticulosos à disseminação de ódio. Frisado por Levitsky e Ziblatt (2018), a
polarização é uma condição inevitável nos regimes democráticos, pois revelam
a divergência de ideias, contudo, sua dimensão intransigente é um risco às
democracias e aos processos sociopolíticos.
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