Os estágios como experiência de aprendizagem no ensino de Relações Internacionais
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 3, e1265, 2022
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Entre inúmeros desafios relacionados à consolidação de cursos de um campo
relativamente novo, a preocupação com a inserção profissional dos egressos foi
presente
4
. Os primeiros egressos puderam contar com o privilégio da vantagem
da localização nas capitais, da proximidade e dos contatos com instâncias
governamentais, e, como resultado, a possibilidade de estágios e empregos
na própria cidade, sobretudo em órgãos da administração federal. Por outro
lado, o aumento rápido das ofertas dos cursos no interior e regiões fronteiriças
evidenciou a falta de conhecimento em relação aos cursos fora dos grandes
centros (Miyamoto, 2003; Lessa, 2005b; Pfrimer, Okado, 2019).
Além do desconhecimento acerca da formação, outro fator desafiador foi
a diversidade dos perfis dos egressos das diferentes instituições. As diferenças
decorriam das distintas ênfases das grades curriculares sob a mesma nomenclatura,
como notado por Paulo Roberto de Almeida, há duas décadas (2002) para quem
tais diferenças ocorriam em função da orientação mais focada nos aspectos
conceituais e teóricos nas faculdades públicas e mais pragmáticas e voltadas
para a inserção profissional nas particulares “Os resultados também variam em
função da orientação e do conteúdo substantivo dos cursos disponíveis, cabendo
notar uma orientação mais tradicionalmente”
Ao mesmo tempo, o autor defendeu a diversidade na formação dos egressos,
com vistas “a assegurar a necessária flexibilidade na formação dos muitos
profissionais que devem continuar a sair dessas instituições” (Almeida, 2002,
246). Na sua visão, as habilidades e competências exigidas aos profissionais
egressos dos cursos de Relações Internacionais são tão variadas quanto as
possibilidades do mundo do trabalho.
Na época, o autor sugeria que a evolução institucional, invariavelmente,
conduziria a um núcleo comum de requisitos disciplinares básicos, o que veio
a ocorrer em 2017, com a aprovação das DCNs. Tal resultado foi possível em
razão dos esforços empreendidos após estabelecimento da Associação Brasileira
de Relações Internacionais (ABRI), em setembro de 2005. Como uma associação
4 Vale notar que o assunto ainda é e, na visão de Sato (2010), restringe o foco, pois formação não deve ser
confundida com profissão. A Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais do Brasil
(ANAPRI), criada em 2018, busca contribuir para a popularização da profissão. A instituição se dedica a
agendas diversas, entre elas, a inclusão do profissional de Relações Internacionais na Classificação Brasileira
de Ocupações (CBO) e a regulamentação do exercício das atividades do internacionalista no Brasil (ANAPRI,
2021). A publicação da Resolução 2011, de 27 de maio de 2019, pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon),
estabelece que egressos do curso de Relações Internacionais realizem registros pelos Conselhos Regionais de
Economia (COFECON, 2019).